sábado, 23 de janeiro de 2016

30/01/2016



TENHAMOS FÉ NO SENHOR EM TODOS OS MOMENTOS!


Sábado Da III Semana Do Tempo Comum


Primeira Leitura: 2Sm 12,1-7a.10-17


Naqueles dias, 1 o Senhor mandou o profeta Natã a Davi. Ele foi ter com o rei e lhe disse: “Numa cidade havia dois homens, um rico e outro pobre. 2 O rico possuía ovelhas e bois em grande número. 3 O pobre só possuía uma ovelha pequenina, que tinha comprado e criado. Ela crescera em sua casa junto com seus filhos, comendo do seu pão, bebendo do mesmo copo, dormindo no seu regaço. Era para ele como uma filha. 4 Veio um hóspede à casa do homem rico, e este não quis tomar uma das suas ovelhas ou um dos seus bois para preparar um banquete e dar de comer ao hóspede que chegara. Mas foi, apoderou-se da ovelhinha do pobre e preparou-a para o visitante”. 5 Davi ficou indignado contra esse homem e disse a Natã: “Pela vida do Senhor, o homem que fez isso merece a morte! 6 Pagará quatro vezes o valor da ovelha, por ter feito o que fez e não ter tido compaixão”. 7ª Natã disse a Davi: “Esse homem és tu! Assim diz o Senhor, o Deus de Israel: 10 Por isso, a espada jamais se afastará de tua casa, porque me desprezaste e tomaste a mulher do hitita Urias para fazer dela a tua esposa. 11 Assim diz o Senhor: Da tua própria casa farei surgir o mal contra ti e tomarei as tuas mulheres, sob os teus olhos, e as darei a um outro, e ele se aproximará das tuas mulheres à luz deste sol. 12 Tu fizeste tudo às escondidas. Eu, porém, farei o que digo diante de todo o Israel e à luz do sol”. 13 Davi disse a Natã: “Pequei contra o Senhor”. Natã respondeu-lhe: “De sua parte, o Senhor perdoou o teu pecado, de modo que não morrerás! 14 Entretanto, por teres ultrajado o Senhor com teu procedimento o filho que te nasceu morrerá”. 15 E Natã voltou para a sua casa. O Senhor feriu o filho que a mulher de Urias tinha dado a Davi e ele adoeceu gravemente. 16 Davi implorou a Deus pelo menino e fez um grande jejum. E, voltando para casa, passou a noite deitado no chão. 17 Os anciãos do palácio insistiam com ele para que se levantasse do chão; mas ele não o quis fazer nem tomar com eles alimento algum.


Mc 4,35-41


35Naquele dia, ao cair da tarde, Jesus disse a seus discípulos: “Vamos para a outra margem!” 36Eles despediram a multidão e levaram Jesus consigo, assim como estava na barca. Havia ainda outras barcas com ele. 37Começou a soprar uma ventania muito forte e as ondas se lançavam dentro da barca, de modo que a barca já começava a se encher. 38Jesus estava na parte de trás, dormindo sobre um travesseiro. Os discípulos o acordaram e disseram: “Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?”  39Ele se levantou e ordenou ao vento e ao mar: “Silêncio! Cala-te!” O vento cessou e houve uma grande calmaria. 40Então Jesus perguntou aos discípulos: “Por que sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?”  41Eles sentiram um grande medo e diziam uns aos outros: “Quem é este, a quem até o vento e o mar obedecem?”
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Depois da série de parábolas, Marcos aborda uma série de milagres (Mc 4,35-5,43). Os quatro milagres citados aqui não foram feitos na presença da multidão e sim diante dos discípulos para sua educação.


A imagem de Jesus que contemplamos na leitura dos quatro milagres é esta: Jesus tem um poder supremo sobre as forças da natureza (Mc 4,35-41) e derrota uma legião de demônios (Mc 5,1-20); cura e salva uma mulher e vence a morte (Mc 5,21-43). Os dois últimos milagres se entrecruzam no relato. Ao relatar esses milagres Marcos quer nos transmitir uma certeza: Só Jesus pode salvar. Entram aqui os temas da fé e da salvação. Por isso, Marcos não se limita a contar os milagres. Marcos se sente um evangelista que anuncia, à luz da Páscoa, o que o Senhor fez e O anuncia para suscitar a fé em Jesus Cristo. Ainda hoje esses relatos são anúncios de salvação, pois ao lê-los e ao meditá-los, impõem-nos um exame de nossa fé. Temos fé em Jesus ou nós acreditamos mais na força do mal?


1. É Preciso Sair Ao Encontro Dos Outros


Depois que terminou o discurso das parábolas, Jesus ordena aos discípulos para cruzarem o mar da Galileia com ele: “Vamos para outro lado do mar”. Os discípulos lhe obedecem. Jesus convida os discípulos a ir a “outro lado do mar”. “Do outro lado” estão os pagãos, ou o território não- judeu. Jesus convida os discípulos para esse território para que lá possam semear também entre os pagãos a Boa Notícia do Reino.


Atravessar, ou “ir para outro lado”, então, significa sair de si mesmo, é pensar nos outros e não ficar apenas no nosso lado. Precisamos ir a “outro lado”. "Levar os homens à verdade é o maior benefício que se pode prestar aos outros. O grande mistério da santidade é amar muito" dizia Santo Tomás de Aquino. Quem sabe no “outro lado” em vez de evangelizarmos os outros, seremos evangelizados. Travessia é muitas vezes sinônimo de abertura ao novo e diferente. Para atravessar é preciso encarar os desafios, superar os obstáculos e perseverar no alcance dos objetivos.


As palavras do Papa Francisca sobre a importância de ser uma Igreja em saída, em ir para outro lado:
  • O bem tende sempre a comunicar-se. Toda a experiência autêntica de verdade e de beleza procura, por si mesma, a sua expansão; e qualquer pessoa que viva uma libertação profunda adquire maior sensibilidade face às necessidades dos outros. E, uma vez comunicado, o bem radica-se e desenvolve-se. Por isso, quem deseja viver com dignidade e em plenitude, não tem outro caminho senão reconhecer o outro e buscar o seu bem. Assim, não nos deveriam surpreender frases de São Paulo como estas: «O amor de Cristo nos absorve completamente» [2 Cor 5, 14]; «ai de mim, se eu não evangelizar!» [1 Cor 9, 16] (Papa Francisco: Evangelii Gaudium n.9).
     
  • A Igreja «em saída» é uma Igreja com as portas abertas. Sair em direção aos outros para chegar às periferias humanas não significa correr pelo mundo sem direção nem sentido. Muitas vezes é melhor diminuir o ritmo, pôr de parte a ansiedade para olhar nos olhos e escutar, ou renunciar às urgências para acompanhar quem ficou caído à beira do caminho. Às vezes, é como o pai do filho pródigo, que continua com as portas abertas para, quando este voltar, poder entrar sem dificuldade (idem n.46).
  • Saiamos, saiamos para oferecer a todos a vida de Jesus Cristo! Repito aqui, para toda a Igreja, aquilo que muitas vezes disse aos sacerdotes e aos leigos de Buenos Aires: prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças. Não quero uma Igreja preocupada com ser o centro, e que acaba presa num emaranhado de obsessões e procedimentos. Se alguma coisa nos deve santamente inquietar e preocupar a nossa consciência é que haja tantos irmãos nossos que vivem sem a força, a luz e a consolação da amizade com Jesus Cristo, sem uma comunidade de fé que os acolha, sem um horizonte de sentido e de vida. Mais do que o temor de falhar, espero que nos mova o medo de nos encerrarmos nas estruturas que nos dão uma falsa proteção, nas normas que nos transformam em juízes implacáveis, nos hábitos em que nos sentimos tranquilos, enquanto lá fora há uma multidão faminta e Jesus repete-nos sem cessar: «Dai-lhes vós mesmos de comer» [Mc 6, 37] (idem n.49).
     
    2. Só Jesus Pode Salvar
     
    Na travessia Jesus parece ausente, pois dorme e parece estar completamente alheio à tragédia do mar (v.38a). O sono tranquilo de Jesus simboliza uma confiança total em Deus.
     
    A descrição detalhada de Marcos sobre o que estava acontecendo permite dar-se conta de que não há esperança alguma: “Começou a soprar uma ventania muito forte e as ondas se lançavam dentro da barca, de modo que a barca já começava a se encher”. A barca está se afundando. Somente então é que os discípulos olham para Jesus que dorme e com tom de reprová-lo, o despertam com as seguintes palavras: “Mestre, estamos perecendo e tu não te importas?”. Não conheciam Jesus. Não conseguiram imaginar e acreditar que, com Jesus, jamais podiam afundar-se. E Jesus se levantou e com seu poder acalmou o vento: “Silêncio! Cala-te!”.
     
    Por que Marcos descreve o relato do mar como se fosse um exorcismo? Na Bíblia, o mar e a escuridão são símbolos do caos inicial, mas dominado e vencido pela força criadora de Deus (cf. Gn 1). O mar é a sede de todas as forças hostis a Deus, mas são vencidas para sempre por Deus (cf. Ap 21,1). A vitória sobre as forças maléficas não está no homem e sim em Deus, o Único que “transformou a tempestade em leve brisa e as ondas emudeceram” (Sl 107,29). Marcos quer nos revelar a certeza de que o único Salvador, o único que pode salvar o homem de todas as forças maléficas é Jesus Cristo.
     
    A natureza volta à calma; os discípulos não. Ficam ainda mais assustados e diziam: “Quem é este, a quem até o vento e o mar lhe obedecem?”.  E “eles sentiram um grande medo”, isto é, ficaram sob o efeito do sentimento de grande perturbação e medo: estáticos e reverenciais que sentem diante do divino. Poucos dos milagres encontrados nos evangelhos deixaram os apóstolos tão profundamente impressionantes quanto esse.
     
    Quem é esse homem, a quem até o vento e o mar obedecem?”  Esta pergunta abre caminho para descobrir Jesus como alguém que traz consigo o poder de Deus para preservar a vida diante das forças que ameaçam a vida. O medo dos discípulos cede lugar à fé; o milagre faz progredir os discípulos na descoberta da pessoa de Jesus. A fé dos discípulos começa a crescer embora de maneira ainda vaga e insuficiente.
     
    Quem é este, a quem até o vento e o mar lhe obedecem?”.  Sabemos que o Evangelho de Marcos foi escrito para responder  a seguinte pergunta: “Quem é Jesus?”. E logo no início o próprio evangelista dá a resposta: “ Início da Boa Nova de Jesus Cristo, Filho de Deus” (Mc 1,1). E no fim, na hora de morte de Jesus, um soldado pagão declara: “Verdadeiramente, este homem era Filho de Deus” (Mc 15,39). No início e no fim do Evangelho Jesus é chamado Filho de Deus. Entre o começo e o fim o evangelista coloca outros nomes e títulos mais de 20 para Jesus: Messias, Cristo (Mc 1,1; 8,29; 14,61; 15,32), Senhor (Mc 1,3; 5,19; 11,3), Filho amado (Mc 1,11; 9,7), Santo de Deus (Mc 1,24), Nazareno (Mc 1,24; 10,47; 14,67; 16,6), Filho do Homem (Mc 2,10.28; 8,31.38; 9,9.12.31; 10,33.45; 13,26; 14,21.41.62), Noivo (Mc 2,19), Filho de Deus (Mc 3,11), Filho do Deus altíssimo (Mc 5,7) etc... Cada nome, título ou atributo é uma tentativa de expressar o que Jesus significava para as pessoas. Mesmo tendo esses tantos títulos, jamais podemos entender perfeitamente o mistério da pessoa de Jesus na sua profundidade. A fé sempre ajuda o entendimento, mas a visão é sempre insuficiente para captar o significado profundo do mistério da pessoa de Jesus.
     
    3. É Preciso Ter Fé Em Jesus Em Todos Os Momentos
     
    Depois que acalmou o vento, Jesus faz uma censura aos discípulos sob a forma de dupla pergunta retórica, assim correspondendo e contestando a censura deles que foi também em forma de pergunta retórica: “Por que tendes medo? Ainda não tendes fé?”. O “ainda não” da pergunta de Jesus faz referência tanto para trás (passado) como para frente (futuro). Para trás (passado), refere-se à experiência prévia que os discípulos tiveram da poderosa palavra de Jesus demonstrada em ensinamentos e em milagres, uma experiência que deveria ter despertado a fé deles em Jesus, mas não aconteceu. Mas o “ainda não” também antecipa com expectativa algum momento futuro, quando os discípulos terão a fé. Com esta pergunta, Jesus exorta aos discípulos que confiem nele em todo momento e circunstância. Somente com a fé é possível manter-se firme diante da aparente ausência de Jesus. A falta de fé impede qualquer pessoa de reconhecer a presença atuante de Deus no cotidiano.
           
    Depois destas palavras os discípulos ficam “muito cheios de medo”. É um medo diferente do anterior. Antes eles temiam que as forças ameaçadoras, as forças da morte não pudessem ser vencidas, por isso ficavam paralisadas e impotentes diante delas. Agora o medo os atinge ao perceberem tais forças vencidas. Esse medo é o temor reverencial diante do mistério da força e do poder de Deus em Jesus Cristo. Esse temor de Deus indica a aceitação da impossibilidade humana de vencer forças poderosas de morte e ao mesmo tempo o reconhecimento de que só Deus pode superá-las É preciso adorar a este Deus.  
     
    “Ainda não tendes fé?”, Jesus perguntou retoricamente aos discípulos. Segundo a Carta aos Hebreus: ”A fé é a certeza daquilo que ainda se espera, a demonstração de realidades que não se vêem” (Hb11,1). Trata-se de uma fórmula admirável! A fé é um paradoxo. Ela nos faz “possuir” já o que não temos e nos faz “conhecer” o que está fora da capacidade de nossos sentidos. A fé é Deus no homem que nos leva ao entusiasmo (entusiasmo= Deus está dentro: em + theos); é um início do céu; é a alegria eterna, presente já no seio da monotonia cotidiana. A fé é um dinamismo vital extraordinária; uma aventura em companhia do Invisível; é a familiaridade com um imenso entorno de realidades invisíveis; é um novo modo de conhecimento, uns “olhos novos” para ver tudo com profundidade. A fé é confiar na palavra de alguém; é pôr-se em caminho; é atravessar a noite até a luz; é viver e esperar uma cidade perfeita onde tudo será edificado sobre o amor. A fé é crer na fecundidade de minha vida com a ajuda divina, apesar das aparências contrárias; é trabalhar segundo meus meios e confiar nas promessas de Deus que é muito fiel a Si próprio. “Ainda não tendes fé?” é a pergunta dirigida a cada um de nós que nos chama a verificarmos até que ponto temos realmente fé. "Quanto mais um ser se afasta de Deus, tanto mais ele se aproxima do nada. Quanto mais se aproxima de Deus, tanto mais se distancia do nada" dizia Santo Tomás de Aquino.
     
    “A fé nasce no encontro com o Deus vivo, que nos chama e revela o seu amor: um amor que nos precede e sobre o qual podemos apoiar-nos para construir solidamente a vida. Transformados por este amor, recebemos olhos novos e experimentamos que há nele uma grande promessa de plenitude e se nos abre a visão do futuro. A fé, que recebemos de Deus como dom sobrenatural, aparece-nos como luz para a estrada orientando os nossos passos no tempo... A fé é luz que vem do futuro, que descerra diante de nós horizontes grandes e nos leva a ultrapassar o nosso «eu» isolado abrindo-o à amplitude da comunhão. Deste modo, compreendemos que a fé não mora na escuridão, mas é uma luz para as nossas trevas” (Papa Francisco: Lumen Fidei n.4).
     
    Há momentos durante os quais nos sentimos sós e incapazes de reagir diante da maldade e dos dramas da vida. Isto acontece, por exemplo, quando surgem graves problemas na família(infidelidade do marido ou da mulher, mau comportamento dos filhos, doenças, dificuldades econômicas etc.) ou então, quando nos desentendemos com os irmãos da comunidade, quando se espalham maledicências, calúnias, quando surgem incompreensões. Nessas horas nos perguntamos: Onde está Deus ? Por que não intervém? Por que não mostra o seu poder? Por que não faz justiça? O seu silêncio nos desconcerta e nos incute medo.
No Evangelho de hoje Jesus nos convida a um ato de fé nele. Talvez seja necessário que estejamos numa barquinha agitada pelo vento para que percebamos a presença de Deus. Há cristãos que só pensam em Deus quando ficam doentes, quando atingidos por alguma desdita (falta de sorte). Só então rezam com toda a devoção e pedem a Deus para que ele venha socorrê-los. Quando tudo corre bem o ser humano corre o risco de se tornar autossuficiente. É a pedagogia da provação. Em tudo sairemos vitoriosos por Aquele que nos amou e nada poderá nos separar do amor de Deus manifestado em Cristo Jesus (cf. Rm 8,31-39).


P. Vitus Gustama,svd

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