sábado, 20 de agosto de 2011

ASSUNÇÃO DE MARIA

 

Reflexão no Lugar do XXI Domingo do Ano Litúrgico A (no Brasil)


Coloquei Também Aqui, em seguida, A Reflexão Sobre o Próprio Evangelho do XXI Domingo do Ano Litúrgico A (para outros países)


21 de agosto de 2011

 

Texto: Lc 1,39-56

         
No calendário litúrgico temos as quatro solenidades nas quais Maria é protagonista: 1 de  janeiro, Maternidade Divina; 8 de dezembro, Imaculada Conceição; 15 de agosto, Gloriosa Assunção; 25 de março, Anunciação do Senhor. Duas delas têm referências mais cristológicas: maternidade e anunciação, e outras duas tem mais eclesiológicas: conceição e assunção. É claro que toda festa mariana é cristológica: em função de Cristo Salvador. Mas com esta distinção quer-se enfatizar um fator exemplar de Maria que é importante para a Igreja: ela é a primeira redimida (imaculada conceição) e é a primeira glorificada (assunção).

A proclamação do dogma da Assunção de Maria à glória dos céus, em alma e corpo, pertence ao século XX: foi declarado solenemente por Pio XII em 01 de Novembro de 1950 na bula Munificentissimus Deus. No entanto, a liturgia da Igreja universal, tanto no Oriente quanto no Ocidente, celebrou por muitos séculos esta convicção de fé.  No século V celebrava-se em Jerusalém no dia 15 de agosto uma festa importante que tinha por objeto a excelência da pessoa da Mãe de Deus, eleita por supremo conselho para desempenhar uma missão muito especial na história da salvação. Entre o V e VI século, a narração apócrifa sobre o Trânsito de Maria da vida terrena à glória eterna alcançou uma difusão extraordinária: a conseqüência foi o desejo natural dos peregrinos que ocorriam a Jerusalém de honrar o túmulo da Virgem. Durante o século VII, com o nome de Assunção foi acolhida na Igreja de Roma, juntamente com as festa da Apresentação, Anunciação e Natividade, para as quais o Papa Sérgio I (+ 701), instituiu uma procissão preparatória para a missa, celebrada na Santa Maria Maior. No fim do século VII encontra-se uma antiga oração romana composta para a procissão que introduz a celebração mariana do dia 15 de agosto: “Venerável é para nós, Senhor, a festa deste dia em que a Santa Mãe de Deus sofreu a morte terrena, mas não permaneceu nas amarras da morte, ela que, do próprio ser, gerou, encarnado, o teu Filho, Senhor nosso” (Sacramentário Gregoriano Adrineu, no.661)
          
A bula da definição dogmática não fala de argumentos bíblicos, pois a Escritura não afirma a Assunção de Maria. Na Bíblia não se discute se Maria morreu ou não. Por isso, o texto dogmático, cautelosamente, diz “terminado o curso de sua vida terrestre”. Nós, por isso, afirmamos que Maria morreu, pois só assim se pode falar, verdadeiramente, de ressurreição, porquanto somente um morto pode ressuscitar. Maria morreu pelo fato natural da morte que pertence à estrutura da vida humana, independentemente do pecado. Maria, livre e isenta de todo o pecado, pôde integrar a morte como pertencente à vida criada por Deus. A morte não é vista como fatalidade e perda da vida, mas como chance e passagem para uma vida mais plena em Deus.
          
Além disso, Maria participa na  economia da redenção pelo fato de ser a Mãe do Senhor(Lc 1,43). Ela se associou totalmente ao destino de seu Filho. A redenção implica sempre a colaboração de quem a recebe. Maria colaborou admiravelmente na própria salvação. Já por este título ela é o modelo original de quantos recebem a salvação, o modelo de todos os redimidos. Como tal, ela já tem um significado universal de salvação. É o protótipo da vida redimida, a plena e perfeita realização, a imagem ideal de toda a vida cristã. Por sua vida e morte Jesus nos libertou. Por sua vida e morte Maria participou desta obra messiânica e universal. A co-redenção significa a associação de Maria tanto à cruz de Jesus como à sua ressurreição e exaltação gloriosa ou ascensão. Esta razão teológica tem o seu fundamento no triunfo de Cristo sobre a morte, de que faz participantes todos os cristãos por meio da fé e do batismo.
          
Maria foi assunta ao céu em corpo e alma. Aqui não se trata de dogmatizar um esquema antropológico (corpo e alma). Utiliza-se esta expressão, compreensível à cultura ocidental, para enfatizar o caráter totalizante e completo da glorificação de Maria. Maria vê-se envolvida na absoluta realização.  “Assunta ao céu”, ela se nos apresenta como as primícias da redenção, tendo já consumado em si o que ainda se realizará em nós e na Igreja. O corpo de Maria, enquanto ela perambulava por este mundo, foi somente veículo da graça, do amor, da compreensão e da bondade. Não foi instrumento de pecado, da vontade de auto-afirmação humana e de desunião com os irmãos.  O corpo é forte e frágil, cheio de vida e contaminado pela doença e morte. Por isso, é exaltado por uns até a idolatria e odiado por outros até a trituração. Maria vive e goza, no corpo e na alma, quer dizer na totalidade de sua existência, desta inefável realização humana e divina.
          
Para Maria a assunção significa o definitivo encontro com seu Filho que a precedeu na glória. Mãe e Filho vivem um amor e uma união inimaginável. Maria agora vive, em corpo e alma, aquilo que nós também iremos viver quando atingirmos o céu. Enquanto peregrinamos, Maria atua como imagem que recorda e concretiza o nosso futuro. Em cada um que morre no Senhor se realiza aquilo que ocorreu com Maria: a ressurreição e a elevação ao céu. Andando por entre as tribulações do tempo presente, erguemos os olhos ao e rezamos: Salve Maria, vida, doçura e esperança, salve! Rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte. Doce mãe da esperança, em quem apareceu o futuro do mundo e nos foi antecipada e prometida a glória do tempo futuro, ajuda-nos a ser peregrinos na esperança a caminho da unidade futura do Reino, sem pararmos diante das resistências e das canseiras, antes nos empenhando, com fidelidade e paixão, em levar no presente os homens ao futuro da promessa de Deus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém!

Algumas Mensagens a Partir do Texto do Evangelho Lido Nesta Solenidade

1. O Evangelista Lc não descreve que Maria simplesmente “andou”, mas que ela “partiu”/ “pôr-se a caminho”. Nos Evangelhos a idéia de viagem, de caminho, está intimamente ligada à obediência a Deus e ao discipulado de Jesus. O verbo “pôr-se a caminho” tem em Lucas o significado teológico de disponibilidade e obediência aos planos de Deus; pôr-se a caminho significa aceitar total e existencialmente o caminho proposto por Deus, pois esse caminho nos conduz sempre à felicidade embora tenhamos que atravessar vários obstáculos, mas no coração ressoa sempre uma certeza de que Deus está sempre caminhando conosco (Maria foi com Jesus no ventre).
          
Maria se pôs a caminho significa que a partir daquele momento começou a sua vida como resposta à proposta ou aos planos de Deus.  É a resposta ao anúncio feito por Deus, que se funda, sobretudo, a leitura de Maria como modelo do discípulo perfeito, como a alma fiel por excelência.
          
A fé de Maria é uma fé missionária. Depois de dizer o seu “sim”, leva-o (este sim) através dos caminhos do nosso mundo para suscitar a alegria e o louvor. A viagem de Maria à Judéia (para Ain Karin), por isso, é um símbolo do caminho da fé que precisa ser testemunhada, compartilhada, que precisa servir; porque a fé não é somente o dom de Deus, mas também é uma resposta humana, e com todo ato humano. Dessa fé é que faz encontro e serviço. E quando a Palavra de Deus é ouvida com autenticidade, como Maria, não pode deixar de ser profundamente criativa e dialogante. E quando a Palavra de Deus é ouvida e refletida com atenção por qualquer um, ele não pode deixar de ser missionário desta Palavra.

2. Maria partiu “apressadamente”. A expressão “apressadamente” não descreve a presteza externa com que parte nem descreve o estado psicológico de Maria. Lucas quer sublinhar a atitude interior de fé e de obediência de Maria. Sua “pressa” está dinamizada pelo fervor interior, pela alegria e, sobretudo, pela fé (cf. Lc 1,38.45). “Às pressas” significa seriedade, empenho, solicitude, zelo, entusiasmo, ardor, prontidão etc.. No sentido teológico, então, a pressa de Maria é um reflexo da sua obediência, como serva e discípula fiel, em relação ao plano que lhe foi revelado pelo anjo, um plano que previa a gravidez de Isabel.
           
Segundo M. Descalzo, a viagem de Maria para visitar Isabel foi “a primeira procissão do Corpus Christi”. O corpo de Maria foi o ostensório vivo e precioso que carrega pela primeira vez o Corpo de Cristo. Mas se nos mergulharmos um pouco mais no mistério, descobriremos que, na verdade, Maria é levada por Aquele que ela leva no seu ventre.
          
Quando Deus entra e atua na história de uma pessoa e tem realmente Jesus no coração, esse mesmo Jesus vai levar essa pessoa ao encontro dos outros, especialmente aos necessitados para partilhar a alegria e a esperança e irradiará e santificará os que dela se aproximarem. É preciso que sejamos novos “ostensórios” para levar Jesus, o Salvador, para os outros e nos deixemos levar por Jesus.

3. Maria é a arca da nova aliança, o lugar da presença de Deus no meio de nós. Como a arca da nova aliança, em Maria o Verbo se fez carne e os céus e a terra se encontraram. Mas ela não é um lugar que encerra Deus e sim um lugar que O dá. Ela não é uma arca que esconde o mistério, mas uma arca que o irradia. Maria é Aquela que, habitada pelo mistério, o dá.
          
Quando na fé se dá espaço ao absoluto primado de Deus, a conseqüência lógica de ser habitado, de ser amado por Deus é sair de si, viver o êxodo sem regresso, que é o amor. O acolhimento da gratuidade do amor eterno torna-se a doação gratuita de tudo que se recebeu. Quem crê e vive da fé, tem capacidade de olhar para fora, aprecia o dom e o comunica. Certamente, respeitamos o dom de Deus quando nos tornamos arca irradiante e quando o restituímos a Deus, que nos estende a mão nos nossos irmãos.

4. Maria é o símbolo perfeito da atenção, pois ela tem o amor no coração. O amor é atenta. Maria serve Isabel na sua necessidade real. O seu amor se transforma em gesto, pois a caridade é concreta.  O amor sabe ver o que o não- amor nunca descobrirá. O seu amor causa a alegria, pois a caridade sabe se terna. A ternura consiste certamente em dar com alegria, suscitando em quem recebe o dom da alegria e não um sentimento de dependência. Ela faz tudo isso, porque Maria depende só de Deus, por isso é livre(Nenhuma criatura a prende). Quem é livre na fé, pois depende somente de Deus, torna-o doado aos outros na gratuidade.

5. A saudação de Maria causa a alegria cuja característica é messiânica: os saltos de alegria de João no seio de sua mãe(vv.41.44); a irrupção do Espírito sobre Isabel(v.41b); a bênção messiânica de Isabel sobre Maria(v.42); a proclamação de Maria como “mãe do Senhor”(v.43); e a proclamação de que Maria é “bem-aventurada” por causa de sua fé(v.45). Todas estas reações são de caráter messiânico

Se acreditarmos que Jesus está dentro de nós, nos comportaremos como Maria: seremos portadores de alegria no Senhor para os outros. O nosso encontro com os outros fará brotar neles a alegria pela presença do Messias, a docilidade ao Espírito, o louvor a Deus.

6. No Magnificat Maria anuncia que os poderosos serão derrubados de seu trono. Não se trata de punição nem vingança, pois o Deus de Jesus não é vingativo. Descer do trono é condição de salvação. É preciso descer do trono para aprender a ser irmão, a ser solidário, a servir, a criar relações horizontais. É preciso despojar-se de auto-suficiência e reconhecer-se necessitado de salvação.
        
Estamos acostumados a reverenciar o poder, de várias maneiras. É só alguém “subir na vida” que logo começa a receber um tratamento mais respeitoso. É como se o posto que cada um ocupa mudasse a qualidade humana das pessoas. Não será por isso que alguns são chamados de “excelência” mesmo quando não têm atitudes tão excelentes assim para com os outros? Por esses e outros motivos o poder fascina e muita gente vive correndo atrás dele.
        
O peso do prestígio do poder invade até o campo religioso. Usamos para Deus freqüentemente as mesmas imagens com que idealizamos o poder humano: Deus sentado no trono, Maria com coroa de rainha. Aliás, a Bíblia também faz isso, refletindo a cultura da época. O problema não está exatamente aí. O perigo está no jeito de utilizar essas imagens. Com essa noção de poder é possível até tentar dominar os outros, autoritariamente, em vez de dialogar e servir. Deus vê essa questão de outro jeito que nem sempre nós estamos preparados para entender.
        
Os “poderosos” não são os outros. Cada um de nós pode fabricar seus próprios “tronos” e olhar o próximo de cima, de forma opressora, indiferente ou superior.
        
Se somos realmente Igreja servidora, como Jesus sempre quis, temos que “descer” de muitos “tronos” que criamos e tratar o irmão, qualquer irmão, como um igual, digno de respeito e precioso como filho de Deus.
         
Que Maria, Doce Mãe da esperança nos ajuda a sermos peregrinos na esperança sem pararmos diante das resistências e das canseiras a caminho da comunhão plena com o nosso Criador, o Deus Conosco. A festa da Assunção de Maria nos dá recado bastante forte que todos aqueles que se entregarem a Deus para ser instrumentos de Sua graça de na convivência com os demais, a exemplo de Maria, experimentarão já nesta terra a assunção.

P. Vitus Gustama,svd



JESUS QUE ME INTERROGA DIANTE DAS MINHAS INTERROGAÇÕES

Reflexão Para XXI Domingo do Ano Litúrgico A

Texto: Mt 16,13-20

          
Nos momentos críticos ou decisivos de nossa caminhada, normalmente fazemos algumas perguntas decisivas ou importantes, como exemplo: Por que tanto sofrimento? Por que os outros não compreendem minha situação? Por que eles me abandonam? Por que tanta insensibilidade em muitas pessoas?  Por que tanto vício que faz o viciado sofrer e os outros sofrerem? Por que algumas pessoas vivem colocando as cruzes no caminho dos outros? Ou talvez mais existencial: Para que viver? Por que estou vivo? Qual é o sentido da minha vida? O que é a vida? O que é que o homem está procurando nesta vida? Qual é o desejo mais profundo de um homem? Para onde o homem vai? Será que existe a vida após a morte? Para onde a vida vai nos levar? Para onde a morte vai nos levar? E assim por diante........! Ainda podemos acrescentar mais a lista de perguntas!

O ser humano, enquanto estiver vivo, permanece um perguntador. Todo ser humano que entra no mundo busca no mundo um espaço para si, que nem sempre é fácil de conquistar, mas que sob muitos aspectos, é obrigado a conquistar. Ninguém pode dar sentido à própria vida a não ser interrogando-se sobre a sua presença neste mundo e sobre a presença dos outros neste mundo, porque viver significa completar-se em outro, desenvolver-se e crescer por meio de “algo outro”, “algum outro”. Somente através de um saber desinteressado, no sentido de conhecer a natureza das coisas, é que o ser humano pode encontrar-se e dar sentido ao seu estar no mundo.

Mesmo que não obtenhamos respostas claras para muitas das nossas perguntas da vida, é vital continuar a recordar quais são as nossas perguntas. Perder perguntas é certamente perder-se no caminho. O homem é um ser que interroga a vida. Ele não deixa que a vida o viva, mas faz-se senhor de sua existência. Estamos conscientes de que é mais fácil fazer perguntas do que respondê-las. Mas mesmo que seja difícil uma pergunta, isto não significa que ela não tenha uma resposta certa. A nossa caminhada aqui nesta terra não passa de busca sem fim. Busca mais busca, pergunta mais pergunta, que só podemos encontrar respostas no encontro íntimo com Deus. Quanto mais se mergulha no mistério da vida, mais se descobre o mistério do homem e o de Deus. A vida, conseqüentemente, não é apenas um problema para ser resolvido, mas um mistério para ser descoberto todos os dias. Para quem procurar este mistério, a vida se tornará sempre uma caixa de surpresas. Muitas vezes não estamos preparados para as surpresas desta vida ou das interrogações que a vida nos traz. Por isso, sai sempre da boca este tipo de pergunta: “Por que isso meu Deus?” Em cada pergunta que fazemos esconde sempre uma busca de resposta. Às vezes a resposta vem cedo, mas muitas vezes só vem pouco tarde. A grandeza de um ser humano se mede através de sua resposta sincera para suas perguntas e interrogações. A grandeza do homem começa na maneira como ele encara a si mesmo e a vida. A grandeza do homem mede-se pelas interrogações que ele se faz a si mesmo e sobre a vida que ele vive e pela honestidade com que vive procurando ser coerente com as respostas que vai encontrando ao longo de sua caminhada terrena.
          
A cena do Evangelho de hoje recolhe um momento decisivo da vida de Jesus. Abandonado pelo povo e rejeitado e perseguido pelos donos do poder religioso, Jesus afasta-se do contato direto com as multidões e concentra-se na formação do pequeno grupo dos discípulos que lhe pertencem. Diante do abandono e da rejeição, Jesus não se fecha no isolamento nem faz algum tipo de fuga da realidade e muito menos se endurece no ressentimento. No momento decisivo de sua vida faz aos discípulos a pergunta decisiva sobre sua pessoa e sobre sua missão.
          
E por revelação do Pai, Pedro confessa sua fé em Jesus como Messias, Filho de Deus vivo. Ser o Deus vivo e vivificante, possuir a vida e comunicá-la, é a característica do Deus verdadeiro, à diferença dos deuses, dos ídolos que não têm vida própria e, por conseguinte, não podem comunicá-la. Pelo contrário, exigem sacrifícios humanos e acabam escravizando e devorando todos os que se tornam seus adoradores. Será que você tem este tipo de deus? 
          
Em resposta, Jesus declara Pedro bem-aventurado e em seguida, faz a promessa solene de edificar a sua Igreja sobre Pedro que é declarado rocha- alicerce da Igreja de Jesus. E outra promessa solene é que apesar de toda a debilidade da carne e o sangue de Pedro, a Igreja de Jesus nunca será destruída pelos poderes e potestades deste mundo nem pelas portas do inferno.
          
Até neste ponto, devemos fazer uma dupla petição ao Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, porque entramos aqui nos dois mistérios: o mistério de Cristo e o mistério da Igreja: Em primeiro lugar, devemos pedir a graça do “conhecimento interno” da pessoa de Jesus Cristo e da sua missão. Quem é este Jesus? O que é que ele faz neste mundo? Em segundo lugar, devemos pedir a graça, inseparável da primeira, do conhecimento do mistério da Igreja de Jesus, da Igreja que, na sua fraqueza e impotência, na sua debilidade, ela é o sacramento, a manifestação da força de Deus na história neste mundo. Cada um de nós é a Igreja de Jesus. E apesar de nossa debilidade, cada um é uma manifestação de Deus para o mundo, é um sacramento de Deus. Este é um mistério que devemos tentar descobrir todos os dias.
          
Por isso, o texto do Evangelho enfatiza também o “VÓS” da pergunta: “E vós, quem dizeis que Eu sou?“.  Esta pergunta serve para descobrirmos quem é Jesus para nós e descobriremos também quem somos nós e nossa missão neste mundo. A certeza de nossa fé cristã depende da resposta a essa questão.
          
Sabemos que normalmente nossa resposta é condicionada, mas deve ser também condicionante. Nossa resposta é condicionada porque depende de nossa cultura, nossa experiência, nossa estrutura psicológica com suas preocupações vitais e seus centros de interesse. Mas não por isso, ela deixa de ser condicionante. Nossa resposta deve ser condicionante porque Jesus não nos pede uma definição meramente objetiva e teórica de sua pessoa; não está nos submetendo a “exames” sobre nossos conhecimentos intelectuais. A pergunta de Jesus, que por certo deve ser feita a um cristão, tem um caráter tão pessoal que ninguém pode responder por nós nem “soprar” a resposta, que além do mais nos compromete muito seriamente. Nenhum de nós é grande vivendo a idéia dos outros. Nós somos grandes vivendo a nossa idéia.
          
Se confessamos a Cristo como Filho de Deus, sua palavra e seu estilo de vida nos julgam, pois ele é o nosso Mestre e modelo a ser seguido em sua doutrina, critérios e conduta. Se O reconhecemos como nosso salvador e libertador do homem, nossa fé não pode contentar-se em receber passivamente a salvação de Deus em nossa vida individual, mas devemos responder pessoalmente a esse amor que nos precedeu e devemos colaborar missionariamente para que esse amor de Deus se torne realidade presente no mundo e alcance todos os homens, nossos irmãos. Em outras palavras, cada resposta é uma missão e uma responsabilidade.
          
Por isso, conhecer Jesus Cristo não é um passatempo ou um luxo e sim uma necessidade vital, porque é só através desse conhecimento que podemos alcançar também a compreensão de nós mesmos, do significado e da importância da nossa vida. Pela origem da palavra, o verbo “conhecer” quer dizer “com-nascer, nascer com, fazer-se um com outro. Somente conhecemos o outro, entregando-nos a ele e aceitando que ele se entregue a nós. Somente com o Senhor Jesus e Nele nós podemos esperar a realização de nós mesmos. O conhecimento do Senhor Jesus, com as nossas orações, é que alimenta a chama da nossa esperança.
          
E por isso é que o homem distingue-se dos animais e dos robôs porque não se contenta em registrar experiências sensíveis, dados e informações; ele levanta as questões, propõe problemas e formula perguntas e procura explicações sob a luz de Deus.
          
Por isso, também, uma das tragédias da nossa vida é continuarmos a esquecer-nos de quem somos e quem é Jesus Cristo e a perder tempo e energias a demonstrar o que não precisa ser demonstrado.
          
Precisamos, portanto, de muita oração. Porque a oração é o exercício para escutar a voz de amor de Deus. Sem oração, tornamo-nos surdos à voz do amor e ficamos confundidos com as muitas vozes competitivas que exigem a nossa atenção.
          
Por isso, a pergunta de Jesus: “E vós, quem dizeis que eu sou?” deve ser refletida por cada um de nós diariamente para direcionar nossa vida para o Senhor e para dar o sentido para nossas lutas de cada dia.
          
Ao terminar esta reflexão eu gostaria de colocar aqui o pensamento de René Juan Trossero, psicólogo e escritor argentino:

Deus fez o homem para que andasse em pé, mas não o condena por começar engatinhando.

Se você está lendo só para pensar o que eu penso, ganhará muito pouco. Se lê para despertar o seu pensamento, mesmo que não pensemos a mesma coisa, estaremos crescendo juntos.
          
Não faça de seu cérebro um arquivo para pensamentos alheios, mas o laboratório de suas próprias convicções.
          
É preferível o erro de quem pensa por sua conta do que o acerto de quem repete o pensamento alheio”.
                      
Então, “Quem dizeis que Sou?” pergunta Jesus a cada um de nós? Pedro já respondeu. E a nossa resposta?


P. Vitus Gustama,svd

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