terça-feira, 23 de junho de 2015

26/06/2015
 
FORMAR UMA COMUNIDADE DE IRMÃOS SEM EXCLUSÃO

Sexta-Feira da XII Semana Comum
 

Evangelho: Mt 8,1-4

1 Tendo Jesus descido do monte, numerosas multidões o seguiam. 2 Eis que um leproso se aproximou e se ajoelhou diante dele, dizendo: “Senhor, se queres, tu tens o poder de me purificar”. 3 Jesus estendeu a mão, tocou nele e disse: “Eu quero, fica limpo”. No mesmo instante, o homem ficou curado da lepra. 4 Então Jesus lhe disse: “Olha, não digas nada a ninguém, mas vai mostrar-te ao sacerdote, e faze a oferta que Moisés ordenou, para servir de testemunho para eles”.
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Tendo Jesus descido do monte, numerosas multidões o seguiam”. Esta frase é antitética com Mt 5,1: “Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte...” (Sermão da Montanha). Agora Jesus desceu da Montanha (viver na prática os ensinamentos do Sermão da Montanha) e “numerosas multidões o seguiam”. A descida de Jesus da Montanha marca, então, o passo do ensinamento para a ação.


Para entender o texto de hoje precisamos ter na nossa mente de que a comunidade para quem o evangelista Mateus escreveu seu evangelho é uma comunidade mista: um bom número de judeu-cristãos (alguns de tendência até rigorista) e um certo número de gentio-cristãos, e cristãos de uma mentalidade mais aberta. Como verdadeiro pastor da comunidade, o autor procura atenuar as tensões entre os vários grupos. Ele tenta evitar uma ruptura entre judeu-cristãos e gentio-cristãos e daí a sua preocupação com a edificação de uma comunidade igualitária, fraterna (sem exclusão), misericordiosa, colhedora, capaz de perdoar, compassiva para com os fracos e pecadores.


O evangelista Mateus nos relatou que “um leproso se aproximou de Jesus”.  Mateus usa o verbo “aproximar-se” 54 vezes no seu evangelho. Este verbo está carregado de sentido. A comunidade de Mateus, de origem judia, ao escutar este verbo, sentia que caiam muitas barreiras “do puro e do impuro”. Por isso, Mateus relatou que “Jesus estendeu a mão, tocou no leproso”. O leproso estava verdadeiramente excomungado da comunidade social e cultural de Israel (um excluído) e era declarado “impuro” e marginalizado de toda participação no culto e acreditava-se que era incapaz de aproximar-se de Deus e da sociedade humana (cf. Lv 13,45-46). Deus é capaz de se aproximar de qualquer ser humano, mesmo que na mente humana há excluídos. Todos são filhos e filhas de Deus. Jesus, o Deus-Conosco veio para unir e reunir todos numa comunidade de irmãos cujo Pai comum é o próprio Deus (cf. Mt 23,8-10). E os cristãos são enviados para unir e reunir todos como irmãos e irmãs, filhos e filhas do Pai do céu. Desunir ou dividir para um grupo estar contra o outro descaracteriza qualquer comunidade cristã.


O leproso do Evangelho de hoje sabe que, com Jesus, caíram as barreiras e sabe que para Jesus, mesmo sendo leproso, ele é parte da comunidade. Por isso, o leproso toma coragem de aproximar-se de Jesus. A coragem do leproso é uma grande lição para nós. Diante de Deus não há nada que não tenha solução. Basta nos aproximarmos de Deus com coragem e humildade. Deus está sempre pronto para estender a mão para nós. Ficar desesperado pode ser um sinal de que não queremos nos aproximar de Deus. Ficar desesperado é ficar apenas no nosso lado. Estar do lado de Deus nos tranqüiliza.


Aproximou-se de Jesus um leproso e lhe suplicou: “Senhor, se queres, podes purificar-me”. A oração desse leproso é breve e confiante.  “Se queres”, disse o leproso. Ele não pede nem exige nada. O leproso sabe que Jesus pode tudo, até o impossível (cf. Lc 1,37). Basta o querer d’Ele. Por isso, o leproso acrescenta: “podes purificar-me”. Para o leproso, Jesus é aquele que pode curá-lo e ao mesmo tempo pode reabilitá-lo totalmente, isto é, purificá-lo, eliminar dele todo sinal de impureza, fazendo-o capaz de se aproximar de Deus e de integrar-se na comunidade.


Como resposta ao pedido do leproso, Jesus atendeu-lhe a mão e disse: “Eu quero, fica limpo”.No mesmo instante, o homem ficou curado da lepra”, assim Mateus nos relatou. A cura é imediata. O leproso precisa voltar a ser membro da comunidade de irmãos. Formar uma comunidade de irmãos, unir todos para formar a fraternidade é urgente, sem o qual ninguém poderia chamar Deus de Pai-Nosso (cf. Mt 6,9-13).


É o primeiro milagre relatado por Mateus logo depois do Sermão da Montanha. A escolha de um leproso para este primeiro milagre para Mateus tem seu significado. Mateus escreveu seu evangelho para os judeus. Em seu contexto cultural e religioso, a lepra era o mal por excelência, uma enfermidade contagiosa que destruía lentamente a pessoa afetada e que era considerada pelos antigos como um castigo de Deus, sinal de pecado que excluía a pessoa afetada da comunidade (Dt 28,27-35; Lv 13,14). O leproso era considerado impuro e fazia impuro tudo que tocava. Por isso, ele era afastado da comunidade. O leproso sofria, então, não somente fisicamente, mas também psicológico e social e religiosamente. E para a lepra não tinha nenhum remédio. O leproso estava condenado à morte. Restava esperar um milagre para sobreviver.


 Mas no meio da falta de solução e de saída Jesus apareceu para superar o problema. Jesus estendeu a mão e tocou nele e disse: “Eu quero. Fica limpo”. A palavra de Deus se torna fato, se for obedecida e praticada. A força salvadora de Deus está na ação de Jesus. De fato, o leproso ficou curado. Podemos imaginar alegria deste homem que era solitário, abandonado, excluído e maldito pela sociedade, e agora feliz, pois volta a olhar para o futuro com muita esperança. Deus em Jesus devolveu ao homem que era leproso um novo começo com o olhar brilhante para o futuro.


A mão estendida, o contato é um sinal de amizade. Jesus se apresenta como amigo do sofredor, do abandonado e se aproxima dele para dizer que o sofredor não está sozinho. Jesus compartilha os dramas da humanidade. Por este humilde gesto Jesus reintegra o leproso curado na sociedade dos que o excluíam. Esta mão estendida é também um gesto de vitoria. Esta mão estendida é o gesto de amor. É uma mão pronta para ajudar como ajudou Pedro que estava para afogar. É uma mão que está pronta para ajudar quem se encontra na dificuldade. Todos os cristãos devem ser a mão estendida de Jesus neste mundo.


Todos nós somos débeis de alguma forma e necessitamos da ajuda permanente de Jesus. Nossa oração, confiada e simples, como a do leproso, se encontra sempre com o olhar de Jesus, com sua vontade de nos salvar. Jesus nos toca com sua mão diariamente. Mas muitas vezes estamos bem anestesiados pelas preocupações e agitações que acabamos não sentindo a mão de Jesus tocando nossa mão. Jesus nos alimenta com o Pão e o Vinho da Eucaristia, tocando nossa vida. Ele nos perdoa através da mão de seus ministros estendida sobre nossa cabeça, tocando e ungindo nossa testa e nossa mão com o óleo santo de batismo, de crisma, dos enfermos.


Olhando para o leproso antes e depois de sua cura, cada um precisa se perguntar: “O que é que faz você perder a esperança lentamente?”. E nesta situaçao, você tem coragem de se aproximar de Jesus e deixar-se tocar por ele para você voltar a ter mais esperança e força para continuar sua luta? Quais sao atitudes suas que excluem os outros da comunidade? Vamos lançar os braços em abraços para os outros a fim de formarmos uma comunidade de irmaos. É uma maneira de agradar o Pai-Nosso que está no céu. Que assim seja!

P. Vitus Gustama,svd

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