sexta-feira, 12 de setembro de 2014

 
MISERICÓRDIA DIVINA SOBRE A MISÉRIA HUMANA


Quinta-Feira da XXIV Semana Comum
18 de Setembro de 2014
 

Evangelho: Lc 7,36-50

Naquele tempo: 36 Um fariseu convidou Jesus para uma refeição em sua casa. Jesus entrou na casa do fariseu e pôs-se à mesa. 37 Certa mulher, conhecida na cidade como pecadora, soube que Jesus estava à mesa, na casa do fariseu. Ela trouxe um frasco de alabastro com perfume, 38 e, ficando por detrás, chorava aos pés de Jesus; com as lágrimas começou a banhar-lhe os pés, enxugava-os com os cabelos, cobria-os de beijos e os ungia com o perfume. 39 Vendo isso, o fariseu que o havia convidado ficou pensando: "Se este homem fosse um profeta, saberia que tipo de mulher está tocando nele, pois é uma pecadora". 40 Jesus disse então ao fariseu: "Simão, tenho uma coisa para te dizer". Simão respondeu: "Fala, mestre!" 41 "Certo credor tinha dois devedores; um lhe devia quinhentas moedas de prata, o outro cinqüenta. 42 Como não tivessem com que pagar, o homem perdoou os dois. Qual deles o amará mais?" 43 Simão respondeu: "Acho que é aquele ao qual perdoou mais". Jesus lhe disse: "Tu julgaste corretamente". 44 Então Jesus virou-se para a mulher e disse a Simão: "Estás vendo esta mulher? Quando entrei em tua casa, tu não me ofereceste água para lavar os pés; ela, porém, banhou meus pés com lágrimas e enxugou-os com os cabelos. 45 Tu não me deste o beijo de saudação; ela, porém, desde que entrei, não parou de beijar meus pés. 46 Tu não derramaste óleo na minha cabeça; ela, porém, ungiu meus pés com perfume. 47 Por esta razão, eu te declaro: os muitos pecados que ela cometeu estão perdoados porque ela mostrou muito amor. Aquele a quem se perdoa pouco mostra pouco amor". 48 E Jesus disse à mulher:  "Teus pecados estão perdoados". 49 Então, os convidados começaram a pensar:  "Quem é este que até perdoa pecados?" 50 Mas Jesus disse à mulher: "Tua fé te salvou. Vai em paz!"
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O evangelho fala da misericórdia. Misericórdia é um dos temas preferidos do evangelista Lucas. No AT lemos: “Sejam santos porque Deus é santo” (cf. Lv 20,7). O evangelista Mateus diz: “Sejam perfeitos como o Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48). E o evangelista Lucas diz: “Sejam misericordiosos como o Pai de vocês é misericordioso” (Lc 6,36). Para o evangelista Lucas para ser santo, para ser perfeito só há um caminho: ser misericordioso. Misericórdia é dar o coração ao miserável. É amar até aquele que não merece ser amado. Mas por ser útero da humanidade, Deus é sempre misericordioso para todos os que não se cansam de pedir o perdão a Deus. Para eles também Deus não se cansa de perdoar. Por causa de sua misericórdia Deus tem estar contra a si próprio, pois ele poderia usar de justiça contra os pecadores. A misericórdia de Deus será sempre maior que a tua ingratidão”, dizia São Padre Pio de Pietrelcina.


O Deus que Lucas nos apresenta através do evangelho de hoje é um Deus de bondade e de misericórdia, que detesta o pecado, mas ama o pecador. Ele não pactua com o pecado, mas está ao lado do pecador e manifesta uma misericórdia infinita para com o pecador arrependido. O amor de Deus pelo homem é um amor essencialmente misericordioso, pois é dado a alguém que se tornou indigno, pela soberba, pela desobediência, pela ingratidão, pelos pecados, pela maldade, pela rebelião e assim por diante. E Deus ama o homem a ponto de fazer-se homem em Jesus Cristo: ele veio para o nosso meio, viveu como nós e ofereceu sua vida por nós. Ele nasceu nosso nascimento, viveu nossa vida, experimentou nosso medo, morreu nossa morte e ressuscitou nossa ressurreição.


A misericórdia não é simplesmente amor: é um amor que não conhece limites, barreiras, obstáculos, fronteiras: é um amor que sabe amar também quem se tornou  indigno do amor. Enquanto o amor diz somente doação, a misericórdia diz super doação. A misericórdia é um especial poder do amor, que prevalece sobre o ódio, a infidelidade, a deslealdade, a ingratidão. Como diz João Paulo II: “Esse amor misericordioso é capaz de curvar-se ante o filho pródigo, ante a miséria humana e, sobretudo, ante a miséria moral, ante o pecado. A misericórdia se manifesta em seu aspecto verdadeiro e próprio quando valoriza, promove e explicita o bem em todas as formas de mal existente no mundo e no homem” (Dives in misericordia, no.6).


Nesse gesto extremo do seu amor evidenciam-se duas verdades: a grande consideração de Deus pelo homem, Deus sempre está do lado do homem e contra o mal; e mostra o amor infinito que ele derrama sobre o homem. Este amor misericordioso de Deus sempre persegue o homem na sua aventura espiritual, nas suas fugas de Deus, nas suas rebeldias, na sua perversa ingratidão e na sua profunda miséria.


O evangelista Lucas relata a cena do evangelho de hoje com elegância e detalhes muito significativos. Há contraste entre o fariseu, Simão que convida Jesus para uma refeição, e aquela mulher pecadora que ninguém sabe como chegou a entrar na festa e fez gestos de afeto para Jesus. Mais ainda! Perdoar uma mulher pecadora (prostituta) precisamente na casa de um fariseu que convidou Jesus é um pouco provocativo. Não é raro que se escandalizaram os presentes: ou porque Jesus não conhecia que tipo de mulher era aquela ou que Jesus não reagia diante de seus gestos de afetos.


Mas Jesus quer transmitir uma mensagem básica e fundamental em sua pregação e missão: a importância do amor e do perdão. Para amar de verdade o cristão precisa aprender a perdoar. O argumento de Jesus vai para duas direções. A mulher é perdoada porque ama muito: “... os muitos pecados que ela cometeu estão perdoados porque ela mostrou muito amor. Aquele a quem se perdoa pouco mostra pouco amor”.


A cena nos faz repensar nossa conduta com os que consideramos “pecadores”. Como os tratamos? Podemos atuar com coração mesquinho, como os fariseus que julgam e condenam todos, ou como o filho mais velho da parábola do filho pródigo (cf. Lc 15,11-32) que recrimina de modo transigente o seu irmão que voltou para a casa arrependido, ou como Simão, o fariseu e os outros convidados, que não devem ser pessoas más (porque convidaram Jesus para uma refeição), mas que não sabem ser benévolos e amar. Ou podemos nos comportar como o pai do filho pródigo, e sobretudo como o próprio Jesus que perdoa a mulher pecadora que se arrependeu, e Zaqueu, o publicano, e tem palavras de ânimo para essa mulher que entrou em sala de banquete e unge os pés de Jesus. Deus é rico em misericórdia. Jesus é a encarnação da misericórdia divina. e nós todos somos chamados de cristãos, isto é, aqueles que querem viver como Cristo. “Quero a misericórdia e não o sacrifício” (Mt 9,13; Os 6,6). Portanto, “Sede misericordiosos como, como também vosso Pai é misericordioso” (Lc 6,36).


Vamos fazer um pouco de exame de consciência através da comparação de dois personagens no evangelho de hoje.


1. A mulher não tem nome por ser prostituta. Mas reconhece Jesus como Salvador. Simão, o fariseu tem nome até o sobrenome. No entanto não reconhece Jesus como Salvador.


2. A mulher demonstra toda a humildade e é elevada por Jesus por sua humildade. Simão, o fariseu, só busca a arrogância. Um arrogante possui todos os vícios: egoísta, injusto, ingrato, imoral e fanfarrão. A arrogância é o pai de todos os vícios. Por buscar somente a arrogância, não há na vida de Simão o lugar para o amor e Deus se torna distante.


3. A mulher reconhece a situação como prostituta e se esforça para mudar. Simão, o fariseu, nega sua situação de pecador e não aceita mudar. Cada santo se reconhece como pecador, mas cada pecador se acha santo.


4. A mulher não julga e pede a compaixão e a misericórdia ao Senhor. Simão, o fariseu, julga e dispensa a misericórdia. “O julgamento será sem misericórdia para aquele que não pratica a misericórdia. A misericórdia, porém, desdenha o julgamento” (Tg 2,13).


5. A mulher se liberta do pecado e alcança a graça de Deus. Simão aumenta seu pecado e fica distante da graça de deus.


A mulher pecadora é um exemplo de conversão. Sua conversão implica claramente o propósito. Sua conversão é experimentalmente conversão a Alguém, e não somente uma nova forma de pensar ou uma resposta para as próprias obrigações. A conversão é, para essa mulher, comunhão com Jesus. Por isso, a conversão é o caminho para a felicidade e para uma vida plena. Não é algo penoso e sim sumamente gozoso, pois é o caminho da libertação.


Para Jesus as verdadeiras pessoas de Deus são aquelas pessoas capazes de se converter em fonte de vida para os demais. Jesus mostra ao fariseu, Simão, que o mais importante não é a rígida disciplina religiosa e sim o amor e a gratidão. Por isso, ele anuncia o perdão de Deus para a mulher.


Deus não nos envia para destruir os demais, por muito malvados que pareçam ser; nossa luta não é uma luta fratricida e sim uma luta contra o pecado e o mal. E o pecado não se expulsa acabando com os pecadores e sim amando-lhes de tal forma que possam recuperar sua dignidade de filhos de Deus.


Saber amar, saber perdoar como Deus nos amou e perdoou é a luz que fortalecerá para aqueles que se afastaram do caminho do bem para que voltem a encontrar-se com o Senhor e vivam comprometidos com Ele.


Somos chamados a adotar a misericórdia como um modo de viver: que cada um seja misericordioso nos comentários, nos julgamentos, nas conversas e no agir cotidiano. Se corrigir, corrija com amor e por amor. Se chamar atenção, faça-o com e por amor. Fora do amor não há salvação, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16).
 
P.Vitus Gustama, SVD

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