sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

21 de Janeiro de 2013
 
SER LIVRE DE TUDO PARA SER SOLIDÁRIO COM TODOS

Segunda-feira da II Semana do Tempo Comum

Texto : Mc 2,18-22

 

Naquele tempo, 18os discípulos de João Batista e os fariseus estavam jejuando. Então, vieram dizer a Jesus: “Por que os discípulos de João e os discípulos dos fariseus jejuam, e os teus discípulos não jejuam?” 19Jesus respondeu: “Os convidados de um casamento poderiam, por acaso, fazer jejum, enquanto o noivo está com eles? Enquanto o noivo está com eles, os convidados não podem jejuar. 20Mas vai chegar o tempo em que o noivo será tirado do meio deles; , então, eles vão jejuar. 21Ninguém põe um remendo de pano novo numa roupa velha; porque o remendo novo repuxa o pano velho e o rasgão fica maior ainda. 22Ninguém põe vinho novo em odres velhos; porque o vinho novo arrebenta os odres velhos e o vinho e os odres se perdem. Por isso, vinho novo em odres novos”.

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Nós nos encontramos com o terceiro motivo de enfrentamento de Jesus com seus adversários, os fariseus (e os escribas). Depois do perdão dos pecados do paralitico (Mc 2,5) e da eleição de Levi, o publicano, para ser discípulo (Mc 2,14), agora murmuram porque os discípulos de Jesus não jejuam. Mostra-se assim a oposição crescente de seus adversários contra Jesus.

 
Jesus sempre se apresenta como um independente diante das regras e das observâncias legais conforme as tradições. A independência de Jesus choca os que estão apegados ao da letra todas as leis e as tradições; choca com os que deixam de pensar e de analisar o espírito dos costumes e das leis Jesus entra no espírito da lei, naquilo que possa edificar o ser humano. Por isso, em outra ocasião ele diz: “O sábado existe para o homem e não o contrário”. No evangelho de hoje ele faz uma declaração que tem o mesmo conteúdo: “Ninguém põe o vinho novo em odres velhos”.

 
O tema da discussão entre Jesus e os fariseu no evangelho de hoje é o do jejum. A Lei estabelecia somente um jejum, no dia da Expiação, e não se fazia para expiar os pecados e sim para preparar-se ao encontro com Deus, o único que pode perdoar o pecado (Lv 12,24; 23,27; Nm 29,7). Moisés jejuava durante 40 dias e 40 noites para conseguir que Deus perdoasse o pecado de seu povo (Dt 8,18). Depois surgiram muitos outros motivos para jejuar (cf. 1Samuel 31,17; Zacarias 8,18; 2Rs 25,1-4; Ester 4,16; Judite 8,6 etc.). Os judeus jejuavam duas vezes por semana, nas segundas-feiras e nas quintas-feiras dando a essa prática um tom de espera do Messias. Também o Jejum de João Batista e seus discípulos apontava para a preparação da vinda do Messias. Agora ele chegou na pessoa de Jesus Cristo, e por isso não tem sentido dar tanta importância ao jejum.

 
De modo geral, a prática do jejum está, então, ligada, no AT, à espera da vinda do Messias. A prática do jejum aceleraria a chegada do Messias. Os fariseus e os discípulos de João Batista praticam o jejum. Por isso, questionam o comportamento dos discípulos de Jesus que não o praticam. A resposta de Jesus aqui é bem clara: se seus discípulos não praticam o jejum é porque não tem nada que esperar porque o Messias chegou e está com eles. O tempo chegou, o Reino de Deus está próximo (Mc 1,15), o banquete messiânico começou. E os sinais são estes: os leprosos ficam purificados (Mc 1,40-45), os paralíticos andam (Mc 2,1-12), a Boa Nova se anuncia (Mt 11,5). Jesus é Aquele que deve vir.  Os discípulos de Jesus estão vivendo esta intimidade. Esta intimidade será rompida no momento da paixão e da morte de seu Mestre. No dia em que Jesus deixar de estar, a comunidade cristã, através do jejum, fará a memória da morte de Cristo, anunciará ao mundo que Jesus morreu por causa dos pecados dos homens e por nossos pecados.

 
Estamos em outro contexto. Por isso, o jejum ganha seu novo significado.. Quando soubermos dar ou preparar o espaço para Deus na nossa vida, este espaço não será ocupado por outra coisa. Ao darmos esse espaço para Deus o resto ganha seu justo valor e sua justa perspectiva. Por isso, ao praticarmos o jejum estamos manifestando nossa vontade de não deixar nenhuma coisa material dominar nossa vida ou mandar na nossa vida. Podemos possuir as coisas, mas as coisas jamais podem nos possuir para não perdermos nossa liberdade. Mesmo não querendo, um dia largaremos tudo. É preciso que aprendamos a ser livres todos os dias, desde . Mas não basta saber controlar nossas apetências; é preciso sabermos partilhar o que temos para quem não tem nada para viver. A partilha é a alma do projeto de Jesus Cristo. Ele multiplica os pães para que aprendamos a partilhar e a ser solidários com os necessitados. É preciso fazermos o jejum, pois estamos no tempo da ausência visível, na espera da manifestação final do Esposo, Jesus Cristo.

 
Tanto cristã como humanamente o jejum faz bem a todos. Fazer jejum significa saber renunciar a algo e dá-lo aos demais; é saber controlar nossas apetências; é saber nos defender com liberdade interior das contínuas urgências do mundo de consumismo. Jejuar é purificador. Jejuar é o caminho de libertação das garras da ganância. É voltar a sermos como somos, pois nãonada que possa impedir nossa liberdade de filhos e filhas de Deus. Jejuar não seria privar-se de tudo e sim usar moderação em tudo, isto é, ser sóbrios. Jejum supõe um grande domínio de si, de disciplina de olhos, da mente e da imaginação. A falta de sobriedade é uma das causas pelas quais se obscurecem e se debilitam as melhores iniciativas e decisões de um cristão. A sobriedade é certamente uma garantia da capacidade de orar e de apreciar o Espírito Santo. Com a renúncia às coisas Cristo nos chama à alegria, a uma alegria profunda, nascida da paz da alma. Fazer jejum é renunciar a algo para dá-lo aos necessitados. O jejum com uma dimensão de solidariedade nos tira do egoísmo, da ganância mortal e nos tira de uma vida vazia. Paradoxalmente a vida vazia é pesada para quem a tem. Amor, misericórdia e serviço são três palavras da humanidade e da graça. Apostolado da misericórdia, diaconia da caridade são duas versões do amor.
 
 
Ninguém põe vinho novo em odres velhos; porque o vinho novo arrebenta os odres velhos e o vinho e os odres se perdem. Por isso, vinho novo em odres novos”, disse Jesus. O vinho novo é o Evangelho de Jesus Cristo. O vinho novo é símbolo do amor (Ct 1,2; 7,10; 8,2). Os odres velhos são instituições e costumes que não têm razão de existir por não serem capazes de construir uma humanidade fraterna. Os odres novos são a mentalidade nova, o coração novo. Os valores de convivência que o Evangelho propõe nunca poderiam compatibilizar-se com a injustiça. Jesus exige que abandonemos a imagem de Deus, justificadora dos egoísmos, e nos convida para sua purificação para adotar a misericórdia divina que exige uma ampla abertura de aceitação na relação com nossos próximos. Somente a partir daí é que podemos entender corretamente nossa relação o Senhor de todos. O jejum tem, então, sentido a partir da solidariedade com Jesus e com os crucificados deste mundo. Devemos reflexos da misericórdia divina.


P. Vitus Gustama,svd

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