sábado, 22 de agosto de 2015

25/08/2015
      JUSTIÇA, MISERICÓRDIA E FIDELIDADE SÃO ESSENCIAIS PARA A VIDA DO SER HUMANO


Terça-Feira da XXI Semana Comum

 

Evangelho: Mt 23,23-26

Naquele tempo, disse Jesus: 23 Ai de vós, mestres da Lei e fariseus hipócritas! Vós pagais o dízimo da hortelã, da erva-doce e do cominho, e deixais de lado os ensinamentos mais importantes da Lei, como a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Vós deveríeis praticar isto, sem contudo deixar aquilo. 24 Guias cegos! Vós filtrais o mosquito, mas engolis o camelo. 25 Ai de vós, mestres da Lei e fariseus hipócritas! Vós limpais o copo e o prato por fora, mas, por dentro, estais cheios de roubo e cobiça. 26 Fariseu cego! Limpa primeiro o copo por dentro, para que também por fora fique limpo.

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O capítulo 23 do Evangelho de Mateus é, sem dúvida nenhuma, uma das páginas mais duras do Novo Testamento. Quem o lê fica impressionado, sobretudo, com a linguagem dura de Jesus. Neste capítulo, o evangelista Mt inicia com uma introdução (vv.1-12) para um extenso discurso que Jesus pronuncia contra os líderes religiosos da sua época (vv.13-36) como consequência de um longo enfrentamento com eles (Mt 21-22). Estes ataques completam a obra dos profetas contra a falsa religiosidade e os líderes hipócritas. As palavras são duras porque o perigo que é denunciado é grave. E a validade da denúncia profética que ouvimos dos lábios de Jesus, neste capítulo, não perde sua atualidade, pois seu alcance é universal. O “fariseu”, a quem Jesus dirige suas palavras duras e sua denúncia, é personagem típico, representa um paradigma de comportamento oposto ao Evangelho.


Neste capitulo 23 Mt nos apresenta os chamados “ais” de Jesus contra os escribas e fariseus ou lamentações que Mateus coloca depois de Jesus ter proclamado as bem-aventuranças no Sermão da Montanha (cf. Mt 5,1-12).


No texto do evangelho de hoje Jesus desmascara todos aqueles que se escondem atrás de uma fachada religiosa para enganar o povo/os outros com o seu ensinamento.


Jesus se enfrentou abertamente com as autoridades judaicas. Ele os criticava a falta de responsabilidade para o povo de Deus, pois só pensavam nos próprio interesses e não no bem comum. As comparações que Jesus faz põe em evidência a mentira com que os fariseus se encobrem. Aparentemente eles são homens puros, mas em seu interior somente acumulam a cobiça, a corrupção e a maldade. Os fariseus se mostram como homens extremamente cumpridores da lei, mas não lhes importa a justiça nem a fidelidade a Deus.


 “Ai de vós, mestres da Lei e fariseus hipócritas! Vós pagais o dízimo da hortelã, da erva-doce e do cominho e deixais de lado os ensinamentos mais importantes da lei como a justiça, a misericórdia e a fidelidade, assim Jesus disse no texto do evangelho de hoje. A expressão “ai de vós!” não é uma maldição e sim expressa uma profunda dor, uma indignação, uma ameaça profética. Jesus está triste e indignado com a atitude e o modo de viver incoerente dos fariseus e dos escribas e que não levam em conta a importância da pessoa humana e os valores essenciais da vida humana.


Os fariseus (e os escribas) se preocupam em pagar os dízimos até as mínimas coisas, mas esquecem-se de observar o mais essencial. Os pontos essenciais da lei que as normas se referem ao amor ao próximo são a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Justiça indica o comportamento para o homem que compreende todo o campo da justiça social, tal como entendiam os profetas (cf. Am 5,24; Os 4,1-2, etc.). Justo é aquele que vive de acordo com os mandamentos do Senhor resumidos no amor fraterno. Daqui nasce a “misericórdia”, isto é, ama até os que não merecem ser amados (misericórdia= dar o coração aos miseráveis) que tanto se enfatiza neste evangelho: “Ide e aprendei o que significam estas palavras: Eu quero a misericórdia e não o sacrifício” (Mt 9,13; cf. Mt 12,12-13). Ter misericórdia significa amar até as entranhas. Da justiça nasce também a “fidelidade” entendida como verdadeiro cumprimento da vontade de Deus (cf. Mt 22,34-40). Jesus não despreza as mínimas coisas, mas que não se esqueça o essencial para a vida e a salvação do homem.


O que essencial no ensinamento de Jesus é amar a Deus e ao próximo. Toda a ação pastoral deve ser direcionada para essa essência. Quanto tempo gastamos para discutir os secundários, e menos tempo para o essencial. Ame! “Por este caminho não há outro caminho”, dizia Santo Agostinho.


Os cristãos receberam, no Batismo, uma das três funções: a função profética. A comunidade cristã é chamada e enviada para continuar a ação profética de Jesus. A comunidade cristã não pode guardar silêncio diante dos que usam o poder sem escrúpulo que enganam o povo com mentiras e projetos fantasiosos e promessas enganosas. Quem tem um olhar profético e permanece em Cristo percebe facilmente tudo que é falso e mentirosos, e logo toma posição contra.


Vós pagais o dízimo da hortelã, da erva-doce e do cominho e deixais de lado os ensinamentos mais importantes da lei como a justiça, a misericórdia e a fidelidade”.


Os judeus eram minuciosos em algumas bagatelas e não se preocupavam com os assuntos importantes. Jesus nos recorda as grandes exigências de todos os tempos: a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Justiça é reconhecer os direitos dos outros, é dar a outro o que lhe compete ou lhe pertence. Não tem como praticar a caridade sem praticar a justiça. Para praticar a caridade o homem tem que reconhecer o direito do outro. Simplesmente, podemos dizer que a justiça é dar a alguém o que é dele e dar a mim o que é meu. A caridade é dar a alguém o que é meu. Do mesmo modo podemos dizer quer não tem como pedir o perdão de Deus se não formos capazes de ser misericordiosos para com os outros. Não tem como sermos fieis, se nossa vida for contaminada pelas traições praticadas violando nossa própria dignidade e conseqüentemente a dignidade dos outros.


Vós pagais o dízimo da hortelã, da erva-doce e do cominho, e deixais de lado os ensinamentos mais importantes da Lei, como a justiça, a misericórdia e a fidelidade.


Hoje diríamos: a ajuda aos mais pobres, a defesa dos débeis e dos oprimidos, a pureza do coração, a honestidade profissional, a justiça social, respeito devido a toda pessoa, e assim por diante. Jesus quer que a fidelidade às observâncias cultuais seja o reflexo de uma fiel observância do amor aos demais durante toda a vida.


Os defeitos apresentados no evangelho de hoje não são exclusivos dos fariseus, podemos tê-los também hoje em dia. Na vida há coisas de pouca importância para as quais há que dar pouca importância. E há outras coisas muito mais transcendentes para as quais vale a pena que se preste atenção a elas. Em outras palavras temos que dar a importância para as coisas de acordo com seus valores para nossa vida e nossa salvação. Temos que saber discernir o que é importante e urgente para ser realizado e o que não é importante nem urgente. Há coisas que são importantes, mas não são urgentes para serem realizadas. É preciso a aprender a viver de acordo com a escala de valores. Para isso, temos que aprender a viver de acordo com os valores. Não podemos nivelar o valor do ouro com o da prata.


Seremos como os fariseus se reduzirmos nossa vida de fé a meros ritos exteriores sem nenhuma ligação com a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Seremos fariseus se dermos mais importância ao parecer do que ao ser, à aparência do que à transparência, ao bonzinho do que ao bom. Tudo é puro quando sai de um coração limpo. A impureza do coração afasta a pessoa da vontade de Deus. Pelo contrário, buscando-se a pureza interior, tudo o mais se torna puro. Autenticidade atrai, a falsidade afasta as pessoas. Uma pessoa simples atrai a simpatia dos outros; uma pessoa complicada afasta as outras pessoas de seu círculo.


Ao fazer qualquer coisa devemos também nos perguntar: Será que aquilo que estou fazendo é essencial? Será que aquilo que estou vivendo e praticando serve para minha edificação  e para minha salvação e das pessoas com quem vivo? Não deixemos “de lado os ensinamentos mais importantes da Lei, como a justiça, a misericórdia e a fidelidade” é a mensagem forte da Palavra de Deus hoje para cada um de nós.

P. Vitus Gustama,svd

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