domingo, 10 de junho de 2012

FESTA DE SÃO PEDRO E SÃO PAULO

Domingo, 01 de Julho de 2012
          
Texto: Mt 16,13-19

Celebramos neste dia a festa dos santos apóstolos: Pedro e Paulo. Os dois são chamados as duas colunas da Igreja. Os dois revelam, de maneira expressiva, as duas faces da Igreja: a institucional e a carismática. Por um lado, a Igreja é um dom que recebemos de Cristo e da Tradição. Aqui não se inventa nem se acrescenta; acolhe-se com gratidão. Entretanto ela pode conter perigos; favorece a acomodação, facilmente se incorre no legalismo, no moralismo e na rigidez dogmática que impede ou suspeita de toda novidade. Pedro corporifica a face institucional da Igreja. Mas estes limites são superados ou equilibrados por outra face: a face carismática. Porque, a Igreja é resposta humana, criatividade face aos desafios de cada geração, adaptação aos valores das culturas, inovação nos modos de pensar a , de rezar a Deus e de viver o Evangelho. Mas esta face tem também seus limites: a invenção não pode adulterar a substância da apostólica; cumpre guardar uma fidelidade essencial ao espírito de Jesus e dos Apóstolos. Paulo corporifica a face carismática da Igreja. A Igreja que hoje possuímos é fruto desta síntese feliz. A festa de Pedro e Paulo nos quer recordar os bons frutos que nos vêm desta tensão conservando a unidade dentro da pluralidade.

Pedro e Paulo são duas figuras tão diferentes, que, no entanto, se uniram no testemunho de Cristo até a morte.

Pedro era natural de Betsaida (Galiléia), pescador, como o resto da família. Conheceu Jesus por intermédio de seu irmão André (Jo 1,40-42). Durante o ministério público de Jesus, Pedro desempenhou um papel relevante. Ele é o mais citado entre os Doze Apóstolos, 114 vezes. Apareceu sempre em primeiro lugar nas listas. Freqüentemente era o porta-voz dos Apóstolos. Sua casa serviu de ponto de apoio para as atividades de Jesus desde Cafarnaum. Jesus deu a Simão o nome de Pedro (Kefas- hebraico, Cefas, grego) que significa a pedra fundamental ou a rocha sobre a qual ia construir sua Igreja (Mt 16,18). Apesar disso, Pedro não mudou a maneira de ser tão rapidamente como mudou de nome. Não manifestou de noite para o dia a firmeza que o seu nome indicava. A par de uma firme como rocha, vemos nele um caráter às vezes vacilante. Ele chegou a ser motivo de escândalo (Mt 16,23). Foi chamado de homem de pouco (Mt 14,31). Nos momentos dramáticos da Paixão quando Jesus mais precisava dele, ele O negou três vezes (Jo 18,17.25-27).

Uma piedosa tradição conta que, durante a perseguição cruel de Nero, Pedro saía de Roma, abandonando a própria comunidade cristã em busca de um lugar mais seguro. Junto às portas da cidade, cruzou-se com Jesus que carregava a Cruz. Quando Pedro lhe perguntou: “Aonde vais, Senhor (Quo vadis, Domine)?” ouviu a resposta do Mestre: “Vou a Roma para deixar-me crucificar novamente”. Pedro entendeu a lição e voltou para a cidade onde o esperava a sua cruz. Um historiador antigo refere que Pedro pediu para ser crucificado de cabeça para baixo, por sentir-se indigno de morrer como o seu Mestre, de cabeça para o alto. Apesar das suas fraquezas, Pedro foi fiel a Cristo, até dar a vida por Ele.

Ficamos perguntando, por que Pedro, homem que demonstra um pouco de volubilidade e que tem tantos defeitos, foi eleito por Jesus para ser rocha sobre a qual edifica sua Igreja e para apascentar as ovelhas de Jesus? (cf. Jo 21,5-17). Até o próprio Pedro questiona Jesus sobre essa eleição (cf. Jo 21,21). Será que, ao reconhecer os próprios defeitos e fraquezas, Pedro terá condições de compreender os defeitos e fraquezas dos outros sem condená-los, mas ajudá-los a saírem destes? Pois aquele que passou por uma experiência de miséria, normalmente, sabe repartir o que tem para quem não tem nada para viver. Nunca podemos compreender completamente os mistérios de Deus. Talvez o profeta Isaías tenha razão quando coloca estas palavras na boca de Deus: “Pois meus pensamentos não são os vossos, e o vosso modo de agir não é meu...meus pensamentos ultrapassam os vossos” (Is 55,8.9b). Por isso, junto com o salmista podemos rezar: “Ensina-me, Senhor, vosso caminho...!” (Sl 26,11), pois “os caminhos de Deus são perfeitos” (2Sm 22,31).

Paulo também passou por uma experiência dolorosa antes de conhecer Jesus Cristo. Paulo era um grande perseguidor dos cristãos. Na estrada de Damasco Paulo, em vez de perseguir, ele foi perseguido por Cristo. A entrada de Jesus na vida de Paulo não foi pacífica, e sim de uma maneira violenta. Deus não pediu licença a Paulo. Ele entrou na vida de Paulo e o derrubou (At 9,4;22,7;26,14). Caído no chão, Paulo se entregou a Cristo. A queda de Paulo na estrada de Damasco foi a linha divisória para sua vida entre antes e depois (At 9,1ss). Essa queda é a chave geral para entender Paulo e toda a sua luta incansável.

Depois, tendo Cristo por eixo da sua vida, dedica-se com todas as forças a espelhar a Palavra de Deus (Boa Nova), sem se importar com os perigos, as tribulações, os sofrimentos e os aparentes fracassos. Sabe-se instrumento escolhido para levar o Evangelho a muitas pessoas. Paulo estava convencido de que Deus contava com ele desde o momento em que fora concebido, desde o ventre materno, conforme insiste em diversas ocasiões (Ef 1,4). Ele cresce tanto no amor de Cristo, a ponto de dizer: “ não sou eu quem vive, mas é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).          

Pálido, doente e acabado, Paulo foi levado a um vale solitário chamado Aquae Salviae em Roma. Seu corpo foi açoitado pela última vez. Inclinou a cabeça à espera da espada que o conduziria ao martírio. O lugar onde ele foi martirizado, hoje chama-se Tre Fontane como recordação de Cabeça de Paulo que por três vezes bateu no chão antes de parar no instante dramático da morte. Realizou, assim, o único desejo de sua vida: estar com seu Senhor e Mestre Jesus Cristo.

Deus conta com o tempo para formar cada um de nós, seus instrumentos, como conta também com a nossa boa vontade. Se tivermos a boa vontade de Pedro e de Paulo, se formos dóceis à graça de Deus, iremos convertendo-nos em instrumentos idôneos para servir o Mestre e para levar a cabo a missão que nos confiou. Até os acontecimentos que parecem mais adversos, os nossos próprios erros e vacilações, se recomeçarmos uma vez e outra, se abrirmos o coração ao Senhor e às pessoas capacitadas na direção espiritual, haverão de ajudar-nos a estar mais perto do Senhor que não se cansa de suavizar os nossos modos rudes e toscos. É provável que, em momentos difíceis de nossa vida, cheguemos a ouvir como Pedro: “Homem de pouca , por que duvidaste?” (Mt 14,31). E veremos Jesus ao nosso lado, estendendo-nos a mão para nos ajudar.

Todos nós recebemos, de diversas maneiras, uma chamada concreta para servir o Senhor. E ao longo da vida chegam-nos novos convites para segui-lo, e temos de ser generosos com Ele em cada novo encontro. Temos de saber perguntar a Jesus na intimidade da oração, como São Paulo: “Que devo fazer, Senhor? Que queres que eu deixe por Ti? Em que desejas que eu melhore? Neste momento da minha vida, que posso fazer por Ti?
   
Identificado com Cristo, a suprema descoberta da sua vida, São Paulo faz-se servo de todos os que puder, como ele diz: “Com os judeus, fiz-me judeu para ganhar os judeus. Com os fracos, fiz-me fraco para ganhar os fracos; fiz-me tudo para todos para salvar a todos” (cf. 1Cor 9,19-22).

Pedimos hoje a São Pedro e ao Apóstolo dos pagãos, Paulo, um coração como o deles, para sabermos passar por cima das pequenas humilhações ou dos aparentes fracassos que acompanham necessariamente a ação apostólica, ou a nossa vida em geral. E dizemos a Jesus que estamos dispostos a conviver com todos, a oferecer a todos a possibilidade de conhecê-lo e amá-lo, sem nos importarmos com os sacrifícios nem pretendermos êxitos imediatos. Assim seja !



JESUS TRAZ VIDA E ESPERANÇA

XIII DOMINGO DO TEMPO COMUM ANO “B”.

(Se a Festa de São Pedro e São Paulo for celebrada no dia 29 de Junho)


Texto de Leitura: Mc 5,21-42


1. O Reino de Deus é a vida.

Jesus percorre o país para anunciar o Reino de Deus e o estabelecer. Ele fala e age. A sua fama espalha-se, porque uma força brota d’Ele, é a força da ressurreição, o Espírito de vida.

“Sê curada”. O imperativo de Jesus tem algo de afetuoso para com esta mulher, restaurada na sua dignidade, restabelecida na sociedade que excluía o seu mal. Este “sê curada” aparece também como uma constatação: é a sua fé que a salvou, e Jesus alegra-Se por isso. A cura é conseqüência da fé, que é sempre fonte de vida e de felicidade.

“Levanta-te”. Este segundo imperativo do Evangelho deste dia é dinâmico e traduz perfeitamente este louco desejo de Deus em ver o homem vivo, o seu amor incondicional pela vida. “Adormecida”, no “sono da morte”… um estado do qual Deus nos quer fazer sair, um estado do qual Jesus nos salva. “Eu te ordeno: levanta-te”. A palavra evoca a ressurreição, o novo surgir da vida, o amor divino que nos coloca de . Jesus pede ao pai da jovem apenas uma coisa: “basta que tenhas ”. E quanto a nós, cremos verdadeiramente?

2. As duas beneficiárias das ações de Jesus neste Evangelho têm algo em comum: a primeira estava doente desde os 12 anos e a jovem filha morreu aos 12 anos, a idade em que se devia tornar mulher. No povo de Israel, o percurso destas duas mulheres era sinal de um fracasso. Uma estava atingida, como Sara, a mulher de Abraão, na sua fecundidade: ela perdia o seu sangue, princípio de vida na mentalidade semítica.

A outra perdia a vida, precisamente na idade em que se preparava para a transmitir (era tradição casar-se muito cedo). Cristo cura as duas mulheres e permite-lhes assim assumir a sua vocação maternal.

Estas duas mulheres representam a Igreja, na sua vocação maternal de dar e de alimentar a vida em Cristo. As alusões aos santos mistérios da Igreja orientam a compreensão do relato: Jairo pede a Jesus para impor as mãos, para salvar e dar a vida à sua filha. Ora, toda a preparação para o Batismo está sinalizada pela imposição das mãos. Jesus levanta a jovem, tomando-a pela mão, como o diácono fazia sair da água o batizado, tomando-o pela mão, para que fosse despertado para a vida em Deus. Jesus pede, de seguida, que se de comer a esta jovem ressuscitada da morte: é uma alusão à Eucaristia que se segue ao Batismo.

3. Bilhete de Evangelho: a transformação pela .

Um chefe de sinagoga cai de joelhos e suplica a Jesus para curar a sua filha… Uma mulher atingida por hemorragias não diz nada, mas contenta-se em tocar as vestes de

Jesus, sem dúvida porque se considera impura. Isto basta Àquele que veio para levantar, curar, salvar a humanidade ferida. As reações dos que acompanham Jesus são diversas. Riem-se d’Ele. a solicita um sinal de Jesus, a de Jairo, a da mulher, a de Pedro, Tiago e João… E esta faz Jesus agir e transforma os beneficiários: a mulher é curada, a jovem levanta-se, as testemunhas ficam abaladas. Decididamente, Jesus não é um taumaturgo: é reconhecido por aqueles que acreditam, recomenda insistentemente que ninguém saiba, com receio, sem dúvida, que se valorize os seus sinais sem os ver com os olhos da .

4. Na escuta da Palavra.

Eis Jesus mergulhado no barulho e nos apertos da multidão. Para mais, circula o rumor: Jesus vai fazer um milagre, curar a jovem filha de Jairo! A multidão esmaga Jesus. E eis que uma mulher quer aproximar-se de Jesus, a todo o custo, para tocar ao menos as suas vestes. Ela quer ser também beneficiária do poder do homem de Deus, ser, enfim, curada da sua doença que dura há doze anos. Ela chega por trás, toca as suas vestes. Conhecemos o diálogo que se segue… O mesmo acontece com Jairo que se aproxima… No meio da multidão, Jesus está atento a estas pessoas concretas, manifesta uma disponibilidade extraordinária, está extremamente atento à sua presença. No meio da multidão, Jesus está atento a cada um. Ninguém fica anônimo aos olhos de Jesus. Está habitado pelo amor de Deus para com os seus filhos. No Coração do Pai, Jesus é capaz de uma atenção extrema a cada angústia do ser humano. Não interessa quem possa vir junto d’Ele, não interessa qual é a situação: ele será sempre acolhido, Jesus dará sempre a sua atenção como se cada um estivesse sozinho no mundo com Ele. Isto continua a ser verdadeiro, agora que Jesus está na plenitude da glória do seu Pai. Se eu também começasse a fazer silêncio em mim para melhor escutar Jesus, através da sua Palavra, se eu tivesse tempo para a oração interior, para aprofundar o meu silêncio interior… certamente ficaria mais disponível, mais atento aos outros. Senhor Jesus, dá-me a graça do silêncio interior que escuta e que ama.


5. Breve meditação: Jesus, Fonte de Vida.

Jesus passou à outra margem, uma grande multidão reuniu-se à sua volta. Chega um chefe de sinagoga… Para Ti, Senhor, a multidão não é uma massa anônima a quem se dirige uma mensagem impessoal… Para Ti, Senhor, trata-se de pessoas concretas, com rostos particulares. Chamas cada um pelo seu nome. Tu sabes escutar, estar atento, permanecer disponível. Vens dizer a todos e a cada um: Eu vim para que todos os homens tenham vida… em abundância. As multidões reúnem-se à tua volta porque, talvez inconscientemente, encontraram em Ti a verdadeira fonte de vida. É a nós que Tu Te diriges também convidando-nos para a tua Eucaristia: Tomai, todos, e comei: isto é o meu corpo entregue por vós! Eu sou o Pão da Vida!

P. Vitus Gustama,svd

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