terça-feira, 13 de outubro de 2015

15/10/2015
CADA CRISTÃO É PROFETA QUE ANUNCIA E DENUNCIA 

Quinta-Feira da XXVIII Semana Comum

Evangelho: Lc 11,47-54

Naquele tempo, disse o Senhor: 47Ai de vós, porque construís os túmulos dos profetas; no entanto, foram vossos pais que os mataram. 48 Com isso, vós sois testemunhas e aprovais as obras de vossos pais, pois eles mataram os profetas e vós construís os túmulos. 49 É por isso que a sabedoria de Deus afirmou: Eu lhes enviarei profetas e apóstolos, e eles matarão e perseguirão alguns deles, 50 a fim de que se peçam contas a esta geração do sangue de todos os profetas, derramado desde a criação do mundo, 51 desde o sangue de Abel até o sangue de Zacarias, que foi morto entre o altar e o santuário. Sim, eu vos digo: serão pedidas contas disso a esta geração. 52 Ai de vós, mestres da Lei, porque tomastes a chave da ciência. Vós mesmos não entrastes, e ainda impedistes os que queriam entrar”. 53 Quando Jesus saiu daí, os mestres da Lei e os fariseus começaram a tratá-lo mal, e a provocá-lo sobre muitos pontos. 54 Armavam ciladas, para pegá-lo de surpresa, por qualquer palavra que saísse de sua boca.
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Continuamos a acompanhar as Lições do Caminho dadas por Jesus durante sua última viagem para Jerusalém (Lc 9,51-19,28), pois nessa cidade Ele será crucificado, morto e glorificado.


E a passagem do evangelho de hoje nos apresenta a última parte do conjunto de acusações de Jesus (Lc 11,37-54) contra os dirigentes oficiais judeus, os fariseus e os escribas porque eles invertem o valor das coisas. Eles vivem uma vida dupla. São denunciados pela incoerência de sua vida. As palavras de Jesus têm um tom de denúncia e por isso, trata-se de a voz de um profeta.


Nesta ultima parte encontramos os mais terríveis acusações de Jesus, pois a religião dos fariseus não só camufla a morte espiritual, mas também mostra uma oposição radical aos verdadeiros porta-vozes de Deus, pois esses profetas foram assassinados. Não se pode considerar verdadeira uma religião, uma crença que usa de violência contra aos demais seres humanos. Cada verdadeira religião, cada verdadeira Igreja, cada crença verdadeira deve transformar seus adeptos em irmãos e irmãs da humanidade. Cada verdadeira religião, cada verdadeira Igreja deve manter sua função profética contra qualquer injustiça social, contra qualquer desigualdade, contra qualquer violência e assim por diante. Um “Deus” com sede de sangue e de violência e de morte é um “Deus” muito perigoso, pois distorce o Deus verdadeiro do amor, da misericórdia e da comunhão. Temos que derrubar ou acabar com essa imagem de Deus e substitui-la pela imagem do Deus da vida, da paz, da alegria, da liberdade... É preciso passar da religiosidade que entristece e mata o espirito para aquela religiosidade que o dilata, para a espiritualidade que celebra a vida amorosamente, pois Aquele que doou a vida é amor (cf. 1Jo 4,8.16). O que nos salva não é a imagem que temos de Deus e sim o próprio Deus que é amor, misericórdia, e bondade infinita que Jesus nos apresenta através de seu testemunho de vida. Por isso, não podemos falar de Deus sem incluir Jesus, o Deus feito carne (cf. Jo 1,14). Jesus encarna o amor compassivo de Deus. Jesus é imagem vivente de Deus. Jesus não busca a morte e sim a transformação dos corações, pois a imagem que está por trás da vida de Jesus é a imagem do Deus do amor, da compaixão gratuita pelos seres humanos, especialmente, pelos pobres, e oprimidos, marginalizados e excluídos da sociedade. Esse Deus da vida e do amor pede nossa colaboração para que o motor principal da convivência é o amor e assim a vida é preservada e protegida em todos os níveis e instâncias.


A denúncia de Jesus, apesar de conter toda verdade, provoca o ódio feroz nos seus adversários e o próprio Jesus será vítima da própria denúncia a exemplo de Zacarias que denunciava os chefes de Israel que adoravam o rei e seus ídolos, em vez de adorar o verdadeiro Deus. Zacarias foi apedrejado até a morte por causa da denúncia profética feita por ele (2Cr 24,17-27).  Os que discutem mais que defendem a verdade, utilizam mais as desculpas que os argumentos, não se preocupam com a verdade, mas com seu próprio triunfo”, dizia Santo Agostinho (Epist. 238,2).


Mas a verdade vencerá, e o tempo vai mostrar toda a verdade. Dia virá, indeterminado, porém seguro, em que Deus pedirá contas da consciência que destruímos, da pobreza que geramos e das vidas que prejudicamos, do sangue de todos os profetas que derramamos, de todos os inocentes, sacrificados aos interesses humanos em virtude da inteligência mal empregada e da defesa de uma lei supostamente sagrada. O sagrado é o próprio ser humano, pois ele é o templo de Deus (cf. 1Cor 3,16-17; cf. Mt 25,40.45).


Ai de vós, porque construís os túmulos dos profetas; no entanto, foram vossos pais que os mataram. Com isso, vós sois testemunhas e aprovais as obras de vossos pais, pois eles mataram os profetas e vós construís os túmulos. (...) Sim, eu vos digo: serão pedidas contas disso a esta geração” (Lc 11, 47-48. 51b).


Os escribas crêem honrar os profetas assassinados fazendo-lhes esplêndidos sepulcros. Ou seja, os fariseus estão dispostos a honrar os profetas mortos, mas não fazem caso para os profetas vivos. Eles tratam os profetas de seu tempo igual ao tratamento que os seus antepassados faziam contra os verdadeiros profetas. Em outras palavras, na realidade, eles seguem o mesmo caminho (eles vão matar Jesus). Eles matarão Jesus em nome de sua interpretação sobre a lei. Possuidores da chave da ciência eles fecham o caminho da salvação aos que confiam neles e os seguem como guias. Eles preferem seus próprios caminhos ao caminho de Deus.


Ao denunciar a perseguição e a morte dos profetas antigos, Jesus denuncia antecipadamente a injustiça praticada contra Ele, no futuro próximo, exatamente, por aqueles que buscam agradar a Deus e cultivam uma suposta santidade. Isto nos mostra que a recitação de um credo e a prática do culto sem o compromisso de uma conduta coerente eticamente é um ópio que adormece a própria consciência. É um grande alerta a todos que se dizem religiosos ou fieis para que a prática religiosa não seja mais importante do que o próprio Deus e o próximo.


Que falta que os profetas nos fazem! E o Evangelho insiste: os profetas foram perseguidos, acusados e derramaram seu sangue, foram assassinados (Lc 11,49). O mundo precisa verdadeiramente dos homens e das mulheres que profetizam, isto é, que anunciam o bem e denunciam o mal e tudo que é desumano. Em um lugar e em um tempo em que carece o transcendente, o divino; em um tempo onde tantos filhos de Deus, os inocentes estão maltratados e crucificados pela fome, pela exploração, pela injustiça, pela desesperança, em um lugar onde a verdade é silenciada e distorcida, somente as vozes proféticas podem dizer algo transparente, crível capaz de chegar até o coração de cada pessoa para transformá-lo em um coração sincero, em um coração de irmão. Se nos faltarem os profetas, o testemunho cristão será opaco, sua voz será inexpressiva, suas atividades serão infecundas e frustrantes. São Paulo nos adverte: “Não extingais o Espírito; não desprezeis as profecias. Discerni tudo e ficai com o que é bom. Guardai-vos de toda espécie de mal” (1Ts 5,19-22). Necessitamos de profetas dentro da própria Igreja e fora dela da mesma forma.


Ai de vós, mestres da Lei, porque tomastes a chave da ciência. Vós mesmos não entrastes, e ainda impedistes os que queriam entrar”.


Os escribas dominam as Sagradas Escrituras. Possuidores da chave da ciência, os escribas fecharam a salvação aos que põem neles sua confiança e os seguem como guias. Eles preferem os próprios caminhos ao caminho de Deus. Mas não basta compreender a Palavra de Deus. É preciso abrir toda essa riqueza para que seja desfrutada por todos. Deus nos confiou a riqueza de Seu amor, de Sua vida, de Seu perdão, de Sua salvação não para que escondamos e sim para que todos conheçam toda essa riqueza a fim de que sua vida tenham sentido apesar de tudo, como a perseguição. Não basta construir templos. É necessário viver o Evangelho. É necessário que a salvação seja parte de nossa própria vida de cada dia. A fé nos move para que mudemos nossos critérios de acordo com a Palavra de Deus a fim de que sejamos sinais do amor de Deus para os demais.


Nós nos reunimos em torno de Cristo na celebração de Seu mistério pascal para assumirmos nossa própria responsabilidade. Quem somente participa (= assistir) da missa sem nenhuma capacidade de produzir fruto, se faz responsável, não somente, da morte de Jesus, mas também do mal que continua dominando muitos ambientes de nosso mundo.


Não basta construir templos, casas de assistência social, fundar clubes ou associações de ajuda solidária. É necessário viver o Evangelho. É necessário confessar Jesus Cristo. Na sua primeira homilia, logo depois de sua eleição, o Papa Francisco disse: “Podemos caminhar o que quisermos, podemos edificar um monte de coisas, mas se não confessarmos Jesus Cristo, está errado. Tornar-nos-emos uma ONG sócio-caritativa, mas não a Igreja, Esposa do Senhor... Quando não se confessa Jesus Cristo, faz-me pensar nesta frase de Léon Bloy: ‘Quem não reza ao Senhor, reza ao diabo’. Quando não confessa Jesus Cristo, confessa o mundanismo do diabo, o mundanismo do demônio”. A Igreja de Cristo não pode ficar na somente promoção social como uma filantropia. Mas é necessário fazer que a salvação faça parte de nossa própria vida para que possamos levá-la também aos demais. Entendemos agora que a fé é um chamado para colaborar com Deus na erradicação do mal para que vivamos na fraternidade onde um cuida do outros e o protege de qualquer mal. Quando exercia sua função de teólogo, o Papa Bento XVI escrevia sobre a Sexta-Feira Santa: “Pode-se rezar honradamente, se não se faz algo para limpar o sangue dos que sofrem e enxugar as lagrimas dos que choram? Não é o gesto de Verônica o primeiro que deve ser feito para poder falar de oração?”.

P. Vitus Gustama,svd

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