sábado, 2 de junho de 2012

SANTÍSSIMA TRINDADE
CONSEQÜÊNCIAS DA NA SANTÍSSIMA TRINDADE
 
Domingo, 03 de Junho de 2012

Texto de Leitura: Mt 28,16-20

Celebramos neste domingo a festa da Santíssima Trindade. E o texto do evangelho deste dia é lido em função da festa. Por ordem do Senhor Jesus em Mt 28,19, cada um de nós foi batizado e consagrado a Deusem nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. Ainda nos braços da mãe, mal podendo balbuciar, sem então entendermos o sentido do gesto ou o alcance das palavras, ensaiados e ensinados pela mãe, aprendemos a fazer o sinal da cruz e nossa primeira oração: “Em nome do pai e do Filho e do Espírito Santo. Amém”.

Esteamém”, vocábulo hebraico, e explica nosso Catecismo (no.1026), ligado à mesma raiz da palavracrer”, exprime a solidez, a confiabilidade e a fidelidade de nossa . Pode proclamar tanto a lealdade de Deus para conosco, como a nossa confiança nele. Com o “amém” ,que pronunciamos, anunciamos ter encontrado a Deus e depositamos nele nossa inteira e total confiança. Este piedoso sinal da cruz, pelo qual se benze o cristão invocando as Três Pessoas, prática comprovada no segundo século, é um costume de sentido profundo e completo: significa consagração, profissão de e oração.

Em cada oração que fazemos todos os dias sempre começamos e terminamos com o sinal da cruz e nele invocamos a presença da Santíssima Trindade. É uma louvação às três divinas Pessoas, porque elas se revelaram na história e nos convida a participar de sua comunhão divina. A resposta humana à revelação da Santíssima Trindade é o agradecimento e a glorificação.

E no Credo sempre rezamos e professamos: “Creio em um Deus, Pai Todo Poderoso, Criador do céu e da terra...Creio em um Senhor, Jesus Cristo...Deus verdadeiro de Deus verdadeiro...Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida, e procede do Pai e do Filho e com o Pai e o Filho é adorado e glorificado”.  Este nosso Credo é, em sua estrutura íntima, uma confissão da Trindade.

Na verdade, a atenção e a devoção às Três divinas Pessoas continuam centrais em nossa vida e tirá-las de nossa causaria não um irreparável vácuo, mas acabaria com o próprio fundamento de nossa existência cristã. Por isso crer na Santíssima Trindade e amá-la com todo nosso ser tem conseqüências imensas para toda a vida (cf. o Novo Catecismo nos n. 223-227): Crer na Santíssima Trindade significa reconhecer a grandeza e a majestade de Deus. Deus é tão grande que supera nossa ciência (Jó 36,26). Significa viver em ação de graças: Se Deus é o Único, tudo que somos e tudo o que possuímos vem dele: “Que é que possuis que não tenhas recebido?” (1Cor 4,7). Significa reconhecer a unidade e a verdadeira dignidade de todos os homens: Todos foram feitos “à imagem e à semelhança de Deus” (Gên 1,27). Significa usar corretamente das coisas criadas: A no Deus Único nos leva a usar de tudo o que não é ele na medida em que isto nos aproxima dele, e a desapegar-nos das coisas na medida em que nos desviam dele, como rezava São Nicolau de Flüe: “Meu Senhor e meu Deus, tirai-me tudo o que me afasta de vós. Meu Senhor e meu Deus, dai-me tudo o que me aproxima de vós. Meu Senhor e meu Deus, desprendei-me de mim mesmo para doar-me por inteiro a vós”. Crer na Santíssima Trindade também significa confiar em Deus em qualquer circunstância, mesmo na adversidade. Uma oração de Santa Teresa de Jesus exprime-o de maneira admirável: “Nada te perturbe, nada te espante. Tudo passa, Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem a Deus tem nada lhe falta. Deus basta”.

Crer no Deus bíblico, a partir de Jesus, é necessariamente crer na Santíssima Trindade. O Deus de Jesus, o Deus cristão, é o Pai e o Filho e o Espírito Santo, a Santíssima Trindade. Pai, Filho e Espírito Santo sempre estão juntos: criam juntos, salvam juntos e juntos nos introduzem em sua comunhão de vida e de amor. Na piedade de muitos fiéis há uma desintegração da vivência do Deus trino. Alguns ficam com o Pai, outros com o Filho e outros com o Espírito Santo.

A religião do Pai é o patriarcalismo. Todos dependem dele, sem qualquer criatividade. A religião do Filho é o vanguardismo. Jesus é considerado o “companheiro”, “o mestre” e “nosso chefe”, irmão de todos. É um Jesus com apenas relações para os lados, sem uma dimensão vertical, em direção ao Pai. Esta religião cria cristãos vanguardistas. A religião do Espírito Santo que se concentra na figura do Espírito Santo é espiritualismo. Eles cultivam suas emoções interiores e pessoais. Eles esquecem que o Espírito Santo é sempre o Espírito do Filho, enviado pelo Pai para continuar a obra libertadora de Jesus. Não basta a relação interior (o ES) nem somente para os lados (Filho) nem a vertical (Pai). Importa integrar os três. Que seria de nós, se não tivéssemos um Pai que nos aconchegasse? Que seria de nós, se esse Pai não nos desse seu Filho para fazer-nos também filhos de Deus? Que seria de nós, se não tivéssemos recebido o Espírito Santo, enviado pelo Pai a pedido do Filho, para morar em nossa interioridade e completar a nossa salvação? Vivamos a completa, numa experiência completa da imagem completa de Deus como Trindade de Pessoas.

Quando o cristão é batizado no nome da Santíssima Trindade, o modo de ser de Deus lhe é apresentado como modelo de vida. A perfeita comunhão entre as pessoas da Trindade deve tornar-se o ideal de comunhão dos cristãos e das famílias cristãs. Igualmente, a capacidade de agir de forma integrada, sem concorrências nem sobreposição de um sobre o outro. A comunhão se faz a partir do diferente, na acolhida e no respeito pelo outro. Este é o caminho que a comunidade cristã ou família cristã terá de tomar, se quiser deixar-se modelar pela Santíssima Trindade.

Outras conseqüências de nossa na Santíssima Trindade:

1. Viver a e na Solidariedade

A solidariedade é uma atitude trinitária. A palavraSolidariedade” do latimsolidus”. “Solidus” designava uma moeda de ouro sólida, consolidada, não variável. Daí derivam os termos soldo, soldado, soldar, consolidar, solidez e, a partir do século XIX, solidário e solidariedade. A palavra latinaSolidus” significa, então, maciço, consistente porque seus elementos estão bem unidos. Solidariedade, por isso, significa relação pela qual as partes de um todo são interdependentes consistentemente. 

Por isso, solidariedade não é uma assistência. A solidariedade é participação na vida dos outros. A chave da solidariedade é participação. A participação é o que distingue a simples ajuda humanitária, assistencial que vem de fora. Através da assistência damos uma parte de nossos bens; na solidariedade compartimos nossas próprias vidas, inclusive nossos bens. Através da assistência trabalhamos pelos pobres e necessitados; pela solidariedade trabalhamos com os pobres  e necessitados pelo bem comum de ambos. A assistência tende a criar dependência; a solidariedade liberta. A solidariedade é uma participação amorosa e humilde da vida dos demais compartindo com eles nossa vida. Para isso, tenho que estar consciente de que eu faço parte inseparável da humanidade. A dor de um é a minha dor. A alegria do outro é a minha alegria também. Ninguém pode ter inveja pela felicidade alheia. O exemplo da solidariedade e o amor fraterno é os quatro homens carregando um paralítico para que Jesus o cure. Sem os quatro, o paralítico jamais chegaria até Jesus(cf. Mc 2,1-12). O segundo exemplo é o bom Samaritano(Lc 10,30-37) que fala do amor fraterno. Quando se trata do amor fraterno não se discute quem é meu próximo. O amor fraterno não tem fronteiras. Basta alguém estar numa necessidade, uma pessoa que tem amor no coração não vai perguntar quem é esta pessoa necessitada? Simplesmente ele vai dizer: “Ele é meu irmão. Preciso ajudá-lo”. Alguém me é próximo pelo apelo que me faz. A  aplicação do amor é universal, pois o amor é o nome próprio de Deus(cf. 1Jo 4,8.16; veja também a encíclica Sollicitudo rei socialis de João Paulo II nos: 38-39 sobre o exercício da solidariedade).

2. Viver a liberdade e na liberdade

Sabemos muito bem de que a história humana está cheio de guerras, violências, de luta pelo poder. Em tudo isto, os mais fortes oprimem e exploram os mais fracos. Consequentemente, quem tem maisliberdade” é o dominador. Mas ele é livre à custa dos mais fracos. E o dominado vive sem a liberdade.

Na relação trinitária nãodominador nem dominado, pois os componentes vivem na plena comunhão. Por isso, a verdadeira liberdade é a liberdade vivida como comunhão a exemplo da Santíssima Trindade. A liberdade vivida como dominação destrói a comunidade. A liberdade vivida como comunhão tem capacidade de curar as feridas causadas pela lógica liberdade- dominação.

3. Viver uma vida participativa e igualitária

Na Santíssima Trindade há participação plena ou perfeita. Ou não há trinitarização sem participação. Nenhuma das pessoas da Santíssima Trindade atua sozinha. As três Pessoas participam, cada uma de acordo com seu modo próprio. Todas as ações de Deus são ações do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Todos nós temos a experiência de ser indivíduos que não se confundem com nada nem com ninguém, irrepetíveis. Nossa própria intimidade nos faz sermos diversos, inconfundíveis. Mas, por outro lado, sentimos uma irresistível tendência ao amor, à amizade, a nos relacionarmos com os outros. Sentimos necessidade dos demais para nos tornarmos nós mesmos. Somos diversos, mas sentimos a chamada a viver em comunhão. Fomos criados para compartilhar, para nos complementar uns aos outros. Nada podemos fazer sozinhos, tudo se explica e se realiza pela comunicação e pela colaboração. Não podemos viver nem um dia de nossa existência sem a ajuda dos demais.

É necessário que estejamos conscientes disso para intuir algo da vida trinitária presente no mais profundo da criação. Na raiz de sua existência existe a herança de uma realidade trinitária: viver em comunhão com os demais como iguais. Deus nos criou semelhantes a ele (Gn 1,26) e quer que sejamos, por nossa opção livre, fiéis a essa semelhança. A Trindade é a raiz, a fonte e a meta de nossa fraternidade humana. Manifestamos nossa na Trindade através do amor, da comunicação, da fecundidade, do diálogo, da partilha, da igualdade e da fraternidade. O homem que vive como filho de Deus e irmão de todos os homens mostra que encontrou a razão de sua vida e experimentou a vida trinitária e guiado pela Santíssima Trindade.

Por isso, viver a vida a exemplo da vida participativa da Santíssima Trindade significa levar em conta o outro em todas as circunstâncias, colocar-se do seu lado como iguais. Consequentemente, não há uma vida trinitária quando a desigualdade continuar a dominar uma comunidade ou sem verdadeira participação nos deveres e nos direitos.

4. Viver o diálogo e no diálogo amoroso

Para um cristão verdadeiro teologicamente e praticamente o fundamento último do diálogo é  e deve ser trinitário. A Santíssima Trindade é o eterno diálogo no amor; ou vivem em amoroso diálogo. Quando os cristão deixarem-se modelar pela Santíssima Trindade, eles serão capazes de estabelecer um diálogo construtivo porque basear-se-á sempre no amor. E no diálogo o escutar é mais importante do que falar. Para aprendermos a calar para escutar, precisamos ser modelados pela vida trinitária.

A partir destes pensamentos e outros pensamentos que ainda não se encontram nesta reflexão podemos concluir que precisamos aprender ainda mais e mais do mistério da Santíssima Trindade. Há tanto e tanto riqueza espiritual na Santíssima Trindade na qual e da qual precisamos tirar e aprender para viver uma vida mais cristã. Posso dizer que para viver uma vida cristã solidamente, precisamos viver uma vida trinitária.

Portanto, celebrar a solenidade da Santíssima Trindade é celebrar um Deus que é comunidade, mas, sobretudo, celebrá-lo na Igreja-Comunidade, com uma celebração que inclui o compromisso de fazer comunidade no mundo e fazer do mundo uma comunidade.

P. Vitus Gustama,svd

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