quarta-feira, 25 de maio de 2016

28/05/2016




AGIR E FALAR COM AUTORIDADE CRISTÃ


Sábado da VIII Semana Comum


Primeira Leitura: Judas 17.20b-25


17 Vós, porém, amados, lembrai-vos das palavras preditas pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo. 20b Edificai-vos sobre o fundamento da vossa santíssima fé e rezai, no Santo Espírito, 21 de modo que vos mantenhais no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo, para a vida eterna. 22 E a uns, que estão com dúvidas, deveis tratar com piedade. 23 A outros, deveis salvá-los arrancando-os do fogo. De outros ainda deveis ter piedade, mas com temor, aborrecendo a própria veste manchada pela carne. 24 Àquele que é capaz de guardar-vos da queda e de apresentar-vos perante a sua glória irrepreensíveis e jubilosos, 25ª o único Deus, nosso Salvador, por Jesus Cristo, nosso Senhor: glória, majestade, poder e domínio, desde antes de todos os séculos, e agora, e por todos os séculos. Amém.


Evangelho: Mc 11,27-33


27Naquele tempo, Jesus e os discípulos foram de novo a Jerusalém. Enquanto Jesus estava andando no Templo, os sumos sacerdotes, os mestres da Lei e os anciãos aproximaram-se dele e perguntaram: 28“Com que autoridade fazes essas coisas? Quem te deu autoridade para fazer isso?” 29Jesus respondeu: “Vou fazer-vos uma só pergunta. Se me responderdes, eu vos direi com que autoridade faço isso. 30O batismo de João vinha do céu ou dos homens? Respondei-me”. 31Eles discutiam entre si: “Se respondermos que vinha do céu, ele vai dizer: ‘Por que não acreditastes em João?’ 32Devemos então dizer que vinha dos homens?” Mas eles tinham medo da multidão, porque todos, de fato, tinham João na qualidade de profeta. 33Então eles responderam a Jesus: “Não sabemos”. E Jesus disse: “Pois eu também, não vos digo com que autoridade faço essas coisas”.
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Chamados a Edificar a Vida Na Fé, Na Esperança e Na Caridade


Edificai-vos sobre o fundamento da vossa santíssima e rezai, no Santo Espírito, de modo que vos mantenhais no amor de Deus, esperando a misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo, para a vida eterna”, assim exorta São Judas, autor de um dos escritos mais curtos do NT.


Judas é o irmão de São Tiago. Foi bispo de Jerusalém depois de seu irmão maior. Esta breve Epístola é bastante violenta contra os hereges, os “falsos doutores”. Lemos no Código de Direito Canônico no Cân. 751: “Diz-se heresia a negação pertinaz, depois de recebido o batismo, de alguma verdade que se deve crer com fé divina e católica, ou ainda a dúvida pertinaz acerca da mesma; apostasia, o repúdio total da fé cristã; cisma, a recusa da sujeição ao Sumo Pontífice ou da comunhão com os membros da Igreja que lhe estão sujeitos”.


São Judas chama todos, em primeiro lugar, a viver na verdade. A referência da verdade, segundo São Judas, é o próprio Evangelho. A verdade não se inventa, mas se recebe.


Além de viver na verdade, todos são chamados a edificar. A figura “edificar” é muito usada na literatura cristã antiga. São Judas pede aos destinatários que se edifiquem a si mesmo como comunidade cujo fundamento é a fé. A fé é unir-se a Deus, criando uma comunidade com Deus cuja consequência é a edificação da comunidade humana. Trata-se de uma ação permanente.


No texto lido na Primeira Leitura, São Judas menciona as virtudes teologais: Fé, Esperança e Caridade. Essas virtudes nos fazem viver em comunhão com Deus e com os irmãos.


A fé é a livre resposta do homem a Deus que se revela a ele. O ato da fé é um ato livre. Pela fé Deus se revela aos homens através do plano natural, mediante o universo, com sua grandeza e beleza (cf. Rm 1,19s; Sb 13,1-9). A natureza é uma das portas para conhecer Deus. Pela fé Deus também se revela através do plano sobrenatural, isto é, em vista da participação do homem na vida divina em que o homem atinge sua plenitude na visão de Deus face-a-face (cf. 1Jo 3,1-3; 1Cor 13,12).


A fé está intimamente ligada à esperança, como lemos em Hb 11,1: “A fé é a garantia dos bens que se esperam”. Deus é o objeto da esperança, pois Ele é o Bem Supremo que nos faz vivermos na felicidade eterna. Deus é também o motivo de nossa esperança, pois o homem não pode confiar em suas próprias forças por causa de suas limitações. A esperança sempre fica na nossa frente chamando-nos a caminhar na direção de Deus que nos salva.


São Judas também pede que os destinatários permaneçam no amor. Nos escritos do NT a palavra que designa o amor é exclusivamente ágape (cf. 1Jo 4,7-10.16-18; 1Cor 13; 2Cor 5,14; 13,13). Deus simplesmente nos ama porque Ele quer nosso bem e quer nos salvar. Se ele ama é amar para salvar. Deus não espera que sejamos bons para Ele nos amar. Ele nos ama para que sejamos bons. Trata-se do amor gratuito. Por amor Deus nos chama à vida, por amor Deus nos enviou seu Filho e por amor Deus continua nos oferecendo sua amizade que é para nós fonte de vida e de todo bem apesar de nossas contínuas traições. Ágape é o amor para uma direção, isto é, querer o bem do outro sem esperar nada em recompensa. É amar por amor. O amor é essencial para todas as virtudes e dá sentido para todas as virtudes. Sem ele, tudo se torna sem sentido.


Agir e Falar Com Autoridade


Estamos na seção onde se fala de Jesus e do poder constituído (Mc 11,27-12,37). Em Mc 11,18 o evangelista Marcos nos informou que “Os chefes dos sacerdotes e os escribas procuravam como matariam Jesus”. Nesta seção os vemos em ação. O que vem em seguida é a continuação do choque frontal entre eles e Jesus e será cumprido o que Jesus disse no primeiro anúncio da paixão: “O Filho do homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos escribas” (Mc 8,31). Agora eles estão intentando surpreender Jesus em algum erro para acabar com ele. Podem ser lidas cinco controvérsias  como o ponto de ataque contra Jesus em Mc 2,1-3,6.


Os que formam o poder constituído são em primeiro lugar, os sumos sacerdotes, os mais afetados (medo de perder seus bens através da arrecadação no Templo) pelo que Jesus fez no templo (cf. Mc 11,15-18) e os que podem, facilmente, acusar Jesus de ter atuado contra o lugar santo (Templo). Entre os sacerdotes predominam os saduceus, grupo político-religioso de tendência conservadora.  Em segundo lugar, os escribas ou doutores da lei, pessoas especializadas nos problemas jurídicos e religiosos e, portanto, únicos e verdadeiros interpretes e defensores da Lei. Para eles, o homem é feito para a lei, enquanto que para Jesus, a lei é feita para o homem (Mc 2,27). Sua oposição já começou no início do evangelho de Marcos (Cf. Mc 2,6.16; 3,22; 7,1). Em terceiro lugar, os anciãos, os membros laicos do Sinédrio, a suprema corte judia legislativa e judicial de Jerusalém, os representantes civis e religiosos do povo. Entre os escribas e os anciãos predominam os fariseus, verdadeiros representantes da piedade popular. Finalmente, o partido de Herodes, o braço civil do poder romano em Palestina.


O evangelho lido neste dia nos relata que Jesus e seus discípulos se encontram em Jerusalém. Por isso, a cena do evangelho de hoje tem como local Jerusalém. O texto está carregado de tensão. É o confronto direito entre Jesus e os dirigentes do povo. A fama de Jesus pela sua preocupação em lutar pela igualdade, pela convivência na fraternidade universal, pela verdadeira vivência da religião, pelo bem de todos, provoca o desconforto para os dirigentes que querem manter seus privilégios e seu domínio. Os dirigentes queriam desmoralizar Jesus e suas atividades em favor do povo através das seguintes perguntas: “Com que autoridade tu fazes essas coisas? Quem te deu autoridade para fazer isso?”. Essa pergunta só pode sair da boca de quem adora o poder e a desigualdade. Ama menos quem se preocupa demasiadamente com a regra e o poder na convivência em vez de se preocupar com o bem que deve ser feito. Para fazer o bem em favor do povo necessitado não precisa de nenhum poder; basta ter amor no coração e sentir na pele o sofrimento dos outros para se compadecer e oferecer a ajuda naquilo que se pode para aliviar uma parte do sofrimento. Precisamente só aquele que é capaz de ser solidário com os necessitados é que tem mais autoridade. Esse tipo de pessoa quando fala desperta qualquer coração, pois fala a partir da vida vivida na solidariedade e na compaixão, como por exemplo, Madre Teresa de Calcutá.


“Quem te deu autoridade para fazer isso?”. O que os dirigentes querem dizer é o poder. “Quem te deu esse poder?”. A autoridade não é dada para ninguém, pois ela vem de dentro da pessoa. A autoridade é a capacidade de fazer o outro crescer. A palavra “autoridade” provem do latim “augere” que significa “crescer”. Toda palavra, toda atividade, toda ajuda, todo conselho que faz o outro crescer é uma autoridade. A autoridade é respeitada e é amada. O poder é temido, mas não é amado. Para ser chefe você precisa de um cargo. Mas para ser líder você não precisa de cargo. Ninguém precisa mais de autoridade formal para liderar. Todos nós temos um poder natural de liderar que nada tem a ver com cargos, idade ou com o lugar em que moramos. Liderar tem muito mais a ver com a maneira brilhante como cada um de nós trabalha e a destreza de nosso comportamento. Cada um de nós tem o reservatório interno de potencial para liderança. E cada um de nós tem o poder de se mostrar líder no que faz. Somente precisamos nos conscientizar de tudo isso e assumi-lo. Um líder que ama é um líder que é respeitado por todos. Um líder que adora o poder é temido, mas não é amado e por isso, não é respeitado. Etimologicamente a palavra “respeitar” (em latim) significa tomar em consideração. “Respeito” é sentimento que leva alguém a tratar outrem ou alguma coisa com grande atenção, profunda deferência; consideração, reverência.


Em vez de desqualificarem Jesus, os dirigentes são desqualificados a partir da pergunta de Jesus: “O batismo de João vinha do céu ou dos homens?”. Eles mesmos sabem do peso da pergunta: “Se respondermos que vinha do céu, ele vai dizer: ‘Por que não acreditastes em João?’ Devemos então dizer que vinha dos homens?”  O evangelista Marcos comenta: “Mas eles tinham medo da multidão, porque todos, de fato, tinham João na qualidade de profeta”.  Diante da pergunta pesada, pois toca e desmascara profundamente sua maneira de viver, eles fingem não saber respondê-la: “Não sabemos”. Temos lido em jornais, revistas, entrevistas e temos ouvido nas rádios e televisão este tipo de resposta que saiu da boca daqueles que têm poder: “Eu não sabia!”, “Não sabíamos”, mesmo que as provas sejam contundentes e evidentes. Fingir não saber sobre aquilo que é óbvio e praticado é uma forma discreta de confessar aquilo que sabe. Ninguém se engana. Ninguém tem poder de eliminar a verdade do coração. “Deus faz o diário de nossa vida: a mão divina escreve o que fizemos e o que omitimos, história que um dia será apresentada a todo o universo. Procuremos, pois, fazê-la bela!” (Bossuet; cf. Mt 25,31-46). E “o homem que nunca se entregou a uma causa superior não atingiu o cimo da vida” (Richard Nixon).


P. Vitus Gustama,svd

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