segunda-feira, 7 de março de 2016

09/03/2016



PASSAR A VIDA FAZENDO O BEM COMO JESUS


Quarta-Feira da IV Semana da Quaresma


Primeira Leitura: Is 49,8-15


8 Isto diz o Senhor: 'Eu atendo teus pedidos com favores e te ajudo na obra de salvação; preservei-te para seres elo de aliança entre os povos, para restaurar a terra, para distribuir a herança dispersa; 9 para dizer aos que estão presos: 'Saí!` e aos que estão nas trevas: 'Mostrai-vos'. E todos se alimentam pelas estradas e até nas colinas estéreis se abastecem; 10 não sentem fome nem sede, não os castiga nem o calor nem o sol, porque o seu protetor toma conta deles e os conduz às fontes d'água. 11 Farei de todos os montes uma estrada e os meus caminhos serão nivelados. 12 Eis que estão vindo de longe, uns chegam do Norte e do lado do mar, e outros, da terra de Sinim'. 13 Louvai, ó céus, alegra-te, terra; montanhas, fazei ressoar o louvor, porque o Senhor consola o seu povo e se compadece dos pobres. 14 Disse Sião: 'O Senhor abandonou-me, o Senhor esqueceu-se de mim!' 15 Acaso pode a mulher esquecer-se do filho pequeno, a ponto de não ter pena do fruto de seu ventre? Se ela se esquecer, eu, porém, não me esquecerei de ti.


Evangelho: Jo 5,17-30


Naquele tempo, 17Jesus respondeu aos judeus: “Meu Pai trabalha sempre, portanto também eu trabalho”. 18Então, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque, além de violar o sábado, chamava Deus o seu Pai, fazendo-se, assim, igual a Deus. 19Tomando a palavra, Jesus disse aos judeus: “Em verdade, em verdade vos digo, o Filho não pode fazer nada por si mesmo; ele faz apenas o que vê o Pai fazer. O que o Pai faz, o Filho o faz também. 20O Pai ama o Filho e lhe mostra tudo o que ele mesmo faz. E lhe mostrará obras maiores ainda, de modo que ficareis admirados. 21Assim como o Pai ressuscita os mortos e lhes dá a vida, o Filho também dá a vida a quem ele quer. 22De fato, o Pai não julga ninguém, mas ele deu ao Filho o poder de julgar, 23para que todos honrem o Filho, assim como honram o Pai. Quem não honra o Filho, também não honra o Pai que o enviou. 24Em verdade, em verdade, eu vos digo, quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, possui a vida eterna. Não será condenado, pois já passou da morte para a vida. 25Em verdade, em verdade, eu vos digo: está chegando a hora, e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus e os que a ouvirem viverão. 26Porque, assim como o Pai possui a vida em si mesmo, do mesmo modo concedeu ao Filho possuir a vida em si mesmo. 27Além disso, deu-lhe o poder de julgar, pois ele é o Filho do Homem. 28Não fiqueis admirados com isso, porque vai chegar a hora em que todos os que estão nos túmulos ouvirão a voz do Filho e sairão: 29aqueles que fizeram o bem, ressuscitarão para a vida; e aqueles que praticaram o mal, para a condenação. 30Eu não posso fazer nada por mim mesmo. Eu julgo conforme o que escuto, e meu julgamento é justo, porque não procuro fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. (Jo 5, 17-30)


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Meu Pai trabalha sempre, portanto também eu trabalho... o Filho não pode fazer nada por si mesmo; ele faz apenas o que vê o Pai fazer. O que o Pai faz, o Filho o faz também”. O Pai quer apenas o bem de todos os homens. Jesus, Deus encarnado, faz a mesma coisa. Logo os seguidores de Jesus devem fazer a mesma coisa: o bem e a bondade.


Por isso, para cada um de nós, faça todo o bem que puder. Por todos os meios que puder, de todas as maneiras que puder, em todos os lugares que puder, em todas as ocasiões que puder, por todas as pessoas que puder, por tanto tempo que puder. A bondade é o único investimento que nunca falha. O propósito verdadeiro de nossa existência não é ganhar a vida e sim fazer uma vida, uma vida válida, bem feita e útil para nós e para os demais e consequentemente, para a glória de Deus.


O evangelho deste dia é a continuação do evangelho do dia anterior. Seus contemporâneos judeus perseguem Jesus porque Ele “violou” o Sábado, pois curou o paralítico nesse dia que para eles é muito sagrado. Para eles a observância do Sábado é mais importante do que salvar uma vida que está em perigo.


Jesus justifica sua atuação com umas palavras que acabam agravando a situação: Jesus chama Deus de Pai e faz igual ao Pai: “Meu Pai trabalha até agora e eu também trabalho”. Em que consiste o trabalho do Pai? Em criar e salvar por amor (cf. Jo 3,16). O “trabalho” de Jesus consiste em recriar o ser humano que se concretiza através de “ressuscitar os mortos” cuja representante é o paralitico que se encontra numa situação de morte (sofre durante 38 anos). Ao curar os doentes Jesus recria o ser humano para sua situação original. Jesus dá a vida para quem carece dela (cf. Jo 10,10; 11,25).


Precisamos sublinhar a diferença sobre o tema do Sábado nos sinóticos (Mt, Mc e Lc) e no evangelho de João. No evangelho de João a cura no Sábado não tem como objetivo relativizar a lei do Sábado como nos evangelhos sinóticos, embora acabe relativizando o Sábado em função da salvação do homem. O evangelho de João quer nos demonstrar a autoridade de Jesus sobre o Sábado que vem por sua igualdade com Deus, como lemos no texto: “Meu Pai trabalha até agora e eu também trabalho... O que o Pai faz, o Filho o faz também”.


As razões para esta interpretação se encontram no Gn 2,2-3 onde Deus descansa no mesmo dia que termina a obra da criação. Nesta perspectiva Jesus resgata a dimensão criadora do Sábado devolvendo a vida e a liberdade ao homem enfermo. Ao mesmo tempo, Jesus demonstra a união perfeita entre a ação de Jesus e a ação do Pai. O ponto de partida é que o Pai continua sendo o Autor da obra e o Filho seu cumprimento definitivo. O projeto de Jesus atualiza o projeto de Deus que continua tendo como fundamento Deus Pai, o amor, a fé, a Palavra e a vida. Se quisermos unir nosso projeto com o projeto que vem do Pai e passa pelo Filho, devemos trabalhar em torno desse fundamento. Os projetos são muitos, mas o problema se eles estão em comunhão com o projeto de Deus. Ao fazer qualquer obra ou trabalho pastoral devemos lançar primeiro nosso olhar para o Pai e o Filho, pois “O que o Pai faz, o Filho o faz também”.  E o que Jesus Cristo faz é isso que devemos fazer também.


O que Deus faz pela humanidade nós podemos ler também na primeira leitura e no Salmo de meditação neste dia. A primeira leitura deste dia, tirada do Segundo Isaías, foi escrita durante o exílio na Babilônia. A primeira leitura nos apresenta Deus não como o soberano onipotente e majestoso, nem como juiz implacável, e sim como “aquele que tem compaixão”, que “consola”, que “conduz seu Povo às fontes de água”, como uma mãe carinhosa que cuida dos seus filhos e se comove por eles. São imagens cheias de ternura e de calor humano. Imagens que dizem como Deus está ligado às criaturas e como Ele as ama com muita ternura! Deus dialoga com o homem nos largos espaços do amor, não no escrúpulo da observância dos preceitos. Deus ama todos nós mais do que uma mãe que ama seus filhos: “Acaso pode a mulher esquecer-se do filho pequeno, a ponto de não ter pena do fruto de seu ventre? Se ela se esquecer, eu, porém, não me esquecerei de ti”, diz-nos Deus (Is 49,15). E a bondade, a ternura, a misericórdia, a justiça e a santidade de Deus são proclamadas no Salmo de meditação deste dia.


No NT o amor cheio de ternura de Deus se fez carne em Jesus Cristo, Deus-Conosco (Mt 1,23; 18,20; 28,20), pois Ele dá a vida por nós todos: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham abundantemente” (Jo 10,10b). Jesus coloca o homem acima de qualquer lei por sagrada que ela pareça ser como a Lei de Sábado para o Povo eleito. Para Jesus a salvação do homem é muito mais importante do que a Lei do Sábado por sagrado que ele possa ser considerado, como lemos no texto do evangelho deste dia. Toda a obra de Jesus é a obra do Pai que tem como foco o ser humano e sua salvação: “Em verdade, em verdade Eu vos digo, o Filho não pode fazer nada por si mesmo; ele faz apenas o que vê o Pai fazer. O que o Pai faz, o Filho o faz também” (Jo 5,19). Jesus trabalha como o Pai para salvar o homem. A glória de Deus é a salvação do homem. Jesus atua em perfeita sintonia com o Pai que O enviou. A plena unidade na ação brota de uma profunda comunhão de amor entre o Pai e o Filho. Por esta perfeita união Jesus tem o poder sobre a vida e a autoridade de juízo.


As leituras de hoje nos convidam a colocarmos o nosso coração em harmonia com o coração de Deus. É preciso contemplarmos o mistério de Cristo, Deus-Conosco para que possamos alcançar o que diz São Paulo: “para termos o pensamento de Cristo” (1Cor 2,16) ou para termos “os mesmos sentimentos que havia em Jesus Cristo” (Fl 2,5). O que nos identifica com Cristo é o nosso amor fraterno (Jo 13,35; 15,12). Se Jesus coloca o homem acima de qualquer lei por sagrada que ela pareça ser, o cristão deve estar em plena unidade na ação com Cristo onde o ser humano é o foco de qualquer trabalho, pastoral e apostolado. Somente assim seremos chamados de irmãos, irmãs, mães, pais de Jesus: “Todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe” (Mt 12,50). Se quisermos ser verdadeiros cristãos devemos trabalhar em nome de Cristo e em perfeita sintonia de amor com ele para que todos nós sejamos reflexos do amor de Deus neste mundo.


Os judeus acusaram Jesus por violar o Sábado. Mas Jesus respondeu: “Meu Pai trabalha até agora e eu também trabalho” (Jo 5,17). Trata-se de uma revelação surpreendente. Palavra que deve continuar ressonando e ressoando em nós. Deus “trabalha”! A palavra “Sabbat” (hebraico), Sábado, significa repouso. Acusaram Jesus de não respeitar o repouso de Sábado. Resposta de Jesus: Deus não cessa de trabalhar. Sim, Deus continua “trabalhando” em mim e através de mim, na Igreja e através da Igreja, nas pessoas de boa vontade e através delas, nos que ajudam os necessitados e através deles, nos doentes e através dos doentes, nos que guiam e ensinam os demais para o bem e através deles, nos que acolhem os outros como irmãos e através deles, nos que visitam os doentes e através deles, nos que alimentam os famintos e através deles, nos que lutam pela dignidade de sua família e a família dos demais. Deus continua trabalhando através das pessoas ao meu redor, e assim por diante. Deus realmente continua trabalhando. Jesus, o Filho amado do Pai continua cooperando no trabalho do Pai em salvar a humanidade, em devolver a dignidade para os excluídos e marginalizados. Por isso, ele curou o paralítico no Sábado. A salvação e a dignidade do paralítico estão acima de qualquer lei por sagrada que ela pareça ser. O ser humano é mais sagrado do que qualquer lei, pois ele é o templo do Espírito Santo (cf. 1Cor 3,16-17).


O Pai não conhece o repouso, não cessou de trabalhar, porque enquanto o homem estiver/está oprimido pelo pecado e privado de liberdade, enquanto não tiver/não tem plenitude de vida, o Pai continuará trabalhando. Deus continua comunicando vida onde o homem coloca a morte, a esperança aos desesperados, a força aos debilitados, a guia e a luz de seu Santo Espírito para os desorientados e confusos. O amor de Deus pela humanidade está sempre ativo. Jesus atua como o Pai, não aceita leis que limitem sua atividade em favor da dignidade do homem.


Que nosso lema como cristãos seja o lema de Cristo: “O que o Pai faz, o Filho o faz também”. “ O que Jesus Cristo fez, o que cristão deve fazer também”. No sentido de que não podemos parar de fazer o bem como Jesus que “passou a vida fazendo o bem” (At 10,38). Só assim seremos chamados de filhos e filhas de Deus. Estamos neste mundo não para acumular e sim para fazer vida que consiste em fazer o bem. Jamais podemos passar nenhum dia sem fazer o bem. Jamais podemos ficar cansados em praticar o bem. Sejamos a mão estendida de Deus neste mundo para ajudar o próximo cuja vida está em perigo.


No fim do texto do evangelho de hoje Jesus fez a seguinte declaração: “Não fiqueis admirados com isso, porque vai chegar a hora em que todos os que estão nos túmulos ouvirão a voz do Filho e sairão: aqueles que fizeram o bem, ressuscitarão para a vida”. Os que praticam o bem não ficarão para sempre no túmulo. O túmulo nenhum é capaz de destruir quem pratica o bem a exemplo do próprio Jesus ressuscitado. A partir de Jesus e com Jesus a ressurreição e a vida começam para os homens que acreditam n’Ele e para aqueles que praticam o bem.


Jesus prosseguiu: “Em verdade, em verdade, eu vos digo, quem ouve a minha palavra e crê naquele que me enviou, possui a vida eterna. Não será condenado, pois já passou da morte para a vida”. A morte perdeu sua eficácia destruidora pela presença da vida, pela palavra vivificadora de Jesus, pela prática do bem. Crer tem como objetivo a orientação da vida para Jesus como centro da existência, ou orientar a vida para o bem. “Não existe grandeza onde não há simplicidade, bondade e verdade” (Leon Tolstoi). Vale a pena, então, fazer o bem todos os dias. Vale a pena não se cansar de praticar o bem apesar dos sofrimentos ou dificuldades. Uma vida dedicada ao bem do próximo é sempre uma vida glorificada. “Só a caridade, um dilúvio de caridade pode salvar o mundo” (Maritain).  A bondade é uma linguagem que o surdo consegue ouvir e o cego consegue ler” (Mark Twain).


Mahatma Gandhi nos deu o seguinte conselho: “Tome um sorriso e presenteie-o a quem nunca o recebeu. Tome um raio de sol e faça com que atinja lá onde reina a noite. Descubra uma fonte para banhar quem vive no barro. Derrame uma lágrima para colocá-la no rosto de quem nunca chorou. Tome sua coragem colocando-a no espírito de quem não sabe lutar. Descubra a vida e narre-a a quem não consegue entendê-la. Retome a esperança e viva sob sua luz. Tome a bondade e presenteie-a a quem não sabe doar. Descubra o amor e faça o mundo conhecê-lo”.


A bondade atrai, pois ela agrada. Bondade é a própria perfeição possuída por um ser. Por possuir a bondade, um ser que a tem é capaz de dar a outro a perfeição que lhe falta. Bom é que corresponde plenamente ao que é exigido, desejado ou esperado quanto à sua natureza, adequação, função, eficácia, funcionamento etc. (falando de ser ou coisa). Bom é moralmente correto em suas atitudes. A bondade é algo que em si tem algo divino, pois Deus é a Bondade por excelência. Por isso, a bondade tem uma marca de eternidade. A bondade é, portanto, um investimento que nunca falha. Vale a pena fazer o bem como Jesus que passou sua vida aqui na terra fazendo o bem, salvando as vidas, integrando as pessoas para a comunidade de irmãos. Para Jesus e consequentemente, para os cristãos, o bem não tem fronteiras, nem religiosas nem sagradas nem denominacionais nem ideológicas.

P. Vitus Gustama,svd

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