quinta-feira, 17 de março de 2016




DOMINGO DE RAMOS


JESUS É UM REI DIFERENTE E UM MESSIAS HUMILDE


A semana Santa é inaugurada pelo Domingo de Ramos no qual são celebrados dois aspectos centrais do mistério pascal: a vida ou o triunfo, mediante a procissão de ramos em honra de Cristo Rei.


A procissão de ramos é simbólica, para dizer que a vida é um caminho, uma procissão, uma peregrinação para a vida eterna. Numa peregrinação tudo é para frente. Não tem volta: nem para as pessoas, nem para as coisas, nem para a história do mundo e da humanidade. Nãopara nascer novamente. Nesta peregrinação o passado é observável, mas não é modificável. O futuro é modificável, mas não é observável. Por isso, a grande questão é como aproveitamos cada momento para nossa própria edificação e para o bem do próximo para que possamos peregrinar levemente. Nisto está o sentido de nossa presença neste mundo. Nisto está a nossa responsabilidade.


O que importa nessa primeira parte não é somente o ramo bento e sim a celebração do triunfo de Jesus. A segunda parte é a leitura da Paixão de Jesus ou a morte de Jesus. Devido a dois aspectos que tem este dia o Domingo de Ramos (rosto vitorioso) é chamado também de o “Domingo da Paixão” (rosto doloroso).


A procissão segue imediatamente a Eucaristia. Do aspecto glorioso dos ramos passamos ao aspecto doloroso da Paixão. Celebrar a paixão e morte de Jesus é abismar-se na contemplação de um Deus a quem o amor tornou frágilPor amor, Ele veio ao nosso encontro, assumiu os nossos limites, experimentou a fome, o sono, o cansaço, conheceu a mordedura das tentações, tremeu perante a morte, suou sangue antes de aceitar a vontade do Pai; e, estendido no chão, esmagado contra a terra, atraiçoado, abandonado, incompreendido, continuou a amar. Desse amor resultou vida plena, que Ele quis repartir conoscoaté ao fim dos tempos”: esta é a mais espantosa história de amor que é possível contar; ela é a boa notícia que enche de alegria o coração dos crentes.


Na procissão levamos em nossa mão ramo. Ramos ou feixes de ramos significam demonstração de honra para um vencedor. Ramos verdes contém o desejo de imortalidade para ele. Existe especialmente o ramo de oliveira. A pomba de Noé, no fim do dilúvio, retorna com um ramo de oliveira no bico. Este ramo de oliveira foi entendido como símbolo da paz. Nas catacumbas, o ramo de oliveira simboliza a salvação da alma das angústias da morte.


A palma ou o ramo é símbolo de martírio. Ao levar os ramos queremos manifestar a Cristo que estamos dispostos a dar-Lhe testemunho como os mártires, se não com nossa vida, pelo menos com nossas boas obras, com o bem que praticamos cada dia.


A palma ou o ramo também é símbolo de luta e de vitória. Com a palma ou o ramo em nossas mãos queremos manifestar que vencemos o mal, o comodismo, a preguiça, o ódio, o rancor. Queremos dizer que somos livres de todo o mal. Isto quer nos dizer que para sermos lógicos, coerentes com nossa fé é necessário que a realidade se ajuste ao simbolismo; é necessário que o que expressamos exteriormente o possuamos interiormente.


Essa tradição oriental foi retomada na entrada de Jesus em Jerusalém (Mt 21). Os ramos nos mostram que Jesus vai sofrer, mas como Vencedor; vai morrer, mas para ressuscitar. Em outras palavras, o Domingo de Ramos é inauguração da Páscoa ou passagem ou passo das trevas à luz, da humilhação à glória, do pecado à graça e da morte à vida.


Jesus é saudado e aclamado como rei, rei dos judeus. Mas ele usa um jumento na sua entrada triunfal em Jerusalém e não um cavalo real ou um cavalo de guerra. Jumento é animal usado pelos pobres. Por isso, Jesus é um rei diferente e o Messias humilde.


Jesus É Um Rei Diferente


Jesus é chamado e saudado como Rei dos judeus no relato da Paixão. Mas Jesus é um rei diferente. O verdadeiro rei é aquele que salva a vida do povo mesmo que, por isso, sacrifique a própria vida. O verdadeiro rei é aquele que conquista os corações para Deus em vez de dominá-los para o próprio interesse. O verdadeiro rei é aquele que liberta em vez de dominar. O verdadeiro rei é aquele que protege e cuida dos outros. Jesus é o rei que protege o necessitado, sustenta o fraco, visita e cura o doente e ferido, e procura o perdido. Por isso, o reinado de Jesus é diferente. Não é um reinado opressivo e tirânico; não se baseia na violência nem na exploração social e econômica. É um reinado de misericórdia caracterizado pelo serviço humilde e pela paz.


Por isso, ele não é bem aceito pela poderosa elite local. O projeto libertador de Jesus entrou em choque com a atmosfera de egoísmo, de má vontade, de opressão que dominava o mundo. As autoridades políticas e religiosas sentiram-se incomodadas com a denúncia de Jesus: não estavam dispostas a renunciar a esses mecanismos que lhes asseguravam poder, influência, domínio, privilégios; não estavam dispostas a arriscar, a desinstalar-se e a aceitar a conversão proposta por Jesus. Por isso, prenderam Jesus, O julgaram e O pregaram numa cruz. A morte de Jesus é a conseqüência lógica daquilo que Jesus pregou com palavras e com gestos: o amor, o dom total, o serviço.


Por isso, celebrar a paixão e a morte de Jesus é abismar-se na contemplação de um Deus a quem o amor tornou frágilPor amor, Ele veio ao nosso encontro, assumiu os nossos limites e fragilidades, experimentou a fome, o sono, o cansaço, conheceu a dureza das tentações, experimentou a angústia e o pavor diante da morte; e, estendido no chão, esmagado contra a terra, atraiçoado, abandonado, incompreendido, continuou a amar. Desse amor resultou vida plena, que Ele quis repartir conoscoaté ao fim dos tempos”: esta é a mais espantosa história de amor que é possível contar; ela é a boa notícia que enche de alegria o coração de qualquer pessoa.


Contemplar a cruz onde se manifesta o amor e a entrega de Jesus significa assumir a mesma atitude que Ele assumiu e solidarizar-se com aqueles que são crucificados neste mundo: os que sofrem violência, os que são explorados, os que são excluídos, os que são privados de direitos e de dignidadeOlhar a cruz de Jesus significa denunciar tudo o que gera ódio, divisão, medo, em termos de estruturas, valores, práticas, ideologias; significa evitar que os homens continuem a crucificar outros homens; significa aprender com Jesus a entregar a vida por amorViver deste jeito pode conduzir à morte; mas o cristão sabe que amar como Jesus é viver a partir de uma dinâmica que a morte não pode vencer: o amor gera vida nova e introduz na nossa carne os dinamismos da ressurreição.


Jesus É Um Messias Humilde


“O primeiro passo na busca da verdade é a humildade. O segundo, a humildade. O terceiro, a humildade. E o último, a humildade. Naturalmente, isso não significa que a humildade seja a única virtude necessária para o encontro e gozo da verdade; mas se as demais virtudes não estiverem precedidas, acompanhadas e seguidas da humildade, a soberba abrirá o caminho e destruirá suas boas intenções” (Santo Agostinho: Epist. 118,3,22).


A humildade, do ponto de vista teológico, não designa um comportamento entre as pessoas. Não se trata de uma virtude social. A humildade é a experiência de nossa própria insuficiência diante do infinito e perfeito Deus. A própria palavrahumildade”, na sua etimologia latina significa , chão, terra. A humildade é a própria experiência com Deus. Ao experimentar Deus, nos sentimos dependentes dele e tornamo-nos mais humildes. Nós nos esforçamos para vencer nossas limitações. Mas isso requer a graça e a ajuda de Deus para que sejamos vivente. Portanto, a humildade é a experiência de si mesmo na experiência de Deus.


Na vivência dessa experiência, nivelaremos nossas relações com os outros; não nos sentiremos superiores aos demais homens, pois todos são humildes. A humildade nos leva a respeitarmos os outros, pois Deus está neles como está em mim também (cf. Mt 25,40.45). O nivelamento das relações é o fruto da experiência de nossas próprias limitações e de nossa experiência com Deus.


Jesus veio como o Messias humilde, simbolizado pelo uso do jumento na sua entrada em Jerusalém. No patíbulo da cruz, a humildade divino-humana de Jesus desmascara a escravidão culpável da arrogância. Todo o drama da redenção é o caminho vitorioso da humildade magnânima de Jesus que nos convida e nos torna aptos para o seu seguimento.


Pela virtude da humildade, Deus nos incute coragem para reconhecer a verdade que engrandece e liberta (cf. Jo 8,32), ao mesmo tempo, que nos faz perceber que a arrogância amesquinha e degrada o ser humano. O olhar simples de uma humilde nos permite recordarmos a nossa criação do nada, como pura graça, e participar na comunhão d’Aquele que é a origem de toda a vida e de toda a felicidade. O olhar simples de uma humilde nos permite reconhecermo-nos como , terra cuja salvação depende do Criador com a própria colaboração humilde.


Daqui brota para nós aquela humildade forte e corajosa que nos permite olharmos com serenidade para os nossos aspectos menos claros e para o peso dos nossos pecados, sem nos esquecermos de louvar o poder humilde, purificador e santificador de Deus.


Ser humilde é aceitar as próprias qualidades e os defeitos. Ser humilde é aceitar os próprios limites e respeitar os próprios limites e, ao mesmo tempo, aceitar o Infinito que está nesses limites. Quanto mais sábia for uma pessoa, tanto mais humilde será. Um sábio tem consciência em relação ao que não sabe. “Simular humildade é a maior das soberbas” (Santo Agostinho). Ser humilde é ser você mesmo com suas qualidades e seus defeitos. O orgulhoso, ao contrário, julga ser o que não é. O orgulhoso vive na ilusão em relação a si mesmo. O orgulhoso tenta preencher sua carência com vaidade. E o vaidoso é alguém inseguro, que tem necessidade de exagerar, de inventar histórias para conferir consistência a seu ego. No fundo o orgulhoso e o vaidoso são frutos de uma vida de angústia. São angustiados porque não se aceitam como são. Não admitem seus limites e defeitos. Por isso, vivem na ilusão. E o mundo cultiva o orgulho e por isso, que existe um número crescente de angustiados.


Jesus é o Amor que se rebaixa até nós para nos exaltar. Esta humildade real e divina que habita em Jesus nos enobrece e nos oferece a incomparável dignidade de filhos e de filhas de Deus. Por isso, a humildade em seu grau mais perfeito não está em ser pequeno, mas em fazer-se pequeno para engrandecer os outros. De fato, Deus não é pequeno, mas faz-se pequeno para salvar a humanidade por amor.


Hoje Jesus quer também entrar triunfante na vida dos homens, em cada coração, em cada família, na sua família, e quer que nós demos testemunho dele com a simplicidade do nosso trabalho bem feito, com a nossa preocupação pelos outros, com nosso respeito pelos outros. Quer fazer-se presente em nós através das circunstâncias do viver humano vividas na simplicidade e na humildade. Deus criou tudo porque ele é generoso. E os mais humildes costumam ser mais generosos. E a generosidade é uma forma de prolongar o ato criador de Deus que criou tudo gratuitamente.


O homem humilde é ateu de si, é aquele que não se considera deus; a humildade é o ateísmo de si mesmo. Que sejamos ateus de nós mesmos para que Deus seja verdadeiro Deus na nossa vida.


HUMILDADE: Para Refletir Sobre Os Seguintes Pensamentos de Santo Agostinho


1.   Se tu estás preocupado com tua própria glória, como poderás interessar-te seriamente pelo bem dos demais? (In ps. 37,8).


2.   Não levantarias tão orgulhosamente a cabeça se não a tivesses vazia (In ps. 37,8).


3.   Para tu alcançares as alturas necessitas de uma escada. Para alcançares a altura da grandeza, usa a escada da humildade (Serm. 96,3).


4.   Como tu podes ser tão orgulhoso a não ser que estejas vazio? Se tu não estiveres vazio, não poderás inflar-te” (In ps. 95,9)


5.   Simular humildade é a maior das soberbas (De sanc. virg. 43,44).


P. Vitus Gustama,svd

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