quarta-feira, 29 de abril de 2015

02/05/2015
VIVER COM E COMO CRISTO PARA ESTAR COM O PAI DO CÉU


Sábado da IV Semana da Páscoa


Evangelho: Jo 14,7-14

Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: 7“Se vós me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai. E desde agora o conheceis e o vistes”. 8Disse Filipe: “Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta!” 9Jesus respondeu: “Há tanto tempo estou convosco, e não me conheces Filipe? Quem me viu, viu o Pai. Como é que tu dizes: ‘Mostra-nos o Pai”? 10Não acreditas que eu estou no Pai e o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo por mim mesmo, mas é o Pai que, permanecendo em mim, realiza as suas obras. 11Acreditai-me: eu estou no Pai e o Pai está em mim. Acreditai, ao menos, por causa destas mesmas obras. 12Em verdade, em verdade vos digo, quem acredita em mim fará as obras que eu faço, e fará ainda maiores do que estas. Pois eu vou para o Pai, 13e o que pedirdes em meu nome, eu o realizarei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho. 14Se pedirdes algo em meu nome, eu o realizarei.
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O texto do evangelho lido neste dia faz parte do discurso de despedida de Jesus de seus discípulos no evangelho de João (Jo 13-17).


Quando Jesus disse aos discípulos: “Se vós me conhecêsseis, conheceríeis também o meu Pai. E desde agora o conheceis e o vistes”, logo Filipe pediu: Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta!”.


O pedido de Filipe para Jesus mostrar o Pai tem um tom de ousadia do ponto de vista judaico. Segundo a visão bíblica é impossível ver Deus e ao mesmo tempo o homem, que viu Deus, permanece vivo (Cf. Ex 33,20). Por isso é que, na Bíblia, todas as pessoas ficaram apavoradas diante de qualquer manifestação divina (teofania), pois há possibilidade de morrer.


Diante da pergunta de Filipe, Jesus responde que o Pai não é acessível ao olhar comum. O Pai é acessível através de uma contemplação (contemplar significa olhar, observar com atenção para descobrir seu significado). E a contemplação se apóia no sinal por excelência: o Filho, Jesus Cristo e suas obras, pois Jesus é a Palavra de Deus feita carne (cf. Jo 1,14; Mt 1,23). Jesus é tão unido ao Deus Pai a ponto de ser reflexo total de Deus diante dos homens. Jesus e o Pai são um só (cf. Jo 14,10; 17,21-22). Para contemplar o Pai é preciso descobrir o mistério do Filho: descobrir sua relação com o Pai, seu papel mediador e a significação de suas obras. Todas as obras de Jesus apontam para Deus. Jesus está tão unido ao Pai a ponto de dizer: “Eu estou no Pai e o Pai está em mim” (Jo 14,10). Tudo de Jesus fala do Pai ou leva o homem ao Pai. Entre Jesus e o Pai há uma total sintonia. O ultimo critério de identificação e sintonia são as obras. E a obra da redenção feita por Jesus nos faz compreendermos Deus como um Pai cheio de amor, de ternura e de misericórdia para nós (cf. Jo 3,16).


E esta contemplação do Pai na pessoa e na obra do Filho deve ser estendida nas obras de cada cristão: “Quem acredita em mim, fará as obras que eu faço” (Jo 14,12). A vida e as obras de cada cristão devem levar os outros a contemplarem Deus, devem ter uma função de levar as pessoas para Deus. As obras boas que o cristão faz falam por si de Deus para o mundo. Desse modo cada cristão se converterá em sinal da presença do Pai no mundo que aponta sempre para Deus. Além disso,neste sentido pedir “em nome de Jesus” (Jo 14,14) equivale, efetivamente, a solicitar a presença de Cristo no atuar do cristão para que ele possa ser verdadeiramente sinal da presença de Deus no mundo.


Somente para aquele que não sabe qual é o destino de sua vida não existe um caminho certo e seguro. Mas se ao final de nossa existência terrena queremos estar com Cristo gozando da gloria do Pai, não há outro caminho a não ser o próprio Cristo. Nele nos é manifestado nosso Deus como Pai amoroso e misericordioso, próximo de nós e disposto a nos salvar e nos e a nos levar a participarmos de Sua vida eterna. Não somente as palavras de Jesus que nos fazem entendermos quem é Deus para nós, mas também suas obras nos fazem experimentarmos o amor que Deus tem para nós. Ir atrás das pegadas de Cristo é caminhar com Sua Igreja, Sua esposa que é a pegada de Seu amor e de Sua entrega que Ele deixou para a humanidade para que possa ir ao encontro definitivo com o Pai com segurança.


Não acreditas que eu estou no Pai e o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo por mim mesmo, mas é o Pai que, permanecendo em mim, realiza as suas obras”, disse Jesus a Filipe.


Jesus era um homem de Nazaré de carne e de osso, que pisava o solo de Palestina, um homem que tinha amigos, relacionamentos humanos, que comia e bebia com seus amigos, que tinha cansaço, fome e sede. Mas era um homem equilibrado por excelência. Era um homem humilde (Mt 11,29). Era um homem sem ambição nem orgulho, pois toda vez que a multidão queria torná-lo rei, ele se afastava para estar em contato com o Pai no silencio e na oração prolongada (cf. Jo 6,15). Era um homem que se rebaixava diante de seus amigos para lavar-lhes seus pés (cf. Jo 13,1-20). Mas esse homem é, ao mesmo tempo, estava em comunhão plena com Deus, se identificava com Deus, que fazia tudo conforme a vontade de Deus: “Eu estou no Pai e o Pai está em mim”. Jesus era um homem cheio de Deus. As suas amizades com outras pessoas não atrapalhavam sua comunhão plena com Deus. Ao contrário, era tão profunda sua comunhão com Deus a ponto de ter sido tão profunda também sua amizade com o homem (cf. Jo 15,15). Por ter sido o homem de Deus, Jesus era um homem do povo e para o povo.


Ser cristão é ser outro Cristo no mundo. Se Cristo Jesus era um homem cheio de Deus, logo cada cristão deve ser uma pessoa cheia de Deus. Se Cristo Jesus foi o homem de Deus e por isso, era um homem do povo e para o povo, logo o cristão deve ser também um homem de Deus para que se torne um homem do povo e para o povo. Conseqüentemente, nenhum cristão pode ser uma pessoa egoísta e isolada. Cada cristão é de Cristo e o Cristo é do povo: “Vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus” (1Cor 3,23).


Quem acredita em mim, fará as obras que eu faço e fará ainda maiores do que essas” (Jo 14,12). Não se trata das obras maiores do que as que Jesus fez. Mas trata-se da expansão de sua mensagem por todo o mundo. Jesus limitou sua atividade em Palestina com um pequeno numero de discípulos. Agora, através das obras boas praticadas pelos cristãos espalhados pelo mundo Cristo se faz presente no mundo. Nossas obras se tornarão maiores, se as fizermos no espírito de Cristo e não de acordo com o nosso gosto. Toda obra no espírito de Jesus tem como objetivo edificar os outros na sua dignidade. É ser vida para os demais como Cristo é vida dada a todos nós.  Ao fazer as obras pelo bem de todos, o cristão poderá aplicar para si a frase de Jesus de outra maneira: “Eu estou em Cristo e Cristo está mim”. Ser cristão significa ser outro Cristo. Se o mundo não percebe na minha maneira de viver e de proceder que sou cristão é porque eu não estou mais em Cristo nem Cristo está em mim. Desta maneira Santo Agostinho tinha razão ao dizer: “De que vale ter o nome de cristão se tua vida não é cristã? Há muitos que se denominam médicos e não sabem curar. Muitos se dizem vigilantes noturnos não fazem mais que dormir a noite inteira. Assim também muitos se chamam cristãos, mas não o são em seus atos. Em sua vida, moral, fé, esperança e caridade são muito diferentes do que declara seu nome” (In epist. Joan. 4,4).


Senhor, mostra-nos o Pai, isso nos basta!”, pediu Filipe a Jesus. Em outras palavras: Onde está Deus? No seu livro O Deus Em Quem Não Creio, Juan Arias dá algumas respostas. “Deus está na tua vida vazia. É tudo o que desejarias lá meter para a encher... Deus é o sol que desejarias ver brilhar quando as trevas irromperam nos teus olhos... Está naqueles olhos cheios de luz que, só ao olhá-los e amá-los, te tornaram mais criança, mais inocente, mais livre, mais poeta e mais concreto; mais terno e mais seguro; menos “tu” e mais “próximo”. Deus está nessa sede de limpeza que faz sentir a tua boca seca e pegajosa, depois de qualquer infecção do espírito ou da carne. Está à porta de cada desilusão; são essas mãos invisíveis em que não crês, mas que desejarias apertar, cheias de fidelidade, quentes de compreensão, eletrizadas por um afeto que resiste ao tempo...Deus está no palpitar intato de cada novo ser...Está no conjunto de sentimentos que vibram em todo o ser da mulher que acaba de ser mãe...Deus está ali; naquele cantinho mais secreto da tua vida, aonde ninguém chega, em que uma voz que não sabes donde vem, nem para onde vai, te diz o que não querias ouvir, te recorda o que desejarias ter esquecido, te profetiza o que nunca desejarias saber. Nessa voz que não ouves, mas que te desaprova. Nessa voz que não é tua, mas que nasce em ti e que nem o sono, nem o barulho, nem a bebida, nem a carne conseguem fazer calar...Está nesse abismo profundo da tua incredulidade...Está na paz do lago sereno das tuas lágrimas quando te reconcilias com a tua consciência e que te dá a sensação de renasceres...Deus está nessa força misteriosa que nos mantém vivos, que nos impede de enlouquecer, que nos evita o suicídio depois de certas provas dramáticas da vida, depois de certos desgostos mais cruéis e trágicos do que a morte...Deus está sobretudo onde reina o amor”.


Cristão, onde está teu Deus? Mostra-nos teu Deus é o pedido do mundo para cada cristão. Qual sua resposta?
 
P. Vitus Gustama,svd

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