domingo, 17 de agosto de 2014

 
JUSTIÇA DE DEUS DIANTE DA MINHA JUSTIÇA

Quarta-Feira da XX Semana Comum
20 de Agosto de 2014
 

Evangelho: Mt 20,1-16

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos esta parábola: 1“O Reino dos Céus é como a história do patrão que saiu de madrugada para contratar trabalhadores para a sua vinha. 2Combinou com os trabalhadores uma moeda de prata por dia, e os mandou para a vinha. 3Às nove horas da manhã, o patrão saiu de novo, viu outros que estavam na praça, desocupados, 4e lhes disse: ‘Ide também vós para a minha vinha! E eu vos pagarei o que for justo’. 5E eles foram. O patrão saiu de novo ao meio-dia e às três horas da tarde, e fez a mesma coisa. 6Saindo outra vez pelas cinco horas da tarde, encontrou outros que estavam na praça, e lhes disse: ‘Por que estais aí o dia inteiro desocupados?’ 7Eles responderam: ‘Porque ninguém nos contratou’. O patrão lhes disse: ‘Ide vós também para a minha vinha’. 8Quando chegou a tarde, o patrão disse ao administrador: ‘Chama os trabalhadores e paga-lhes uma diária a todos, começando pelos últimos até os primeiros!’ 9Vieram os que tinham sido contratados às cinco da tarde e cada um recebeu uma moeda de prata. 10Em seguida vieram os que foram contratados primeiro, e pensavam que iam receber mais. Porém, cada um deles recebeu uma moeda de prata. 11Ao receberem o pagamento, começaram a resmungar contra o patrão: 12‘Estes últimos trabalharam uma hora só, e tu os igualaste a nós, que suportamos o cansaço e o calor o dia inteiro’. 13Então o patrão disse a um deles: ‘Amigo, eu não fui injusto contigo. Não combinamos uma moeda de prata? 14Toma o que é teu e volta para casa! Eu quero dar a este que foi contratado por último o mesmo que dei a ti. 15Por acaso não tenho o direito de fazer o que quero com aquilo que me pertence? Ou estás com inveja, porque estou sendo bom?’ 16aAssim, os últimos serão os primeiros, e os primeiros serão os últimos”.
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Bondade e Generosidade de Deus


O evangelho lido neste dia nos convida a colocarmo-nos diante da bondade e da generosidade sem fim de Deus para percebermos e reconhecermos melhor nossa mesquinhez que, muitas vezes, se expressa em forma de inveja, de ciúme, de ódio etc. Conhecer Deus ou estar na presença de Deus é uma necessidade vital, porque só através disto é que podemos compreender melhor nós mesmos, inclusive nossas misérias, ingratidões, invejas, etc. Diante da bondade e da generosidade sem limite de Deus deveríamos ficar envergonhados, porque muitas vezes, damos espaço, facilmente, à vanglória ou à vaidade por termos feito algo de bom pelos nossos semelhantes na comunidade. Estamos neste mundo com o objetivo único: fazer o bem em qualquer hora e para qualquer pessoa em necessidade.


A parábola do Evangelho de hoje justamente apresenta um Deus que age de forma muito diferente, contrária a qualquer lógica dos homens e qualquer justiça dos homens. Em sua intenção original esta parábola é escrita para responder às críticas dos fariseus porque eles não aceitam que Jesus se misture com os pecadores, com os publicanos e marginalizados.


Mas sem perceber, ao marginalizar o outro eu me marginalizo, pois faço parte da própria humanidade. Ao marginalizar o outro, eu estou me agredindo na minha humanidade. Por isso, eu devo sentir a dor do outro e fazer algo para aliviá-la a partir das minhas condições. É mais fácil excluir e condenar o outro. Mas o difícil é encontrar alguma solução e fazer parte dessa solução. Jesus sempre se oferece como solução para qualquer problema da humanidade. E eu sou seguidor de Jesus e por isso, eu me chamo cristão (pessoa de Cristo). Que vantagem ou utilidade eu terei, se eu viver excluir e condenar o outro? Na condenação que eu lanço sobre alguém, na exclusão que eu faço sobre o outro, nos comentários maldosos que pronuncio sobre alguém, tudo isso vai edificar minha vida e vida do outro? Que utilidade tem nisso tudo? Quantos minutos e horas nós jogamos fora sem utilizá-los para o bem da humanidade! Não vivamos inutilmente nem morramos inutilmente! Estamos neste mundo para tirar para fora o bem que temos dentro de nós para partilhá-lo com os demais irmãos a fim de que todos vivam felizes.
   

Através da parábola no evangelho de hoje Jesus quer nos mostrar que o Seu Deus é Aquele que dá espaço para todos em seu Reino. A igualdade se sublinha. E Deus não pode ser feliz, se o mais humilde dos homens não é feliz, pois todos são filhos e filhas de Deus, como nenhum pai neste mundo tem prazer de ver seu filho infeliz. Por isso, Deus nunca se cansa de sair ao encontro do homem para salvá-lo nem se cansa em perdoar os pecados dos homens que se arrependeram.


Por isso, o Deus de Jesus Cristo, o Deus de bondade e de generosidade, vive surpreendendo as pessoas. Os que querem apropriar-se da generosidade de Deus acabam perdendo tudo. Em nossa vida cristã somos convidados a deixar sempre lugar para a surpresa da generosidade de Deus, de nossa generosidade e a do semelhante nosso. Ser generoso é ser livre de si, de seu pequeno eu, de suas pequenas covardias, de suas pequenas posses. A generosidade nos eleva em direção aos outros e ao Deus da generosidade que criou tudo gratuitamente em função de felicidade neste mundo.


Minha Justiça e Justiça de Deus


Outro aspecto que a parábola quer destacar é a inveja dos homens, manifestados nos operários das primeiras horas. Eles argumentam contra o dono da vinha que suportaram o peso do trabalho durante o dia inteiro sob o calor do sol, por isso não julgavam justo serem igualados aos trabalhadores da última hora. Para eles o dono da vinha não é justo.


O justo, biblicamente, significa aquele que é fiel aos mandamentos de Deus; aquele que tem fé nos anúncios dos profetas e espera com paciência seu cumprimento, pois Deus é fiel às suas promessas. É justo o homem que olha para Deus e ordena a sua vida segundo os ditames da vontade divina. É justo o homem que cumpre a Lei divina de todo coração e com sincera alegria e leveza. O justo é o homem sábio e bondoso. O justo é, portanto, uma figura ideal do homem agradável a Deus e aos homens de boa vontade. Não podemos praticar a justiça apenas para que sejamos perfeitos, mas para que o nosso irmão, nosso próximo, não seja tratado injustamente. Para podermos praticar a caridade devemos, antes, praticar a justiça. Justiça é o reconhecimento do direito do outro; é dar aquilo que é do outro. Caridade é dar aquilo que é meu. Justiça e caridade devem andar juntas na vida de um cristão ou na vida de qualquer pessoa de boa vontade.


Amigo, eu não fui injusto contigo. Não combinamos uma moeda de prata? Toma o que é teu e volta para casa! Eu quero dar a este que foi contratado por último o mesmo que dei a ti.


Leiamos e releiamos esta afirmação do dono da vinha. Esta afirmação é a lição central da parábola. Se soubermos ler entre linhas, descobriremos aqui o retrato maravilhoso que Jesus nos traz do Pai do céu.

·        Ele é um Deus que ama aos homens prioritariamente, e os ama e quer introduzi-los em Sua própria felicidade.

·        Ele é um Deus que reparte seus benefícios a todos sem excluir ninguém e os chama sem parar para receber os benefícios.

·        Ele é um Deus cuja generosidade e bondade não estão limitadas por nossos méritos, mas que Ele dá com largueza ou generosidade sem calcular méritos.

·        Ele é um Deus que afasta qualquer que pretenda ter direitos e privilégios impedindo os outros de aproveitar-se. Esta parábola nos faz uma revelação absolutamente essencial: a salvação que Deus nos dá é totalmente gratuita e desproporcionada a nossos pobres méritos humanos, pois Deus é misericordioso.


O dono da vinha não se considera injusto, pois ele paga o salário combinado. A bondade do dono da vinha é ainda mais acentuada na pergunta final aos murmuradores: “...ou teu olho é mau porque eu sou bom?” (v.15b). A palavra “mau” (poneros, em grego) é termo mateano comum para a inveja provocada por coisas materiais. O vocábulo representa dinheiro e posição que atraem o olho da pessoa. O olho mau indica a falta de amor dos trabalhadores murmuradores da primeira hora que se deixavam levar pela inveja diante do bem que os seus companheiros experimentavam. Eles não souberam participar da alegria do bem experimentado.


Sabemos que o invejoso tem sempre os olhos fixos nos outros, sofrendo amargamente com a satisfação que neles têm, tendo sentimentos de aversão quando percebe que estão bem. Podemos dizer que a inveja é filha de uma soberba. O invejoso não tolera os sucessos dos outros, não admite que os outros possuam qualidades iguais ou superiores às suas. Ele sempre teme ser superado pelos outros. Ele sofre quando percebe que seu rival possui uma cota maior do que a sua.
    

 Será difícil encontrar uma alma tão generosa que não sinta um pequeno mal-estar com a boa sorte alheia. Mas precisamos reconhecer que magnânimo não é o que jamais sente inveja, mas o que imediatamente a supera. A nossa maior satisfação não provém de sermos considerados mais ou melhores do que os outros, mas da consciência de termos realizado todo o bem que nos era ou é possível. Quem deseja só seu bem-estar pessoal é egoísta e as coisas não poderão ir bem com ele.


Muitas vezes a infelicidade nos atinge porque vivemos comparando com os outros. Sempre estamos na tentação de compararmos Deus conosco, de medirmos sua soberana ação com os nossos méritos ou com as nossas condições desiguais. Antes de ser justo para com as “nossas obras”, Deus é essencialmente justo consigo mesmo. Certamente o amor de Deus é a causa do que eu sou, como o único neste mundo. Por isso, não me posso comparar com o outro, pois cada um é único. Devo, sim, comparar-me com a insondável e sublime vontade de Deus, de me fazer feliz, exatamente como Deus me quer amar e beatificar eternamente. Somente ao comparar-me com o amor de Deus, serei capaz de louvar a Deus que me faz coisas tão maravilhosas na minha vida e traduzir o louvor em amar e aceitar o outro como ele é.
    

No Reino de Deus o importante é a misericórdia de Deus, pois, para Deus na há privilégios baseados no prestigio, na quantidade de trabalho ou em qualquer outra vantagem. Deus é quem nos chama gratuitamente e nossa resposta deve ser igualmente gratuita. O importante é que Deus nos chama e que podemos participar na obra de Deus de salvar todos. O evangelho lido e meditado neste dia é uma advertência para todos os cristãos. Os seguidores de Cristo não se podem fixar em direitos de propriedade no Reino de Deus. Os “últimos” podem tornar-se “primeiros” do mesmo modo que os “primeiros podem tornar-se “últimos”. Eles serão passados para trás, se não souberem reconhecer a bondade gratuita de Deus, se não souberem alegrar-se de todo o coração com o pequenino que Deus chama a seu Reino, se não souberem viver o amor em comunidade.


Pensamos que ao desempenhar um ministério ou serviço na comunidade somos proprietários dele. Às vezes, também, excluímos os outros porque consideramos que não estão preparados ou porque cremos que chegaram tarde à comunidade. O evangelho nos pede uma mudança de mentalidade. Todos têm direito a participar na obra do Reino. E este direito não nasce de nossa generosidade e sim é algo que o próprio Deus nos deu. Se Deus chamou muitos para Sua obra, não podemos ser pessoas que fecham a porta. Devemos reconhecer a ação do Espírito Santo e permitir que na comunidade todos participem por igual.


Para Refletir


1.    “O amor apaixonado de Deus pelo seu povo — pelo homem — é ao mesmo tempo um amor que perdoa. E é tão grande, que chega a virar Deus contra Si próprio, o seu amor contra a sua justiça. Nisto, o cristão vê já esboçar-se veladamente o mistério da Cruz: Deus ama tanto o homem que, tendo-Se feito Ele próprio homem, segue-o até à morte e, deste modo, reconcilia justiça e amor” (Papa Bento XVI: Carta Encíclica Deus Caritas Est no.10).


2.    A natureza íntima da Igreja exprime-se num tríplice dever: anúncio da Palavra de Deus (kerygma-martyria), celebração dos Sacramentos (leiturgia), serviço da caridade (diakonia). São deveres que se reclamam mutuamente, não podendo um ser separado dos outros. Para a Igreja, a caridade não é uma espécie de atividade de assistência social que se poderia mesmo deixar a outros, mas pertence à sua natureza, é expressão irrenunciável da sua própria essência (idem no. 25ª).

P.Vitus Gustama,svd

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