segunda-feira, 30 de abril de 2012

SER OVELHA QUE SABE ESCUTAR A  VOZ DO BOM PASTOR

Terça-feira, 01 de Maio de 2012
Texto de Leitura: Jo 10,22-30

22 Celebrava-se, em Jerusalém, a festa da Dedicação do Templo. Era inverno. 23 Jesus passeava pelo Templo, no pórtico de Salomão. 24 Os judeus rodeavam-no e disseram: 'Até quando nos deixarás em dúvida? Se tu és o Messias, dize-nos abertamente.' 25 Jesus respondeu: 'Já vo-lo disse, mas vós não acreditais. As obras que eu faço em nome do meu Pai dão testemunho de mim; 26vós, porém, não acreditais, porque não sois das minhas ovelhas. 27 As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem. 28 Eu dou-lhes a vida eterna e elas jamais se perderão. E ninguém vai arrancá-las de minha mão. 29 Meu Pai, que me deu estas ovelhas, é maior que todos, e ninguém pode arrebatá-las da mão do Pai. 30 Eu e o Pai somos um.'

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Escutar a voz do verdadeiro Pastor     

O texto diz: “As minhas ovelhas escutam a minha voz...e eles me seguem”(v.27). Isto quer dizer que a iniciativa de seguir Jesus sempre vem dele. É ele quem nos chama. Nós vivemos no meio do mundo. Ouvimos muitos apelos e vozes e nunca faltam mensagens enganosas e encontramos freqüentemente muitas pessoas que se dizem “pastores” e prometem vida, conforto e felicidade, mas nos decepcionam. Para não cair na armadilha é necessário ter o discernimento e apurar os ouvidos para escutar melhor a voz do verdadeiro Pastor que é Jesus Cristo. Somente Cristo é o pastor que não nos decepciona. É ele quem dá sentido à nossa vida. É preciso ler, escutar e meditar a Palavra de Deus freqüentemente, pois quem a escuta, raramente, é dificilmente identificar a voz do Pastor no meio da multidão de vozes que também querem chamar a nossa atenção. O maior drama do homem certamente consiste em não escutar Deus e a Sua Palavra. Para poder escutar Deus é necessário criar o silêncio dentro de nós.

A certeza de sermos conhecidos e amados por Deus
 
“Eu conheço as minhas ovelhas” (v.27). “Conhecer” biblicamente não se refere a um mero conhecimento intelectual. Conhecer na bíblia ultrapassa o saber intelectual e abstrato. Ele exprime muito mais a relação de amor. Quando Jesus diz que conhece as suas ovelhas, isto quer dizer que tem para com todos nós uma relação de amor profundo. O mesmo amor que o une ao Pai, Jesus exprime também para com as suas ovelhas, todos nós: um amor fiel, eterno, indestrutível. Deus me ama com os meus ideais e minhas decepções, com os meus sacrifícios e alegrias, com os meus sucessos e fracassos.

Com a expressão “as minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem” (v.27), o evangelista quer nos transmitir a fé da comunidade onde se originou o quarto evangelho. A comunidade joanina sentia-se intimamente unida a Jesus, seu pastor, fortalecida na proteção de Jesus e na força do Pai contra todos os inimigos da salvação. É um relacionamento de amor profundo.

Jesus continua a ser o Bom Pastor no mundo inteiro, para todos os seres humanos. Mas todos nós, cristãos, por nosso testemunho, participamos do pastoreio universal de Jesus Cristo. Ao mesmo tempo em que somos conduzidos, ouvindo a sua voz, sendo ovelhas, devemos exercer também a missão de pastores, conduzindo os outros até as fontes da vida: Cristo.

Colaborar na missão salvífica de Jesus através da ação pastoral da Igreja significa levar as pessoas a reconhecerem nele o Deus vivo encarnado para a salvação de todos os que nele crerem. Para que esta ação surta efeito, o anúncio é necessário, mas por si é insuficiente. Não basta apenas falar de Jesus, é preciso obras, é necessária a vivência dos valores evangélicos, o amor precisa ser concretizado. Mas acima de tudo, é necessária a consciência de que somos participantes da divina missão de salvação dos homens e que quem realiza esta obra não somos nós, mas sim o próprio Deus, é ele quem pastoreia através de nós. Somos na verdade canais de graça para que os homens ouçam a voz de Jesus, sintam-se integrantes do seu rebanho e o sigam rumo à vida eterna” (Comentário do site da CNBB).


P. Vitus Gustama,svd


JESUS É A PORTA PARA ENTRAR NA ETERNIDADE


Segunda-feira, 30 de Abril de 2012

Texto de Leitura: Jo 10,1-10

Naquele tempo, disse Jesus: 1“Em verdade, em verdade vos digo, quem não entra no redil das ovelhas pela porta, mas sobe por outro lugar, é ladrão e assaltante. 2Quem entra pela porta é o pastor das ovelhas. 3A esse o porteiro abre, e as ovelhas escutam a sua voz; ele chama as ovelhas pelo nome e as conduz para fora. 4E, depois de fazer sair todas as que são suas, caminha à sua frente, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz. 5Mas não seguem um estranho, antes fogem dele, porque não conhecem a voz dos estranhos”.  6Jesus contou-lhes esta parábola, mas eles não entenderam o que ele queria dizer. 7Então Jesus continuou: “Em verdade, em verdade vos digo, eu sou a porta das ovelhas. 8Todos aqueles que vieram antes de mim são ladrões e assaltantes, mas as ovelhas não os escutaram. 9Eu sou a porta. Quem entrar por mim, será salvo; entrará e sairá e encontrará pastagem. 10O ladrão só vem para roubar, matar e destruir. Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância”.

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O texto do evangelho de hoje é o início do discurso de Jesus sobre o Bom Pastor. Na passagem do evangelho deste dia, Jesus se identifica explicitamente com a porta das ovelhas: “Em verdade, em verdade eu vos digo, eu sou a porta das ovelhas” (v.7). A porta sugere a idéia da passagem, do limiar entre o conhecido e o desconhecido, o aquém e o além, a luz e as trevas, a privação e o tesouro. Ela se abre para um mistério; ao mesmo tempo leva psicologicamente para a ação: uma porta sempre convida a ultrapassá-la para sair através dela ou para se proteger dentro dela. Neste sentido, a porta significa como barreira/segurança e proteção (observe bem as portas das casas do mundo moderno: fortes com um intuito de dificultar a entrada de ladrões/assaltantes). Era na porta da cidade que recebiam os que chegavam e se despediam, os que partiam. Por isso, a porta era o símbolo de acolhimento ou carinho.

Quando Jesus declara que é a porta das ovelhas, evidentemente esta expressão tem significado funcional enquanto indica a missão salvífica de Cristo, a mediação universal para a vida e para a revelação divina. Jesus, ao proclamar-se a porta das ovelhas, apresenta-se como o lugar no qual encontra a vida e a salvação. Em Jo 10,9 Jesus esclarece que para sermos salvos e termos a vida em abundância devemos passar pela porta, que é a sua pessoa divina; o escopo da sua vinda ao mundo é o dom da vida e salvação plena (v.10). “Eu sou a porta”, Jesus está nos dizendo que somente por ele entramos na cidade de Deus, e somente nele encontramos o abrigo, a segurança e a proteção (cf. Mt 11,28). Ele nos acolhe cada vez que recorrermos a ele: “...quem vem a mim eu não o rejeitarei”(Jo 6,37).

Essa doutrina cristológica contém mensagem de importância excepcional para nossa vida de fé e nossa missão de guia ou pastores. Jesus Cristo é o mediador perfeito em sentido descendente e ascendente; na direção vertical e horizontal. O Pai comunica a revelação de sua vida de amor ao homem por meio de seu Filho (cf. Jo 1,17s); a salvação é dada ao homem somente por meio do Filho unigênito (Jo 3,14ss); a vida divina foi trazida ao mundo por meio de Jesus(Jo 14,6). E o homem pode subir até Deus unicamente por meio do seu Filho, que é a vida (Jo 14,2-6); a vida de comunhão com o Pai só é possível através de Jesus Cristo.

Um outro aspecto do discurso é o de ternura ou afetividade: “...as ovelhas escutam a sua voz porque conhecem a sua voz; ele chama as ovelhas pelo nome e as conduz para fora” (vv.3-4). Jesus se apresenta numa atitude de ternura com as ovelhas. Ternura é amor respeitoso, delicado, concreto, atento e alegre. Ela é amor sensível, aberto à reciprocidade, não ávido nem ganancioso, nem pretensioso ou possessivo, mas forte na sua fraqueza, eficaz e vitorioso, desarmado e desarmante.  Na nossa vida facilmente desvalorizamos a dimensão afetiva. Dedicamos muito mais atenção à dimensão do fazer, do produzir, do ter, esquecendo-nos das outras dimensões ligadas às afetivas. Isto pode acontecer dentro de família, pois cada um acaba correndo atrás de seus compromissos, descuidando de cultivar os relacionamentos afetivos entre as pessoas. Podemos imaginar as conseqüências negativas mais tarde.

P. Vitus Gustama,svd

sábado, 28 de abril de 2012

VIVER A VIDA DO BOM PASTOR


Reflexão Para IV Domingo Da Páscoa Do Ano Litúrgico B
Domingo, 29 de Abril de 2012
Texto: Jo 10,11-18

Naquele tempo, disse Jesus: 11“Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida por suas ovelhas. 12O mercenário, que não é pastor e não é dono das ovelhas, vê o lobo chegar, abandona as ovelhas e foge, e o lobo as ataca e dispersa. 13Pois ele é apenas um mercenário que não se importa com as ovelhas. 14Eu sou o bom pastor. Conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem, 15assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou minha vida pelas ovelhas. 16Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil: também a elas devo conduzir; elas escutarão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor. 17É por isso que meu Pai me ama, porque dou a minha vida, para depois recebê-la novamente. 18Ninguém tira a minha vida, eu a dou por mim mesmo; tenho poder de entregá-la e tenho poder de recebê-la novamente; esta é a ordem que recebi de meu Pai”.

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O quarto domingo da Páscoa é conhecido como “o Domingo do Bom Pastor”, porque em cada um dos três anos do ciclo litúrgico é lida uma passagem do capítulo 10 do Evangelho de João, no qual é desenvolvido o tema do “Bom Pastor”.

Como o pano de fundo de Jo 10 é necessário ler dois textos do AT: Ez 34,1ss e Jr 23,1ss (leia também o Sl 23(22) sobre o bom Pastor. Nestes textos fala-se da denúncia profética contra os maus pastores (dirigentes). Os maus pastores são denunciados por estarem mais preocupados em se alimentar do que em fornecer alimento para as ovelhas confiadas ao seu cuidado; preocupados mais em cuidar da própria vida do que ad vida do rebanho. Em vez de tomar conta das ovelhas, eles se omitiram, e sacrificavam as mais gordas para se deliciar da sua carne e se vestir com sua lã. Os maus pastores estão preocupados com o seu conforto, com o seu bem estar, em salvar a situação pessoal e familiar, e deixam o restante se perder. Os maus pastores se preocupam em usar do poder para o proveito próprio.

Esses pastores se esquecem de que eles não são donos das ovelhas; são apenas “funcionários” de Deus, pois as ovelhas são de Deus (compare Jo 21,15-17: Jesus confia a Pedro a tarefa de apascentar as ovelhas de Jesus: apascenta as minhas ovelhas). Por isso, o profeta Ezequiel repete expressivamente o possessivo “minhas ovelhas” no capítulo 34 do seu livro. Evita-se, assim, a tendência de querer se considerar o dono das ovelhas, o dono da comunidade, o dono da paróquia etc. Quem se considera dono da comunidade ou da paróquia ou qualquer cargo, tem dificuldade de dialogar com os outros para resolver os problemas do rebanho. O dono das ovelhas é o próprio Deus. A Igreja é de Jesus Cristo. Se nos esquecermos disto, nos tornaremos novos tiranos e ditadores. E as ovelhas se tornarão vítimas ou serão sacrificadas em nome do poder destruidor do seu líder.

E os pastores de hoje (sacerdotes/padres, religiosos, pastores, líderes de comunidades), são melhores ou são piores do que os antigos pastores? Será que temos interesse por “ovelhas gordas” mais do que por “ovelhas magras” na comunidade? Seja gorda ou marga, a ovelha é de Deus.  E Deus quer que as apascentemos de igual maneira. Quanto mais magra for uma ovelha, mais atenção deverá ser prestada a ela.
    
Além de ler os textos acima citados, para entender a mensagem de Jo 10,1-18 é necessário situar o texto dentro do contexto de Jo cap. 7-10 num contexto de confronto entre Jesus e os judeus. Ele é o “Eu sou”. A vinda de Jesus para o meio dos homens os força a definir-se. Diante da afirmação “Eu sou”, uns rejeitam Jesus, outros o aceitam. Daí começam as controvérsias.  Jesus se torna, assim, sinal de contradição. Contradição que o leva à Paixão.

E o discurso de Jesus sobre a porta das ovelhas e o Bom Pastor (Jo 10) se apresenta como continuação lógica da perícope imediatamente anterior, sobre o cego de nascença (Jo 9). Se lemos Jo 9,41 e o começo do sermão sobre o Bom Pastor (Jo 10,1) percebemos que não há nenhuma separação cronológica nem mudança de cenário. O homem que voltou a enxergar por obra de Jesus foi expulso da sinagoga e excomungado por causa de sua fé em Jesus Messias. Apesar disto, o cego iluminado encontrou o Bom Pastor e partir de então ele não viverá como ovelha desgarrada.

Comentário sobre o texto
   
O uso metafórico do substantivo “pastor” (poimén em grego) aparece pelo menos 14 vezes no NT (Mt 9,36;25,32;26,31;Mc 6,34;14,27;Jo 10,2.11.12.14.16;Ef 4,11;Hb 13,20;1Pd 2,25). Lucas nunca usa o termo “pastor” em sentido figurado, mas só em sentido próprio (cf. Lc 2,8.15.20). Também na parábola da ovelha perdida (Lc 15,4-6) ele não chama o protagonista de “poimén”, “pastor”, como o faz Mt, mas simplesmente de ánthropos, “homem”.

No evangelho de João, a palavra “pastor” faz parte do vocabulário da auto-revelação do Messias; ela é precedida da afirmação “egó eimí”, “Eu sou” (Em Jo, sete vezes, Jesus toma a palavra para se autoproclamar: 6,35: Eu sou o pão da vida; 8,12: Eu sou a luz do mundo; 10,7: Eu sou a porta; 10,11: Eu sou o bom pastor; 11,25: Eu sou a ressurreição e a vida; 14,6: Eu sou o caminho, a verdade e a vida; 15,1: Eu sou a videira verdadeira).

O pastor de Jo 10 assume o comportamento do guia: conduzir para fora, levar para fora, caminhar adiante(v.4) e os aspectos de providência e salvação: quem entra pela porta, que é Jesus(v.9) será salvo, pois ele veio para que as suas ovelhas “tenham a vida em abundância”(v.10). O bom pastor arrisca ou expor a vida frente a um perigo que ameaça outrem.

Essa doutrina cristológica contém mensagem de importância excepcional para nossa vida de fé e nossa missão de guia ou pastores. Jesus Cristo é o mediador perfeito em sentido descendente e ascendente; na direção vertical e horizontal. O Pai comunica a revelação de sua vida de amor ao homem por meio de seu Filho(cf. Jo 1,17s); a salvação é dada ao homem somente por meio do Filho unigênito(Jo 3,14ss); a vida divina foi trazida ao mundo por meio de Jesus(Jo 14,6). E o homem pode subir até Deus unicamente por meio do seu Filho, que é a vida(Jo 14,2-6); a vida de comunhão com o Pai só é possível através de Jesus Cristo. Enfim, o homem pode exercer função pastoril e salvífica somente se comungar com eles por meio de Cristo, a única porta do redil de Deus (Jo 10,7ss).

A mensagem desta doutrina é dirigida tanto para todos os cristãos em geral como, particularmente, para os que exercem função de guia no seio da comunidade. Para ser instrumento de vida e salvação para os irmãos e irmãs, é necessário estar em contato íntimo e vital com aquele que é a salvação personificada: o Senhor Jesus. Para a função pastoral ser exercida com fruto, torna-se indispensável uma comunhão profunda com Cristo, o pastor supremo do rebanho de Deus; exige-se amor forte e concreto à sua pessoa.

Alguns elementos importantes do texto para a nossa reflexão:

1. Jesus é o meu bom Pastor

No evangelho Jesus diz: “Eu sou o Bom Pastor”(v.11). Temos três elementos para se explicar: “Eu sou”, “ bom” e “pastor”.

O “Eu sou” é a expressão máxima da liderança que dá a vida. E “ Eu sou” é carregado de sentido teológico, porque o “Eu sou” é uma abreviatura do nome de Deus/Javé: “Eu sou Aquele que sou”(Êx 3, 14). Jesus se coloca em pé de igualdade com Deus. Quem é este Deus ? No êxodo ele tirou o povo hebreu do curral do Egito, conduziu-o no deserto e introduziu-o para a Terra prometida. Ao dizer “Eu sou o Bom Pastor”, Jesus, de fato, faz o que o Pai sempre fez. Jesus é a presença viva do Deus que conduz cada um de nós para fora de tudo o que nos oprime e que diminui e lesa a vida. Jesus tira as pessoas de todos os tipos de exclusão.

“Eu sou o bom pastor”. Em grego usa-se o termo “kalós” (Egó eimi o poimèn o kalos) que em si significa “belo”, mas se traduz com o termo “bom” em português. “kalós” pode significar também alguma coisa excelente, excepcional; ou pode significar a qualidade de uma coisa ou de uma pessoa que corresponde plenamente à sua função ou a adequação à finalidade de objetos, situações, pessoas e ações(cf. Mt 13,8;7,17s;Jo 2,10;10,32;1Pd 4,10;2Tm 2,3 etc.). Jesus que se dedica total e exclusivamente às ovelhas pode ser chamado o “bom” pastor por excelência. A figura do pastor no AT é o símbolo da dedicação, do cuidado e do amor desinteressado. O pastor é aquele que está plenamente desperto, vigilante, prevenido, pronto, atento e aplicado. É uma pessoa devotada, no sentido próprio: vive com e para seu rebanho. Essa imagem é muitas vezes aplicada a Javé(cf. Is 40,11;Sl 23,1;80,2) para exprimir o amor de Deus na eleição e direção de seu povo, Israel.

Jesus aplica a si mesmo a imagem do bom pastor, porque ele sabe muito bem que existem maus pastores. Eles são chamados no Evangelho de hoje com palavras muito fortes: mercenários, ladrões e assaltantes. Ou seja, alguém que se serve do povo para manter seus interesses e privilégios, deixando o povo morrer. Usa-se também outro termo “lobo”. O lobo representa um perigo mortal para as ovelhas ou adversário. Biblicamente “lobo” representa pessoas maléficas(cf. Hab 1,8;Ez 22,27;Sf 3,3). Não é por acaso que temos um dito “Homo homini lupus est”, o homem é (capaz de ser) um lobo para outro homem. O profeta Isaías até sonhou com o tempo ideal em que “o lobo habitará com o cordeiro” (Is 11,6;65,25). Temos, então, aqui uma oposição entre bom pastor e mau pastor.

Para quem tem um coração de mercenário, o mais importante é ater-se às condições mínimas estipulados em contrato. Quem tem o coração de verdadeiro pastor não fica fazendo contas: aonde chegam os meus direitos, onde terminam as minhas obrigações. Ele segue uma única lei: o amor. Aquele que não ama, nunca vai entender Jesus e seu amor louco que aceitou morrer na cruz para resgatar a humanidade.

Como sabemos que todo pastor tem direitos sobre o rebanho: veste-se com a lã das ovelhas e alimenta-se com a carne e o leite delas. O rebanho sustenta a vida do pastor. Jesus é um pastor diferente. Ele é o Bom Pastor porque ele é, literalmente, não retém nada para si; ele não exige nada das ovelhas. Pelo contrário, ele dá a vida por elas(10,11).

Para o Evangelho de João, então, pastor é o lutador que, ao preço da própria vida, enfrenta todos os que colocam em perigo o seu rebanho. Jesus é o bom pastor porque se despoja até da própria vida para proteger e defender as ovelhas. Por isso, a qualificação “bom” aqui não tem qualquer valor sentimental: não significa doce, suave que não causa mal algum a ninguém. O “bom” aqui significa o verdadeiro, o autêntico, o corajoso, lutador. Jesus é o Bom Pastor porque o seu amor é tão imenso para conosco que está disposto a sacrificar a sua própria vida.

Jesus nos convida, por isso, a imitá-lo na solidariedade sem fronteiras com os seus irmãos, em particular com os mais explorados e fracos, sem defesa nenhuma. Essa solidariedade pode ir até a entrega da própria vida: oferenda feita voluntariamente, com plena liberdade; um compromisso por amor e não por obrigação formal. Nisto consiste a imitação de Jesus, o Bom Pastor... Ser pastor não é uma profissão mas é uma opção de vida. Todos somos pastores dos nossos irmãos; temos uma responsabilidade frente a eles que devemos assumir livremente. Não podemos, contudo, ser pastores para os outros, se tivermos ainda a mentalidade de assalariados.

2. Jesus me conhece

Jesus diz também: “Eu conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas me conhecem”(v.14b). O verbo “conhecer”(ginósko em grego) deve ser entendido no contexto semita. Para um semita “conhecer” não é apenas uma atividade intelectual, mas tem toda uma conotação existencial de união profunda. O verbo “conhecer” em Jo envolve toda a vida religiosa, moral e social do indivíduo que aceita a mensagem de Deus e pauta por ela todo o modo de viver.  O verbo “conhecer” envolve o ver, o ouvir, o perceber, o experimentar. No AT, o homem é objeto do conhecimento divino. Deus sabe o meu nome: “Eis que te gravei nas palmas da minha mão...”(Is 49,16). Deus nunca pode olhar sua mão sem ver o meu nome.. E meu nome quer dizer: Eu mesmo. Santo Agostinho diz: Um amigo é alguém que tudo sabe a teu respeito e, apesar disso, gosta de ti”. Mas o homem também conhece a Deus. Conhecer Deus significa ter com ele uma relação pessoal, religiosa e ética: buscá-lo(Sl 9,11;36,11), temê-lo(1Rs 8,43;Is 11,2),crer nele(Is 43,10, apegar-se a Deus que liberta e salva(Sl 91,14).

Jesus Cristo conhece pessoalmente cada um de nós, suas ovelhas. Ele não conhece como massa de pessoas. Ele conhece cada um em sua integridade. E devemos estar conscientes disso. Quando rezamos devemos sempre ter consciência de que Jesus me conhece na minha integridade, no meu ser, na minha especificidade, na minha estrutura, que eu sou irrepetível, eu sou insubstituível como pessoa e não como função(pois os outros podem fazer o melhor do que aquilo que fiz na minha função. Na minha função sou substituível, na minha existência como pessoa, eu sou insubstituível: não existe outra pessoa igual a mim). Jesus me ama com os meus ideais e minhas decepções, com os meus sacrifícios e alegrias e com os meus sucessos e fracassos. O próprio Senhor Deus é a razão de ser mais profunda de minha existência. Se Deus me ama devo também me aceitar a mim mesmo. O Senhor me conhece verdadeiramente, tal como realmente sou, sem aplicar rótulos e categorias. Por isso, ele é a única garantia de que eu posso ser eu mesmo. Essa consciência da origem divina torna-me justamente mais precioso e mais seguro. Nessa dependência reside uma profunda paz que o mundo nunca pode dar.

No meio da multidão das grandes cidades, e até mesmo dentro de nossas imensas igrejas cheias de gente, muitas vezes a pessoa se sente sozinha, cercada por desconhecidos que não sabem o seu nome, que não se interessam por seus problemas. Conhecer e ser conhecido é um conforto emocional do qual muita gente está precisando.
      
Jesus diz que conhece as suas ovelhas e é por elas conhecido. Uma comunidade que anuncia e continua a missão de Jesus não poderia ser um amontoado de gente que não se conhece, onde um não conta com o outro, onde cada um vai fazer sua oração como se estivesse sempre sozinho na igreja.

As primeiras comunidades cristãs eram espaço de intimidade e intercâmbio fraterno. Não estaria bem na hora de criar esse clima nas nossas impessoais comunidades urbanas ?(Na hora de dar a paz, sai um pouco do seu lugar para cumprimentar o outro e perguntar o nome dele. Decorar um nome por domingo é uma forma para criar uma comunidade de nomes e não de números).

3.   Jesus é o meu bom pastor porque se preocupa também com outras ovelhas.

Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil: também a elas devo conduzir; elas escutarão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor”(v.16), diz Jesus.  Isto quer dizer que o amor de Cristo não tem limite e não faz distinções. Judeus e pagãos são co-envolvidos no mesmo amor. O amor de Jesus é universal. Ele quer salvar todos. Os pagãos desprezados por bom número de judeus eram chamados a incorporar-se ao “rebanho” de Jesus. Quando ele diz que um dia haverá um só rebanho e um só pastor, Jesus não está querendo uniformizar todos: no pensar, no dizer, no fazer ou no rezar. Quando olhamos uma realidade a partir de nosso ponto de vista devemos estar conscientes de que não estamos em outros pontos de vista ao mesmo tempo. Isto nos permite deixar alguém ver de outro ângulo sobre a mesma realidade. Afinal, cada ponto de vista é vista de um ponto. Por isso, posso estar certo e posso também estar errado. A diversidade é sempre uma riqueza. Não é errado sermos diferentes, errado é sermos divididos, é errado estarmos uns contra os outros. Temos de aplicar na nossa vida um dito conhecido: “Nas coisas essenciais unidade, nas coisas acidentais liberdade, e em tudo caridade”.


4.Preciso viver despreocupado, pois o Senhor é meu Pastor

Devemos observar a vida dos rebanhos de ovelhas com seu pastor. Os rebanhos não têm pressa, nem agitação ou preocupação. Eles sabem que o seu pastor está ali para cuidar deles. E, por isso, são livres para fruir a verde pastagem. Jubilosos e despreocupados, os rebanhos não calculam: onde iremos amanhã, se as chuvas serão suficientes para fornecerem pastagem no ano seguinte. Eles não se preocupam, porque há quem cuide deles. Eles vivem o dia-a-dia, o hora-a-hora. E isso é felicidade.

O Salmo 23(22) diz: “O Senhor é meu Pastor”. Emmanuel Kant chegou a dizer que o Salmo 23(22) lhe deu mais consolo que todos os livros que havia lido. Se eu ao menos acreditar nisso, a minha vida se transformará. A minha ansiedade desaparecerá, os meus complexos se dissolverão e a paz voltará aos meus nervos perturbados. Viver o dia-a-dia, o hora-a-hora, porque o Senhor está presente. Se acreditar de fato nele, serei livre para me movimentar, para respirar, para viver. Livre para fruir a vida. Cada momento é precioso porque não é maculado pelas preocupações com o próximo momento. O Senhor, meu Pastor, sabe e isso me basta. É a felicidade sob a graça. É a bênção de crer na Providência. É a bênção de viver na obediência ao Bom Pastor. É a bênção de seguir a prontidão do Espírito Santo pelos caminhos da vida. O Senhor é meu pastor; nada me faltará. Crer em Deus é admitir que ele vela sobre nós como um pastor.

Se nós somos ovelhas do bom Pastor Jesus, Deus faz de nossa vida uma bênção para muitas pessoas. Se somos realmente seus, então devemos amá-lo com o amor divino. Se somos realmente ovelhas do bom Pastor Jesus, então devemos ouvir somente sua voz. Quem conhece Jesus, a voz de Jesus para ele é inconfundível.

Portanto, vamos lançar alguma perguntas para nós mesmos: Acredito realmente que o Senhor é o meu Pastor? Posso afirmar, a partir da minha vida, que sou bom. Será que eu tenho sempre tendência de fugir da minha responsabilidade? Em outras palavras: tenho mentalidade de assalariado?

P. Vitus Gustama,svd

sexta-feira, 27 de abril de 2012

SÓ JESUS TEM PALAVRAS DE VIDA ETERNA

Sábado, 28 de Abril de 2012

Texto de Leitura: Jo 6,60-69

Naquele tempo, 60muitos dos discípulos de Jesus, que o escutaram, disseram: “Esta palavra é dura. Quem consegue escutá-la?” 61Sabendo que seus discípulos estavam murmurando por causa disso mesmo, Jesus perguntou: “Isto vos escandaliza? 62E quando virdes o Filho do Homem subindo para onde estava antes? 63O Espírito é que dá vida, a carne não adianta nada. As palavras que vos falei são espírito e vida. 64Mas entre vós há alguns que não creem”. Jesus sabia, desde o início, quem eram os que não tinham fé e quem havia de entregá-lo. 65E acrescentou: “É por isso que vos disse: ninguém pode vir a mim a não ser que lhe seja concedido pelo Pai”. 66A partir daquele momento, muitos discípulos voltaram atrás e não andavam mais com ele. 67Então, Jesus disse aos doze: “Vós também vos quereis ir embora?” 68Simão Pedro respondeu: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. 69Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus”.

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Ao ouvir o discurso sobre o Pão da vida no qual Jesus declara que a carne e o sangue dele são verdadeira comida e verdadeira bebida um grupo fica escandalizado.

Uma palavra ou uns fatos são escandalosos na medida em que rompem os esquemas, hábitos ou comportamentos dos indivíduos ou dos grupos. O grupo que hoje se escandaliza já não é o grupo dos mestres de Israel e sim um grupo dos discípulos de Jesus. Eles se sentem mais seguros sendo observantes do que sendo crentes. Eles preferem o estado de vida orientado pela Lei ao estilo de vida orientado pela fé, estilo de vida carnal ao estilo de vida espiritual. Diferentemente da pessoa carnal, a pessoa espiritual é aquele que se entende a si mesma a partir de uma relação com Deus manifestada por Jesus: “O espírito é que dá vida, a carne não adianta nada. As palavras que vos falei são espírito e vida”, disse Jesus aos discípulos.

Mesmo assim muitos discípulos abandonaram Jesus. No entanto, Pedro responde à pergunta de Jesus fazendo em nome de seus companheiros uma sincera profissão de fé: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o santo de Deus”. Eles crêem que Jesus tem palavra de vida eterna e que ele é o Messias ou “santo de Deus” por outra parte. A questão não é somente seguir ou deixar de seguir Jesus e sim encontrar o outro que tenha ele palavras capazes de dar vida eterna.

Também no mundo de hoje, como para os ouvintes que estavam em Cafarnaum, Jesus se converte em sinal de contradição, como anunciou o ancião Simeão, quando Maria e José apresentaram seu filho no Templo. A dureza da fé pode nos levar ao cansaço e ao abandono. São muitos batizados que optaram por buscar caminhos mais fáceis em vez de encarar a verdade e se esforçar para melhorar a qualidade de vida e de fé. Cristo é difícil de admitir na própria vida, se é entendido tudo o que comporta o crer nele. Ele é exigente, e seu estilo de vida está não poucas vezes em contradição com os gostos e as tendências de nosso mundo. Crer em Jesus, e concretamente comungar com ele na Eucaristia, que é uma maneira privilegiada de mostrar nossa fé nele, pode resultar difícil.

Quando nos cansamos de seguir o bem, de viver de acordo com a verdade, o amor, e a justiça, quando nos pesa a fidelidade a Deus e aos irmãos, quando o mal nos circunda e nos assedia, quando a dúvida e a incredulidade nos oprimem, então, Jesus também nos pergunta: “Também tu queres partir e me abandonar?”. Constantemente temos que escolher entre vários deuses e senhores. Se quisermos optar pela vida em plenitude, sem limite nem ocaso, temos que fazer nossas as palavras de Pedro: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna”.

Nós cremos em Jesus e sabemos disso. Mas a fé é uma adesão pessoal a Cristo. A fé entendida como adesão pessoal a Cristo nos conduz a um maior conhecimento de sua mensagem e de sua pessoa. Conhecer Jesus, refletir sua mensagem e assimilar suas atitudes nos conduz a uma maior maturidade na fé.

P. Vitus Gustama,svd

quinta-feira, 26 de abril de 2012

COMER A CARNE E BEBER O SANGUE DE JESUS


Sexta-feira, 27 de Abril de 2012

Texto de Leitura: Jo 6, 52-59

Naquele tempo, 52os judeus discutiam entre si, dizendo: “Como é que ele pode dar a sua carne a comer?” 53Então Jesus disse: “Em verdade, em verdade vos digo, se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós. 54Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. 55Porque a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue, verdadeira bebida. 56Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. 57Como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo por causa do Pai, assim o que me come viverá por causa de mim. 58Este é o pão que desceu do céu. Não é como aquele que os vossos pais comeram. Eles morreram. Aquele que come este pão viverá para sempre”. 59Assim falou Jesus, ensinando na sinagoga em Cafarnaum.

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A palavra que se repete no texto deste dia, dentro do discurso de Jesus sobre o Pão da vida é “carne”. A palavra “carne” designa tudo o que constitui a realidade do homem com suas possibilidades e debilidades (Jo 1,14;3,16;8,15). A carne designa aqui o ser humano, considerado sob o aspecto de ser material, sensível e perceptível.

Comer a carne e beber o sangue de Jesus significa incorporar-se, fusionar. É entrar em comunhão de amor e de destino. Tomar o Corpo e o sangue, além disso, é reconhecer a vida do Espírito na carne e no sangue da humanidade (cf. 1Cor 3,16-17). É a humanidade que sofre, que busca, que dá a luz ao mundo com dor; a humanidade que se alegra, que canta e dança. É a humanidade de ricos e de pobres, humanidade de pecadores e de santos. É a humanidade dos rápidos e dos atrasados em descobrir a graça de Deus. É a humanidade da humanidade.

A eucaristia proporciona uma comunhão real de vida e de destino com a pessoa de Jesus. Seu Corpo nos faz participarmos na ressurreição, nos faz vivermos por Cristo que é vida para sempre, nos faz convivermos como irmãos, nos leva a vivermos na igualdade.

Há três efeitos da Eucaristia que o discurso sobre o Pão da vida nos indica:

1. A vida eterna e a ressurreição

“Quem come minha carne e bebe meu sangue tem vida eterna e Eu o ressuscitarei”. Na Eucaristia comungamos o Cristo vivo ressuscitado. E este corpo ressuscitado passa a ser em nós “semente” de vida divina. No momento da Ceia Jesus falará do banquete celestial onde reunirá de novo seus amigos: “Não beberei mais do fruto da vinha até o dia em que beberei convosco o vinho novo no Reino do meu Pai”. Vamos caminhando até este encontro feliz.

2. A imanência recíproca de Cristo e do cristão

“Quem come minha carne e bebe meu sangue permanece em mim e eu nele”. Nós sabemos muito bem o que significa o estar com alguém a quem se ama? É ser feliz com ele. A vocação de todo homem é estar com Deus, permanecer em Deus e estar com todos os homens. É o tema fundamental da Aliança, que se expressou, ao curso da história da salvação, na Sagrada Escritura, por fórmulas cada vez mais íntimas: “Vós sereis meu povo, e Eu serei vosso Deus”, “Meu amado está comigo e Eu estou com ele”, “Permanecei em Mim e Eu em vós”.

3. A consagração do cristão a Cristo

Assim como o Pai que me enviou vive, e eu vivo pelo Pai, assim também aquele que comer a minha carne viverá por mim”.  Jesus consagrou sua vida ao Pai, viveu totalmente para Ele para viver totalmente para os homens. Por sua vez, ele nos pede vivermos para Ele para alcançar a comunhão plena com o Pai na comunhão com os irmãos.

Por isso, comungar o Corpo e Sangue do Senhor não é uma coisa mágica, automática. É um compromisso sério para viver a vida como Cristo a viveu: Viveu somente para o bem. Ensinou somente para indicar o caminho para o bem e para alcançá-lo. Usou até palavras duras como “hipócrita”, “vida como um túmulo: belo por fora, podre por dentro” para dizer-nos que vale a pena largar outros interesses em função do bem e da verdade.      

P. Vitus Gustama,svd

quarta-feira, 25 de abril de 2012

CRER EM JESUS, PÃO DA VIDA

 

Quinta-feira, 26 de Abril de 2012

Texto de Leitura: Jo 6,44-51

Naquele tempo, disse Jesus à multidão: 44“Ninguém pode vir a mim, se o pai que me enviou não o atrai. E eu o ressuscitarei no último dia. 45Está escrito nos Profetas: ‘Todos serão discípulos de Deus’. Ora, todo aquele que escutou o Pai e por ele foi instruído, vem a mim. 46Não que alguém já tenha visto o Pai. Só aquele que vem de junto de Deus viu o Pai. 47Em verdade, em verdade vos digo, quem crê possui a vida eterna. 48Eu sou o pão da vida. 49Os vossos pais comeram o maná no deserto e, no entanto, morreram. 50Eis aqui o pão que desce do céu: quem dele comer, nunca morrerá. 51Eu sou o pão vivo descido do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que eu darei é a minha carne dada para a vida do mundo”.

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A idéia principal do evangelho de hoje continua sendo a fé em Jesus como condição para a vida (veja Jo 35-40). A frase que a resume melhor é v.47: “Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim possui a vida eterna”. Os verbos que encontramos no texto anterior (Jo 35-40): ver, vir e crer, hoje se acrescenta um novo “Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o atrai”. Isto quer dizer que a fé é um dom de Deus. E esse dom requer uma decisão pessoal.

Mas no final da leitura do evangelho deste dia mudou o discurso. Começou a soar o verbo “comer”. A nova repetição: “Eu sou o Pão vivo” tem agora outro desenvolvimento: “O Pão que eu darei é minha carne para a vida do mundo”. Onde Jesus entregou sua carne pela vida do mundo foi na cruz. Mas as palavras que seguem e que leremos amanhã (Jo 6,52-59) apontam também claramente para a Eucaristia, onde celebramos e participamos sacramentalmente de sua entrega na cruz. A Eucaristia é antecipação da glória celestial como dizia Santo Inácio de Antioquia: “Partimos o mesmo pão que é remédio de imortalidade, antídoto para não morrer, para viver para sempre em Jesus Cristo”.

A passagem do evangelho deste dia se abre com uma afirmação categórica de Jesus sobre a intervenção do Pai na vida do cristão: “Ninguém pode vir a mim se o Pai que me enviou não o atrai”. O interessante desta afirmação é que Jesus a clarifica em seguida: “Não é que alguém tenha visto o Pai”. Isto nos estabelece a necessidade de saber entender a forma em que Deus intervém em nossa vida. Certamente não o faz com aparições e sim no silêncio da vida cotidiana. Segundo Jesus na cotidianidade da vida é que podemos descobrir a presença de Deus.

Jesus pede a cada um de nós uma disponibilidade aberta a descobrir, a ler e a encontrar-se com Deus Pai no interior da própria vida. Isto é que permite abrir-se e deixar-se penetrar por uma mensagem que mudará a maneira de apreciar a realidade e a vida, de relacionar-se uns com os outros e de entender Deus. Segundo Jesus, há duas coisas que podemos fazer a partir da cotidianidade: escutar o Pai e reproduzir as obras que ele faz (v. 45).

P. Vitus Gustama,svd
 SÃO MARCOS EVANGELISTA


25 de Abril de 2012

Texto de Leitura: Mc 16,15-20

Naquele tempo, Jesus se manifestou aos onze discípulos, 15e disse-lhes: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura! 16Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado. 17Os sinais que acompanharão aqueles que crerem serão estes: expulsarão demônios em meu nome, falarão novas línguas; 18se pegarem em serpentes ou beberem algum veneno mortal não lhes fará mal algum; quando impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados”. 19Depois de falar com os discípulos, o Senhor Jesus foi levado ao céu, e sentou-se à direita de Deus. 20Os discípulos então saíram e pregaram por toda parte. O Senhor os ajudava e confirmava sua palavra por meio dos sinais que a acompanhavam.

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Celebramos no dia 25 de Abril a festa do evangelista Marcos que escreveu um evangelho mais curto do que os demais evangelhos. Ele é conhecido como João Marcos: o primeiro nome (João) é hebraico e o segundo (Marcos) é romano. Ele era primo de Barnabé (Cl 4,10), de família levita (At 4,36). Acompanhou o Apóstolo Paulo e Barnabé (At 12,25; 13,5) e depois separou-se deles (At 13,13) e  isso parece ter irritado Paulo, então Marcos e Barnabé foram para Chipre (At 15,36-39). Mas na prisão de Paulo está com ele novamente (Cl 4,10), que o cita entre os “seus colaboradores” (Fm 14) e o Apóstolo pede sua ajuda antes de morrer (2Tm 4,11). Foi também companheiro de Pedro, que o chamava de “meu filho” (1Pd 5,13). Alguns afirmam que o Evangelho de Marcos é o resumo da Catequese de Pedro.

Através de seu evangelho Marcos quer responder à pergunta: Quem é Jesus? Marcos nos apresenta que Jesus é o Messias, o Ungido, e por isso, sua palavra está cheia de autoridade. “Ele ensina como quem tem autoridade e não como os escribas”, dizia o povo (Mc 1,22). As palavras de Jesus estão cheias de autoridade porque elas fazem crescer as pessoas e despertam consciência crítica sobre a realidade. Se alguém quer saber quanta autoridade tem, não se pergunte a quantos ele submete e sim a quantos ele ajuda a crescer. O servilismo de seus súditos mostra o autoritarismo de seu líder. Um líder que ama, é respeitado. Mas um líder temido não é respeitado. A força de quem tem autoridade não está em seu poder e sim em seu amor. Uma pessoa que apela ao poder para afirmar ou firmar sua autoridade, ela desautoriza a si mesma como pessoa, muitas mais ainda como líder e mostra que ela não tem mais autoridade. Um leão não tem autoridade na selva, embora tenha força para se impor. (O evangelho de Marcos tem como símbolo LEÃO, pois Marcos apresenta a figura de João Batista como a VOZ que clama no deserto semelhante ao rugir de leão).

Jesus é também apresentado por Marcos como o Filho de Deus, título que Marcos colocou logo no inicio de seu evangelho (Mc 1,1) e no fim ao colocá-lo na boca de um centurião romano vendo Jesus crucificado na cruz. “Este homem era realmente o Filho de Deus” (Mc 15,39), confessou o centurião. Trata-se da confissão de um pagão que reconhece a divindade de Jesus Cristo. Um coração puro, como o do centurião, nos ajuda a termos um olhar puro para perceber algo divino na nossa vida e nos outros. Não há poema mais belo do que viver com um coração imaculado e um olhar puro.

Mas para Marcos o Filho de Deus não era uma figura triunfal, pois dentro da dura realidade da vida da sua época Jesus fez opções radicais que o envolviam em perseguições e conflitos com as autoridades que o levaram à morte na cruz. Mas somente por essas opções radicais é que Jesus entrou na glória de Deus. Por isso, a cruz de Jesus sempre derrama uma luz sobre o mistério do sofrimento. Um cristão que é fiel ao Senhor e aos Seus ensinamentos sofrerá conflitos e perseguições. Em cada provação e perseguição, pequena ou grande, o cristão fiel contempla o que Cristo sofreu nas mesmas circunstâncias.  Dessa maneira, o sofrimento do cristão se confunde com o de Cristo e ele n’Ele. Dentro deste contexto, o sofrimento se torna um instrumento de redenção e de santificação. Neste sentido, os momentos de perseguição e de provas são os momentos do trabalho fecundo. Sofrer por uma causa digna é uma vitória em Deus.

Esses dois títulos: Jesus é o Messias, o Ungido e Jesus é o Filho (amado) de Deus formam o evangelho de Marcos. É claro que ainda tem outros títulos dados a Jesus pelo evangelista Marcos como o Filho de Davi, o Filho do Homem, Mestre, Senhor do Sábado e assim por diante.

O evangelista marcos fez chegar até nós Jesus Cristo, o Filho de Deus. Chegou nossa vez para que façamos chegar Jesus aos outros, seja pelo testemunho de uma vida de filhos de Deus, seja pelo anúncio, seja pelos bons conselhos aos demais. Em outras palavras, sejamos evangelhos vivos para os outros. “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura!”.  São Marcos interceda por nós!

P. Vitus Gustama,svd

segunda-feira, 23 de abril de 2012

JESUS, VERDADEIRO PÃO DA VIDA

SER PÃO PARA OS DEMAIS

Terça-feira, 24 de Abril de 2012

Texto de Leitura: Jo 6, 30-35

Naquele tempo, a multidão perguntou a Jesus: 30 “Que sinal realizas, para que possamos ver e crer em ti? Que obras fazes? 31Nossos pais comeram o maná no deserto, como está na Escritura: ‘Pão do céu deu-lhes a comer’”. 32Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade vos digo, não foi Moisés quem vos deu o pão que veio do céu. É meu Pai que vos dá o verdadeiro pão do céu. 33Pois o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo”.  34Então pediram: “Senhor, dá-nos sempre desse pão”. 35Jesus lhes disse: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede”.

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No Evangelho de hoje, as pessoas simples pedem a Jesus “sinais”: “Que sinais realizas para que possamos ver e crer em ti?”. E quase como provocando-lhe, disseram que Moisés havia feito sinais: o maná que proporcionou aos seus na travessia do deserto. Assim literariamente o evangelista construiu a cena para dar lugar a continuação ao discurso de Jesus sobre o Pão verdadeiro.

Todo o discurso seguinte vai ser como uma homilia em torno do tema do pão: o pão que Jesus multiplicou no dia anterior, o maná que Deus deu ao povo no deserto, e o Pão que Jesus quer anunciar. A frase crucial é uma citação do Sl 77,24: “Senhor, dá-nos sempre desse pão”.

Aqui se estabelece o paralelismo entre Moisés e Jesus, entre o pão que não sacia e o pão que dá vida eterna, entre o pão com minúscula e o Pão com maiúscula. A partir da experiência da multiplicação e da recordação histórica do maná, Jesus conduz seus ouvintes para a inteligência mais profunda do Pão que Deus lhes quer dar, que é ele mesmo, Jesus Cristo. Se no deserto o maná foi a prova da proximidade de Deus para com seu povo, agora o mesmo Deus quer dar para a humanidade o Pão verdadeiro que é Jesus em quem devemos acreditar.

“Senhor, dá-nos sempre desse pão”. O homem de hoje está sedento, está faminto e não sabe de quê? Por isso, há uma busca sem trégua tratando de encontrar algo que possa o saciar verdadeiramente. Ele o busca no prazer, no poder, na fama, no dinheiro e assim por diante. Quem vive somente em função do prazer é porque não tem prazer de viver. Afinal, o resultado é sempre o mesmo: vazio e solidão. Somente Jesus é o Pão que sacia. Somente a vida no amor de Deus pode dar sentido à vida: “Eu sou o Pão da vida. Quem vem a mim, não terá mais fome e quem crê em mim nunca mais terá sede” (Jo 6,35). Somente seu amor enche nossos vazios e nossas solidões. A vida em Cristo se transforma em plenitude. Por isso, quem tem Cristo tem tudo, quem não O tem, não tem nada.

Enquanto não crermos plenamente em Jesus Cristo, nosso ser andará buscando saciar sua sede e sua fome em qualquer lugar. Por isso, nosso coração anda inquieto enquanto não descansar em Deus e se nutrir do Pão da Vida que é seu Filho Jesus Cristo através de uma plena e verdadeira comunhão com Ele. Uma vez que crermos em Jesus de todo coração, uma vez que nascermos do Espírito Santo, então nos daremos conta de que não teremos sede jamais. Simplesmente viveremos na Presença do grande Eu-Sou.

Quem se alimenta é porque quer continuar vivendo. Mas o alimento temporal somente prolonga nossa vida por um pouco tempo. O Senhor Jesus nos dá vida eterna. Quem O aceitar, terá essa vida. Mas ter a vida não significa somente usufruí-la de um modo egoísta. A vida é como um fruto que os demais devem usufruir, pois, junto com eles, estaremos trabalhando para que todos vivam com maior dignidade. Nós nos alimentamos de Cristo para poder alimentar o mundo, convertidos em pão de vida e deixando de ser, para o mundo, um pão venenoso, podre e deteriorado. Pode até ser pão duro, mas depois tem que ser colocado no forno para virar torrada.


Comungar o Pão Eucarístico, o próprio Corpo do Senhor significa ser pão para os demais. O cristão é chamado a ser pão, a ser alimento, em ser vida para os outros a exemplo de Cristo Jesus. Ser pão significa que já não posso mais viver para mim e sim para os demais. Significa que tenho que estar inteiramente disponível a tempo completo. Significa que eu devo cultivar a ternura e a bondade porque assim é o pão, terno e bom. Significa que devo estar sempre disposto ao sacrifício como o pão que se deixa triturar. Significa que devo viver sempre no amor capaz de morrer para dar vida aos demais, como o pão.


P. Vitus Gustama,svd

domingo, 22 de abril de 2012

SER SINAL DE DEUS


Segunda-feira, 23 de Abril de 2012

Texto de Leitura: Jo 6,22-29

Depois que Jesus saciara os cinco mil homens, seus discípulos o viram andando sobre o mar. 22No dia seguinte, a multidão que tinha ficado do outro lado do mar constatou que havia só uma barca e que Jesus não tinha subido para ela com os discípulos, mas que eles tinham partido sozinhos. 23Entretanto, tinham chegado outras barcas de Tiberíades, perto do lugar onde tinham comido o pão depois de o Senhor ter dado graças. 24Quando a multidão viu que Jesus não estava ali, nem os seus discípulos, subiram às barcas e foram à procura de Jesus, em Cafarnaum. 25Quando o encontraram no outro lado do mar, perguntaram-lhe: “Rabi, quando chegaste aqui?” 26Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade, eu vos digo: estais me procurando não porque vistes sinais, mas porque comestes pão e ficastes satisfeitos. 27Esforçai-vos não pelo alimento que se perde, mas pelo alimento que permanece até a vida eterna, e que o Filho do homem vos dará. Pois este é quem o Pai marcou com seu selo”. 28Então perguntaram: “Que devemos fazer para realizar as obras de Deus?” 29Jesus respondeu: “A obra de Deus é que acrediteis naquele que ele enviou”.

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O texto do evangelho deste dia quer enfatizar o problema da pessoa de Jesus e da capacidade da fé para descobrir o mistério que está por trás dos sinais operados por Jesus. João convida os ouvintes a estarem sempre em estado de busca autentica da pessoa de Jesus para entender suas palavras e obras.

Quando revela sua própria pessoa Jesus emprega uma fórmula nova: Pão da vida que era algo desconhecido no AT. Assim como outras fórmulas tais como “Luz da vida” (Jo 8,12), “Palavra de vida” (1Jo 1,1), “água de vida” (Ap 21,6;22,1), Bom Pastor (Jo 10), Videira (Jo 15) e assim por diante. A expressão “Pão da vida” quer nos transmitir que Jesus é a verdadeira vida imortal. Quem crê em Jesus, no sentido de viver de acordo com seus ensinamentos já está com a vida imortal porque está com Jesus e está nele.

Esforçai-vos, não pelo alimento que perece, mas pelo que dura até a vida eterna, que o Filho do Homem vos dará” (Jo 6,27). 

Não somos somente animais de necessidades: comer, beber, dormir, respirar, vestir-nos e assim por diante. Não somos homens unidimensionais que sacrificamos nossa vida aos imperativos de ídolo do consumismo. Somos homens multidimensionais. Somos homens de sentido. Somente encontrando o sentido de sua vida, o porquê e o para quê da vida é que o homem alcançará sua verdadeira felicidade.

O homem de hoje, ainda que não conscientemente, busca felicidade, segurança, vida, verdade e o sentido da vida. Há boa vontade em muita gente. O que essas pessoas necessitam é que alguém lhes ajude. Às vezes tem uma concepção pobre da fé cristã por temor ou por um sentido meramente de preceito ou por interesse. Alguns procuram Deus pelos favores que d’Ele esperam, sem buscar o próprio Deus. Se nós cristãos ajudarmos as pessoas que buscam Deus, com nossas palavras e obras, se formos sinais de Deus nesta terra, creio que muitas pessoas vão procurar não somente alimento que se perde, mas principalmente alimento que perdura para sempre que é Cristo que dá valor para o resto. A partir de Cristo tudo ganha seu próprio valor.

É importante recordar que nem tudo que você quer é o que você necessita e nem tudo que você necessita você vai conseguir no momento em que desejar. Mas apesar de tudo, nunca renuncie a suas metas e por isso, continue em frente! Não permita que as desilusões da vida abortem seu potencial e o afastem de seus sonhos de dignidade. Procure fazer as coisas e estar com as pessoas que acrescentam valor à sua vida. Não basta encontrar solução para a necessidade material; há que aspirar para a plenitude humana e isso requer a colaboração do homem: “Esforçai-vos”. O alimento que se acaba (o pão) dá somente uma vida que perece. O que não se acaba, que é o amor, dá vida definitiva. O pão há de ser expressão do amor. Precisamos ser sinais de amor para os demais. Na ausência desse amor, perdermos nossa autoridade de cristãos e não teremos nada para oferecer para as pessoas que buscam o sentido da vida.

Esforçai-vos, não pelo alimento que perece, mas pelo que dura até a vida eterna, que o Filho do Homem vos dará” (Jo 6,27). Medite e reflita bem sobre esta frase!

P. Vitus Gustama,svd

sábado, 21 de abril de 2012

SER TESTEMUNHA DA VIDA RESSUSCITADA

 

Reflexão Para III Domingo da Páscoa Ano Litúrgico B

Domingo, 22 de Abril de 2012

Texto de Leitura: Lc 24,35-48

Naquele tempo, 35os dois discípulos contaram o que tinha acontecido no caminho, e como tinham reconhecido Jesus ao partir o pão. 36Ainda estavam falando, quando o próprio Jesus apareceu no meio deles e lhes disse: “A paz esteja convosco!” 37Eles ficaram assustados e cheios de medo, pensando que estavam vendo um fantasma. 38Mas Jesus disse: “Por que estais preocupados, e por que tendes dúvidas no coração? 39Vede minhas mãos e meus pés: sou eu mesmo! Tocai em mim e vede! Um fantasma não tem carne, nem ossos, como estais vendo que eu tenho”.  40E, dizendo isso, Jesus mostrou-lhes as mãos e os pés. 41Mas eles ainda não podiam acreditar, porque estavam muito alegres e surpresos. Então Jesus disse: “Tendes aqui alguma coisa para comer?” 42Deram-lhe um pedaço de peixe assado. 43Ele o tomou e comeu diante deles. 44Depois disse-lhes: “São estas as coisas que vos falei quando ainda estava convosco: era preciso que se cumprisse tudo o que está escrito sobre mim na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos”.  45Então Jesus abriu a inteligência dos discípulos para entenderem as Escrituras, 46e lhes disse: “Assim está escrito: ‘O Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia, 47e no seu nome serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém’. 48Vós sereis testemunhas de tudo isso”.

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A passagem do evangelho de hoje é a continuação do texto do evangelho que fala da experiência dos dois discípulos de Emaús (Lc 24,13-35. É bom ler este texto para entender a passagem do evangelho de hoje). Quando os dois discípulos estavam contando para a comunidade reunida em Jerusalém sobre sua experiência de encontro pessoal com Jesus ressuscitado, Este, repentinamente, apareceu no meio da comunidade para dar-lhe a paz (shalom).

Através deste relato Lc quer enfatizar alguns temas importantes como: a identidade de Jesus ressuscitado que tem objetivo apologético, o entendimento das Escrituras e a missão futura dos discípulos. Vamos refletir sobre alguns pontos para nossa reflexão.


1. Para crescer na fé é preciso fazer experiência pessoal com Jesus e o testemunho dos outros.                                                            

O v.35 faz conexão com o episódio de Emaús que precede o texto de hoje. Este versículo encerra o relato de Emaús com a notícia de que os dois discípulos “contaram o que lhes tinha acontecido no caminho e como tinham reconhecido Jesus ao partir o pão”. Agora os Onze entram na plenitude da mensagem graças ao testemunho dos dois discípulos no relato de Emaús. Mesmo assim, eles necessitam da experiência pessoal do encontro com Jesus ressuscitado.

Esta experiência pessoal é o fundamento da fé dos crentes de todos os tempos, embora o testemunho dos outros, que têm crido antes, seja indispensável. As duas coisas são indispensáveis para um crente: o encontro pessoal com Jesus ressuscitado e o testemunho dos outros cuja fé tem alcançado sua maturidade. Aquele que começa a acreditar em Jesus será fortalecido pelo testemunho dos outros e pela própria experiência pessoal com Jesus Cristo. Assim todos crescerão juntos na fé em Jesus e formarão uma comunidade de fé. Conseqüentemente serão testemunhas do Senhor ressuscitado.


2. Shalom/ a Paz é que dá segurança e não as armas

Enquanto os dois discípulos de Emaús estão relatando o encontro com o Ressuscitado, Jesus aparece no meio deles e os saúda com estas palavras: “A paz esteja convosco!”.   O tema da paz percorre todo o Evangelho de Lucas. A paz no Evangelho de Lucas é a expressão máxima da vida, pois ela é a superação da morte, o grande medo e o grande conflito para um ser humano. Shalom é aquela paz que responde aos anseios mais profundos do coração humano. Ela representa aquilo que, às vezes, dizemos ao nos despedirmos dos amigos: “Tudo de bom, para você !” ou shalom. Só os que sofreram pela violência, os que carregam no corpo a lembrança da dor da perda de uma pessoa querida por causa da violência, os que vivem o medo da violência, sabem como é forte o anseio pela paz, e como a paz pode parecer distante.

“A paz esteja convosco!”. Eis aqui o grande presente do céu, o presente do Ressuscitado, o maior bem que se pode desejar à Terra. Os romanos desejavam a boa saúde; os gregos, a alegria; os hebreus, o shalom. Cristo deseja e a paz. Quando Jesus nasceu, os anjos cantaram o hino da paz: “Glória a Deus nas alturas e paz na Terra aos homens por ele amados”(Lc 2,14). Mais tarde, Jesus reservou uma das bem-aventuranças aos edificadores da paz: “Bem aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus”(Mt 5,9). E antes de morrer Jesus deixou a sua paz para os seus discípulos: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou...”(Jo 14,27). E depois da ressurreição Jesus deu a paz para os discípulos reunidos como uma comunidade: “A paz esteja convosco!”.

Todos buscam a paz. Cada um a quer em seu coração; cada família a deseja em seu seio; cada sociedade a procura entre os membros. E com razão: sem paz não há felicidade nem progresso.

Santo Agostinho dizia: “A paz é a tranqüilidade da ordem”. Onde houver ordem, onde as coisas estiverem dispostas de acordo com um fim, as pessoas ocuparem seus lugares e fizerem aquilo que devem, ali haverá paz. Para que haja paz, é necessário haver ordem: cada elemento deve ocupar seu lugar e cumprir sua função. Ao contrário, quando houver a desordem, surge imediatamente a intranqüilidade. Além disso, a busca desordenada de riquezas, honras e prazeres não traz a paz, nem pode proporcioná-la. Neste sentido, a paz consiste em praticar as virtudes e lutar contra os vícios.

Além da tranqüilidade da ordem, outro segredo para alcançar a paz verdadeira é adequar nossa vontade à vontade de Deus. O bispo Fulton J. Sheen dizia: “Se um homem criado à imagem e semelhança de Deus, deseja, com todas as suas palavras, obras, e orações, fazer com que seu ideal coincida com a vontade do Criador, não terá contrariada sua natureza e, portanto, alcançará a paz. Mas o homem que contradiz seu fim aqui na Terra, por meio de uma vida antiespiritual, que deixa seus sentidos buscarem os próprios fins, prescindindo do objetivo máximo de toda a sua natureza, esse homem necessariamente sofrerá a dor da ansiedade, os temores e as desordens mentais”. Por isso, quem procura o Deus da paz, encontrará a paz de Deus. Como aconselhou São Doroteu: “Jamais afaste Deus do seu coração: pense sempre que você o tem presente e vive diante dele”. É a paz que dá a segurança e não as armas. Quem estiver com arma, porque está sem segurança e sem paz.

3. A identidade de Jesus

Mas como é difícil acreditar na vitória do Deus vivo sobre a morte, o Deus que aparece no meio dos discípulos de Jesus com a saudação da paz. Por ser uma coisa inédita e por não ter aprofundado sua reflexão sobre o anúncio da ressurreição feito por Jesus antes de sua morte, os discípulos, em vez de ficarem alegres, “tomados de espanto e temor, pensavam ver um espírito”(v.37). O termo “espírito” aqui eqüivale a fantasma.

Mas Jesus ressuscitado não é um fantasma ou um espírito incorpóreo ou produto de alucinação coletiva; não é fruto de fantasia de alguns. Jesus ressuscitado é uma pessoa em plena posse de suas faculdades e na plenitude de sua vida. Por isso, diante da reação suspeita dos discípulos, Jesus os convida a olharem, tocarem, constatarem e Jesus lhes mostra as mãos, os pés e come um pedaço de peixe assado: “Vede minhas mãos e meus pés: sou eu! Apalpai-me e entendei que um espírito não tem carne, nem ossos, como estais vendo que eu tenho”(v.39).

Lucas pode muito bem ter escrito esta cena com um objetivo apologético. O interesse primordial de Lucas é a identidade de Jesus ressuscitado (“Sou eu mesmo!” É o famoso “Ego eimi”, sou eu, que lembra a auto-afirmação soberana do Deus bíblico [cf. Ex 3,14], tão freqüente em Jo [cf. Jo 6,35;8,12;10,7;10,11;11,25;14,6;15,1]), de modo que o fato de os discípulos terem reconhecido o aspecto corporal de Jesus ao comer o peixe (Lc 24,42-43) não é muito diferente de os dois discípulos de Emaús terem reconhecido Jesus ao partir o pão (Lc 24,31.35). Tendo sido afastada toda ambigüidade por sua morte, Jesus pode proclamar plenamente o “Eu sou”, dando enfim sua própria resposta à pergunta sobre sua identidade e sendo superadas as dificuldades dos discípulos a respeito da ressurreição de Jesus. Jesus continua a ser “Eu sou”, a ser uma presença para todos os discípulos em qualquer situação em que se encontrarem. Uma parte importante da identidade de Jesus ressuscitado é a continuidade da mesma existência corporal de seu ministério, mas ao mesmo tempo Lucas reconhece que no corpo de Jesus havia diferentes propriedades, uma vez que ele não podia ser visto por todos.

Por que Lucas acentua tanto a ressurreição do corpo de Jesus nesta cena? Para entender a esta questão é necessário saber que Lucas é o único autor de origem gentia do Novo Testamento e escreve especialmente para gentio-cristãos, para o mundo grego. No mundo grego o corpo era cárcere da alma, era algo desprezível. A vida toda não passava de uma luta para libertar-se da matéria e do corpo, uma vez que estes eram considerados desprezíveis. O corpo era peso para a alma. Esta depreciação do corpo tem como conseqüência inevitável a negação da ressurreição do corpo ou da carne. Para o mundo grego é muito difícil crer na ressurreição.

Na verdade, não estamos longe de tudo isso. No nosso tempo, muitas pessoas dão lugar mais importante para a alma do que para o corpo. Fala-se freqüentemente da salvação das almas, esquecendo-se do corpo ou a integridade de um ser humano. Algumas conseqüências da desvalorização do corpo são estas: a redução da prática religiosa ao espiritual; a salvação restringida às almas; o descompromisso com o social e o político; o trabalho braçal visto como tarefa de pessoas inferiores; a visão negativista da mulher como “sedutora” e não como companheira igual ao homem.

Além disso, no nosso tempo, há grupos que se dizem religiosos querem tirar do cristianismo a ressurreição. Se tirarmos a ressurreição do cristianismo, eliminaremos certamente a essência do cristianismo, o coração do corpo humano. O que seria nossa vida sem a fé na ressurreição e como seríamos? Ficaríamos perdidos e viveríamos de todas as fantasias em vez de enfrentar a vida e a morte.

De todos os Evangelhos, só Lucas relata que Jesus ressuscitado come um pedaço de peixe grelhado perante os discípulos porque Jesus ressuscitado não é um fantasma. Ele tem corpo e voz. É um ser ressuscitado. No texto Jesus diz: ”olhem e toquem!” Isto quer dizer que ele provoca os sentidos: o olhar e o tato são convocados para comprovar esse fato. Com isso, Lucas quer nos dizer que a ressurreição é uma realidade concreta. A partir da fé na ressurreição do Senhor, estamos certíssimos de que teremos também a ressurreição; nossa vida está assegurada. A morte nunca será capaz de destruir o nosso verdadeiro ser. Por isso, no Credo professamos dizendo “ Creio na ressurreição da carne; na vida eterna”. Não cremos somente na imortalidade da alma, mas também na ressurreição da carne. Nosso corpo vai ressuscitar, sim, de uma forma gloriosa semelhante ao corpo glorioso de Jesus.


4. Sobre o testemunho e a missão
     
Uma característica comum nas narrativas da ressurreição é o envio à missão. A missão é vinculada à ressurreição. Jesus diz para os discípulos: “Vós sereis testemunhas de tudo isso”. Isto quer dizer que o Ressuscitado não é propriedade de ninguém. Cada cristão tem missão de fazê-lo conhecer por todos ou testemunhá-lo. Em grego testemunhar ou ser testemunha significa confirmar com a vida (mártir) e até com o sangue o que foi visto e ouvido. Ser testemunha significa um compromisso concreto e vivencial pelo projeto que Jesus anunciou, pelo qual ele viveu, morreu e ressuscitou. Quem acredita em Jesus tem como conseqüência ser missionário de Jesus ou ser testemunha da vida de Jesus. E “ser testemunhas da ressurreição” quer dizer que Deus quer a vitória da vida para todos em todas as circunstâncias. Ser testemunha significa proclamar não apenas por palavras, mas por gestos concretos o nosso compromisso com a vida plena de todos. Palavras e documentos já temos muitos. Falta ação concreta e efetiva. Falta testemunho de vida.


P. Vitus Gustama,svd


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