domingo, 16 de junho de 2013

AMOR CULTIVADO É A VIOLÊNCIA EXTINTA
 
 
Segunda-feira da XI Semana Comum
17 de Junho de 2013
 
Texto de Leitura: Mt 5,38-42

 Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 38 “Ouvistes o que foi dito: ‘Olho por olho e dente por dente!’ 39 Eu, porém, vos digo: Não enfrenteis quem é malvado! Pelo contrário, se alguém te dá um tapa na face direita, oferece-lhe também a esquerda! 40 Se alguém quiser abrir um processo para tomar a tua túnica, dá-lhe também o manto! 41 Se alguém te forçar a andar um quilômetro, caminha dois com ele! 42 Dá a quem te pedir e não vires as costas a quem te pede emprestado”.
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O texto do evangelho lido neste dia se encontra no Sermão da Montanha (Mt 5-7). Este texto é conhecido como a quinta antítese que nos fala sobre como devemos nos relacionar com quem nos ofendeu. Nesta antítese, Jesus faz seu comentário sobre a lei de talião do Antigo Testamento. No Livro do Êxodo lemos: “Vida por vida, olho por olho, dente por dente, mão por mão, queimadura por queimadura, ferida por ferida, golpe por golpe” (Ex 21,23-25; cf. Lv 20,17-22). Aqui se acentua a vingança proporcional ou a vingança na mesma medida.


A lei de talião era conhecida em todo o Oriente Antigo. Ela é encontrada no Código Hammurábi, nas leis assírias, na Torah bem como também entre os gregos e os romanos.


No famoso Código de Hammurabi (século XVIII a.C) encontramos os seguintes artigos referentes à Lei de talião:

·        O artigo 196: “Se alguém arrancar um olho de outro, também seu olho será arrancado”.

·        O artigo 197: “Se alguém quebrar um membro de outro, também um de seus membros será quebrado”.

·        O artigo 200: “Se alguém quebrar um dente de outro, um de seus dentes será quebrado”.


A finalidade primordial dessa lei era colocar um limite a uma vontade desenfreada de vingança em uma sociedade em que a vingança era quase que institucionalizada (cf. Gn 4,23-24). Portanto, a intenção dessa lei era proteger os direitos das pessoas contra os excessos de violência.


Na quinta antítese do Sermão da Montanha Jesus faz uma reflexão sobre a lei de talião e oferece uma solução: « Pelo contrário, se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a esquerda. Se alguém quiser levar-te ao tribunal, para ficar com a tua túnica, deixa-lhe também o manto. Se alguém te obrigar a acompanhá-lo durante um quilômetro, caminha dois com ele. Dá a quem te pedir e não vires as costas a quem te pede emprestado” (Mt 5,38-42).
  

Com esta antítese Jesus coloca como alternativa à violência, não a lei de talião, mas a não-violência. Na verdade, Jesus já colocou nas Bem-aventuranças a atitude certa contra a violência: “Bem-aventurados os mansos, bem-aventurados os misericordiosos, bem-aventurados os que promovem a paz”. Jesus nos ensina também com seu exemplo (cf. Mt 11,28-30; 12,18-21). E São Pedro na sua Carta escreveu que Cristo “Quando injuriado, não revidava; ao sofrer não ameaçava, antes, punha a sua causa nas mãos daquele que julga com justiça” (1Pd 2,23).


A reação paradoxal que Jesus sugere aos cristãos, diante da violência, tem uma finalidade concreta: mostrar as possibilidades extremas de aplicação do seu mandamento de amor. Quem é movido por um amor incondicional ao próximo será capaz de fazer gestos radicais para coibir a violência, sem responder com a mesma moeda. Tudo supõe que se tenha um coração limpo (cf. Mt 5,8). A lei de talião é excluída pela limpeza de coração e pela compaixão. O cristão é chamado a não entrar na engrenagem infernal de um violento e não reagir com a violência à violência.
  

Segundo Jesus não basta “agüentar” os maus; devemos fazer, por eles, algo de positivo. Jesus não quer bobos, mas fortes, capazes de fazer algo para que o mundo mude ou melhore. Não é suficiente sofrer, enquanto tivermos ainda uma possibilidade de fazer positivamente o bem.


Não é possível viver odiando em inimizade profunda e irreversível. O dano interior provocado por uma relação esfarrapada corrói nossas melhores energias e o Templo de Deus em nós se deteriora (cf. 1Cor 3,16-17) e sentimentos de vingança o deformam lentamente. O perdão é o testamento escrito por Jesus na cruz.


Deveríamos realizar um progressivo desarme intelectual, moral e religioso. É não justificar o injustificável. É crer na força do amor. É tirar da Eucaristia a certeza de curar nossas feridas profundas. Toda vez que fazemos memória da morte e ressurreição de Cristo, o mesmo Senhor nos introduz, pelo Espírito, na plenitude de sua existência pascal.


Quando o amor for “excesso” o mal é obrigado a não se produzir e sua existência se extingue. Não é uma petição aos heróis e sim para todos os cristãos para que imitem o exemplo do seu Senhor Jesus Cristo. Para isso, temos que pedir permanentemente ao Senhor sua graça e força que vem de Seu Espírito para acontecer uma transformação profunda no nosso modo de viver com os demais homens. Mas “Empregar o nome de não-violência quando existe uma espada em vosso coração é, não somente hipocrisia e desonesto, mas, ainda, covardia. Se permanecermos não-violentos, o ódio ficará sem efeito. O primeiro princípio da ação não-violenta é o da não-cooperação com tudo que é humilhante” (Mahatma Gandhi).


Reflitamos as seguintes palavras do escritor e psicólogo argentino, René Juan Trossero:


“Não me importam as suas teorias sobre a violência;
O que me interessa saber é como você vive
No meio da violência que nos cerca por todas as partes.


Se você nunca foi vítima da violência,
Fale sobre ela com prudência
Por respeito aos que a sofrem na pele.


Provocar a violência em nome de Deus
E do Evangelho é um sacrilégio.
Pregar a resignação para os que sofrem a violência,
Invocando Deus e o Evangelho, é uma trapaça.


Não acabará a violência quando houver menos armas,
E sim quando houver mais amor.
 
Destruir a violência com a violência
É como apagar um incêndio com gasolina.
A única maneira de lutar contra a violência
É não provocá-la”.   (René Juan Trossero)

P.Vitus Gustama, SVD

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