quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

28/12
 

SAGRADA FAMÍLIA

28 de Dezembro de 2014


Evangelho: Lc 2,22-40

22 Quando se completaram os dias para a purificação da mãe e do filho, conforme a Lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, a fim de apresentá-lo ao Senhor. 23 Conforme está escrito na Lei do Senhor: “Todo primogênito do sexo masculino deve ser consagrado ao Senhor”. 24 Foram também oferecer o sacrifício — um par de rolas ou dois pombinhos — como está ordenado na Lei do Senhor. 25 Em Jerusalém, havia um homem chamado Simeão, o qual era justo e piedoso, e esperava a consolação do povo de Israel. O Espírito Santo estava com ele 26 e lhe havia anunciado que não morreria antes de ver o Messias que vem do Senhor. 27 Movido pelo Espírito, Simeão foi ao Templo. Quando os pais trouxeram o menino Jesus para cumprir o que a Lei ordenava, 28 Simeão tomou o menino nos braços e bendisse a Deus: 29 “Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar teu servo partir em paz; 30porque meu olhos viram a tua salvação, 31 que preparaste diante de todos os povos: 32 luz para iluminar as nações e glória do teu povo Israel”. 33 O pai e a mãe de Jesus estavam admirados com o que diziam a respeito dele. 34 Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe de Jesus: “Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. 35 Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações. Quanto a ti, uma espada te traspassará a alma”. 36 Havia também uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Era de idade muito avançada; quando jovem, tinha sido casada e vivera sete anos com o marido. 37 Depois ficara viúva, e agora já estava com oitenta e quatro anos. Não saía do Templo, dia e noite servindo a Deus com jejuns e orações. 38 Ana chegou nesse momento e pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém. 39 Depois de cumprirem tudo, conforme a Lei do Senhor, voltaram à Galileia, para Nazaré, sua cidade. 40 O menino crescia e tornava-se forte, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava com ele.
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O texto do Evangelho de hoje faz parte do evangelho da apresentação de Jesus no Templo e a purificação ritual de Maria. Como a oferenda nessa apresentação e purificação, as mulheres ricas, além de uma rola ou um pombinho para o sacrifício de purificação, oferecem um cordeiro de um ano para o holocausto de ação de graças (cf. Lv 12,6.8). As mulheres pobres somente oferecem duas rolas ou dois pombinhos (Lc 2,24). Da oferenda sabemos que Maria pertence à classe social pobre e humilde.
  

O evangelista sublinha a apresentação de Jesus no Templo para mostrar que Jesus pertence inteiramente a Deus e que sua entrega é total desde o início de sua vida (cf. 1Sm 1,24-28). E Maria sabe que “o seu filho primogênito” (Lc 2,6) não é propriedade dela, mas propriedade de Deus. Jesus pertence a Deus.         
   

Como Maria, nós podemos oferecer a Deus o que dele recebemos. Muitas vezes em vez de oferecermos algo para Deus, na verdade recebemos muita mais de Deus. Como diz uma música: “Cada vez que eu venho para Te oferecer, na verdade, venho para receber. Cada vez que eu venho para Te falar, na verdade, venho para Te escutar”, pois somente o Senhor fala da verdade de nossa vida.
    

A parte central da cena começa com a introdução do personagem principal, o velho Simeão cujo nome significa “O Senhor escuta” (cf. Gn 29,33). Ele é apresentado como um homemjusto e piedoso”, como alguém que esperava a “consolação de Israel”, isto é, a vinda próxima da salvação messiânica. O texto relata que “o Espírito Santo estava nele” para sublinhar que a mensagem que Simeão dará tem valor (vv.29-32. 34-35), pois ele é um profeta inspirado, cheio de Espírito Santo. Além disso, receberá de Deus a promessa de não morrer antes de ver o “Messias do Senhor” (v.26). Sua ida ao Templo naquele determinado momento é interpretada, aqui, como uma condução do Espírito de Deus (v.27) como o próprio Jesus será conduzido pelo Espírito Santo para o deserto (Mc 1,12).
    

As palavras proféticas de Simeão sobre Jesus constituem o centro do relato. O ator principal é o Espírito Santo, pois ele é quem conduz Maria ao Templo, ele é quem conduz Simeão ao encontro de Jesus e ele é quem revela a Simeão que o Menino que ele acolhe é a salvação de Deus e luz para iluminar as nações.
  

Esta cena nos mostra que no encontro com Jesus realizamos nossas esperanças e esperas, e os nossos olhos são iluminados para ver a vida de maneira renovada e renovadora. Para acontecer o encontro com Jesus e a realização das promessas, temos que, como velho Simeão, nos deixar conduzir pelo Espírito do Senhor.
     

Nesta cena Simeão recebe Jesus dos braços de Maria. Isto quer nos dizer que Deus quer que recebamos o Salvador e quem nos dá Jesus depois de tê-lo dado à luz para toda a humanidade é Maria. Devemos acolher Jesus com toda a nossa pessoa, corpo, coração, pensamento e sentimentos. “Aquele que deseja ser libertado, que tome Jesus nas suas mãos...e faça todos os esforços para deixar-se guiar pelo Espírito e vir ao templo de Deus...isto é, à sua Igreja” (Orígenes). Iluminado pelo Espírito Santo, Simeão no menino que tem nos seus braços a “luz das nações”. Jesus é a luz que vai iluminar todos os povos (Lc 1,79; Jo 8,12).
 

Simeão também prevê o sofrimento de Maria pela incredulidade do seu povo. Este sofrimento é descrito por Lc com uma imagem muito forte: em gregorhomfaiaque designa uma espada grande com duplo fio.  Este termo não voltará a ser mais usado em todo o NT até o último livro, o Apocalipse, onde aparecerá seis vezes; cinco delas para simbolizar a palavra de Deus. O sofrimento de Jesus pela divisão atinge também pessoalmente sua mãe. Sabemos pela experiência que o sofrimento do filho (a) é o sofrimento da mãe (pai). E o sucesso do filho (a) é o sucesso da mãe(pai). A de Maria vai ser provada. E ela se mostra fiel até o fim na provação. Por isso, ela é modelo para nossa .
  

Se Simão é descrito mais pela sua interioridade, pela justiça e esperança, Ana pela sua espiritualidade, pela sua vinculação com o templo e pela sua esperança. Lc apresenta Ana como uma mulher consagrada a Deus, modelo de fidelidade e de piedade e vive no templo. Também Ana vai ao encontro de Jesus, olha, compreende e testemunha aos outros (v.38), porque ela está aberta ao Espírito Santo. A salvação é oferecida por Deus a todos, mas ela deve ser anunciada e testemunhada por quem a acolhe.    


Neste dia celebra-se a festa da Sagrada Família: Jesus, Maria e José. Celebra-se assim a família como lugar da manifestação de Deus neste mundo. Biblicamente a família é uma comunidade de alegrias, tristezas, lutas e esperanças sempre compartilhadas. A união dos esposos é considerada como aliança, que é termo sagrado das relações com Deus (Ml 2,14). A família também é comunidade educativa na qual os filhos se capacitam para a vida (Pr 1,8s; Eclo 7,25s; Hb 12,4-8). E por fim, a família é ainda uma comunidade de gerações, que une os homens na linha interminável do tempo (Gn 10.1s; 1Cr 1,1s; Lc 3,23s).
 

Quando se fala da Sagrada Família de Nazaré, o nosso modo habitual de pensar em Jesus como Filho de Deus gerado pelo Pai pela ação do Espírito Santo, poderia levar-nos a não compreender a ligação profunda que existe entre a situação da Sagrada Família e a situação de nossas famílias. Seria um erro, porque a graça não anula a natureza.


A família de Nazaré vive a e da e é conduzida, momento a momento, pela descoberta da vontade e do desígnio de Deus como qualquer família humana. Qual é a idéia que Deus tinha na mente quando no princípio criou o homem e a mulher e os abençoou? (Gn 1,28;2,24)


A família deveria ser, no desígnio de Deus, a continuação da criação. E a criação é a participação da vida por amor. Deus cria, dá a vida a seres livres, porque é bom, porque é amor e o amor tende, por natureza, a se difundir e a se comunicar. Sob essa luz a família é como a realidade querida por Deus a fim de que a vida se difunda no tempo por meio do amor. Por isso, toda a família é sagrada porque é chamada a fazer da criança o adulto capaz de amar como Deus ama.


O lar queespaço para Deus se torna a morada de Deus. E Deus dá o brilho por dentro à família. Quando nosso brilho vem do interior, aquece a família inteira, preenchendo-a de uma paz e de uma suavidade que serão sentidos por todos que nela entram. Assim o nosso lar se torna um ponto de partida seguro que nosconfiança para explorar o terreno de um mundo imprevisível e freqüentemente perigoso. É nesse lar que aprendemos a sobreviver, a trabalhar e a brincar, a ser tranqüilos conosco e com os outros. Quando Deus se torna centro de nossa família, ela não pode viver sem a verdade, pois a família é o ponto de vida social em que existe extrema sensibilidade para a verdade. E se falta a verdade na relação, na comunhão das pessoas: marido, esposa, pais, filhos, irmãos, rompe-se a comunhão, conseqüentemente a harmonia e a missão da família é destruída (João Paulo II). De nada adiantam desenvolvimento, riqueza e opulência se faltar a verdade.


Portanto, olhando para a Sagrada Família de Nazaré na qual Jesus é o centro entendemos que nãograça maior e mais desejável, neste mundo do que ter uma família. Porque ela é a base de uma história, de nossa história. A sua existência é tão importante até nenhuma instituição ou riqueza no mundo pode substituí-la; ela é insubstituível. a família é capaz de matar a saudade que sentimos quando ficarmos longe dela ou quando nos sentirmos desamparados, porque todas as portas podem fechar-se, mas jamais a da nossa família. Por isso, a família é um tesouro sem preço, é um sonho vivo, desejável e um porto seguro nas horas de alegria e de dificuldades. E isto vale para todo mundo: rico ou pobre, jovem ou velho. A família, por isso, continua ocupando o lugar muito importante para a vida de um ser humano em qualquer lugar e época.


O Evangelho diz que “o menino crescia e tornava-se forte, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava com ele” (Lc 2,40). Maria e José conseguiram que Jesus crescesse com sabedoria e saúde. Viveram o que hoje se chamaria uma pobreza com dignidade: vida sóbria, simples, sem excessos, mas com o essencial.


Nossa educação familiar deve ser desenvolvida integralmente em duas direções: Na sabedoria (conhecimento e vivência) e na graça (espiritualidade) a exemplo da Sagrada Família. Não basta a inteligência, pois todos os criminosos, ladrões, bandidos, corruptos são inteligentes. É preciso ter sabedoria, isto é, viver em função de dar sabor à vida através da vivência dos valores. Junto com sabedoria é preciso viver na espiritualidade (na graça de Deus) para encontrar e dar sentido para nossa vida e suas lutas. Jesus cresceu nestas duas direções: na graça e na sabedoria diante de Deus e diante dos homens.


Por tanto, com a festa da Sagrada Família a Igreja quer acima de tudo exaltar e reafirmar a dignidade da família, através da qual ela mesma recebe o Salvador; além disso, quer ajudar-nos a refletir como cristãos sobre a realidade em cujo seio vivemos todos e à qual, antes de mais nada, devemos a própria vida.

P. Vitus Gustama,svd

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