segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

III DOMINGO DO TEMPO COMUM DO ANO “C”


PALAVRA QUE LIBERTA

O HOJE DE DEUS E O MEU HOJE
                                           

 

Domingo, 27 de Janeiro de 2013

Texto:  Lc 1,1-4; 4,14-21

 1Muitas pessoas já tentaram escrever a história dos acontecimentos que se realizaram entre nós, 2como nos foram transmitidos por aqueles que, desde o princípio, foram testemunhas oculares e ministros da palavra. 3Assim sendo, após fazer um estudo cuidadoso de tudo o que aconteceu desde o princípio, também eu decidi escrever de modo ordenado para ti, excelentíssimo Teófilo. 4Deste modo, poderás verificar a solidez dos ensinamentos que recebeste.
 
Naquele tempo, 4,14Jesus voltou para a Galileia, com a força do Espírito, e sua fama espalhou-se por toda a redondeza. 15Ele ensinava nas suas sinagogas e todos o elogiavam. 16E veio à cidade de Nazaré, onde se tinha criado. Conforme seu costume, entrou na sinagoga, no sábado, e levantou-se para fazer a leitura. 17Deram-lhe o livro do profeta Isaías. Abrindo o livro, Jesus achou a passagem em que está escrito: 18“O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me consagrou com a unção para anunciar a Boa-nova aos pobres; enviou-me para proclamar a libertação aos cativos e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos 19e para proclamar um ano da graça do Senhor”. 20Depois fechou o livro, entregou-o ao ajudante e sentou-se. Todos os que estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele. 21Então começou a dizer-lhes: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir”.
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1. A Palavra de Deus na comunidade e a Obrigação de Conhecê-la

        
O Evangelho deste domingo nos fala da Palavra de Deus num contexto comunitário. O Deus da Bíblia, o Deus da revelação não é o Deus mudo e sim é um Deus vivo; um Deus que fala, um Deus que se comunica, não por meio de palavras, mas também por meio de fatos salvadores (Dei Verbum, 2; cf. também Hb 1,1).

        
O Deus da revelação é um Deus vivo que fala a pessoas concretas como Adão, Noé, Moisés, Davi... etc.; a todo o povo de Israel através dos profetas; a todos os homens por meio de Cristo, a Palavra de Deus encarnada, a revelação definitiva e suprema de Deus. Este mesmo Deus continua a falar porque ele continua sendo o Deus vivo. Por isso, a comunicação que Deus oferece ao homem é ininterrupta. Ele continua a falar por meio da natureza criada (cf. Dei Verbum, 3); por meio dos acontecimentos: no mundo, na sociedade, na família, na nossa própria vida; por meio dos sinais dos tempos; por meio dos carismas dos irmãos (cf. 1Cor 12,12-30); Deus também fala dentro de nós a cada momento. Em cada um desses meios podemos ouvir a voz de Deus que nos fala. Basta criar o silêncio dentro de nós e ao nosso redor. O silêncio possibilita a presença da eternidade.

        
Qual é a atitude do homem perante a Palavra de Deus? A palavra de Deus, assim como a palavra humana, inicia o diálogo e pede uma resposta. A nossa atitude perante a Palavra de Deus é ler esta Palavra e escutá-la e meditá-la diariamente para que possamos adquirir a ciência suprema de Jesus Cristo (cf. Fl 3,8), “visto que desconhecer a Escritura é desconhecer Cristo”, citando as palavras de São Jerônimo (Dei Verbum, 25).

 
Nunca devemos considerar-nos suficientemente formados, nunca devemos nos conformar com o conhecimento de Jesus Cristo e dos seus ensinamentos que possuímos. O amor pede que se conheçam sempre mais coisas da pessoa amada, pois se ama o que se conhece. Se quisermos ser bons pregadores da palavra e dos atos de Jesus Cristo, precisamos de tempo para refletir e meditar sobre os mesmos. Devemos parar de dizer sei o que vou falar/ pregar para o povo”. Em vez disso, devemos dar o espaço para a Palavra de Deus operar em nós e questionar o nosso modo de viver e de julgar as pessoas e todos os acontecimentos. Santo Agostinho dizia: “Disseste basta? Pereceste”. E São João Crisóstomo dizia: “Freqüentemente, a ignorância é filha da preguiça”.  A boa formação exige tempo, constância e o silêncio, como disse Albert Einstein: “Penso noventa e nove vezes e nada descubro; deixo de pensar, mergulho em profundo silêncio: e eis que a verdade se me revela” (veja: Einstein Por Ele Mesmo, Martin Claret, p.28), e acrescentou: “A ciência sem a religião é paralítica- a religião sem a ciência é cega” (ibid. p.63). O ser humano é um ser nunca pronto. É um ser de abertura.

        
A partir disto tudo podemos nos perguntar: lemos a Bíblia diariamente? Escutamos com interesse a Palavra de Deus na proclamação litúrgica da mesma? Conhecemos a Bíblia tão bem como os outros livros? Se não a conhecemos, não conhecemos Cristo. Cada cristão tem que abrir-se a essa Palavra mediante a , que a Palavra de Deus é uma revelação; mediante a esperança, visto que é promessa; mediante o amor, pois o amor é a regra da vida e o critério de julgamento final (cf. Mt 25,40.45).
           

2. Anúncio da Palavra Para Libertar

 
Lucas dedica sua obra ao ilustre Teófilo, a quem Lucas dedica também a sua segunda obra (“theo-philus”  significa “amigo de Deusouamado por Deus”). Quem é o ilustre Teófilo? O atributoilustre” (krátiste) ouexcelentíssimoera reservado às grandes autoridades como senadores e governadores (cf. At 23,26;24,3;26,25). Isto quer dizer que “Teófilo”, pelo atributo, é uma pessoa de alta posição que seria o protetor de Lucas ou pode ser que seja alguém, buscador da verdade.

                   
Lc 4,16-21, a segunda parte do Evangelho deste dia, tem por tema a apresentação da prática libertadora de Jesus como programa messiânico ( discurso programático de Jesus). O contexto é o da liturgia festiva hebraica do sábado. Na liturgia sinagogal a primeira leitura é tirada da Lei (Pentateuco). E era lida e comentada por um doutor da Lei. A segunda leitura, de origem mais tardia, era tirada dos profetas e podia ser lida e comentada por qualquer que tivesse ao menos trinta anos de idade. Jesus tinha trinta anos e reivindicou o direito de ler e comentar essa segunda leitura.

          
O texto lido, durante a liturgia do sábado (Is 61,1-2;35,5;58,6), é explicado por Jesus com duas frases. “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu”. Aqui a unção não é mais o gesto simbólico do óleo derramado na cabeça do candidato à realeza, mas a efusão do Espírito Santo. É o poder de Deus, pelo qual Jesus é habilitado para a sua missão.

          
O pano de fundo dessa cena é o tema bíblico do messias sobre o qual pousará o Espírito do Senhor, “espírito de sabedoria e de inteligência, espírito de conselho e de fortaleza, espírito de conhecimento e de temor do Senhor” (Is 11,2). São os dons ou qualidades para um bom governo. O poder do Espírito de Deus torna Jesus o grande libertador dos oprimidos, descritos aqui como aqueles que são mantidos sob o poder do mal.

                                 
Na linguagem concreta do evangelho, a boa notícia para quem está no cárcere consiste em ouvir: “podes sair”. Para um cego, a boa notícia consiste em ouvir o convite: “podes enxergar”; para quem não caminha ou para um coxo: “Levanta-te e anda”. Para Jesus é inconcebível separar o anúncio da boa notícia e a libertação. A partir de Jesus e com ele, a figura do homem é restaurada. O anúncio da boa notícia sem a libertação se torna o ópio para o povo, uma alienação.

        
O Deus que Jesus Cristo anuncia através de sua palavra e ação é aquele que em vez de vigiar de maneira severa e ciumenta a observância de leis e cerimônias, ele liga muito mais por uma convivência humana onde não haja exploração, não haja opressão nem a injustiça, onde não se conhecem marginalizados e pobres/empobrecidos. Contra todos aqueles que fizeram da religião apenas exercício para a santificação pessoal, ele formula sempre de novo as suas prioridades que são outras: soltar as algemas injustas, dá liberdade aos oprimidos, repartir o pão com o faminto etc.... (leia Is 58,5-7).

        
Se nós queremos descobrir o verdadeiro Deus e não criar uma imagem de Deus ao nosso gosto, então, devemos aceitar este Deus anunciado por Jesus Cristo. Para alguns será duro; mas para uma imensa massa de homens e de mulheres, será uma imensa alegria. Ter no Deus de Jesus Cristo não é acreditar numa doutrina e se fixar estática em sentenças religiosas. Ter é a grande dinâmica de uma vida humana.

                 
O Reino de Deus não se realizará na nossa vida sem que haja conversão ao amor dos irmãos e à justiça social. A libertação integral do homem se conseguirá através do amor e perdão, respeito pela dignidade da pessoa, serviço à verdade e à vida, fraternidade e solidariedade. O Reino de Deus é processo que começou e os três elementos básicos no seu andamento são estes: Converter-se, encontrar a Deus no próximo e tomar o partido dos oprimidos e empobrecidos através da vivência da justiça e do amor. Em que etapa estamos?


3. O Hoje de Deus e o Meu Hoje


Na sua homilia, que tem toda sua programação messiânica de seu ministério, Jesus usa a seguinte expressão: “Hoje se cumpriu...”. A mesma expressão será usada nos momentos importantes do ministério de Jesus: no nascimento de Jesus (Lc 2,11), na conversão de Zaqueu (Lc 19,5.9), na resposta de Jesus ao pedido do criminoso convertido (Lc 23,43). Com essa expressão Jesus quer enfatizar que o Reino de Deus não é questão futura e sim é de hoje. Ele está presente nos corações abertos a ele.

 
Jesus faz sua reflexão/homilia usando a expressãohoje se cumpriu...” ao comentar a leitura que acabou de ler. Isto quer nos dizer que a Liturgia da Palavra não é uma simples lição moral de catecismo, nem a afirmação da esperança escatológica fomentada pelos profetas, e sim proclama o cumprimento do desígnio do Pai no Hoje da vida e da assembléia reunida. não se contempla um passado cumprido ainda que seja de uma época de ouro ou de caída, não se sonha mais num futuro extraordinário; vive-se o tempo presente como momento privilegiado, pois o tempo da graça (Kairós) se confunde com o tempo cronológico (Kronos) porque Deus, através de sua encarnação, decidiu entrar no nosso tempo por amor a nós para transformá-lo em tempo da graça. Este é o próprio princípio da homilia, cuja tarefa essencial é a de aplicar a Palavra Eterna e intemporal para o dia de hoje dos homens.

 
Hoje se cumpriu...”! Em cada momento contém a eternidade, o Hoje de Deus. Hoje devemos decidir nossa salvação. Hoje devemos fazer aquilo que deve ser feito. Hoje mesmo devemos visitar quem deve ser visitado. Hoje mesmo devemos perdoar e dar o perdão a quem deve ser perdoado. Hoje mesmo devemos mudar o mutável, corrigir o corrigível, carregar o carregável, abandonar o abandonável. Hoje mesmo devemos nos converter. Amanha talvez seja tarde demais! O Hoje de Deus nos faz vivermos acordados. O desafio é estar permanentemente acordados, atentos. A todo o momento surgem fatos e ocasiões, ideias e caminhos novos, novas descobertas que podem ser uma oportunidade valiosa para quem está em prontidão para o Hoje de Deus. É estar de mãos livres e vazias para receber algo valioso de Deus; estar de olhos abertos e de coração aberto para receber o Senhor que vem nos visitar; estar de pés calçados para tomar o caminho. A vida é feita de momentos e os momentos oferecem oportunidades dadas por Deus. Quem fica adormecido perde muitas oportunidades de Deus. quem vive sentado ou deitado pode perder esses momentos.

 
Hoje se cumpriu...”! O que você faz com o seu Hoje? De que maneira você acolhe o Hoje de Deus neste momento? O que Deus fala neste momento para o seu Hoje?


P. Vitus Gustama,svd

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