sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

 
CORDEIRO DE DEUS NOS DEVOLVE A DIGNIDADE HUMANA

II DOMINGO DO TEMPO COMUM “A”
19 de Janeiro de 2014
 

Primeira Leitura: Is 49,3.5-6
 
3 O Senhor me disse: “Tu és o meu Servo, Israel, em quem serei glorificado”. 5 E agora diz-me o Senhor — ele que me preparou desde o nascimento para ser seu Servo — que eu recupere Jacó para ele e faça Israel unir-se a ele; aos olhos do Senhor esta é a minha glória. 6 Disse ele: “Não basta seres meu Servo para restaurar as tribos de Jacó e reconduzir os remanescentes de Israel: eu te farei luz das nações, para que minha salvação chegue até aos confins da terra”.
 
Segunda Leitura: 1Cor 1,1-3
 
1 Paulo, chamado a ser apóstolo de Jesus Cristo, por vontade de Deus, e o irmão Sóstenes, 2 à Igreja de Deus que está em Corinto: aos que foram santificados em Cristo Jesus, chamados a ser santos junto com todos os que, em qualquer lugar, invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso. 3Para vós, graça e paz, da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo.
 
Evangelho: Jo 1,29-34

Naquele tempo: 29 João viu Jesus aproximar-se dele e disse: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. 30 Dele é que eu disse: Depois de mim vem um homem que passou à minha frente, porque existia antes de mim. 31 Também eu não o conhecia, mas se eu vim batizar com água, foi para que ele fosse manifestado a Israel”. 32 E João deu testemunho, dizendo: “Eu vi o Espírito descer, como uma pomba do céu, e permanecer sobre ele. 33 Também eu não o conhecia, mas aquele que me enviou a batizar com água me disse: ‘Aquele sobre quem vires o Espírito descer e permanecer, este é quem batiza com o Espírito Santo’. 34 Eu vi e dou testemunho: Este é o Filho de Deus!”
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O texto é tirado do início do Quarto Evangelho e relata o testemunho de João Batista sobre a pessoa de Jesus (um dos temas preferidos do evangelista João é testemunho). Anteriormente João Batista deu o testemunho aos enviados de Jerusalém (Jo 1,19-28) que conclui com esta afirmação: “No meio de vós está alguém que não o conheceis...” (veja Jo 1,26-27).
       

Antes de proferir o seu testemunho, João vê Jesus vir na sua direção. Quando Jesus aparece pela primeira vez no Quarto Evangelho, ele é mostrado no ato de “vir”. Com isso, se realiza o anúncio de Isaías: “O Senhor vem”(Is 40,10). Ele não vem com o poder, mas com determinação: se Jesus vem para João (não se sabe de onde) é para dizer o Sim de Deus à Promessa. Ele vem para João, em quem se recapitulam a experiência e a espera de Israel.


É Preciso Desenvolver Um Olhar Penetrante Para Captar o Sentido das Coisas e dos Acontecimentos
  

Jesus continua vindo em nossa direção, como aconteceu com João Batista. Somos convidados a olhar para ele com fé. É o olhar da fé que descobre a realidade sob as aparências, e confere seu verdadeiro sentido a todo o mundo visível no qual Jesus aparece. João Batista passou pela escola do deserto, onde se exercitou na humilde docilidade interior. A sua figura é, no início do Evangelho, o símbolo de todos os crentes que se põem em seguimento do Verbo encarnado. Ele realiza as condições da busca e da descoberta. Não se deixa enganar por nenhuma autoridade, nem sequer a dos fariseus; procura a Deus só e, livre de todo o preconceito, e convida as pessoas a olharem para Jesus que vem para tirar o o pecado que pesa a vida do homem.
      

O olhar de João Batista é profundo. Ele percebe logo que Aquele que vem em sua direção é o Salvador. Por isso, ele reage em profundidade: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (v.29).  Palavras que se repetem seis vezes na celebração eucarística (2 na Glória, 3 depois da saudação da paz e a sexta vez, imediatamente antes da comunhão). Somente João está disposto a reconhecer Aquele que Deus envia, não obstante afirmar que não o conhecia (v.31.33). Não conhece de vista ou por contato, mas já conhece interiormente, pela ação do Espírito Santo que o envia e que ele não pára de interrogar.
      

A primeira condição de toda busca da fé é, certamente, o senso de observação das pessoas, das coisas e da vida em geral; é ter um olhar penetrante: “Quanto a ti, quem és tu? Quem dizes de ti mesmo?” (Jo 1,19.21). Uma vez levantada esta pergunta, sua resposta só nos é cabalmente dada ao término de uma lenta conversão do olhar, obtida graças ao auxílio divino. Tal é o itinerário da fé em João Batista que, de início, não crê (Jo 1,31.33), a seguir descobre a Jesus como o Cordeiro (Jo 1,29-32) e, enfim, o reconhece em sua personalidade humano-divina (Jo 1,34). E só conhece de verdade o Senhor que vem quem predispõe o próprio coração, sem nada reter para si, quem está preparado para a iluminação, sabendo, que para Deus, nada é impossível (cf. Lc 1,37).
      

Todo este encaminhamento não pode efetuar-se a não ser através do diálogo do homem com Deus e da abertura da alma à Sua influência. O evangelista João acentua, muitas vezes, o olhar de Jesus que transforma a vida dos discípulos. É este olhar que transforma Simão em Pedro (Jo 1,42), e faz com que Natanael passe de doutor da lei à condição de crente (Jo 1,47-48). Por conseguinte, o progresso na fé e na vocação só pode efetuar-se, quando se recebem os eventos/acontecimentos e as pessoas como dons de Deus. A vocação é algo que jorra do encontro e do acolhimento.


É Preciso Termos Fé No Cordeiro de Deus, Pois Ele Devolve Nossa Dignidade


“Eis o Cordeiro de Deus...”, diz João Batista. Este é um dos 16 títulos cristológicos encontrados só no primeiro capítulo do Quarto Evangelho. O título “Cordeiro de Deus” é compreendido somente a partir da fé pascal. Os judeus costumavam oferecer, diariamente, no Templo, cordeiros para expiar os pecados (cf. Êx 29,38;Lv 16,21). Desde modo, alguém que reconcilia as pessoas com Deus pode ser comparado ao cordeiro do sacrifício. Jesus, como Servo de Is 53,4-12, carrega sobre si o pecado de toda a humanidade. Jesus Cristo é o Cordeiro pascal que, entregando-se voluntariamente à morte por todos e cada um dos homens, institui, antecipadamente na última ceia e “de uma vez por todas” na cruz (Jo 19,36), a Nova Aliança de Deus com a humanidade. Por ter sido selada com o sangue do seu Filho, a Nova Aliança de Deus com o seu Novo Povo é eterna, irreversível e indestrutível.
   

 “... que tira o pecado do mundo” (v. 29). João usa o termo “hamartia” (pecado) 16 vezes no seu evangelho. Se for no singular este termo (pecado), ele indica uma situação (Jo 1,29;8,21;9,41s;15,22;16,8s). O pecado como situação atribui-se a “o mundo”, a humanidade (Jo 1,29); aos dirigentes judeus na época, aos quais causará a morte (Jo 8,21); aos fariseus, por sua cegueira voluntária (Jo 9,41); aos representantes do “mundo”, como inescusável depois da atividade de Jesus (Jo 15,22.24), demonstrando na oposição a Jesus (Jo 16,9) e objeto da acusação do Espírito (Jo 16,8). “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. João usa a palavra “pecado” em singular (o pecado) e não em plural (os pecados do mundo). O pecado fundamental para João é não aceitar o Filho de Deus entre nós, com todas as conseqüências que isso comporta. Em outras palavras, pecado é adesão a um sistema social que gera a morte do povo(mundo), já que a prática de Jesus é uma prática de libertação e de passagem da escravidão e morte para a liberdade e a vida.
   

Jesus veio para “tirar o pecado do mundo”. Esta expressão engloba não somente apagar todos os pecados numericamente, mas também e, sobretudo, a situação de pecado do mundo, a condição escravizada do homem pecador; supõe a destruição do mistério de iniqüidade que é o pecado (2Ts 2,7), a vitória da luz sobre as trevas (Cl 1,13s) e sobre a negação do amor a Deus e aos irmãos em suas múltiplas manifestações pecaminosas, cujo resumo é egoísmo irredimido do “homem velho”.
       

Apesar de sabermos que o pecado é a “mercadoria” global cuja produção nunca entra em crise e cuja demanda desconhece limites e que não temos balança em condição de calcular seu peso, nós acreditamos que pecado nenhum consegue esgotar a paciência de Deus em Jesus Cristo, cansar sua misericórdia, bloquear seu perdão e pôr limites a seu amor infinito. Por isso, Jesus é nossa vitória, nossa libertação e nossa paz. Por ele e com ele somos capazes de vencer o pecado cada dia, dentro de nós mesmos, dentro de casa, em nossa vida e no ambiente que nos cerca.
    

 Acreditar que Jesus é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo implica mudanças radicais na nossa vida. Se quisermos ajudar o Cordeiro manso na luta contra o pecado do mundo, só nos resta adotarmos a misericórdia no lugar da violência, o perdão no lugar do castigo, o amor no lugar do ódio. Jesus não confia em castigos, pois nem os castigos têm forças para salvar: só o amor. Se aposentarmos o Cordeiro manso e colocarmos uma fera bem equipada para reprimir e dominar, longe de tirarmos o pecado do mundo. Ao contrário, só conseguiremos multiplicá-lo.


Somos Chamados a Ser Testemunhas Do Cordeiro de Deus


No evangelho deste dia João aparece para dar testemunho de Jesus: ”Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29). João Batista vê Jesus que vem. Mas não guarda para si como seu segredo, como propriedade privada, o que viu. Ele quer que todos vejam o que ele vê: “Eis...”, João diz, o que implica um convite a olhar. João Batista não chama a atenção para um messias ausente e vindouro, mas para um messias que está no meio de nós e que não o conhecemos.
      

Como João Batista, é uma urgência de nossa fé dar testemunho da salvação de Deus tanto individualmente como comunitariamente. A vida de cada cristão deve ser tão transparente ética e moralmente a ponto de ela apontar para Cristo. Ser cristão hoje é ser testemunha entre os homens que Jesus venceu o pecado em nossa vida, e que nos fez filhos de Deus. Por nossa vez, nós precisamos adotar os sentimentos e atitudes de Jesus na vivência dos valores evangélicos do amor, da fraternidade, da justiça e da solidariedade com os mais necessitados. Esta é a forma mais eficaz para tirarmos a força do pecado que quer dominar a humanidade. Onde se pratica o bem, o mal não encontra o espaço. Onde se vive a fraternidade, a rivalidade e a inimizade perdem sua força. Onde se vive o amor, o ódio e a vingança se distanciam. Onde a bondade se pratica, a maldade perde sua força para avançar. Onde se pratica a partilha, o egoísmo e a ganância são eliminados. Quando os bons não se silenciam, o maus perdem sua voz. O provérbio latino nos relembra: “Verba movent, exempla trahunt” (As palavras movem, os exemplos arrastam). Só desta maneira convenceremos o mundo que somos verdadeiros cristãos, pois vivemos aquilo que Jesus vivia.

P. Vitus Gustama,svd

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