sábado, 21 de novembro de 2015

26/11/2015

VIVER NA VIGILÂNCIA E NA ESPERANÇA PARA DECIFRAR O SENTIDO DOS ACONTECIMENTOS


Quinta-Feira da XXXIV Semana Comum


Evangelho: Lc 21,20-28


20“Quando virdes Jerusalém cercada de exércitos, ficai sabendo que a sua destruição está próxima. 21Então, os que estiverem na Judeia, devem fugir para as montanhas; os que estiverem no meio da cidade, devem afastar-se; os que estiverem no campo, não entrem na cidade. 22Pois esses dias são de vingança, para que se cumpra tudo o que dizem as Escrituras. 23Infelizes das mulheres grávidas e daquelas que estiverem amamentando naqueles dias, pois haverá uma grande calamidade na terra e ira contra este povo. 24Serão mortos pela espada e levados presos para todas as nações, e Jerusalém será pisada pelos infiéis, até que o tempo dos pagãos se complete. 25Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na terra, as nações ficarão angustiadas, com pavor do barulho do mar e das ondas. 26Os homens vão desmaiar de medo, só em pensar no que vai acontecer ao mundo, porque as forças do céu serão abaladas. 27Então eles verão o Filho do Homem, vindo numa nuvem com grande poder e glória. 28Quando estas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima”.
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Quando lemos a Bíblia e fazemos uma leitura crítica percebemos que cada destruição que aconteceu sempre traz alguma lição para a humanidade para nos dizer que o homem pode se considerar prepotente, mas será destruído do mesmo jeito como qualquer outra criatura humana de qualquer classe social criada pela própria humanidade. Na história de Sodoma e Gomorra (cf. Gn 19) a maldade humana chegou ao extremo. Por isso, a destruição dessa duas cidades simboliza o fim da maldade humana. A maldade não é eterna e não tem futuro nenhum, e por isso, não vale nem um pouco investir nela. Quem investir nela, será destruído para sempre. A maldade nenhuma dá segurança e paz. Somente um coração fraterno vê no outro nosso irmão e por isso, jamais faremos o mal ou a maldade contra ele. Do mesmo jeito, a queda de Samaria (722 a.C) foi fruto da idolatria, pois a população trocou o verdadeiro Deus pelos ídolos. Nenhum ídolo é capaz de salvar a humanidade, mas somente Deus. Quem corre atrás de ídolos, corre atrás da destruição. Quem segue a Jesus, encontrará a salvação. Aconteceu a mesma coisa com a destruição de Jerusalém. Jerusalém era o centro religioso, econômico e político. A cidade da paz (Jerusalém) se transformou em lugar de grande exploração, especialmente dos mais pobres (cf. Jo 2,13-25). O lugar de Deus foi tomado pelos exploradores dos irmãos.


Em outras palavras, nenhum império, nenhum poder, nenhuma pessoa que se considerava prepotente sobrevive. Vale a pena ser arrogante, prepotente? A resposta cristã é NÃO! A arrogância é uma maneira de não reconhecer ou não aceitar os próprios defeitos e fraquezas, pois o arrogante só quer viver na aparência e vive mendigando louvores alheios. Qualquer arrogante é uma pessoa solitária e no fim vai morrer na solidão.




Ser Fiel Na Vivência Dos Ensinamentos De Jesus


Estamos ainda no discurso escatológico (sobre o fim) ou apocalíptico (porque quer revelar algo além do acontecimento) na versão de Lucas. Desta vez o evangelista Lucas nos descreve a destruição da cidade de Jerusalém e o Templo e suas tremendas conseqüências.


A destruição de Jerusalém (e o Templo de Jerusalém) aconteceu em 70 d.C. “Quando virdes Jerusalém cercada de exércitos...”. A palavra “cercada” aqui literalmente significa “acampamentos”. Os acampamentos que cercam Jerusalém são os de Tito, comandante das legiões romanas, enviadas para sufocar e acabar com a rebelião judaica. O perigo é muito grande porque se trata de um período designado como “dias de vingança” (Lc 21,22. Alude ao Os 9,7). Essa guerra catastrófica termina com a destruição da cidade e do Templo de Jerusalém em agosto de 70 d.C. sob as legiões romanas do imperador Tito (79 d.C.- 81 d.C.). E a segunda no ano 135 d.C. nos tempos do imperador Adriano (117 d.C. -138 d.C.). Segundo alguns especialistas, muitos cristãos realmente conseguiram fugir da cidade quando as tropas romanas se aproximaram de Jerusalém.


Segundo os exegetas o evangelho de Lucas foi escrito depois dos anos 70 (em torno do ano 85 depois de Cristo). Isto significa que a destruição de Jerusalém já tinha acontecido. Lucas considera a destruição de Jerusalém como o fim de uma etapa da historia da salvação e por isso, não é o sinal da chegada do momento final (escatologia).


Lucas aproveita o acontecimento da destruição de Jerusalém para falar da vinda do Filho do Homem no fim dos tempos (parusia) a fim de que todos vivam vigilantes e preparados, pois a segunda vinda do Senhor (parusia) é certa, mas o momento é incerto, pois essa vinda vem como ladrão sem avisar (cf. Mt 24,43; Lc 12,39; 1Ts 5,2; 2Pd 3,10; Ap 3,3). É preciso viver o momento presente com uma visão do futuro. O próprio futuro está no presente. Nossa vida se move no presente entre uma história (passado) e um projeto (futuro). Aprendemos das lições do passado com otimismo e desejo de superação. Como escreveu o filósofo Sören Kiekergaard: “A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás. Mas só pode ser vivida olhando-se para frente”. Sobretudo, aprendemos a viver intensamente o presente, o único instante que temos em nossas mãos para construir. Não podemos perder o presente lamentando-nos pelos erros do passado e muito menos ainda, temendo o que pode chegar a ser no futuro. O melhor caminho para afrontar o futuro é aproveitar o momento presente: “No mundo tereis tribulações, mas tende coragem: Eu venci o mundo!”, diz-nos Jesus (Jo 16,33b).


Por isso, a finalidade desse discurso não é para descrever os acontecimentos que precederão o fim e sim para encorajar os cristãos a viverem de acordo com os ensinamentos de Cristo apesar das dificuldades, provações e perseguições. “É pela perseverança que mantereis vossas vidas”, lembra-nos o Senhor (Lc 21,29b). A Palavra de Deus vai ser a ultima palavra para a humanidade e não a palavra do homem.  


Por isso, outro objetivo deste tipo de discurso é motivar a esperança e a perseverança. Quando houver a esperança, haverá também a perseverança, isto é, a capacidade de resistir diante de qualquer obstáculo ou dificuldade para alcançar a esperança desejada. A esperança cristã tem um nome próprio: Jesus Cristo. Jesus é o penhor da libertação do homem. O cristão não está sozinho, e sim está com o Senhor da história diante de Quem não existe o impossível, pois a extremidade do homem é a oportunidade de Deus.




Um Alerta para Estar Despojado




“Ai daquelas mulheres que estiverem grávidas e que estiverem amamentando naqueles dias” (Lc 21,23), clama o Senhor ao contemplar o fim do mundo.


Esta exclamação significa muito mais do que uma simples compaixão humana por aquelas mulheres desamparadas. Para o Senhor que contempla e adverte, elas se tornam imagem e tipo daqueles que para os quais o fim do mundo ou o fim de uma história vai surpreender no preciso instante em que não se sentirão livres para poder seguir a voz do Senhor e sair ao encontro da eternidade feliz. Seus pés não são fortalecidos para seguir o caminho da cruz que termina na ressurreição. Pesa sobre seus ombros a carga do falso reino deste mundo. Seus braços abraçam as alegrias caducas de um mundo condenado a perecer. Não conhecem a linguagem dos sinais celestes. São escravos das próprias paixões que os fazem amarrados e cegos diante da eternidade.


Vale a pena cada um se perguntar: “O que é que me pesa no encontro derradeiro com o Senhor no fim da minha história? E o que é que me amarra que dificulta minha caminhada ao encontro do Senhor no fim da minha vida?”. Quem carrega coisas caducas acaba dificultando o próprio vôo até Deus. É preciso ter as “asas” livres do Senhor para voar com liberdade.




Uma Mensagem de Consolo e de Esperança


Quando essas coisas começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima” (Lc 21,28).


O anúncio de Jesus sobre o fim do mundo ou sobre o fim da história de cada um de nós não é um anúncio que quer entristecer e sim animar: “… levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima”. Todos nós somos convidados a ter confiança na vitória de Cristo Jesus: “O Filho do Homem vem numa nuvem com poder e glória” (Lc 21,27). Seja no momento de nossa morte, que não é final e sim início de uma nova maneira de existir, muito mais plena. Seja no momento do final da história, basta estar com Cristo e permanecer nele, ele virá não na humildade e pobreza de Belém e sim na glória e majestade, sinal de sua vitória sobre a morte. Ele já atravessou na sua Páscoa a fronteira da morte e inaugurou para si e para nós a nova existência, os novos céus e a nova terra.


A glória de Jesus se irradia através de todos os portadores da paz e da bondade, através de todos os homens e mulheres que trabalham para construir uma sociedade mais justa e honesta, que põem seus talentos e potencialidades a serviço dos marginalizados e desamparados. É a outra História que se escreve dia após dia, não com letras de molde nem com slogans televisivas, mas com atos de serviço. É a história de salvação. É a história com Deus. É a historia que humaniza. E por isso, é a história que diviniza o humano.


Precisamos fazer este tipo de história para que o Senhor possa vir na sua glória ao nosso encontro. Neste dia ouviremos o Senhor nos dizer: “… levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima!” (Lc 21,28). Que Deus nos conceda a graça de passar nossa vida fazendo sempre o bem para todos, e que isso façamos não por simples filantropia e sim porque amamos nosso próximo, nosso semelhante e imagem viva de Deus como o Senhor nos amou. “No entardecer de nossa vida seremos julgados sobre o amor” (São João da Cruz).


Nossa vida se move no presente entre uma história (passado) e um projeto (futuro). Aprendemos das lições do passado como otimismo e desejo de superação. Mas, sobretudo, aprendemos a viver intensamente o presente, o único instante que temos em nossas mãos para construir. Não podemos perder o presente lamentando-nos pelos erros do passado e muito menos ainda, temendo o que pode chegar a ser no futuro. O melhor caminho para afrontar o futuro é aproveitar o momento presente: “No mundo tereis tribulações, mas tende coragem: Eu venci o mundo!”, diz-nos Jesus (Jo 16,33b).


Durante esta semana a liturgia, preparando-nos para o Advento, vai-nos colocando numa espera atenta da vinda do Salvador. Esperamos, de alguma maneira, o que já possuímos. E esta esperança é tão certa como as mesmas intervenções de Deus na história do Seu povo.


Se quiser triunfar na vida, faça da PERSEVERANÇA a sua melhor amiga; da EXPERIÊNCIA, o seu sábio conselheiro; da PRUDÊNCIA, o seu irmão mais velho; e da ESPERANÇA, o seu anjo guardião (Joseph Addison, poeta inglês, 1672-1719).

P. Vitus Gustama,svd

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