sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

03/02/2015

 

BASTA TER FÉ EM JESUS 

Terça-Feira Da IV Semana Comum


Evangelho: Mc 5,21-42


Naquele tempo, 21Jesus atravessou de novo, numa barca, para a outra margem. Uma numerosa multidão se reuniu junto dele, e Jesus ficou na praia. 22Aproximou-se, então, um dos chefes da sinagoga, chamado Jairo. Quando viu Jesus, caiu a seus pés, 23e pediu com insistência: “Minha filhinha está nas últimas. Vem e põe as mãos sobre ela, para que ela sare e viva!” 24Jesus então o acompanhou. Numerosa multidão o seguia e comprimia. 25Ora, achava-se ali uma mulher que, há doze anos, estava com hemorragia; 26tinha sofrido nas mãos de muitos médicos, gastou tudo o que possuía, e, em vez de melhorar, piorava cada vez mais. 27Tendo ouvido falar de Jesus, aproximou-se dele por detrás, no meio da multidão, e tocou na sua roupa. 28Ela pensava: “Se eu ao menos tocar na roupa dele, ficarei curada”. 29A hemorragia parou imediatamente, e a mulher sentiu dentro de si que estava curada da doença. 30Jesus logo percebeu que uma força tinha saído dele. E, voltando-se no meio da multidão, perguntou: “Quem tocou na minha roupa?” 31Os discípulos disseram: “Estás vendo a multidão que te comprime e ainda perguntas: ‘Quem me tocou’?” 32Ele, porém, olhava ao redor para ver quem havia feito aquilo. 33A mulher, cheia de medo e tremendo, percebendo o que lhe havia acontecido, veio e caiu aos pés de Jesus, e contou-lhe toda a verdade. 34Ele lhe disse: “Filha, a tua fé te salvou. Vai em paz e fica curada dessa doença”. 35Ele estava ainda falando, quando chegaram alguns da casa do chefe da sinagoga, e disseram a Jairo: “Tua filha morreu. Por que ainda incomodar o mestre?” 36Jesus ouviu a notícia e disse ao chefe da sinagoga: “Não tenhas medo. Basta ter fé!” 37E não deixou que ninguém o acompanhasse, a não ser Pedro, Tiago e seu irmão João. 38Quando chegaram à casa do chefe da sinagoga, Jesus viu a confusão e como estavam chorando e gritando. 39Então, ele entrou e disse: “Por que essa confusão e esse choro? A criança não morreu, mas está dormindo”. 40Começaram então a caçoar dele. Mas, ele mandou que todos saíssem, menos o pai e a mãe da menina, e os três discípulos que o acompanhavam. Depois entraram no quarto onde estava a criança. 41Jesus pegou na mão da menina e disse: “Talitá cum” — que quer dizer: “Menina, levanta-te!” 42Ela levantou-se imediatamente e começou a andar, pois tinha doze anos. E todos ficaram admirados. 43Ele recomendou com insistência que ninguém ficasse sabendo daquilo. E mandou dar de comer à menina.
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Estamos nos últimos dois milagres de uma serie de milagres no início do evangelho de Marcos (Mc 4,35-5,43). No texto do Evangelho de hoje Jesus é apresentado como aquele que tem poder de curar as doenças por graves que elas sejam e de devolver a vida para quem se encontra morto. Mas para que seu poder possa acontecer na vida do homem, há uma condição indispensável: fé.  “Não tenhas medo. Basta ter fé!”, disse nos Jesus. “A fé é a garantia dos bens que se esperam, a prova das realidades que não se vêem” (Hb 11,1). A mulher que estava doente de hemorragia durante 12 anos viveu a fé e ficou curada como premio de sua fé. "Fé é o pássaro que sente a luz e canta quando a madrugada é ainda escura." (Rabindranath Tagore)


1. O Reino de Deus é a Vida Para Todos (cf. Jo 10,10b).


Jesus percorre o país para anunciar o Reino de Deus e para estabelecê-lo. Ele fala e age com autoridade. A sua fama se espalha, porque uma força brota d’Ele, é a força da ressurreição, a força do Espírito de vida, suas palavras estão cheias de autoridade, pois fazem todos crescerem na fraternidade e na igualdade.


“Fica curada!”. O imperativo de Jesus tem algo de afetuoso para com a mulher sofrida de hemorragia durante 12 anos, e é restaurada na sua dignidade, restabelecida na sociedade que excluía o seu mal. Este imperativo “fica curada” aparece também como uma constatação: é a fé dessa mulher que a salvou, e Jesus se alegrou por isso. A cura é conseqüência da fé, que é sempre fonte de vida e de felicidade. “Filha, a tua fé te salvou. Vai em paz e fica curada dessa doença”.


“Levanta-te!”. Este segundo imperativo do Evangelho deste dia é dinâmico e traduz perfeitamente a paixão de Deus em ver o homem vivo, o seu amor incondicional pela vida, pois Ele é a própria fonte de vida (cf. Jo 11,25; 14,6; 10,10). “Adormecida”, no “sono da morte”… um estado do qual Deus nos quer fazer sair, um estado do qual Ele nos salva, Jesus, o Deus-Conosco, chamou a jovem mulher a voltar à vida. “Eu te ordeno: levanta-te”. A palavra evoca a ressurreição, o novo surgir da vida, o amor divino que nos coloca de pé. É um imperativo que quer nos mostrar que  a vida jamais acaba, pois sua origem está em Deus (cf Jo 1,4; 11,25; 14,6). É preciso mantermos nossa fé no Deus da vida, origem e destino da vida. Ter fé no Deus da vida significa não parar de existir. É viver para sempre. Jesus pede ao pai da jovem apenas uma coisa: fé. “Não tenhas medo. Basta ter fé!”.  E quanto a nós, cremos verdadeiramente em Jesus Cristo, Filho de Deus vivo?


“Retirai-vos porque a menina não morreu e sim está dormindo”, disse Jesus à multidão.  Jesus quer dizer que para ele e para o poder de Deus a morte não significa mais que um sono ligeiro. Da mesma maneira Jesus também falou de Lázaro morto: “Nosso amigo Lázaro está dormindo e vou despertá-lo” (Jo 11,11). A morte para Deus não é um poder insuperável. Para quem ainda não está no caminho da fé tem dificuldade para entender tudo isso. As coisas têm um aspecto muito distinto diante do olhar de Deus e diante da experiência do homem. Mas se aprendermos a olhar tudo a partir de Deus, então a morte perderá seu caráter arrepiante e teremos alegria de tratar nossa vida com carinho e respeito, pois a vida é de Deus e Deus está nela.


As duas beneficiadas das ações de Jesus neste Evangelho têm algo em comum: a primeira estava doente durante 12 anos, e a jovem filha morreu aos 12 anos, a idade em que se devia tornar mulher. No povo de Israel, o percurso destas duas mulheres era sinal de um fracasso. Uma estava atingida, como Sara, a mulher de Abraão, na sua fecundidade, pois essa mulher de hemorragia perdia o seu sangue, princípio de vida na mentalidade semítica. A outra perdia a vida, precisamente na idade em que se preparava para transmiti-la (era tradição casar-se muito cedo). Cristo cura as duas mulheres e permite-lhes assim assumir a sua vocação maternal. “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância”, disse-nos Jesus (Jo 10,10b). Estar com Jesus significa estar com a vida em abundância. Longe dele perdemos a capacidade de produzir frutos para uma vida em abundância (cf. Jo 15,5).


2. Transformação Pela Fé.


Um chefe de sinagoga cai de joelhos, reconhecendo a divindade de Jesus, e suplica a Jesus para salvar a sua filha. Uma mulher atingida por hemorragias não diz nada, mas contenta-se em tocar as vestes de Jesus, porque se considera impura ritualmente (por isso ela fez tudo silenciosamente). Isto basta para Aquele que veio para levantar, curar, salvar a humanidade ferida. Só a fé solicita um sinal de Jesus, a fé de Jairo, a fé da mulher, a fé de Pedro, Tiago e João… E esta fé faz Jesus agir e transforma os beneficiados: a mulher é curada, a jovem volta a viver (levantar-se.


A fé nos diz que não há nada que seja perdido. A fé amplia nosso horizonte e alarga nossa perspectiva para mais longe. A fé nos levanta para um topo mais alto para ver até os vales da vida na sua profundidade. A fé nos coloca no mapa de nossa vida para que saibamos para onde vamos e por onde vamos. A fé é um tipo de “GPS” que nos leva até o endereço certo de nossa vida. Por causa da fé eu preparo o espaço necessário para que Deus possa atuar em mim. A fé é sempre e continua sendo a condição e o fundamento da ação salvadora de Deus em mim.


Não tenhas medo. Basta ter fé!”. É o convite de Jesus para cada um de nós. Jesus não nos pede outra coisa a não ser fé. E isso Ele pede até quando nos encontrarmos numa situação impossível de superar. A exemplo da mulher com a hemorragia durante 12 anos que toca na veste de Jesus, precisamos tocar o próprio mistério para que possamos sair de nossa situação sem saída. Além disso, precisamos deixar nossa mão segurada pelo Senhor para que possamos nos levantar novamente de uma situação de morte, como a menina de 12 anos que se encontrou morta e voltou a viver, pois o Senhor segurou sua mão e a ajudou a se levantar.


“Não temas; basta que tenhas fé!”. Este é o segredo. Ter fé é uma maneira mais eficaz para ficar perto de Deus. Mas a fé não se adquire nem nos livros, nem nas revistas nem nas receitas e sim está no encontro pessoal com Jesus. Para esse Jesus podemos pedir: “Toque-me, Senhor para que eu possa ficar curado e viva novamente!”.


A fé move montanhas. Nossas montanhas de medo, de covardias, de falta de compromisso com a vida. Aquela mulher, com fluxo de sangue, considerada impura que não podia ser tocada por ninguém nem tocar alguém, tomou coragem de tocar o manto de Jesus, pois tem fé no poder de Jesus de que ficaria curada. Para ela não há lei que a detenha. E ficou curada. Diante  da morte de sua filha, Jairo escuta  a voz do Senhor que lhe diz: “Não temas; basta que tenhas fé!”. Quem tem fé não há nada nem ninguém possa o deter.


Não tenhas medo. Basta ter fé!”, disse-nos Jesus hoje.


·        “A fé nasce no encontro com o Deus vivo, que nos chama e revela o seu amor: um amor que nos precede e sobre o qual podemos apoiar-nos para construir solidamente a vida. Transformados por este amor, recebemos olhos novos e experimentamos que há nele uma grande promessa de plenitude e se nos abre a visão do futuro. A fé, que recebemos de Deus como dom sobrenatural, aparece-nos como luz para a estrada orientando os nossos passos no tempo.”(Papa Francisco: Carta Encíclica Lumen Fidei no.4)


·        “A fé está ligada à escuta. ... A fé é a resposta a uma Palavra que interpela pessoalmente, a um Tu que nos chama por nome. A fé desvenda-nos o caminho e acompanha os nossos passos na história.” (Idem no.8)


  • Acreditar significa confiar-se a um amor misericordioso que sempre acolhe e perdoa, que sustenta e guia a existência, que se mostra poderoso na sua capacidade de endireitar os desvios da nossa história. A fé consiste na disponibilidade a deixar-se incessantemente transformar pela chamada de Deus. Paradoxalmente, neste voltar-se continuamente para o Senhor, o homem encontra uma estrada segura que o liberta do movimento dispersivo a que o sujeitam os ídolos. (Idem no. 13)

·        “A fé não só olha para Jesus, mas olha também a partir da perspectiva de Jesus e com os seus olhos: é uma participação no seu modo de ver.” (Idem no.18)


·        “Aquele que acredita, ao aceitar o dom da fé, é transformado numa nova criatura, recebe um novo ser, um ser filial, torna-se filho no Filho: « Abbá, Pai » é a palavra mais característica da experiência de Jesus, que se torna centro da experiência cristã [cf. Rm 8, 15].” (Idem no.19)

  • “Em família, a fé acompanha todas as idades da vida, a começar pela infância: as crianças aprendem a confiar no amor de seus pais. Por isso, é importante que os pais cultivem práticas de fé comuns na família, que acompanhem o amadurecimento da fé dos filhos. Sobretudo os jovens, que atravessam uma idade da vida tão complexa, rica e importante para a fé, devem sentir a proximidade e a atenção da família e da comunidade eclesial no seu caminho de crescimento da fé. Todos vimos como, nas Jornadas Mundiais da Juventude, os jovens mostram a alegria da fé, o compromisso de viver uma fé cada vez mais sólida e generosa. Os jovens têm o desejo de uma vida grande; o encontro com Cristo, o deixar-se conquistar e guiar pelo seu amor alarga o horizonte da existência, dá-lhe uma esperança firme que não desilude. A fé não é um refúgio para gente sem coragem, mas a dilatação da vida: faz descobrir uma grande chamada — a vocação ao amor — e assegura que este amor é fiável, que vale a pena entregar-se a ele, porque o seu fundamento se encontra na fidelidade de Deus, que é mais forte do que toda a nossa fragilidade.” (Idem no.53)

A ausência da fé suscita a angústia e o pavor. Quando confiamos apenas nas nossas forças, quando contamos apenas com as nossas capacidades e nossas técnicas, com aquilo que possuímos ou somente com as relações que mantemos com as pessoas com as quais estamos ligados, mais cedo ou tarde ficaremos desiludidos. A confiança total em Deus nascida da nossa fé na Sua Palavra é a única resposta adequada ao Seu insondável amor por nós.


3. A Vida Que Nos Aproxima e A Força Curadora Que Nos Atrai e Levanta
 

Jesus se encontra no meio da multidão. Evidentemente há muita conversa, gritaria e barulho. A multidão esmaga Jesus. No meio dessa multidão eis que uma mulher se aproxima de Jesus, a todo o custo, somente para tocar ao menos as vestes do Senhor. Para ela chegou seu momento e Jesus passou providencialmente pela sua vida. Ela não quer perder esse precioso momento para se aproximar d’Aquele que é fonte da verdadeira vida. Ela conseguiu tocar as vestes do Senhor com muita fé. Destas vestes saiu uma força curadora para essa mulher.


Há momentos preciosos na nossa vida em que nos esforçamos, isto é, usar toda nossa força em função daquele momento. E nenhum de nós quer perder aquela oportunidade. Por isso, costuma-se dizer: “Ou agora ou nunca mais!”.


Se eu ao menos tocar na roupa dele, ficarei curada”. A mulher de hemorragia se esforça para tocar no corpo de Jesus em função de sua cura de uma doença de longos anos (12 anos). É claro que Jesus não crê que Seu corpo seja um tipo de talismã que emita umas forças misteriosas, pois Jesus atua sempre sabendo daquilo que faz, e cura os enfermos que crêem nele. Por isso, seus milagres não acontecem por debaixo de consciência. A fé é um ato consciente. É uma entrega total para Deus, aconteça o que acontecer, pois Deus é soberano nos seus atos e misericordioso em suas sábias decisões, pois tudo em função da salvação do homem. Tudo que Deus faz por nós é sempre para nos salvar. Basta correspondermos à ação de Deus para que aconteça a salvação.


Apesar de estar sendo esmagado pela multidão Jesus mantém sua atenção para cada um. Jesus está atento a estas pessoas concretas, manifesta uma disponibilidade extraordinária, está extremamente atento à sua presença. Ninguém fica anônimo aos olhos de Jesus. Para Jesus cada um é chamado silenciosamente pelo nome (Jo 10,3b; Is 43,1), pois o nome de cada um está tatuado na palma da mão do Senhor (cf. Is 49,16). Jesus está habitado pelo amor de Deus Pai para com os seus filhos. No Coração do Pai, Jesus é capaz de uma atenção extrema a cada angústia do ser humano. Não interessa quem possa vir junto d’Ele, não interessa qual seja a situação: ele será sempre acolhido, Jesus dará sempre a sua atenção como se cada um estivesse sozinho no mundo com Ele, pois ele ama cada um na sua individualidade. Se eu também começasse a fazer silêncio em mim para melhor escutar Jesus, através da sua Palavra, se eu tivesse tempo para a oração interior, para aprofundar o meu silêncio interior… certamente ficaria mais disponível, mais atento aos outros.


Na Eucaristia celebramos o memorial do amor de Jesus por nós. Ele veio como vem não somente para curar nossas enfermidades corporais, mas principalmente para nos libertar da enfermidade do pecado que nos separa do amor de Deus e do próximo. Deus não nos quer são em nosso corpo, mas principalmente que sejamos renovados no Seu amor para que possamos ver o outro como nosso irmão. Apesar de nossas rebeldias, Deus jamais nos abandona e jamais Ele deixa de nos amar. Essa fidelidade do Senhor é que celebramos em cada Eucaristia. Aceitamos o amor de Deus que tem por nós e nos deixamos conduzir por seu amor.

P. Vitus Gustama,svd

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