sábado, 21 de maio de 2016


CORPUS CHRISTI- 26/05/2016

CORPUS CHRISTI

 


Primeira Leitura: Gn 14,18-20


18 Naqueles dias, Melquisedec, rei de Salém, trouxe pão e vinho e, como sacerdote do Deus Altíssimo, 19abençoou Abrão, dizendo: “Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, criador do céu e da terra! 20Bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou teus inimigos em tuas mãos!” E Abrão entregou-lhe o dízimo de tudo.


Segunda Leitura: 1Cor 11,23-26


Irmãos: 23 O que eu recebi do Senhor foi isso que eu vos transmiti: Na noite em que foi entregue, o Senhor Jesus tomou o pão 24 e, depois de dar graças, partiu-o e disse: “Isto é o meu corpo que é dado por vós. Fazei isto em minha memória”. 25 Do mesmo modo, depois da ceia, tomou também o cálice e disse: “Este cálice é a nova aliança, em meu sangue. Todas as vezes que dele beberdes, fazei isto em minha memória”. 26 Todas as vezes, de fato, que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, estareis proclamando a morte do Senhor, até que ele venha.


Evangelho: Lc 9, 11b-17


Naquele tempo, 11b Jesus acolheu as multidões, falava-lhes sobre o Reino de Deus e curava todos os que precisavam. 12 A tarde vinha chegando. Os doze apóstolos aproximaram-se de Jesus e disseram: “Despede a multidão, para que possa ir aos povoados e campos vizinhos procurar hospedagem e comida, pois estamos num lugar deserto”. 13 Mas Jesus disse: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. Eles responderam: “Só temos cinco pães e dois peixes. A não ser que fôssemos comprar comida para toda essa gente”. 14 Estavam ali mais ou menos cinco mil homens. Mas Jesus disse aos discípulos: “Mandai o povo sentar-se em grupos de cinquenta”. 15 Os discípulos assim fizeram, e todos se sentaram. 16Então Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes, elevou os olhos para o céu, abençoou-os, partiu-os e os deu aos discípulos para distribuí-los à multidão. 17 Todos comeram e ficaram satisfeitos. E ainda foram recolhidos doze cestos dos pedaços que sobraram.

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Ao celebrar o Corpus Christi na Quinta-feira, recordamos a Quinta-feira Santa, dia da Instituição da Eucaristia. Ambos os dias tem um objetivo similar, mas não são um simples duplicado. O Corpus Christi nos proporciona uma segunda oportunidade para ponderar o mistério da Eucaristia e considerar seus vários aspectos. O Corpus Christi nos convida a manifestarmos nossa e devoção a este sacramento que é o sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade (e fraternidade), banquete pascal no qual o Corpo de Cristo é o nosso verdadeiro alimento, pois ele é o Pão da Vida eterna que nos plenifica com a graça de Deus.


O que distingue a festa de hoje é a procissão. É o mais exterior nesta festa e é também mais distintivo. Mas quando o exterior nasce de dentro é também a manifestação de seu núcleo interior. Por isso, podemos meditar o mistério desta festa a partir da procissão. Procissão na sua etimologia latina significa “ir adiante”, “adiantar-se”.


É importante enfatizar a íntima conexão que existe entre a missa e a procissão. A procissão é o prolongamento da missa e por isso não deve ser considerada separada. A procissão é uma ação de graças mais ampla. Toda devoção eucarística deve partir da missa e conduzir novamente a ela.


A Hóstia consagrada levada em procissão é o Pão vivo e Doador da vida: “Eu sou o Pão da Vida”, disse Jesus. Com razão recebe culto público e sua finalidade principal é ser recebida como alimento espiritual para nos unir com Cristo e nos associar a seu sacrifício, isto é, ao receber o Pão da Vida devemos ser vida para os outros. Somos alimentados com o Pão da Vida para que sejamos vida para os outros.


A procissão do Corpus Christi teve sua origem no último terço do século XIII. A partir do século XV se tornou geral.


A procissão brotou do costume mais geral das procissões do campo. Nessas procissões o homem recorre a terra onde se desenvolve sua existência, santificando-a e introduz o “santoem seu mundo (desde as relíquias da Igreja até o “santíssimo”).


O homem na procissão delimita o espaço onde se realiza sua existência; e o espaço aberto se converte em igreja, o sol em luz do altar, o ar fresco forma um coro com os cantos dos pássaros e os homens se convertem em caminhantes alegres. Assim a procissão representa visivelmente o movimento dos homens até seu fim através dos lugares de sua existência. E a presença do Santo sustenta este movimento.


Com isso chegamos ao sentido da festa de Corpus Christi, ao sentido da Eucaristia. Certamente, este sacramento alcança seu sentido pleno quando é recebido. Quando o conservamos em nossos altares e o levamos através da terra onde se desenvolve nossa vida, é para mostrar que este sacramento continua sendo o alimento que somente nos apropriamos totalmente quando o degustamos: “Tomai todos e comei. Isto é o meu Corpo que é vos entregue!”.


Que sentido tem a procissão de Corpus Christi? Ela nos faz descobrir que somos peregrinos sobre a terra; não temos aqui pátria permanente. Andamos pelo espaço e o tempo, estamos sempre em caminho e buscamos nossa pátria própria e eterna. Santo Agostinho dizia: “Gostes ou não, não és mais que um peregrino neste mundo. Podes, pois, adoçar teu caminho; porém, por mais que queiras, não poderás converter-te em residente” (In ps. 120,14). Nessa peregrinação somos aqueles que devem deixar-se transformar porque ser homem significa deixar-se transformar. A perfeição se alcança transformando-se e formando-se permanentemente.


Nossa temporalidade e os distintos lugares onde se desenvolve nossa existência se manifestam através de uma procissão, de uma marcha. Mas esta marcha não é a marcha de uma manada. Uma procissão é um movimento dos que se sentem verdadeiramente unidos; é uma peregrinação durante a qual os peregrinos se dão as mãos para que o outro continue em nessa peregrinação. É ser irmão e irmã da jornada. É um movimento que leva consigo o Santo, o Eterno, que tem consigo a tranqüilidade do movimento e a unidade dos que se movem. Através da Procissão de Corpus Christi queremos manifestar publicamente que o Senhor da história e deste êxodo santo do desterro para a pátria eterna, vai conosco; é uma marcha eterna, uma procissão que tem verdadeiramente uma meta diante de si e consigo. Nesta marcha levamos o Corpo santo que foi entregue por nós para a remissão de nossos pecados. A cruz do calvário vem conosco. Temos sempre conosco o Crucificado ressuscitado na marcha através de nosso tempo. Por meio desta procissão, que tem consigo o Crucificado, confessamos que somos pecadores, mas andando com o Doador da vida, viveremos na graça santificante. Por isso, a procissão nos fala da presença permanente da reconciliação nos caminhos de nossa vida. A procissão nos diz que Deus vai conosco; Ele, a reconciliação, Ele, o amor e a misericórdia. Ele que nos acompanha, Ele que nos persegue ainda que caminhemos por caminhos tortuosos e percamos a direção. Ele, que busca no deserto a ovelha perdida e corre ao encontro do filho pródigo. Ele vai conosco na peregrinação de nossa vida, Ele que recorreu por si mesmo todas as ruas e estradas desde o nascimento até a morte. Ele, com misericórdia de seu coração, com a experiência de uma vida completa de homem, paciente e misericordioso. Ele, a salvação e a reconciliação de nossos pecados, levamos o sacramento através das ruas ou campos ou desertos de nossa vida e confessamos e cremos: estamos bem acompanhados na nossa peregrinação, pois o Senhor caminha conosco. Estamos bem acompanhados por Aquele que com sua companhia pode fazer todos os caminhos retos. Através da Procissão queremos confessar que nós, peregrinos nesta terra levamos nas mãos Aquele que é o Começo e o Fim, o Alfa e o Ômega de nossa vida. Através da Procissão queremos professar que a divindade e a humanidade estão unidas indissoluvelmente. Levamos conosco o Corpo glorioso em que o mundo começou a ser glorificado. O Eterno, o Definitivo, o próprio Deus está conosco. Neste momento misterioso tempo e eternidade, terra e céu, Deus e homem começa a penetrar-se. Se você tiver consciência de tudo isso, sua vida vai começar a mudar e a se transformar e você ganhará cada vez mais força mais do que suficiente para começar sua vida com Deus.


Levamos o Corpo do Senhor em procissão e com isso expressamos que todos somos um, que todos vamos pelo mesmo caminho, o único caminho de Deus e de sua eternidade. As mesmas forças da vida eterna operam em todos nós, o único amor divino é nossa participação, participação que nos vincula mais profunda e interiormente.


Se o Senhor anda conosco, simbolizado pela procissão, então, não podemos ter mais medo de nada para avançar no bem; não podemos perder mais tempo para começar de novo, para formar-se. Se a vida é uma peregrinação com o Senhor não é permitido ficar parado e paralisado. Caminhar com o Senhor tudo será aberto apesar dos aparentes muros de desafio.


Nós nos reunimos frequentemente para celebrar a Eucaristia em nome de Jesus, em Sua memória. Nós o fazemos sempre por seu encargo para recordar o que Jesus fez e disse a fim de que possamos também fazer a mesma coisa. Jesus entregou sua vida por amor para que todos fossem salvos. Em cada Eucaristia celebramos o amor de Deus, que nos amou até a morte. Por isso, precisamos fazer do amor de Deus um modelo para nosso amor ao próximo.


Ao celebrar a Eucaristia não podemos perder a memória de Jesus, sua lição e seu exemplo de vida para não ficarmos presos apenas nos ritos.  Temos que recuperar a memória de Jesus para que nossa missa deixe de ser um rito vazio, mas volte a ser um sacramento de salvação. Temos que recuperar a memória de Jesus para recordar tudo o que ele fez e disse, para não mutilar o evangelho nem desfigurar imagem cristã, nem converter a missa em uma bagatela, como convertemos a caridade em esmola. Temos que recuperar a memória de Jesus para compreender que a Quinta-Feira Santa e a Sexta-Feira Santa são inseparáveis, como são unidas a missa e a missão, o amor de Deus e o amor ao próximo.


Por isso, devemos compreender que a missa não se termina com a missa, e sim com a missão. Isto quer dizer que não vamos à missa para ir à missa. Mas que a missa, é de uma parte, a expressão de nossa fé, de nossa esperança e de nossa caridade. Mas de outra parte, a missa é sempre um imperativo, uma exigência para fazer operativa nossa fé, nossa esperança e nossa caridade. Por isso, quando finaliza o rito, começa a realidade na vida; quando termina a reunião eclesial, deve começar nosso compromisso cristão; quando termina a missa, deve começar a missão. Se não a missa careceria de sentido. “Fazei isto em minha memória!”, Jesus nos relembra.


Jesus derramou até a última gota de seu sangue na cruz por amor a nós todos. Pela comunhão do pão e do vinho, do Corpo e do Sangue do Senhor, nós nos incorporamos a Cristo e a sua Igreja e nos convertemos em filhos de Deus. A Eucaristia é como uma transformação, porque é uma transfusão do sangue, da vida, do espírito de Cristo em nós. Entramos assim em sua missão e em sua causa.


Os primeiros cristãos tomavam muito a sério o que celebravam na Eucaristia, por isso, viviam como irmãos e não havia entre eles pobres, nem marginalizados porque tudo o punham em comum. A celebração da Ceia do Senhor era para eles um memorial indelével do amor de Deus e um estímulo irresistível da solidariedade com os irmãos.  Por isso, celebrar e participar da Eucaristia, da missa é para aumentar nosso amor, nossa solidariedade, nossa unidade e nossos esforços pela justiça. Trabalhar pela justiça é o modo de amar aos irmãos, porque a justiça é o passo prévio para o amor, ou o primeiro passo do amor.


“Enquanto estavam comendo, Jesus tomou o pão, pronunciou a bênção, partiu-o e lhes deu, dizendo: “Tomai, isto é o meu corpo” (Mc 15,22). 


Jesus Cristo sabe o que é o pão para o homem. É fundamental.  Ao mesmo tempo, ele adverte que “não somente do pão o homem vive”. Mas muitos se empenham em viver somente do pão. Nesta busca exclusiva do pão, o homem se fecha em seu próprio egoísmo e começou a desconhecer os demais homens, que aparecem em seu horizonte apenas como competidores. Consequentemente, instalam-se no mundo a fome e a morte. Milhares são vítimas desse fenômeno chamado de egoísmo.


Ao comungar o Corpo e o Sangue do Senhor crescem, em cada comungante, a união com Deus, a harmonia interior, e a comunhão com o próximo. E cada comungante se trona sinal e fator da união e da unidade, da comunhão e da fraternidade. O estilo de vida dos cristãos, discípulos missionários de Jesus deve ser o estilo eucarístico: viver na comunhão e viver fazendo o bem como Jesus fez (At 10,38). Comungar o Corpo do Senhor significa viver aquilo que ele viveu, fazer aquilo que ele fez. Ele viveu tudo por amor e fez tudo por amor. O amor transforma tudo em obra prima. Sem o amor tudo se transforma em exibicionismo e tudo se torna uma manifestação da vaidade. O vaidoso normalmente exagera tudo, até os problemas.

Se há divisão ou desunião é porque existe o causador de tudo isto: o pecado. O pecado rompe qualquer relacionamento saudável com Deus, com o próximo e com a natureza. “A divisão fere a própria integridade humana, desfigura a unidade dos seres humanos como Deus quis ao criá-los”, diz o texto base do Congresso. É preciso que façamos sempre o exame de consciência antes que o pecado tome conta de nossa vida, de nossa comunidade e de nossa Igreja. É preciso que seja lembrado o desejo de Jesus para todos: “Para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17,21).



Hoje é o Dia do Pão por excelência em que poderíamos muito bem nos perguntar seriamente qual é o pão que perseguimos e que efeito produz em nós disso tudo, e o que significa para nós comungar o Corpo do Senhor, o Pão da Vida?


Hoje é um dia especialmente apto para revisarmos nossas comunhões, para ver até que ponto essas comunhões são um rito, carente de virtualidade, que nos deixa estáticos e sem nenhuma classe de compromisso pessoal com Deus e com os irmãos.


MISSA

René Juan Trossero


A Missa é uma REUNIÃO fraternal.

Pena que nos juntemos tantas vezes

Sem nos encontrar realmente.


A Missa é um MEMORIAL.

Pena que, com tanta facilidade,

Esqueçamos o que nele lembramos.


A Missa é uma FESTA.

Pena que nós vivamos tão pouco festivamente.


A Missa é uma OFERTA.

Pena que nós vamos mais

Para buscar algo do que para nos entregar


A Missa é um SACRIFÍCIO.

Pena que nos ajoelhemos diante do Pão consagrado

E não façamos a mesma coisa diante do irmão que o come.


A Missa é uma COMIDA.

Pena que nem sempre sintamos “fome de justiça”!


A Missa é uma PÁSCOA.

Pena que nos custe tanto nos convertermos e “passarmos” do ódio e da indiferença para o amor fraterno.


Se alguma vez forem nos cobrar satisfações,

Não será tanto por termos faltado à missa,

Mas por termos estado tantas vezes na missa,

Sem que nada tivesse mudado em nossa vida.

P. Vitus Gustama,svd

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