sexta-feira, 21 de março de 2014

 
JESUS É A ÁGUA VIVA QUE SATISFAZ NOSSOS ANSEIOS PROFUNDOS

III DOMINGO DA QUARESMA DO ANO “A”

23 de Março de 2014
 

Primeira Leitura: Êx 17,3-7


Naqueles dias, 3o povo, sedento de água, murmurava contra Moisés e dizia: “Por que nos fizeste sair do Egito? Foi para nos fazer morrer de sede, a nós, nossos filhos e nosso gado?” 4Moisés clamou ao Senhor, dizendo: “Que farei por este povo? Por pouco não me apedrejam!” 5O Senhor disse a Moisés: “Passa adiante do povo e leva contigo alguns anciãos de Israel. Toma a tua vara com que feriste o rio Nilo e vai. 6Eu estarei lá, diante de ti, sobre o rochedo, no monte Horeb. Ferirás a pedra e dela sairá água para o povo beber”. Moisés assim fez na presença dos anciãos de Israel. 7E deu àquele lugar o nome de Massa e Meriba, por causa da disputa dos filhos de Israel e porque tentaram o Senhor, dizendo: “O Senhor está no meio de nós ou não?”


Segunda Leitura: Rm 5,1-2.5-8

Irmãos: 1Justificados pela fé, estamos em paz com Deus, pela mediação do Senhor nosso, Jesus Cristo. 2Por ele tivemos acesso, pela fé, a esta graça, na qual estamos firmes e nos gloriamos, na esperança da glória de Deus. 5E a esperança não decepciona, porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. 6Com efeito, quando éramos ainda fracos, Cristo morreu pelos ímpios, no tempo marcado. 7Dificilmente alguém morrerá por um justo; por uma pessoa muito boa, talvez alguém se anime a morrer. 8Pois bem, a prova de que Deus nos ama é que Cristo morreu por nós, quando éramos ainda pecadores.
 
 
Evangelho: Jo 4,1(5)-42
 
Naquele tempo, 5Jesus chegou a uma cidade da Samaria, chamada Sicar, perto do terreno que Jacó tinha dado ao seu filho José. 6Era aí que ficava o poço de Jacó. Cansado da viagem, Jesus sentou-se junto ao poço. Era por volta de meio-dia. 7Chegou uma mulher de Samaria para tirar água. Jesus lhe disse: “Dá-me de beber”. 8Os discípulos tinham ido à cidade para comprar alimentos. 9A mulher samaritana disse então a Jesus: “Como é que tu, sendo judeu, pedes de beber a mim, que sou uma mulher samaritana?” De fato, os judeus não se dão com os samaritanos. 10Respondeu-lhe Jesus: “Se tu conhecesses o dom de Deus e quem é que te pede: ‘Dá-me de beber’, tu mesma lhe pedirias a ele, e ele te daria água viva”. 11A mulher disse a Jesus: “Senhor, nem sequer tens balde e o poço é fundo. De onde vais tirar água viva? 12Por acaso, és maior que nosso pai Jacó, que nos deu o poço e que dele bebeu, como também seus filhos e seus animais?” 13Respondeu Jesus: “Todo aquele que bebe desta água terá sede de novo. 14Mas quem beber da água que eu lhe darei, esse nunca mais terá sede. E a água que eu lhe der se tornará nele uma fonte de água que jorra para a vida eterna”. 15A mulher disse a Jesus: “Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede e nem tenha de vir aqui para tirá-la”. 19b“Senhor, vejo que és um profeta!” 20Os nossos pais adoraram neste monte, mas vós dizeis que em Jerusalém é que se deve adorar”. 21Disse-lhe Jesus: “Acredita-me, mulher: está chegando a hora em que nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. 22Vós adorais o que não conheceis. Nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus. 23Mas está chegando a hora, e é agora, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e verdade. De fato, estes são os adoradores que o Pai procura. 24Deus é espírito, e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade”. 25A mulher disse a Jesus: “Sei que o Messias (que se chama Cristo) vai chegar. Quando ele vier, vai nos fazer conhecer todas as coisas”. 26Disse-lhe Jesus: “Sou eu, que estou falando contigo”.

39aMuitos samaritanos daquela cidade abraçaram a fé em Jesus. 40Por isso, os samaritanos vieram ao encontro de Jesus e pediram que permanecesse com eles. Jesus permaneceu aí dois dias. 41E muitos outros creram por causa da sua palavra. 42E disseram à mulher: “Já não cremos por causa das tuas palavras, pois nós mesmos ouvimos e sabemos que este é verdadeiramente o salvador do mundo”.
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No quarto Evangelho são narrados vários encontros paradigmáticos de Jesus: com os primeiros discípulos, com Nicodemos, com o enfermo de Betesda, com o cego de nascença (próximo domingo) etc., como também o encontro com a samaritana e os samaritanos no evangelho deste domingo. Em cada encontro existe diálogo. Estes encontros nos convidam a fazer uma contemplação, de maneira especial, o encontro de Jesus com a mulher samaritana. Quanto mais longa e aprofundada for a contemplação, mais inesquecível será a experiência do nosso encontro com Jesus.


Crer Em Um Deus Que Não Discrimina


O evangelho deste dia narra o encontro e o diálogo entre Jesus e uma samaritana. Para um judeu não existia injúria pior do que ser comparado com um samaritano. Um rabino não podia falar publicamente com uma mulher (imagine falar sozinhos); muito menos de temas religiosos. Até um rabino de então havia dito que é melhor queimar a Bíblia (a Lei) do que entregá-la a uma mulher. E Jesus dialoga com uma mulher samaritana. Para um judeu há aqui um duplo grave erro de Jesus. Primeiro, porque a conversa a sós entre pessoas de sexos diferentes não era bem-vista naquele mundo. Segundo, porque essa mulher com quem Jesus conversa pertence ao povo samaritano (povo meio pagão).


Mas Jesus veio para salvar a humanidade toda. Para ele, por isso, não há espaço para qualquer preconceito ou discriminação. Ao conversar com uma mulher que é uma samaritana, o texto quer nos dizer que, em primeiro lugar, Jesus põe um fim a qualquer discriminação na convivência humana. Por isso, os seus seguidores devem ser promotores da fraternidade universal. Em segundo lugar, a Palavra de Deus que é criadora, não se dirige a nós somente quando somos perfeitos. A Samaritana é uma mulher que é excluída, que é excomungada, porque se relaciona com deuses pagãos.


É interessante ver que Jesus escolhe uma mulher como esta para dialogar e para ensinar a prece profunda. Talvez porque os seus ouvidos não estejam fechados pela certeza de ter razão, pela certeza de ser a melhor, pela certeza de possuir a verdade. A Samaritana é imagem de quem não tem a verdade, mas ela a busca e se deixa levar por Jesus (que é a Verdade, cf. Jo 14,6) que vem sentar-se à borda do poço.
    

Através deste diálogo com a Samaritana percebemos o que Jesus quer nos transmitir. Ele não se fecha dentro da “sua religião” nem dentro da “sua etnia” nem dentro da “sua geografia”. Ele é para todos e por isso, ele sai ao encontro de todos. Apesar de não ser uma pessoa judia e não praticante da religião judaica, nesta Samaritana existe o “dom de Deus” segundo Jesus (v.14). É para esta mulher que Jesus revela, primeiramente, a sua condição de Messias (v.26). Esta atitude ecumênica de Jesus tinha muita importância para a comunidade de João no fim do primeiro século.
   

Portanto, a intenção primordial e central de todo o relato do evangelho deste domingo é encontrar a resposta à pergunta: “Quem é Jesus?”. Resposta que só é encontrada depois de muita busca e de muito diálogo. O itinerário do discípulo de Jesus até chegar à profissão de fé plena tem de superar uma série de obstáculos: preconceitos, hábitos adquiridos, barreiras religiosas, preocupações materiais, incompreensões e mal-entendidos.


O que tem, então, por trás deste relato? O evangelho de João foi escrito no fim do primeiro século. Nas suas linhas e entrelinhas transparecem os traços de uma comunidade cristã aberta, acolhedora e pluralista. A comunidade que transparece no texto supõe como normal que mulheres tenham liderança na comunidade e anunciem a Boa Nova, até com maior resultado que os homens (Jo 4,8. 27). Por causa da palavra desta mulher, muitos se converteram (foram ao encontro de Jesus e acreditaram). O texto nos transmite também que os samaritanos participam da vida comunitária e aceitam Jesus como Messias (v.29) e O aceitam como “o Salvador do mundo” (Jo 4,42). E os samaritanos vão ao encontro de Jesus movidos pelo testemunho da Samaritana e reconhecem a identidade de Jesus e o confessam como Salvador do mundo.


Isto quer nos dizer que o acesso à fé dá-se através do testemunho. E o testemunho, por sua vez, só tem força para conduzir ao encontro de Jesus quando é dado por alguém que fez a experiência do encontro pessoal com Jesus, como a samaritana que fez o encontro com Jesus.  O processo da fé começa pela escuta e acolhida da palavra proclamada por um testemunho externo, mas só se torna fé pessoal na experiência da relação pessoal com Jesus Cristo. Quando nós fazemos a experiência do “Eu sou” (Jesus Cristo), quando fazemos a experiência desta fonte de Água Viva, podemos nos voltar para as realidades, mas seremos livres em relação a elas e seremos testemunhas criveis de Jesus.


Crer Em Um Deus Do Paradoxo Que Quer Nos Satisfazer
 

Dá-me de beber”, pede Jesus à Samaritana. Este pedido é o verdadeiro paradoxo e é o verdadeiro mistério. É a absoluta novidade. Aquele que transformou a água em melhor vinho (Jo 2,1-12) está pedindo a água. É o paradoxo de um Deus, que é capaz de tudo, se torna necessitado e mendigo. É o mistério de um Deus que se torna ser humano, necessitado como qualquer ser humano, para ter um pretexto de encontrá-lo e de dar-lhe a água que apaga de vez a sua sede e de seus anseios profundos. É o mistério de um Deus que pede para poder dar. É o grande paradoxo! É a água que pede para ser bebida. É a nascente que tem sede de ser bebida. Os Antigos diziam que Jesus era uma fonte que tinha sede de ser bebida. Santo Agostinho diz que “é Deus quem está fatigado em Jesus. Esse caminho é o dos séculos, dos milênios... É Deus quem está em busca de uma humanidade onde possa sentar-se. Deus está em busca do homem”. Na origem de uma experiência espiritual, existe, muitas vezes, essa descoberta que não somos nós que procuramos Deus, e sim é Deus quem nos procura. Mas como é difícil para um ser humano deixar-se encontrar, e deixar-se amar. O caminho é longo para chegar a este ponto.
   

“Dá-me de beber”! Não somos nós que procuramos Deus, que procuramos a verdade. É Deus, é a verdade que nos procuram. É a Vida que nos procura. É a Vida que busca dar-se a nós, através de nós. Através do poço que somos. Nossa pergunta, neste momento, é a mesma pergunta da samaritana: o que é que pode, verdadeiramente, acalmar meu desejo, meus anseios profundos? De que, realmente, temos sede? O que é este cântaro de onde pode jorrar a Água Viva? São João evangelista nos aconselha: Faça o encontro profundo com Jesus! Dialogue longamente com Ele! Ouça profundamente o que Ele diz a seu respeito! Encare o calor picante de sua vida como a samaritana que encarou o sol do meio dia para conversar com Jesus, pois diante de Jesus e com Jesus tudo se torna calmo e sereno, pois Ele é a vida de nossas vida, a Verdadeira Água que satisfaz para sempre nossa sede!


Adorar Deus Em Espírito E Verdade


“... os verdadeiros adoradores adorarão em espírito e verdade, pois tais são os adoradores que o Pai procura. Deus é espírito e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade”, diz Jesus à Samaritana (vv.23-24).
  

O que é que adorar? No sentido antigo do termo, é alguém que orienta seu desejo para a fonte de todo Ser. É a homenagem ritual prestada à divindade. Portanto, se queremos conhecer a fonte do nosso ser que é o Pai, Aquele que gera o mundo, nós temos que escutar o Espírito de Deus. A importância não está sobre esta montanha ou em Jerusalém, nesta religião ou na outra. O importante é estarmos conscientes no Sopro de Deus que nos habita e estarmos vigilantes, e despertos.
     

“Adorar em espírito e verdade”. “Espírito” (pneuma) para João significa o que pertence ao mundo celeste em contraposição ao mundo terreno. O homem terreno não tem, por suas próprias forças, acesso ao reino celeste (Jo 3,31). Deus só pode ser adorado como Pai por aqueles que possuem o espírito que os faz filhos de Deus, que os faz nascer do alto. Para o encontro verdadeiro e autêntico com Deus é necessário que a força de Deus eleve o homem, faça dele uma nova criação, seja penetrado pelo Espírito de Deus. Por isso, a adoração em espírito não é o culto interior, espiritualista, individual, contraposto ao culto externo e público.
   

E “em verdade”. A adoração “em verdade” não se opõe à falsa adoração. “Verdade” é, para João, a realidade de Deus revelada em Jesus Cristo, nas suas palavras, nas suas ações, e na sua pessoa. A verdadeira adoração do Pai pressupõe, por conseguinte, a acolhida da palavra de Jesus, a fé em Jesus. O novo culto é verdadeiro porque procede da revelação de Deus em Jesus Cristo. Só com a revelação de Jesus, com a presença de Jesus, pode haver “verdadeiros adoradores”, porque os que crêem em Jesus são regenerados pelo Espírito e vivem a relação com o Pai na atitude filial de Jesus. 


Para que haja “verdadeiros adoradores”, é necessária a ação do Espírito que faz nascer “de novo, do alto” (Jo 3,3-8). A presença de Jesus acaba com o dilema sobre o lugar da adoração a Deus. Com ele vem a hora em que os lugares de culto do passado por mais veneráveis que tenham sido, vão perder sua importância. O verdadeiro culto de adoração começa a realizar-se em Jesus (cf. Jo 2,13-22 em que Jesus fala do seu corpo ressuscitado como o novo templo). O lugar onde se revela o Pai, o lugar do novo e verdadeiro culto é doravante e para sempre, Jesus Cristo, o único caminho para chegar ao Pai. A nova adoração, que é expressa no futuro (adorarão) não será simplesmente a Deus, mas ao “Pai”, e não está mais vinculada a lugares (“nem... nem...”).

P. Vitus Gustama,svd

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