domingo, 5 de julho de 2015

07/07/2015
PALAVRA DE DEUS MEDITADA E VIVIDA NOS TORNA LÚCIDOS E COMPASSIVOS

Terça-Feira da XIV Semana Comum
 

Evangelho: Mt 9,32-38

Naquele tempo, 32 apresentaram a Jesus um homem mudo, que estava possuído pelo demônio. 33 Quando o demônio foi expulso, o mudo começou a falar. As multidões ficaram admiradas e diziam: “Nunca se viu coisa igual em Israel”. 34 Os fariseus, porém, diziam: “É pelo chefe dos demônios que ele expulsa os demônios”. 35 Jesus percorria todas as cidades e povoados, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino, e curando todo o tipo de doença e enfermidade. 36 Vendo Jesus as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor. Então disse a seus discípulos: 37 “A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. 38 Pedi pois ao dono da messe que envie trabalhadores para a sua colheita!”
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Palavra Na Nossa Vida Cotidiana


A primeira parte do evangelho de hoje fala da cura de um mudo que logo em seguida ele começou a falar.


Deus criou o homem dotado de fala. A palavra é um dos grandes meios de comunicar-se com os irmãos (através da própria palavra pronunciada ou através de algum gesto para transmitir alguma mensagem). A palavra é que nos vincula aos outros. A palavra pontua nossa vida cotidiana. A palavra é também algo que nos liga a nós mesmos. Quantas vezes, ao acordar de manhã ou em determinadas situações na nossa vida cotidiana, nós falamos a nós mesmos. A palavra nos acompanha quase o tempo todo, até mesmo, paradoxalmente, o silêncio, que se tornou tão raro no mundo moderno, tem significado por causa dela. O silêncio dá conteúdo para nossas palavras. Sem o silêncio, nossas palavras se tornarão ocas. Há profissões que usam menos palavra. Mas há também profissões que trabalham com palavra e dependem da palavra para transmitir sua mensagem ou seu ponto de vista sobre algo na vida ou na sociedade. A palavra está no âmago de nossa vida pessoal, familiar, social e profissional. Já imaginou se você pudesse contar quantas palavras ditas diariamente por você? Creio que você mesmo ficaria assustado ou admirado por tantas palavras ditas em vão, ao mesmo tempo por tantas palavras que saíram de sua boca que ajudaram tantas pessoas por terem sido boas! Milhares e milhares de pessoas mudaram de qualidade de vida por causa da palavra ouvida de outras pessoas ou lida em um bom livro. Cada palavra representa uma realidade ou um mundo contido nela. Você já pensou quantos mundos contidos numa frase que pronunciamos ou escrevemos? Mas será que cada frase pronunciada ou escrita representa mesmo a realidade ou inventamos frases e frases para enganar os outros? Será que em cada frase contém a verdade? Será que levamos em conta a caridade e a fraternidade ao soltar/pronunciar ou ao escrever alguma frase?


Deus quer que o homem se comunique. Se alguém não se comunicar, se está sempre quieto ou mudo, é sinal de que alguma coisa está errada nele fisicamente, ou psiquicamente ou espiritualmente. A fala é dom de Deus, tanto que São João, no Prólogo de seu evangelho dá um titulo muito significativo a Jesus: Palavra ou Verbo (Jo 1,1-14). Jesus é a Palavra de Deus para nós; é a comunicação de Deus para nós. Através de Jesus é que Deus fala conosco: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14).  O próprio Pedro, no seu discurso no livro dos Atos dos Apóstolos, nos disse: “Deus enviou a sua palavra aos filhos de Israel, anunciando-lhes a boa nova da paz, por meio de Jesus Cristo. Este é o Senhor de todos” (At 10,36). Como é que opera a Palavra de Deus na vida do homem? O autor da Carta aos Hebreus responde: “A palavra de Deus é viva, eficaz, mais penetrante do que uma espada de dois gumes e atinge até a divisão da alma e do corpo, das juntas e medulas, e discerne os pensamentos e intenções do coração. Nenhuma criatura lhe é invisível. Tudo é nu e descoberto aos olhos daquele a quem havemos de prestar contas” (Hb 4,12-13).  Mas nem a boca santa de Jesus que emite a Palavra de Deus terá qualquer efeito na nossa vida, se nós estivermos surdos a ela.


É bom notar que seremos também julgados pelas palavras que dizemos ou pronunciamos sobre os outros, além dos atos que praticamos. O livro de Provérbio nos alerta: “Nas muitas palavras não falta ofensas; quem retém os lábios é prudente” (Pr 10,19). “A boca dos justos é fonte de vida, mas a boca dos ímpios encobre violência” (Pr 10,11). Da mesma forma são Tiago nos diz: “Aquele que não peca no falar é realmente um homem perfeito, capaz de frear todo o seu corpo” (Tg 3,2b). Que nossas palavras não ultrapassem nossos atos para não sermos chamados de mentirosos ou falsos. Por isso, São Tiago nos alerta: “Tornai-vos praticantes da Palavra(de Deus) e não simples ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (Tg 1,22).


A cura do mudo no texto do evangelho de hoje se refere àquele que não quer escutar a voz de Deus, que não quer seguir Seu projeto porque há outras coisas que o ensurdecem. Biblicamente o surdo-mudo (o termo grego “kôphos” significa surdo, mudo e surdo-mudo) é aquele que perde o contato com sua própria realidade de filho de Deus. Aqui se enfatiza a mudez, isto é, o homem incapaz de comunicação. Ele vive paralisado porque está privado da comunicação com o único que o faz livre: Deus (através de Sua Palavra). Sua enfermidade não é física, mas causada por demônio. Aqui “estar endemoninhado” significa fechar-se à comunicação. O mudo, aqui, simboliza Israel que se fecha a si mesmo. A mudez se deve à mentalidade exclusivista, consequência do nacionalismo que a concepção do Messias nacionalista implica. Israel tem que abrir-se para a humanidade. Por isso, a cura do surdo-mudo (cf. Mt 11,5), assim como a cura dos cegos, alude a Is 35,5 onde se anuncia o êxodo definitivo, a volta dos resgatados pelo Senhor (Is 35,10).


Jesus veio ao mundo unicamente para fazer o bem, como pregou o Apóstolo Pedro: “Vós sabeis como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com o poder, como ele andou fazendo o bem e curando todos os oprimidos do demônio, porque Deus estava com ele” (At 10,38). Mas sabemos muito bem que até para fazer o bem encontramos dificuldades e críticas como aconteceu com Jesus no texto do evangelho de hoje. Jesus libertou um surdo de sua mudez e começou a falar. Jesus foi criticado por causa disso: “Os fariseus, porém, diziam: É pelo príncipe dos demônios que ele expulsa os demônios” (Mt 9,34). A reação dos fariseus é amarga. Eles são incapazes de sair de seus esquemas mentais. Como tradicionalistas e legalistas, eles não conseguem ver em Jesus a revelação da bondade e misericórdia de Deus. Para eles, Jesus não pode vir de Deus porque sua forma de atuar choca com as tradições “sãs” e com o conhecimento de Deus que é, para eles, o único verdadeiro. Mas “a acusação teológica (dos fariseus) não é mais que um pretexto que apenas dissimula sua sede de autoridade (poder) sobre o povo”, comentou P. Bonnard. Atrás de uma acusação ou crítica há interesse escondido. Mas a questão é esta: que tipo de interesse?


Os homens se dividem diante do anúncio do Reino. Os que, por meio da fé, o acolhem e se salvam. Os que o recusam, se excluem. Mas Deus continua esperando a volta de qualquer um dos seres humanos com misericórdia, como o pai que espera a volta do filho pródigo (cf. Lc 15,11-32). A leitura nos quer transmitir uma verdade de que todo crente ou leitor se encontra sempre diante da necessidade de decidir-se. A vida humana consiste num mecanismo de escolha, de preferência e de postergação. Toda escolha é exclusão. Toda determinação é negação. Vivemos  desta maneira todos os dias. Toda escolha tem suas consequências positivas como também suas consequências negativas. Temos que saber se as consequências positivas são maiores do que as consequências negativas. Sabemos que há situações sem escolha. Mas trata-se de uma coisa rara. A partir de Mt 10 em diante se falará muito desta escolha.


Ser Compassivo Como Cristo


A segunda parte do texto do evangelho de hoje (Mt 9,35-38), na verdade, é uma introdução para o discurso de Jesus sobre a missão  (Mt 9,35-10,16).


Esta segunda parte fala da compaixão de Jesus pela multidão: “Vendo Jesus as multidões, compadeceu-se delas...”. Jesus sempre se compadece pelos que sofrem como o mudo no evangelho de hoje. A compaixão é uma das características de Deus.


Uma verdadeira compaixão não olha o necessitado de cima para baixo (sentimento de superioridade), mas é capaz de padecer-com, sentir-com para daí atuar. Cada compaixão sempre tem a ver com o deixar aproximar-se, prestar atenção, sentar-se à mesma mesa, chamar pelo nome, perceber a necessidade, oferecer a ajuda. A compaixão é comover-se até as entranhas, solidarizar-se profundamente, sentir-se a partir de outrem; é sofrer com (Latim: pati + cum, compaixão = sofrer com). A compaixão requer que estejamos com as pessoas que sofrem e dispostos a partilhar nosso tempo com elas. É estar no lugar do outro para sentirmos o que ele sente e ajudar no que puder dentro do limite da capacidade. Por isso, pode-se dizer que a verdadeira compaixão é muito humana e divina simultaneamente. Quando compartilhamos nosso coração e tempo com uma pessoa que sofre, uma parte do sofrimento dela será aliviada. Vamos deixar o resto com Deus desde que façamos nossa parte até o limite de nossa capacidade. Somos seguidores do Deus da Compaixão que se tornou carne em Jesus Cristo. A compaixão deve se tornar carne também em nós.

P. Vitus Gustama,svd

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