segunda-feira, 16 de novembro de 2015


19/11/2015

PRANTO DE JESUS  E CHAMADA À CONVERSÃO


Quinta-Feira da XXXIII Semana Comum


Evangelho: Lc 19,41-44


Naquele tempo, 41 quando Jesus se aproximou de Jerusalém e viu a cidade, começou a chorar. E disse: 42 “Se tu também compreendesses hoje o que te pode trazer a paz! Agora, porém, isso está escondido aos teus olhos! 43 Dias virão em que os inimigos farão trincheiras contra ti e te cercarão de todos os lados. 44 Eles esmagarão a ti e a teus filhos. E não deixarão em ti pedra sobre pedra. Porque tu não reconheceste o tempo em que foste visitada”.
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Acompanhávamos Jesus no seu caminho da Galiléia para Jerusalém escutando suas ultimas lições para todos nós, Seus seguidores (Lc 9,51-19,28). Jerusalém é a meta da viagem ou do caminho de Jesus onde ele vai sofrer, será morto e ressuscitado. De Jerusalém ele vai enviar os discípulos para o mundo inteiro (cf. At 1,8). Durante essa viagem muitos foram curados, muitos se converteram e seguiram a Jesus.




Jesus chegou, finalmente, em Jerusalém depois de uma longa viagem durante a qual instruiu com profundidade seus discípulos através de vários ensinamentos. Por isso, trata-se de uma viagem com uma longa catequese de Jesus para os discípulos e conseqüentemente trata-se de uma catequese para a Igreja posterior.




Ao aproximar-se da cidade de Jerusalém (cidade da paz) e vê-la, Jesus derramou as lágrimas. “A lágrima é a mensageira da saudade, é o relicário da prece, é a cristalização da mágoa. É imortal, porque deriva da alma. É a água, porque não seca. A lágrima, água do coração, é salgada porque vem de um oceano sem praias que é o desespero, estrela porque demanda o céu (Coelho Neto). Maria Madalena chorava do lado de fora do túmulo de Jesus (cf. Jo 20,11-18). São Carlos Borromeu chorava diante do Crucifixo. Santo Inácio de Loyola, no seu diário espiritual, anota quase todos os dias: lágrimas, lagrimas, lagrimas durante a missa, durante a ação de graças. São dons de intensa emoção religiosa pela percepção da verdade e os outros aspectos da vida. As lagrimas são um meio pelo qual podemos expressar perfeitamente nossa tristeza como também nossa alegria, duas emoções fortes as quais nenhuma língua humana capaz de expressar com exatidão; somente com lágrimas! As lágrimas de Jesus são lagrimas de um profeta. E são essas as lágrimas das quais fala o profeta Isaias: “O Senhor DEUS enxugará as lágrimas de todas as faces e, pela terra inteira, eliminará os vestígios da desonra do seu povo. Foi o SENHOR quem falou!” (Is 25,8; cf. Ap 21,4). O texto do evangelho lido hoje está em continuidade com Lc 13,34-35. São dois textos proféticos sobre a  denúncia contra Jerusalém.




Jesus chora por sua cidade, Jerusalém, que fica cega diante da graça de Deus e da sua visita. As lágrimas de Jesus são lágrimas de compaixão e lágrimas de impotência, mas também de indignação. Jesus fez todo o possível pela paz da cidade (Lc 13,34-35), no entanto Jerusalém quis ou quer manter uma vida sem rumo, uma vida sem salvação, uma vida sem fraternidade, uma vida de destruição. Jesus chora por isso: “Ah (Jerusalém)! Se neste dia também tu conhecesses a mensagem de paz! Agora, porém, isso está escondido a teus olhos. Pois dias virão  sobre ti, e os teus inimigos te cercarão com trincheiras, te rodearão e te apertarão por todos os lados. Deitarão por terra a ti e a teus filhos no meio de ti, e não deixarão de ti pedra sobre pedra, porque não reconheceste o tempo em que foste visitada!” (Lc 19,42-44). “É necessário ter o coração colocado bem alto para derramar certas lágrimas; a nascente dos grandes rios encontra-se no cume dos montes que avizinham o céu” (Chateaubriand).




O poder de Deus se fez amor e debilidade em Jesus. Mas esse poder chocou contra a dureza do coração humano. Deus prefere chorar de impotência em Jesus a privar o homem de sua liberdade. Esse pranto, no entanto, é um apelo à conversão.  Aceitar Jesus é o caminho para a paz. Mas em um coração duro jamais pode habitar a paz do Senhor. Somente em Jesus está a salvação (At 4,12). O céu é uma certeza, enquanto que o inferno é apenas uma possibilidade para o ser humano.




Hoje em dia podemos nos perguntar se Jesus não choraria com indignação profética ao ver nossas cidades cheias de violência e corrupção, cheias de anônimos, cheias de desempregados e drogados, cheias de moradores de rua que não mais nos incomodam, cheias de mendigos diante dos quais passamos adiante, cheias de escolas sucateadas, cheias de hospitais sem leitos e sem médicos... Será que Jesus não choraria ao ver nosso mundo atual com tanta exploração da vida alheia e ao ver nossa Igreja sem coração e sem amor? Será que Jesus não choraria ao ver Sua Igreja sem renovação para ser mais uma Igreja misericordiosa e missionária? Precisamos nos perguntar se Jesus choraria com indignação profética ao ver nossa incapacidade de perdoar, ao ver nossa insensibilidade humana incapaz de ajudar o necessitado, ao ver nossa incapacidade de compreender a fraqueza do outro, ao saber de nosso julgamento sem piedade sobre os outros, ao ver as famílias que não educam mais seus filhos sobre os valores humanos e eternos, ao ver as traições em todos os setores da vida, ao ver muitas pessoas com tanta libertinagem, ao ver tantas pessoas que não querem mais se comprometer para o bem maior por medo de perder o “sossego”. Precisamos nos perguntar se Jesus choraria ao saber de nosso desespero por falta de fé nele, de nossa falta de esperança, de nossa falta de amor e de misericórdia. Será que Jesus não choraria ao ver nosso modo não-cristão de viver com os demais? Será que hoje somos capazes de conhecer e de reconhecer o que pode ou possa nos trazer a paz? Será que conhecemos o tempo da visita da graça de Deus na nossa vida? Creio que Jesus choraria por tudo isso! Mas o pranto de Jesus é um apelo à conversão. Lembremo-nos, mais uma vez, de que o céu é certeza. O inferno é uma possibilidade. O inferno é o ponto alto de um processo de negação ao amor e por isso, a Deus, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16; cf. Jo 13,34-35; 15,12).




O que tem por trás do pranto de Jesus é a chamada urgente à conversão. Quando a Bíblia fala de conversão, isso envolve a pessoa toda, não apenas seu senso moral ou sua capacidade intelectual ou sua vida espiritual. Corpo, mente e alma juntos são afetados pelo ato da conversão, e as consequências são sentidas em todos os aspectos da vida da pessoa, inclusive no campo social e político. Toda conversão envolve mudança. Opõe-se à manutenção do status quo. É o movimento de uma dimensão para outra dimensão. Nunca somos convertidos definitivamente. A conversão é o trabalho silencioso de cada dia até cessar nossa respiração aqui nesta terra.




Em cada Eucaristia que celebramos e da qual participamos o Senhor se converte em uma nova oportunidade para nós, pois Ele vem nos visitar para habitar entre nós (Jo 1,14; cf. Jo 6,56-57). Jesus quer que sejamos convertidos num instrumento de seu amor para todos os homens, num instrumento de construtores da paz para que a fraternidade seja possível. Por isso, temos que escutar sua Palavra com atitude de seguidores fiéis, que não somente entendem a mensagem de Deus e sim que sejam os primeiros em vivê-la. Por ai é que Jesus vai parar de chorar sobre nós. E para nós a paz voltará ao nosso coração.


P. Vitus Gustama,svd

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