sexta-feira, 24 de maio de 2013

SANTÍSSIMA TRINDADE
                                             
Domingo, 26 de Maio de 2013
 
Texto: Jo 16,12-15

          
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 12Tenho ainda muitas coisas a dizer-vos, mas não sois capazes de as compreender agora. 13Quando, porém, vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá à plena verdade. Pois ele não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido; e até as coisas futuras vos anunciará. 14Ele me glorificará, porque receberá do que é meu e vo-lo anunciará. 15Tudo o que o Pai possui é meu. Por isso, disse que o que ele receberá e vos anunciará, é meu.

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O texto se encontra no complexo literário de Jo 13-17 que fala da despedida de Jesus de seus discípulos. A última mensagem de Jesus para os seus discípulos se precede com a cena da última ceia com o lava-pés que culmina com o anúncio da traição (Jo 13,1-20).  Em outros capítulos (Jo 14-17) relatam-se os diálogos da despedida de Jesus que termina com a oração de Jesus ao Pai. Na verdade nãomais que um discurso de despedida a não ser somente nos capítulos 13,31-14,31. A continuação lógica de Jo 14,31 é Jo 18,1. Jo 15-17 foi introduzido neste espaço pelo evangelista-redator para incluir no evangelho o material precioso que até agora não havia encaixado dentro do esquema do evangelista.
    

Na presença dos seus amigos íntimos, Jesus começa a transmitir sua mensagem final (Jo 13,31-17,26). Como qualquer grande líder que reúne seus seguidores na véspera de sua morte para dar-lhes instruções quando ele partir, também Jesus, antes de sua morte, faz a mesma coisa. Mas ele lhes garante que sua morte não é um fim, pois ele vai para seu Pai. Aqui, nestes capítulos, Jesus repetidamente promete que ele vai voltar para os discípulos através de sua ressurreição e do dom do Espírito Santo. Esta volta vai trazer-lhes paz e alegria, e que os discípulos vão entrar também na comunhão de sua vida através do Espírito, que é o dom de Jesus ressuscitado.


1. Mensagem do texto
    

“Tendo ainda muitas coisas a vos dizer, mas agora não podeis suportá-las” (v.12), diz Jesus aos seus discípulos na despedida. Quais são “muitas coisas” que Jesus tem a dizer-lhes e que eles não podem suportá-las? O versículo não explicita. Mas dentro do contexto da despedida em que a Paixão e a morte de Jesus ficam cada vez mais próximas, podemos entender que os discípulos ainda não sabem como Jesus vai morrer nem compreendem o sentido último da sua morte (veja o comentário do evangelho da Páscoa e do 2º Domingo da Páscoa: a comunidade fica apavorada diante da morte de Jesus. Quer dizer que não compreendeu o que Jesus lhe tinha dito). João nos relembra que os discípulos só entenderão os acontecimentos de Jesus depois da sua ressurreição (Jo 2,22) ou após sua morte (12,16). Isto quer dizer que é impossível entender o sentido de todas as coisas de uma vez só, antes que elas aconteçam. Por isso, os discípulos precisam de uma assistência divina.
     

Quem vai ajudar os discípulos a compreenderem melhor o sentido dos acontecimentos de Cristo é o Espírito da Verdade (v.13). É verdade que Jesus já comunicou “tudo” aos discípulos o que ouvira do Pai (Jo 15,15), mas para que eles possam ter disso  uma compreensão profunda, o Espírito deve intervir.  O Espírito da Verdade (Paráclito) é, neste sentido, o “intérprete autorizado” de Jesus. Ele vai ajudar cada discípulo a entender o sentido de cada coisa em cada momento. O ensinamento do Espírito da verdade consiste, sobretudo, em revelar sempre de novo o sentido da revelação de Cristo. Mas não se trata de uma outra revelação. O momento central e culminante da revelação é o de Jesus. Por isso, neste texto a dependência do Espírito da verdade é reafirmada três vezes. O que o Espírito de Deus quer ajudar é entender a pessoa de Jesus e o significado da vida que ele viveu e seus ensinamentos. Trata-se do conhecimento interior (Jesus) e progressivo (seu sentido no momento). É o conhecimento progressivo ao centro da pessoa de Jesus. Este Espírito da verdade é que faz compreender que Jesus é realmente vencedor e não perdedor como imaginavam os discípulos depois que Jesus morreu.
      

No v.13 do texto diz-se que o Espírito revelará as coisas futuras. Aqui, mais uma vez, não se trata de nova revelação como foi dito acima. Mas trata-se de uma leitura “escatológica” da história; é uma leitura do presente à luz de sua conclusão. Trata-se de uma leitura dos acontecimentos/eventos à luz da história de Jesus o que resulta em compreender seu significado pela ajuda do Espírito da verdade.
     

Tudo isto quer sublinhar a importância da assistência do Espírito de Deus na nossa vida. Somente o Espírito divino tem a capacidade de nos levar a compreendermos melhor a revelação de Cristo e toda a sua mensagem e os acontecimentos atuais. O Espírito de Deus ajudará os cristãos na difícil tarefa de unir a fidelidade à novidade, à memória à renovação. Sem o Espírito divino teremos apenas um aglomerado de “muitas” coisas, que não podemos suportar. Ninguém pode suportar algo acima da sua capacidade permitida. Mas com a ajuda do Espírito divino, tudo será suportado mesmo estando acima do limite permitido. O Espírito de Deus nos leva à verdade plena, isto é a um conhecimento sempre novo, melhor e mais profundo de Jesus. Ao compreendermos Jesus e sua mensagem, compreenderemos melhor quem somos nós, e qual é nossa missão nesta terra, o sentido de nossa vida e de nossa morte. Somente na companhia do Espírito divino podemos ter certeza de que o nosso futuro ressuscitado está garantido, e por isso, a nossa luta por aquilo que é certo, bom, honesto, justo ou o amor vivido tem sua garantia final: a vitória.  Portanto, a presença do Espírito de Deus na vida de um cristão é indispensável. Um cristão sem o Espírito de Deus fica isolado dos fatos e acontecimentos e dos seus sentidos.


2. Mensagem da Festa da Santíssima Trindade
   

O Novo Testamento aceita sem discussão a revelação do monoteísmo que Deus é único (Mc 12,29;Jo 17,3;Gl 3,20;Ef 4,6;1Tm 2,5). E nós acreditamos em um só Deus. Que Deus é um e único, não há dúvidas.
   

Mas não basta crer em um e único Deus. Devemos perguntar de que jeito vive Deus, para podermos questionar a nós mesmos, de que jeito também nós vivemos. Deus vive do jeito trinitário. Cremos que Deus é único, mas não é solidão ou solitário, é comunhão. Crer na Santíssima Trindade significa que a verdade está do lado da comunhão e não da exclusão. Isto implica que tudo se relaciona com tudo. É uma inclusão no relacionamento e na convivência. E por ser central para a nossa vida, a Santíssima Trindade é continuamente invocada em toda a liturgia e em todas as nossas orações. Fomos batizados e a futura geração da Igreja será batizada em nome da Santíssima Trindade. Os nossos pecados são perdoados no sacramento da reconciliação em nome da Santíssima Trindade. E ao começarmos e terminarmos a missa/celebração litúrgica e muitas orações nossas diariamente, inclusive as orações presidenciais da missa, nós invocamos a presença da Santíssima Trindade. E a primeira oração que aprendemos quando éramos criancinhas e que passamos também para outra geração é o sinal da cruz, invocando a presença da Santíssima Trindade. Nossa vida diária é realmente cercada pela Santíssima Trindade. A nossa vida é uma liturgia: ao iniciarmos a vida, fomos batizados em nome da Santíssima Trindade e ao terminarmos a nossa caminhada terrena, mais uma vez, a presença da Santíssima Trindade é invocada: a nossa vida se entrega de volta para a comunhão eterna com a Santíssima Trindade.
     

A presença da Santíssima Trindade em todos os momentos de nossa vida nos leva a uma vida serena, pois, na verdade, há alguém que nos envolve, nos abraça e nos cerca por todos os lados e nos ama de verdade. Ninguém nos conhece melhor como Ele nos conhece, pois Ele nos conhece e penetra lá no fundo de nosso coração. Não só isso, também Ele conhece todos os segredos, todos os mistérios e todos os caminhos. N’Ele encontramos respostas para todas as nossas interrogações. Ele é realmente um útero infinito e a última ternura onde todos nós podemos nos refugiar. Com Ele ninguém se sente só, pois Ele é eternamente aberto para nós.
  

Quem revela a Santíssima Trindade para nós? É Jesus Cristo. Jesus Cristo é o revelador do mistério da Santíssima Trindade em Deus, como relata o texto de hoje (Pai, Filho e Paráclito). Ele é o verdadeiro autor de uma primeira teologia trinitária. Por meio dele o Pai revelou o que necessitamos saber para nossa salvação; e não haverá outra revelação pública.
     

No pequeno trecho tirado do Evangelho de João, que serve como o evangelho desta Santa Missa, encontramos a Santíssima Trindade revelada por Jesus Cristo. Nele ele fala do Pai, de si e do Espírito Santo. Jesus ensina tudo que recebe do Pa (Jo 15,15) para os discípulos. Neste texto, Jesus diz: “Tenho ainda muitas coisas a vos dizer, mas não sois capazes de compreender agora”. Ele quer lhes dizer que não dá para explicar tudo de uma vez para sempre. É impossível entender o sentido das coisas antes que aconteçam.
    

Mas como, então, eles poderão entender sem a presença de Jesus? Aí é que vem a promessa de Jesus: “Quando vier o Espírito da Verdade, ele vos conduzirá na verdade plena”. A verdade na qual o Espírito da Verdade nos conduz não é coisa feita e acabada, mas a compreensão certa de cada novo momento. O Espírito da Verdade nos guia na plenitude da verdade porque Jesus viveu num determinado momento, mas o Espírito Santo que ele envia é para todos os momentos. O Espírito da Verdade participa ativamente do “anúncio” que está sendo levado pela comunidade.
    

O papel do Espírito da Verdade não é dar-nos nova revelação, acrescentada à de Jesus, pois o ensinamento do Espírito Santo tem a mesma natureza, qualidade e importância que o ensinamento de Jesus durante sua vida terrestre. O papel do Espírito Santo é iluminar, guiar, estimular a Igreja, todos nós, a interpretar sempre mais a fundo a Palavra de Deus. Ele é atualizador da memória de Jesus. Ele nunca deixa que as palavras de Jesus permaneçam mortas, mas que sempre sejam relidas, ganhem novas significações e implementem novas práticas. Com efeito, a Palavra de Deus não é um depósito de proposições cristalizadas, mas é uma palavra viva. A Palavra de Deus é uma força dinâmica que continua a revelar-se seu significado na história que se enriquece pela reflexão, pela experiência e vicissitudes históricas da Igreja com a ajuda do Espírito Santo. E o Espírito Santo foi e continua sendo derramado sobre todos nós. Ele habita os corações das pessoas, dando-lhes entusiasmo, coragem e determinação. Ele é uma Pessoa divina junto com o Filho e o Pai, emergindo simultaneamente com Eles e estando essencialmente unidos a Eles pelo amor, pela comunhão e pela mesma vida divina.
     

O que significa dizemos que Deus é comunhão? O que isso implica? Para que haja verdadeira comunhão, devem existir relações diretas e imediatas: olho a olho, rosto a rosto, coração a coração. O resultado da mútua entrega e da comunhão recíproca é a comunidade. A comunidade resulta de relações pessoais, onde cada um é aceito como é, cada um se abre ao outro e dá o melhor de si mesmo. A comunhão é a realidade mais profunda e fundadora que existe. A comunhão é sempre a inclusão.
     

A viva na Santíssima Trindade tem como conseqüência necessária, para nós, a busca de relações novas e até mesmo a criação de novos tipos de sociedade, animados pela procura da igualdade e da fraternidade. Por isso, o egoísmo, a exclusão, o isolamento, a opressão e a exploração são uma negação ao Deus como comunhão. A Santíssima Trindade também incentiva as necessárias transformações para que haja comunhão e participação em todas as esferas da vida social e religiosa. Ela também incentiva cada família, que é o símbolo perfeito e a imagem mais rica da Santíssima Trindade, a buscar sua perfeição na comunhão e no amor, no mútuo comunhão e reconhecimento.
     

Portanto, terminando esta reflexão, juntos invoquemos e louvemos à Santíssima trindade, rezando: “Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Como era no princípio, agora e sempre. Amém!”


P. Vitus Gustama,svd

 

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