segunda-feira, 30 de maio de 2011

JESUS NAO NOS ABANDONA JAMAIS

Jo 14, 15-21

O Senhor Não Nos Deixa Órfãos Neste Universo Aberto

O evangelho deste dia faz parte do discurso da despedida de Jesus dos seus discípulos antes de sua morte no evangelho de são João (Jo 13-17). Através do evangelho de hoje Jesus faz um testamento para a Igreja, em geral, e para cada um de nós, em particular. Este é o testamento de Jesus: “Eu não vos deixarei órfãos. Eu virei a vós”. Trata-se do testamento de Deus dado a cada um de nós. Quando parece que tudo acaba, se inicia uma nova relação, uma nova presença, uma nova vida baseada no amor (Jo 15,12-15). De fato, Deus nos ama até o fim. “Eu te amo com eterno amor e por isso, a ti estendi o meu favor”, diz o Senhor através do profeta Jeremias (Jr 31,3).

Na Bíblia, essa presença de Deus é sentida, passo a passo, na historia dos filhos de Israel, principalmente por meio da figura dos patriarcas e dos líderes do povo. Com os patriarcas e os líderes do povo Deus estabelece alianças e aponta tempos e lugares de encontro com seu povo até seu ponto alto na encarnação de Deus no meio de nós no Novo Testamento: “No princípio era o Verbo e o Verbo era Deus. E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,1.14).

Por isso, a Palavra de Deus de hoje nos convida a descobrirmos a presença discreta, mas eficaz e tranquilizadora de Deus na caminhada da Igreja, em geral e na caminhada diária de cada um de nós: “Eu não vos deixarei órfãos”. Precisamos ler e viver este testamento do Senhor diariamente: “Eu não vos deixarei órfãos”, pois nele está a força para nossas lutas de cada dia e nele encontramos a força para nos levantar toda vez que cairmos na nossa caminhada. De fato, não estamos lutando sozinhos; lutamos, sim, com Deus. Se lutarmos com Deus será cumprido aquilo que São Paulo nos diz: “Se Deus é por nós quem será contra nós? ” (Rm 8,31). Por isso, “em todas as coisas somos mais que vencedores pela virtude d’Aquele que nos amou” (Rm 8,37). Este testamento torna cada comunidade e cada cristão a “morada de Deus”, pois Deus está com eles e neles. Cada um de nós não anda solitário, e sim solidário, pois Jesus não nos deixa órfãos. através da encarnação Deus assumiu nossa humanidade como lugar de sua habitação. Deus desceu até nós através dessa humanidade para que nós pudéssemos subir até Ele. Ele se humanizou para nos dar a oportunidade de nos divinizar. Ele se abaixou para que nós fôssemos elevados. Tudo isso pode ser através de uma presença eficaz. Trata-se de uma presença de Deus na nossa vida.

Por causa dessa presença divina, uma comunidade cristã é uma comunidade onde se manifesta a comunhão com Jesus e a comunhão com todos os outros irmãos que partilham a mesma . Podemos até nos machucar mutuamente, mas a comunhão sempre cura nossas feridas, pois as forças são somadas. É na comunhão com os irmãos, é no amor partilhado, é na consciência de que fazemos parte de uma imensa família que caminha animada pela mesma , que se manifesta a vida do Espírito Santo. Cada cristão precisa estar consciente de que ele não é uma pessoa autônoma, isolada, independente, e sim faz parte de uma Igreja de Cristo, chamada a viver na comunhão, na partilha, na solidariedade com todos os irmãos que, em qualquer canto do mundo, partilham a mesma e lutam pela vida digna. “Não vos deixarei órfãos. Eu virei a vós”, garante-nos o Senhor.

O Senhor Está Presente Na Nossa Vida Através Do Seu Espírito

De que maneira o Senhor está presente na nossa vida? “O Pai vos dará um outro Defensor, para que permaneça sempre convosco: o Espírito da Verdade...”. Esta é a nova forma da presença do Senhor na nossa vida.

No evangelho de hoje Jesus chama o Espírito Santo de “Defensor” (Paráclito), “Espírito da Verdade” e O apresenta como aquele que cria o amor e a unidade entre os irmãos; como aquele que é chamado ao lado de quem se encontra em dificuldades com o fim de acompanhar, consolar, proteger e defendê-lo; em outras palavras: um ajudante, assistente, sustentador, protetor, procurador e, sobretudo, animador e iluminador no processo interno na .  Por isso, o Espírito da Verdade é entendido, sobretudo, como aquele que faz viver muito mais do que aquele que faz pensar. O Espírito prometido transformará nossos corações para que sirvamos e amemos como Jesus.

O aspecto mais importante do Espírito prometido por Jesus é a força interior da qual o cristão necessita para poder dar testemunho de tudo que Jesus ensinou apesar das contrariedades. Sem este Espírito, o medo nos dominará e optaremos por viver fechados numa estrutura que nos defende do mundo. Mas não basta vivermos defendendo; precisamos viver testemunhando. O mundo não precisa de mestres e sim de testemunhas, como dizia o Papa Paulo VI. O verdadeiro mestre-testemunha não é aquele quelição e sim aquele que conta a experiência da qual cada um tira suas lições para sua própria vida.

O Espírito de Deus prometido por Jesus é Aquele que renova a face da terra; aquele que nos faz sair do isolamento para a comunhão, do egoísmo para a fraternidade. Territorialmente cada país pode ter suas fronteiras, cada estado suas divisas, e cada município seus limites, mas com o avanço da tecnologia, o mundo fica sem fronteiras. O avanço da tecnologia traz consigo novas linguagens. Com essas novas linguagens somos permanentemente estrangeiros no nosso próprio território e somos aprendizes permanentes de muitíssimas coisas. Temos sempre algo a aprender até o fim de nossa caminhada neste mundo para não deixar nosso armazém de conhecimento ficar vazio. O Espírito da Verdade prometido por Jesus rompe qualquer tentativa de isolamento e nos integra ao mundo, ainda que seja hostil, para que ali possamos testemunhar nossa vivida no amor fraterno. Este mesmo Espírito prometido vai nos abrindo caminhos. Deste modo cada um de nós precisa aprender a esperar e a confiar não em nós mesmos nem no poder dos homens e sim nessa presença quase imperceptível que, no entanto, nos dá uma fortaleza capaz de encontrar o caminho no meio das dificuldades, algo positivo no meio de tantas negatividades.

Amor Mútuo Garante a Presença de Deus no Meio de Nós

De que maneira podemos garantir a presença permanente do Senhor na nossa vida? Qual é a condição? “Se me amais, guardareis os meus mandamentos”.

Os mandamentos não são, aqui, em primeiro lugar, um catálogo de preceitos semelhantes ao catálogo da lei de Moisés. Segundo o evangelista João (Jo 16,27; 1Jo 2,3-6;3,23), Deus pede ao homem duas atitudes fundamentais: e amor que são inseparáveis. Uma vivida no amor e um amor operante pela obediência à Palavra do Senhor constituem aquela comunhão de vida com Jesus. Não é por acaso que Santo Agostinho dizia: “Ama e faz o que queres. Quanto mais amas, mais alto sobes”.

Aderir a Jesus significa aceitar o amor que ele oferece, manifestando até ao extremo em sua morte (Jo 13,1), e tomar Jesus por modelo de vida, adotando como norma de conduta o amor fraterno. A comunhão com Jesus, que produz a unidade de Espírito com ele, é o que se chama amor. A identificação com Jesus se expressa no amor fraterno (Jo 13,35). Somente esta identificação, que é cume da adesão (), é que permite ao cristão amar como Jesus amou (Jo 13,34). A comunidade cristã e o “mundo” distinguem-se entre si pela presença ou pela ausência do amor fraterno. O amor fraterno é o critério de discernimento da fidelidade ao Senhor Deus. E o amor nunca morre, pois é o próprio nome de Deus (1Jo 4,8.16). Mas as caricaturas do amor jamais duram. E nunca o egoísmo é tão prejudicial como quando se disfarça de amor. Você pensou alguma vez que Deus não seria Deus se não fosse Amor?

Rio de Janeiro, 29 de maio de 2011
Vitus Gustama, SVD

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