sexta-feira, 20 de novembro de 2015

24/11/2015
TUDO QUE É HISTÓRICO CONHECE SEU FIM, MAS QUEM ESTÁ COM DEUS VIVE PARA SEMPRE


Terça-Feira da XXXIV Semana Comum


Evangelho: Lc 21,5-11


Naquele tempo, 5 algumas pessoas comentavam a respeito do Templo que era enfeitado com belas pedras e com ofertas votivas. Jesus disse: 6 “Vós admirais estas coisas? Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído”. 7 Mas eles perguntaram: “Mestre, quando acontecerá isto? E qual vai ser o sinal de que estas coisas estão para acontecer?” 8 Jesus respondeu: “Cuidado para não serdes enganados, porque muitos virão em meu nome, dizendo: ‘Sou eu!’ E ainda: ‘O tempo está próximo’. Não sigais essa gente! 9 Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não fiqueis apavorados. É preciso que estas coisas aconteçam primeiro, mas não será logo o fim”. 10 E Jesus continuou: “Um povo se levantará contra outro povo, um país atacará outro país. 11 Haverá grandes terremotos, fomes e pestes em muitos lugares; acontecerão coisas pavorosas e grandes sinais serão vistos no céu”.
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A partir de hoje até o próximo sábado lemos o “discurso escatológico” de Jesus que se encontra em Lc 21,5-36: fala-se dos acontecimentos futuros e os que se relacionam ao fim.


Como os dois outros evangelhos sinóticos (Mt 24-25; Mc 13), também o evangelho de Lucas encerra a atividade de Jesus em Jerusalém (Lc 19,29-21,38), antes de sua prisão, com o discurso sobre o fim ou discurso escatológico (Lc 21,5-36). Em seu lugar atual na tradição sinótica esse discurso é considerado como um discurso de despedida de Jesus que deixa à sua comunidade os últimos conselhos e advertências. Para Lucas a destruição de Jerusalém era um fato e as perseguições à comunidade primitiva uma realidade. Tanto Mateus como Lucas inspiram seu discurso escatológico do evangelho de Marcos capítulo 13.


No texto do evangelho deste dia, o evangelista Lucas nos relatou que alguns discípulos de Jesus comentaram sobre a beleza do Templo pela qualidade da pedra (mármores) e das doações dos fiéis.


Nos tempos de Jesus, o Templo era recém-edificado. Sua construção começou 19 anos (dezenove anos) antes de Cristo. O Templo de Jerusalém era considerado uma das sete maravilhas do mundo antigo. Seus mármores, seu ouro e toda a ornamentação eram admirados pelos peregrinos.


Diante da admiração dos discípulos Jesus pronuncia algo profético: “Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra”.  Nesse mesmo lugar foi construído o Templo por Salomão até o ano 1.000 a.C e destruído por Nabuconosor em 586 a.C. Logo em seguida foi construído outro Templo por Zorobabel em 516 a.C. O Templo contemporâneo de Jesus foi destruído por Tito em 70 d.C e foi construído novamente em 687 por Mesquita de Omar no mesmo local.


“Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra. Tudo será destruído” é a resposta de Jesus diante da admiração dos discípulos pela beleza do Templo. Deus não olha para as belas e as preciosas dádivas. Deus procura o povo que O aceite para que todos convivam como uma família cujos membros cuidam uns dos outros. Onde Deus for expulso, entram as agressões, violência, violação de direitos, exploração e assim por diante.


Quando Jesus afirmou: “Tudo será destruído”, algumas pessoas perguntaram sobre o quando desse acontecimento: “Mestre, quando acontecerá isto? E qual vai ser o sinal de que estas coisas estão para acontecer?”. Em Mc a pergunta é sobre o fim do mundo (Mc 13,4). Em Lc, a pergunta é sobre o fim do Templo. A maioria dos movimentos judeus populares na época de Jesus acreditava que o mundo se aproximava para seu fim. Para eles era iminente uma inevitável catástrofe universal. Todos viviam agitados.


Para Lucas a destruição do Templo (Jerusalém) não pertence aos acontecimentos escatológicos. A destruição do Templo já tinha acontecido. O fim do mundo, no entanto, ainda não aconteceu.


Para Jesus, o importante não era a data em que o mundo haveria de sucumbir. Para ele o importante era a finalidade deste mundo: “Para que estamos aqui neste mundo? O que podemos e devemos fazer para melhorar nossa convivência? O que podemos fazer para ser úteis para os demais? O que quer Deus de mim, de nós? Para que eu estou no mundo? Qual é o destino da humanidade? Qual será meu fim? Para onde a vida vai nos levar? Será que a vida termina com a morte?. Será que Deus nos criou por acaso ou por uma causa? Então, será que estou no mundo por acaso ou por uma causa? Qual esta causa?”. Para Jesus o tempo presente e o futuro se abriam como esperança: era o tempo definitivo da salvação com Sua presença. Era preciso ter uma mudança de mentalidade para mudar a maneira de viver. É preciso olhar para o alto (Deus) para podermos entender tudo que se passa no mundo e para que nossa vida ou maneira de viver seja ordenada. Em cada momento cada pessoa é chamada a transformar o mundo de morte num mundo de vida. Cada um nasceu para ser mensageiro de Deus neste mundo ou para ser o sinal da presença de Deus neste mundo. Por isso, cada ser humano deve ficar atento permanentemente para os apelos de Deus diariamente.


Dias virão em que não ficará pedra sobre pedra”. Símbolo da fragilidade, da caducidade das mais esplêndidas obras humanas.  Precisamos refletir sobre a grande fragilidade de todas as coisas, sobre “minha” fragilidade, sobre a brevidade da beleza e da vida na história. Todos têm olhar para a verdade desta realidade, pois tudo será destruído. O que embeleza a vida humana são os valores como o amor, a bondade, a solidariedade, respeito pela vida, perdão mútuo etc. Tratam-se de valores que dignificam a vida humana e que nos levam à comunhão com Deus de amor (cf. 1Jo 4,8.16). Por isso é que São Paulo nos consola: “Sabemos que, se a nossa morada terrestre, esta tenda, for destruída, teremos no céu um edifício, obra de Deus, morada eterna, não feita por mãos humanas” (2Cor 5,1). O próprio Jesus nos promete: “Na casa de meu Pai há muitas moradas... vou preparar-vos um lugar e quando vos for preparado um lugar, virei novamente e vos levarei comigo a fim de que onde eu estiver, estejais vós também” (Jo 14,2-3). O que não será destruído são os valores.


Se tudo for destruído (menos os valores), então, somos chamados a estar vigilantes. Somos chamados a viver com sabedoria, com prudência, com fraternidade, com justiça, com verdade, com caridade, com compaixão, com amor, com fé e esperança que são valores que permanecem e que nos salvam. Quando tudo for destruído, estes valores permanecerão. A beleza sólida destes valores permanecerá, mesmo quando tudo o mais estiver reduzido a escombros. Se tudo o que é terreno será destruído, então, devemos temer perder Jesus, ser afastados dele eternamente, ser privados do seu amor e do seu coração. Somos chamados a amar um bem inefável, um bem benéfico, o Bem que cria todos os bens.


Cada cristão, como templo de Deus (cf. 1Cor 3,16-17), adornado com as belas pedras das virtudes cristãs, pode e deve perseverar no bem, resistindo às diversas provações e tentações. Nós cristãos temos um dever de ler os sinais dos tempos e de fazer um verdadeiro discernimento do bem e do mal, do verdadeiro e do falso, para não nos deixar enganar pelos falsos profetas e afastar do seguimento de Jesus Cristo, o único Salvador. Concretamente, devemos viver cada dia sob o influxo do Espírito de Deus, deixando-nos guiar pelos Seus dons, irradiando os Seus frutos, exercendo os Seus carismas, vivendo as bem-aventuranças (Cf. Mt 5,1-12).


Portanto, cada dia nós temos que voltar a começar de novo nossa história, pois cada dia é o tempo de salvação, se estivermos conscientes da provisoriedade da vida humana na história. Mas fazer a história com Deus é fazer a história de salvação. Vamos viver um dia de cada vez de maneira mais profunda para que, se Deus permitir, possamos viver o dia seguinte de maneira nova, pois trata-se de um novo dia de nossa vida (cf. Mt 6,25-34). Jamais podemos viver mais de dois dias de cada vez para que a angústia e a preocupação exagerada não nos dominem. Confiemos em Deus o nosso hoje!




“Sem sentido, a vida humana se degenera. A pessoa humana não só quer viver como quer também saber por que vive... É possível viver passando por muitas dificuldades quando se acredita que ainda há alguém ou alguma coisa por que valha a pena viver. A comida, a bebida, a casa, o descanso, a amizade e muitas outras coisas são essenciais para a vida. Mas também o é o sentido! É notável como grande parte da nossa vida é vivida sem refletirmos no seu sentido. Não é, pois, nenhuma surpresa que tantas pessoas andem sempre ocupadas e, no entanto, levem uma vida insípida! Têm muito que fazer e andam sempre numa correria para acabar de fazer tudo, mas, por trás desta atividade febril, com frequência, perguntam a si mesmas se realmente acontece alguma coisa. Uma vida sobre a qual não se reflita perde eventualmente o sentido e torna-se chata... Se tivermos a Bíblia e os nossos livros espirituais numa das mãos e o jornal na outra, acabaremos sempre por descobrir novas perguntas, mas descobriremos também uma forma de as viver fielmente, esperando que, pouco a pouco, a resposta nos seja revelado  (Henri J. M. Nouwen)


P. Vitus Gustama,svd

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