terça-feira, 6 de outubro de 2015

08/10/2015
ORAÇÃO
SER PERSEVERANTE NA ORAÇÃO 

Quinta-Feira da XXVII Semana Comum

 

Evangelho: Lc 11,5-13

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 5 “Se um de vós tiver um amigo e for procurá-lo à meia-noite e lhe disser: ‘Amigo, empresta-me três pães,  6 porque um amigo meu chegou de viagem e nada tenho para lhe oferecer’, 7 e se o outro responder lá de dentro: ‘Não me incomodes! Já tranquei a porta, e meus filhos e eu já estamos deitados; não me posso levantar para te dar os pães’; 8 eu vos declaro: mesmo que o outro não se levante para dá-los porque é seu amigo, vai levantar-se ao menos por causa da impertinência dele e lhe dará quanto for necessário. 9 Portanto, eu vos digo: pedi e recebereis; procurai e encontrareis; batei e vos será aberto. 10 Pois quem pede recebe; quem procura encontra; e, para quem bate, se abrirá. 11 Será que algum de vós que é pai, se o filho pedir um peixe, lhe dará uma cobra? 12 Ou ainda, se pedir um ovo, lhe dará um escorpião? 13 Ora, se vós que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do céu dará o Espírito Santo aos que o pedirem!”
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Mais uma vez, o evangelista Lucas nos coloca no “caminho de Jerusalém” para acompanhar Jesus ouvindo e aprendendo suas últimas lições para nossa vida como seus seguidores (Lc 9,58-19,28). São suas ultimas lições porque Jesus será crucificado, morto e glorificado em Jerusalém.


Na passagem do evangelho de hoje, Lucas volta a falar da necessidade de rezar sempre insistentemente. Rezar é uma maneira mais eficaz para aproximar a terra ao céu; para encurtar a distância entre a humanidade e a divindade. A oração derruba o muro que nos separa de Deus, pois na oração conversamos diretamente com o Céu, isto é, com Deus. Distanciar-se da oração significa distanciar-se do céu. É impossível chamar Deus de Pai sem conversar com Ele permanentemente. “Orar é sempre possível porque o tempo do cristão é o tempo de Cristo ressuscitado, o qual ´permanece conosco todos os dias´ (Mt 28,20). Oração e vida cristã são, por isso, inseparáveis” (Compêndio do Novo Catecismo, 576, ou Novo Catecismo, 2742-2745. 2757).  Como dizia São João Crisóstomo: “É possível, mesmo no mercado ou durante um passeio sozinho, fazer oração freqüente e fervorosa. É possível rezar, mesmo sentados na vossa loja, a tratar de compras e vendas, ou até mesmo a cozinhar”. A oração é caminho de comunhão com Deus que nos leva à comunhão com os outros. A oração mais que falar é escutar, mais que encontrar é buscar, mais que descanso é luta, mais que conseguir é esperar, pois Deus sabe daquilo que necessitamos. Rezar é estar aberto às surpresas de Deus, a seus caminhos e a suas dádivas como mistério, como graça.


Nossa oração é certamente petição, mas não tem nada a ver com um regateio mercantil. Há que recorrer a Deus como pobre na necessidade. A oração é antes de tudo uma confissão da própria indigência: Senhor, eu não consegui alcançar tal objetivo, Senhor, eu ando buscando..., Senhor, eu não compreendo tudo.., Senhor, eu necessito de Ti.


A oração é um dom da graça, mas pressupõe sempre uma resposta decidida da nossa parte, porque o que reza combate contra si mesmo, contra o ambiente e, sobretudo, contra o Tentador, que faz tudo para retirá-lo da oração. O combate da oração é inseparável do progresso da vida espiritual. Reza-se como se vive, porque se vive como se reza” (Compêndio do Novo Catecismo, 572; Novo Catecismo, no.  2725).


Jesus nos convida a perseverar em nossa oração, a dirigir confiadamente nossas súplicas ao Pai. Ele nos recomenda que sejamos persistentes na oração não porque Deus seja surdo e sim porque nós necessitamos perseverar para alcançá-Lo. A natureza humana é geralmente caracterizada pela inconstância. Ficamos desanimados e apavorados diante do primeiro obstáculo que nos é apresentado na conseqüência de nossos projetos e metas. Abandonamos a nave diante do menor indício de tormenta. As coisas fáceis geralmente não são valiosas. Para vencer os obstáculos são necessárias a humildade, a confiança e a perseverança.


Por isso, o evangelista nos convida a crer em nossas aspirações e a fortalecer nosso espírito com a oração constante. O Reino de Deus exige muita qualidade pessoal e muito apoio comunitário que serve sempre de testemunho perseverante.


Se decidirmos cultivar uma atitude perseverante, uma entrega decidida, e uma sobriedade diante das dificuldades, nós veremos que ao término de nosso esforço se encontra a generosa vontade de Deus que nos tem acompanhado desde o início de nossa vida.


Há três verbos, que se encontram no evangelho deste dia, que só os simples praticam: pedir, buscar e chamar. Se nestes três verbos for acrescentado o advérbio “insistentemente” então temos um programa de vida de um verdadeiro seguidor de Cristo.


Pedir supõe reconhecer que não temos tudo daquilo que necessitamos. Pedir é um ato de humildade. E a humildade nos faz crescer na nossa humanidade. É tomar consciência de nossos limites e de nossas limitações, admitir que alguém tenha muito mais coisas do que as que temos. Os mendigos pedem. Os pobres pedem. A presença do humilde, do pobre, do necessitado, na nossa vida, corrige nossa arrogância e acelera nossa humanidade. Eles nos humanizam. Não pedem os auto-suficientes e arrogantes.


Buscar implica experimentar a atração de algo valioso, admitir que há um tesouro pelo qual vale a pena arriscar-se, sentir estimulado pelas perguntas pelas quais não existem respostas pré-fabricadas. Não buscam os que sucumbem à rotina, os desesperançados, os preguiçosos, os que não querem melhorar a qualidade de vida.


Bater a porta ou chamar é dirigir-se a alguém com confiança de que vamos ser escutados. Chamar é invocar uma presença que nos supera e que ao mesmo tempo se encarrega de nós. Não chamam os que temem que não haja nada do outro lado da porta, os que não são preparados para um mundo novo cheio de surpresas de felicidade.


Se Deus nos atender é para nosso bem. Se Deus não nos “atender” para aquilo que pedimos e que achamos que seja importante é também para nosso bem maior. Na Sua sabedoria infinita Deus sabe muito bem daquilo do qual necessitamos. Ser atendido ou “não ser atendido” por Deus é tudo para nosso bem maior e para a glória de Deus. Em tudo temos que agradecer a Deus, pois até na oração Ele nos corrige sobre aquilo que devemos pedir a Ele.


Comparando com os amigos, Jesus quer nos dizer que Deus é para nós um amigo sempre fiel que atende às nossas necessidades e é também o Pai bom. Mas desse Amigo fiel e desse Pai bom não devemos esperar sempre uma resposta idêntica à resposta esperada. Podemos pedir muitas coisas boas que talvez não sejam atendidas. No entanto, tenhamos certeza de que Deus responde sempre com um dom que é superior ao que temos pedido: o Espírito Santo que nos ilumina, purifica, transforma e salva. Com o Espírito Santo que Deus nos concede podemos ter força necessária para enfrentar as dificuldades que entrecruzam nossa existência. Acompanhados por Ele podemos superar as angustias e tudo que nos ameaça. Este é o fruto principal da oração que justifica nossa Constancia e nossa perseverança em sua prática.


A síntese de tudo que nós podemos receber e encontrar é o Espírito Santo, isto é, tudo do que necessitamos para dizer “Abbá”, “Papaizinho nosso no céu” e para reconhecer com nossos lábios nosso coração que Jesus é nosso Senhor. “Se a nossa oração se une à de Jesus, sabemos que Ele nos concede muito mais do que este ou aquele dom: recebemos o Espírito Santo que transforma o nosso coração” (Comp. do Novo Catecismo, 575. Novo Catecismo, 2734-2741).

P. Vitus Gustama,svd

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