quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

 20/12/2016
 
DEIXAR-SE FECUNDAR POR DEUS PARA FECUNDAR OS DEMAIS

20 de Dezembro

Evangelho: Lc 1,26-38

26No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, 27a uma virgem, prometida em casamento a um homem chamado José. Ele era descendente de Davi e o nome da Virgem era Maria. 28 O anjo entrou onde ela estava e disse: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!”  29Maria ficou perturbada com estas palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação. 30O anjo, então, disse-lhe: “Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. 31Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus. 32Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi. 33Ele reinará para sempre sobre os descendentes de Jacó, e o seu reino não terá fim”. 34 Maria perguntou ao anjo: “Como acontecerá isso, se eu não conheço homem algum?” 35O anjo respondeu: “O Espírito virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso, o menino que vai nascer será chamado Santo, Filho de Deus. 36Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice. Este é o sexto mês daquela que era considerada estéril, 37porque para Deus nada é impossível”. 38Maria, então, disse: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra!” E o anjo retirou-se.
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O relato da “Anunciação” de Jesus é paralelo ao do dia anterior que anunciava o nascimento de João Batista. Este relato está cheio de reminiscências bíblicas que podem ser verificadas nas “notas” do rodapé das Bíblias publicadas recentemente. É conveniente deixar-se levar pelo encanto dos detalhes e a contemplação do mistério da fé que se esconde neles.

Nazaré da Galileia. Nazaré: povoado ou vila insignificante, desconhecido no AT. A simplicidade da casa de Maria contrasta com a solenidade da anunciação a Zacarias, no marco sagrado do Templo, em Jerusalém, a capital. Galileia: província desprezada pela mistura de judeus e pagãos.

Uma jovem desposada cujo nome é Maria. É uma moça do povo muito simples que nada a distingue de suas companheiras. A moça do povo. Maria, uma humilde moça é eleita por Deus para ser a Mãe do Esperado, do Emanuel, do Deus-Conosco.  O anjo a chama de “cheia de graça”, “bendita entre as mulheres”, “mãe do meu Senhor” e lhe anuncia uma maternidade que não vem da sabedoria ou das forças humanas e sim do Espírito Santo, porque seu Filho será o Filho do Deus altíssimo.

Maria é desposada com certo varão da descendência de Davi cujo nome é José. José é, então, de etnia real despojado de toda grandeza: é um artesão, um carpinteiro, sem nenhuma pretensão de ocupar um trono. No entanto, através dele será cumprida a promessa feita a Davi.

A moça simples, Maria, mostra sua atitude de disponibilidade para Deus apesar da pouca experiência como jovem, mas que acredita plenamente na Palavra de Deus: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a Tua Palavra!”. Esse “Faça-se” não é somente no momento da anunciação e sim será para toda a vida, inclusive será na sua presença dramática ao pé da Cruz do seu Filho, Jesus (cf. Jo 19,25-27).

Maria aparece já desde agora como a melhor mestra da vida cristã. O mais acabado modelo de todos os que têm disponibilidade de dizer “sim” à vontade ou ao plano de Deus. Maria é o melhor espelho no qual cada cristão pode se espelhar. É possível ser instrumento do Senhor desde que saibamos nos deixar fecundar pela Palavra de Deus para que possamos fazer nascer o Salvador para nosso mundo.

Não é por acaso que de todas as cenas que a Igreja usa na liturgia do Advento, a anunciação a Maria é a mais famosa por excelência. A anunciação do Anjo do Senhor a Maria tem aparecido freqüentemente na teologia, na espiritualidade, na arte, na música e na literatura.

Na anunciação do nascimento de João Batista (Lc 1,5-25), o anjo aparece num lugar sagrado, por excelência, no Templo de Jerusalém. A aparição do anjo a Maria acontece em Nazaré, uma cidade desprezada de uma terra desonrada e desconhecida. Até Natanael, o futuro apóstolo do Senhor perguntou: “De Nazaré pode sair coisa boa?” (Jo 1,46). Esta diferença sublinha uma nova economia onde Deus se oferece, não mais na economia do templo de pedra, o lugar sagrado, a sacralidade, mas num lugar pobre, vulgar, até desprezado, naquilo que os homens desprezam e julgam insignificante e humilde e na pessoa simples, como Maria. Como disse o Papa Bento XVI: “Deus não habita num móvel, e sim numa pessoa, num coração: Maria, Aquela que trouxe no seu ventre o Filho Eterno de Deus que se fez homem, Jesus, nosso Salvador”.

A eleição de Maria como Mãe do Salvador não é fruto de uma obra humana, e sim o fruto da complacência gratuita de Deus, da pura graça, pois Deus se antecipa à obra do homem e é o pressuposto absoluto de toda a iniciativa humana.

1. Somos O Que Somos Pela Graça de Deus

A graça é benefício absolutamente gratuito, livre e sem motivo (cf. Ex 33,12. 19; 34,6). Por isso, a graça é o espaço, é o lugar onde a criatura pode encontrar o seu Criador e ao encontrar o Criador o ser humano se encontra. Pela graça de Deus nós somos o que somos (cf. 1Cor 15,10). Pela graça, Deus baixa-se em direção à criatura. O Eterno entra no tempo para transformar o tempo humano em tempo da graça.

Que significa para a Igreja, e para cada um de nós, o fato de que a história de Maria começa com a palavra “graça”? Significa que, para nós também, no começo de tudo, está a graça, a livre e gratuita eleição de Deus, o seu inexplicável favor, o seu vir ao nosso encontro em Cristo e o seu doar-se a nós por puro amor. Significa que a graça é o “primeiro princípio do cristianismo”.

Para cada um de nós, como Maria, a graça representa o núcleo profundo da nossa realidade e a raiz de nossa existência, como confessa São Paulo: “Pela graça de Deus eu sou o que sou” (1Cor 15,10).

Lucas coloca esta cena na narrativa da infância de Jesus para destacar Maria como modelo de qualquer cristão: Ela é a primeira discípula-modelo; modelo de e modelo de quem medita a Palavra de Deus no coração e de quem vive de acordo com a Palavra de Deus (cf. Lc 1,38).

2. Maria É A Primeira Discípula-Modelo

A primeira mensagem dessa anunciação é centrada na concepção de Jesus como Messias e Filho de Deus. E Lucas apresenta Maria como a primeira a ouvir e a acertar a mensagem, para depois proclamá-la (Lc 1, 39-45). Sua condição de discípula realiza-se quando ela diz “sim” à vontade de Deus a respeito de Jesus. Mas tal prontidão lhe é possível porque Maria dispõe da graça de Deus pelo seu modo de vida. Desta maneira nãoexagero ao dizer-se que Maria ouviu o Evangelho de Jesus Cristo e de fato, foi a primeira a fazê-lo. Assim Lucas eleva Maria à condição de primeira discípula-modelo e Lucas fornece aqui a mais forte evidência para o fato importantíssimo de que ela é discípula de Jesus.

Para que possamos dizersim” à vontade de Deus, devemos viver na graça e com a graça de Deus, como Maria, pois a pessoa que Deus escolhe para exercer a sua vontade é alguém que dispõe de sua graça pelo seu modo de vida. Sem a graça de Deus a nossa própria vontade se torna mais importante do que a de Deus. E o Senhor continua oferecendo às pessoas (todos nós) a possibilidade de se tornarem seus discípulos, aprendizes na arte de viver o amor de Deus. Não importa a vida passada, a fama, a riqueza ou a instrução. O Deus de Jesus Cristo não hesitou em usar a torpeza tanto quanto a nobreza, a impureza tanto quanto pureza, homens a quem o mundo ouviu atentamente e mulheres que o mundo censurou; esse Deus continua a trabalhar com a mesma mistura (basta ler a genealogia de Jesus segundo Mateus 1,1-17).  A graça de Deus pode, sim, atuar em pessoas como nós. Mas será que temos a disponibilidade como a de Maria? Deus nos pede uma disponibilidade absoluta e nos chama com freqüência a entregar aquilo que não tínhamos previsto.

3. Maria É Modelo De

Diante da proposta de Deus, Maria responde prontamente. O seusim” ecoa forte e sem nenhuma dúvida e cheio de generosidade. Ela une a liberdade com a vontade: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a Sua Palavra”. Com essas palavras Maria abriu seu espaço interior para deixar Deus entrar. Uma vez que reconheceu o chamamento de Deus, não fez qualquer reserva, e entrega-se a Ele totalmente. Essa entrega do coração a Deus tem um nome muito simples: . quer dizer arriscar-se e jogar-se nas mãos do Senhor com confiança, pois ele nos desde o início de nossa vida até o seu fim. Lucas nos conserva o testemunho de Isabel acerca da de Maria ao dizer: “Feliz aquela que creu” (Lc 1,45).

Duas coisas transparecem de Maria em relação à : Sua vida de , de entrega humilde e confiante que não entende tudo, mas confia, e sua que cresce mediante a reflexão e a meditação. E a vida vai tornando manifesto daquilo que lhe era confuso. Mas certamente é próprio da viver no lusco-fusco (o anoitecer) e criar luz na medida em que acolhe e se entrega ao plano de Deus. A convive com a perplexidade, mas não pode subsistir com a incredulidade. Deve-se superar a incredulidade. Faz parte da aqueles momentos de escuridão, onde a razão se cala e a alma se entrega a Deus.

Portanto, crer significa confiar apesar da obscuridade; acolher apesar de não ver claro porque é Deus quem está falando e convidando. E crer supõe uma atitude que exige uma pobreza interior e desapego das próprias seguranças, que muitas vezes são falsas.

Por isso, Maria, por sua palavra e por suas atitudes faz-se modelo para todos os que crêem. Olhando para a de Maria, a gente se melhor. Nós temos muito a aprender dessa atitude de Maria. Ao olhar para ela, nos sentimos mais animados, pois compreendemos que não nascemos prontos, que a vida é uma travessia. Descobrimos também que até as crises de são ocasiões de crescimento. Reconhecemos que somos peregrinos na e nos colocamos, com alegria, no caminho do Senhor. Se o Antigo Testamento começa com a de Abraão (Gn 15,6), o Novo Testamento começa com a de Maria. Crendo como ela se constrói a Igreja e a traz novamente o Verbo feito homem, Jesus Cristo, entre os homens para iluminar e libertar todos nós.

4. Maria é modelo de quem medita a Palavra de Deus

Quantas vezes Deus se comunica conosco, mas a sua Palavra não penetra em nós. Por que isso acontece? Com toda a agitação e barulho ao nosso redor ou dentro de nosso próprio coração temos muita dificuldade em parar para escutar a voz interior, a voz de Deus. Certamente a vida equilibrada e com sentido começa com a criação de um espaço interior, no qual a pessoa vai juntando os acontecimentos e procura seu sentido e com certeza pode perceber os sinais de Deus na vida.

A partir de Maria, a acolhida da Palavra nem sempre é conseqüência de uma escuta em que ela é ouvida com total clareza. Maria passou pela experiência da obscuridade que envolve a Palavra (cf. Lc 2,34s.49s). A Palavra é acolhida na , independentemente da clareza de seu significado.

Maria vem nos ensinar a cultivar a interioridade. Guardar as coisas no coração, meditar e buscar sentido nos acontecimentos e preparar-se para o que vai acontecer. Deus se comunica através da vida e da Palavra inspirada, a Bíblia. Somos chamados, a exemplo de Maria, a cultivar a interioridade, para meditar fatos e palavras da vida e da Bíblia, guardá-las no coração e melhorar nossa prática cristã.

Três palavras-chaves resumem o ser-cristão a partir de Maria como o exemplo: escutar, acolher/meditar, frutificar/proclamar. Com isso Lucas pinta os traços da figura de Maria. Onde é que estamos: no ouvir, meditar ou no frutificar/proclamar? Não basta ouvir a Palavra de Deus, temos que meditá-la. Mas do ouvir e meditar nós temos que frutificá-la e proclamá-la.

 P. Vitus Gustama,svd

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