quinta-feira, 4 de agosto de 2011

SER CRISTÃO CONVICTO E CONSCIENTE

Sexta-feira, 05 de agosto de 2011

Texto de leitura: Mt 16,24-28

“Escutando a Palavra de Deus, deixa-a aninhar-se em tua alma. Não a expulse de ti. Não te contentes em tê-la contigo. Ajuda-a a crescer e a dar fruto em ti” (Santo Agostinho. Serm. 343,1).

As exigências do seguimento de Jesus das quais fala o evangelho deste dia são repetidas seis vezes com variantes maiores e menores nos quatro evangelhos (Mt 16,24ss; Mc 8,34ss; Lc 9,23s; Jo 12,24ss; Lc 14,27; Mt 10,38s). Essa repetição nos indica a importância dada pela Igreja dos apóstolos a essas exigências.

Os discípulos já fizeram uma opção inicial por Jesus. Agora, diante das implicações do seguimento se encontram frente a uma situação da escolha definitiva. Para ser discípulo de Jesus não é suficiente a chamada; é necessária uma resposta clara depois de ter consciência das condições que a chamada impõe.  
          
Ao apresentar para os discípulos as condições do seguimento, Jesus não impõe, mas propõe: “Se alguém quer...”. São João Crisóstomo comentou: “Ele disse: Eu não forço nem obrigo ninguém a me seguir, deixo a cada um dono de sua própria escolha; por isso, digo: Se alguém quer...”. O seguimento não é uma imposição. Todos têm a liberdade de aceitar ou de recusar. Mas quem quer seguir verdadeiramente a Jesus, tem que assumir as exigências propostas por ele. Tudo tem que ser tomado na base da liberdade, da obediência da fé e por amor.
          
A primeira condição é a renúncia a si mesmo: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo...” (v.24).

Renunciar a si mesmo não significa uma resignação cansada diante da vida nem uma “entrega dos pontos” nem por falta de opções. Antes de tudo significa a libertação da própria liberdade do egoísmo a que estava atada e que agora se entrega inteiramente a Deus. O seguidor é chamado a colocar o próprio eu no centro do interesse do Reino de Deus. O centro de sua vida está doravante na vontade de Deus, manifestada para ele na pessoa e na missão de Jesus Cristo. E esta entrega tem de ser livre para poder ser feita na alegria, no entusiasmo e na generosidade. O seguidor é chamado à renúncia, a arriscar a própria vida, porque só assim poderá, como Cristo, chegar à glória que é a meta de todo caminho da cruz. Mas toda renúncia deve ter como base o amor. O sacrifício, a renúncia de si mesmo que não seja animado pelo amor, que não seja uma manifestação de amor, que não seja uma expressão de doação de si mesmo, que não leve à comunhão com os outros é apenas uma tortura auto-infligida. A renúncia que Jesus pede não é uma ação negativa. Ele pede amor, doação de si mesmo. Tudo tem que ser feito por amor. Sem o amor, viveremos uma vida dupla. E este tipo de vida, não traz a alegria verdadeira nem para si nem para os outros. Renunciar a si mesmo é que faz qualquer um discípulo ou seguidor de Jesus.
          
A segunda condição é o “carregar a sua cruz”: “Se alguém quer me seguir, tome a sua cruz e me siga” (v.24b). “Carregar a cruz” é uma expressão que os primeiros cristãos utilizaram muito para expressar sua união com Jesus na sua morte e ressurreição. É uma expressão relacionada ao mistério pascal de Jesus Cristo. Jesus pede ao seguidor o esvaziamento total de si mesmo, até a morte física, se for preciso. Quem não tiver esta disponibilidade, ainda não é verdadeiramente seguidor de Cristo. Todo aquele que quer seguir a Jesus incondicionalmente deve estar pronto para percorrer todos os passos da Paixão, pois o “mundo” tenta crucificar e eliminar os seguidores de Cristo por todos os meios, como aconteceu com Jesus.
          
Depois dessas condições, Jesus mostra os motivos em forma de ditos paradoxais.
          
Em primeiro lugar Jesus afirma que quem busca egoisticamente, a todo custo, usando quaisquer meios, aproveitar, gozar e conservar a própria vida acaba desperdiçando-a e perdendo-a (v.25). Querer guardar para si a própria vida é o caminho mais seguro para perdê-la. Pelo contrário, quem vive em função do serviço desinteressado aos outros na bondade e no amor, ele acaba encontrando a vida na sua plenitude, acaba ganhando a vida eterna. A vida só se encontra, doando-a. O próprio Jesus é o exemplo desta doação. Ele se doou até o fim a Deus e aos homens. O homem muitas vezes somente dá um pouco de sua vida. O verdadeiro cristão se doa tudo por amor.
          
No v. 26 Jesus repete o paradoxo anterior: “De fato, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua vida? O que poderá alguém dar em troca de sua vida?” Possuir os bens deste mundo não seria um mal em si mesmo, mas torna-se o maior dos males quando, por causa de tais posses, o cristão é impedido de seguir a Cristo ou de viver os valores do Reino de Deus. Jesus, certamente, rejeitou o “mundo inteiro” que o Tentador lhe oferecera, pois o preço da oferta era a idolatria (Mt 4,8s). “Desapeguemos o coração de todas as criaturas. Quem está agarrado a alguma coisa da terra, ainda que mínima, nunca poderá voar e unir-se todo a Deus” (S. Afonso de Ligório). Ainda que alguém ganhasse o mundo inteiro (riqueza, glória, poder), a vida é efêmera. Na ótica da fé, todas as riquezas do mundo são insignificantes quando o que está em jogo é a vida em plenitude (eterna) que Jesus oferece aos que o seguem.
          
O fundamento último da nossa opção pelo seguimento incondicional de Cristo é a certeza, dada pela fé, de que o Filho do Homem virá um dia na sua glória (v.27). Ele terá a última palavra sobre o homem. Essa palavra será uma palavra de graça para quem segue a Jesus incondicionalmente. O juízo final torna-se, então, a medida para avaliar a existência histórica e ao mesmo tempo a bússola que orienta a vida do cristão nas escolhas justas e sensatas na vida diária neste mundo.

Vitus Gustama, SVD

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