quarta-feira, 19 de novembro de 2014

FÉ NA VIDA ETERNA:
CREIO NO DEUS DA VIDA

Sábado da XXXIII Semana Comum
22 de Novembro de 2014
 

Evangelho: Lc 20,27-40

Naquele tempo: 27 Aproximaram-se de Jesus alguns saduceus, que negam a ressurreição, 28 e lhe perguntaram: 'Mestre, Moisés deixou-nos escrito: se alguém tiver um irmão casado e este morrer sem filhos, deve casar-se com a viúva a fim de garantir a descendência para o seu irmão. 29 Ora, havia sete irmãos. O primeiro casou e morreu, sem deixar filhos. 30 Também o segundo 31 e o terceiro se casaram com a viúva. E assim os sete: todos morreram sem deixar filhos. 32 Por fim, morreu também a mulher. 33 Na ressurreição, ela será esposa de quem? Todos os sete estiveram casados com ela.' 34 Jesus respondeu aos saduceus: 'Nesta vida, os homens e as mulheres casam-se, 35 mas os que forem julgados dignos da ressurreição dos mortos e de participar da vida futura, nem eles se casam nem elas se dão em casamento; 36 e já não poderão morrer, pois serão iguais aos anjos, serão filhos de Deus, porque ressuscitaram. 37 Que os mortos ressuscitam, Moisés também o indicou na passagem da sarça, quando chama o Senhor 'o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó'. 38 Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos, pois todos vivem para ele.' 39 Alguns doutores da Lei disseram a Jesus: 'Mestre, tu falaste muito bem.' 40 E ninguém mais tinha coragem de perguntar coisa alguma a Jesus.
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Jesus se encontra, agora, em Jerusalém e está nos seus últimos dias de vida, pois ele será crucificado, morto e glorificado. Ele continua cumprindo sua missão, dando para seus seguidores suas ultimas lições. A lição que ele nos passa hoje é a fé na ressurreição.


O tema da ressurreição dos mortos opõe os fariseus aos saduceus. Os fariseus defendem a fé na ressurreição dos mortos. Enquanto que os saduceus não acreditam na ressurreição por uma coisa muito prática como lemos no Evangelho deste dia.
 

Os saduceus são um grupo de ricos e poderosos, formado por grandes proprietários de terras/latifundiários (anciãos), pelos membros da elite sacerdotal e pelos grandes comerciantes. Eles controlam a administração da justiça no Tribunal Supremo conhecido como Sinédrio que condena Jesus à morte (cf. Mt 27,1-2). Habitualmente o sumo sacerdote, a figura mais poderosa no Templo é escolhido de famílias pertencentes a este grupo. Eles também são colaboracionistas com os romanos para manter sua posição de privilégio.


Os saduceus são conservadores em matéria de religião. Eles privilegiam a Lei de Moisés/Tora (Pentateuco), mas não rejeitam os livros proféticos. Como na Torá não se fala claramente da ressurreição dos mortos e da “outra vida”, eles não acreditam nela. Para eles, tudo termina com a morte: não há ressurreição dos mortos e nem recompensa na vida futura. Não há salvação além da terrena. Neste mundo, salve-se quem puder, porque é o homem e apenas o homem quem causa a própria salvação e felicidade ou desgraça e não- salvação. Por isso, eles são hedonistas: interessa-lhes principalmente acumular riquezas e desfrutá-las o mais possível nesta curta vida terrena (Lc 12,15-21). Moralmente, eles são relaxados. A religião só vale dentro do templo. Fora dele cada um pode fazer o que quiser. Entre os próprios saduceus há separação no matrimônio.


Negando a ressurreição, os saduceus enfrentam Jesus com uma pergunta a partir de uma história, um tanto grotesca, fundada numa teologia mal-enfocada: como fica a mulher que se casou sete vezes com homens diferentes, de quem ela será na ressurreição? Ao questionar Jesus, os saduceus têm a intenção de ridicularizar os fariseus (partido rival), cuja fé na ressurreição dos mortos é conhecida. Os saduceus queriam também conhecer a posição de Jesus.


Jesus responde, estabelecendo uma distinção entre “este mundo” e o “outro”. Na sua explicação Jesus diz que as relações humanas estarão livres de alguns embaraços que complicam a vida. Cessam-se, ai, as preocupações terrenas e desaparecem, também, as ameaças da morte. Os esquemas terrenos não têm validade. Segundo Jesus, é vão e insensato imaginar que o mundo futuro tenha as mesmas características deste mundo. Por isso, Jesus usa uma expressão “...eles são semelhantes aos anjos...”(v.36) para sublinhar a impossibilidade de descrever o modo de vida que pertence ao mistério de Deus. A comunhão com o Pai celeste torna-se penhor de vida eterna. A morte dá início, neste caso, a uma explosão de vida.


O poder de Deus é maior que as forças destrutivas presentes na história e na natureza.  A partir do momento em que ressuscitou Jesus Cristo, Deus mostra a todos que essa morte não é o último passo do ser humano. A morte não tem palavra final para o ser humano. Pelo fato de Deus ressuscitar Jesus Cristo, podemos ter a certeza de que esse mesmo Deus em quem acreditamos firmemente, apesar de nossas fraquezas e pecados, nos ressuscitará também. Adorar o Deus da vida é acreditar que ele tem poder de preservar a vida, mesmo que isso supere a precisão e compreensão humanas. E sendo o Deus da vida, Ele não criou ninguém para a morte, mas para a aliança definitiva com Ele.


A fé na ressurreição é o fundamento da esperança. Cremos e por isso, esperamos. E a esperança é o horizonte da fé. Esperamos e por isso, cremos. A atitude do cristão se baseia no próprio testemunho de Deus. Deus mesmo se comunica e nos fala: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). É o Deus vivo e pessoal. Nele todos estão vivos. Nossa meta final é o Senhor.


Deste fundamento, a fé cristã tem importantes funções. Ela liberta o homem do medo, da auto-suficiência, do poder destruidor da ignorância de Deus, do medo da morte, pois morrer significa ir à casa do Pai onde todos têm seu próprio “lugar” (cf. Jo 14,1-6). A fé no Deus dos vivos tem força em si mesma para vencer o medo da morte; tem luz para iluminar a obscuridade da vida e da morte e nos dá coragem para superar o medo que nos paralisa; cura as feridas dos fracassos na luta para mudar este mundo para convertê-lo em Reino de Deus. A fé na vida eterna nos compromete na luta pela defesa da vida no seu início, na sua duração e no seu fim nesta terra; compromete-nos na luta pela justiça, pela honestidade, pela retidão, pela ética e moral, pelo bem e pela caridade e os semelhantes valores. O mal não tem futuro algum,pois somente Deus tem a última palavra para a vida do homem. A ressurreição é a vitória do amor sobre o ódio, da verdade sobre a mentira, da vida sobre a morte. E tudo isto é tão certo como é certo que depois da noite virá o dia.


Por isso, se o homem se apoiar sobre si mesmo, rejeitando inutilmente o que vem de Deus, seu Criador, ele na verdade se apoiará sobre o nada. Mas se ele se apoiar no amor de Deus, que lhe é oferecido, pode encontrar-se com a vida, graças ao poder desse amor. A fé no amor de Deus constitui o clima no qual nasce a esperança da vida eterna. A fé no amor de Deus evita que a esperança seja uma fantasia. A fé no amor de Deus é a força para cada cristão que caminha através da história da salvação, é sua luz na obscuridade e no paradoxo dos acontecimentos. Deus de amor e a esperança andam indissoluvelmente. Sem fé em Deus de amor, tampouco existe esperança (cf. Ef 2,12). A fé no amor de Deus permite ao homem manter-se firme no meio da tempestade desta vida (cf. Rm 5,3).


Por isso, o destino terreno do homem não é apenas viver por viver, mas conviver e compartilhar a vida com Deus e com os demais homens. Por ser a vida de Deus, o homem é chamado a ser uma luminosidade para a vida do outro. Por pertencer a Deus o sentido último e mais profundo do homem só pode ser encontrado em sua origem: em Deus. O termo “original” significa mais exatamente aquilo que é fundamental e constitutivo. Tudo o que homem faz tem um significado para Deus. As obras de cada cristão: sua generosidade, seu espírito de desapego, seu sentido de responsabilidade profissional, seu espírito de serviço e sua disponibilidade devem ser testemunhos eloqüentes e contundentes de sua fé na vida eterna.


No Credo rezamos e professamos: “Creio na comunhão dos santos; creio na remissão dos pecados; creio na ressurreição da carne; creio na vida eterna”. É preciso vivermos essa fé na vida cotidiana. A partir dessa fé, é preciso revermos nossa maneira de viver neste mundo e nossas opções de cada dia.

P. Vitus Gustama,svd

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