segunda-feira, 5 de junho de 2017

07/06/2017
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CREMOS NO DEUS DA VIDA E NO DEUS DOS VIVOS


Quarta-Feira da IX Semana Comum


Primeira Leitura: Tb 3,1-11a.16-17a


Naqueles dias, 1 tomado de grande tristeza, pus-me a suspirar e a chorar. E depois, comecei a rezar, entre gemidos: 2 “Senhor, tu és justo, e justas são todas as tuas obras. Todos os teus caminhos são misericórdia e verdade e és tu quem julga o mundo. Agora, 3 Senhor, lembra-te de mim, olha para mim, e não me castigues por causa de meus pecados, de minhas transgressões ou de meus pais, que pecaram diante de ti. 4 Porque não obedecemos aos teus preceitos, entregaste-nos à pilhagem, ao cativeiro e à morte, e fizeste de nós assunto de provérbios, alvo de zombaria e de injúria cm todas as nações, entre as quais nos dispersaste. 5 Agora, porém, vejo que são verdadeiros os teus numerosos julgamentos, quando me tratas segundo os meus pecados e os pecados de meus pais, pois não cumprimos teus mandamentos nem caminhamos na verdade diante de ti. 6 Trata-me, pois, como te aprouver. Ordena que seja retomado de mim o meu espírito, para que eu desapareça da face da terra e me transforme em terra. Para mim é melhor morrer do que viver, pois tenho ouvido injúrias caluniosas e sinto em mim profunda tristeza. Senhor, ordena que eu seja libertado desta angústia. Deixa-me ir para a morada eterna e não afastes, Senhor, de mim a tua face. Para mim é preferível morrer a ver tão grande angústia em minha vida, ouvindo ainda tais injúrias”. 7 Naquele mesmo dia, Sara, filha de Ragüel, que morava em Ecbátana, na Média, teve também de ouvir injúrias de uma das escravas de seu pai. 8 Ela fora dada em casamento a sete homens, mas o perverso demônio Asmodeu havia-os matado, antes de estarem com ela, como esposa. A escrava disse-lhe: “És tu que sufocas teus maridos! Já foste dada a sete homens e de nenhum até agora tiveste proveito. 9 Por que nos espancas por terem morrido os teus maridos? Vai-te embora com eles e jamais vejamos filho ou filha nascidos de ti!” 10Naquele dia, Sara ficou com a alma cheia de tristeza e pôs-se a chorar. E subiu ao aposento de seu pai, no andar superior, com a intenção de se enforcar. Mas, pensando melhor, disse consigo mesma: “Não quero que venham injuriar a meu pai e dizer-lhe: “Tinhas uma filha muito querida e ela enforcou-se por causa de suas desgraças”. Assim eu faria baixar à sepultura a velhice amargurada de meu pai. É melhor para mim, em vez de me enforcar, pedir ao Senhor que me faça morrer, para não mais ouvir injúrias em minha vida”. 11ª No mesmo instante, estendendo as mãos em direção à janela, fez esta oração: “Tu és bendito, Deus de misericórdia, e é bendito eternamente o teu nome!” 16 Na mesma hora, a prece dos dois foi ouvida perante a glória de Deus. 17ª E Rafael foi enviado para curar a ambos.


Evangelho: Mc 12,18-27


Naquele tempo, 18vieram ter com Jesus alguns saduceus, os quais afirmam que não existe ressurreição e lhe propuseram este caso: 19“Mestre, Moisés deu-nos esta prescrição: Se morrer o irmão de alguém, e deixar a esposa sem filhos, o irmão desse homem deve casar-se com a viúva, a fim de garantir a descendência de seu irmão”. 20Ora, havia sete irmãos: o mais velho casou-se, e morreu sem deixar descendência. 21O segundo casou-se com a viúva, e morreu sem deixar descendência. E a mesma coisa aconteceu com o terceiro. 22E nenhum dos sete deixou descendência. Por último, morreu também a mulher. 23Na ressurreição, quando eles ressuscitarem, de quem será ela mulher? Porque os sete se casaram com ela!” 24Jesus respondeu: “Acaso, vós não estais enganados, por não conhecerdes as Escrituras, nem o poder de Deus? 25Com efeito, quando os mortos ressuscitarem, os homens e as mulheres não se casarão, pois serão como os anjos do céu. 26Quanto ao fato da ressurreição dos mortos, não lestes, no livro de Moisés, na passagem da sarça ardente, como Deus lhe falou: ‘Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó’? 27Ora, ele não é Deus de mortos, mas de vivos! Vós estais muito enganados”.
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É Preciso Rezar Em Todas As Situações De Nossa Vida


Encontramos na Primeira Leitura dois personagens que carregam sobre seus ombros o sofrimento e as misérias da humanidade: o ancião Tobit cuja bondade para os desafortunados é muito mal recompensada, pois é afetado pela cegueira, e Sara, vítima de estranhos malefícios que fazem que seus maridos morram um atrás do outro.


Tobit e Sara experimentam cruelmente o problema do mal. Para eles, o sofrimento provém de Deus, mas é o castigo por suas faltas (Tb 3,3-4). Este pensamento é o resultado da mentalidade de sua época em que qualquer sofrimento é a consequência do pecado cometido. Como filhos de sua época, eles adotam para si esta mentalidade. Em vez de pedir uma cura, Tobias pede a Deus que tire sua vida para não prolongar o sofrimento (Tb 3,6.10), pois no pensamento de Tobias, um cego jamais voltaria a recuperar a vista. Também para Sara que é acusada como causadora da morte de seus maridos não haveria mais felicidade. Trata-se de duas pessoas sofredoras de uma família só. A oração de Tobias é guiada por um conceito errôneo da retribuição sem ideias claras sobre o problema da existência do mal.


A mentalidade da retribuição afeta um certo número de pessoas na nossa época. Quando nos vemos tentados, como Tobit e Sara, a fazer de Deus responsável de um mal que dominou nossa vida, não podemos nos esquecer que em Jesus Cristo Deus compartilha conosco nossa condição, acompanhando-nos em todas as circunstancias pelas quais temos que atravessar (Mt 28,20), carregando junto a nós o peso de uma luta que é uma progressiva libertação. Deus não nos deixa sós, pois Jesus Cristo, Deus encarnado “habitou entre nós” (Jo 1,14) e “tomou nossas enfermidades e carregou nossas doenças” (Is 53,4; Mt 8,17). Em sua exigente misericórdia, Jesus nos tira de todos os refúgios que nós nos buscamos para nos subtrair a essa luta contra a enfermidade, a guerra, o egoísmo e para exercer um domínio cada vez maior sobre a natureza numa perfeição cada vez melhor a fim de que possa servir melhor o homem. Nossa passividade diante do compromisso temporal se escuda atrás de um cúmulo de pretextos e de falsas razoes denunciadas por Jesus Cristo, o qual nos precedeu no compromisso e na luta.


Mas em Tobit há um lado positivo a mais. Mesmo sofrendo, Tobias recorre a Deus numa oração. O autor do livro de Tobias quer transmitir uma comovedora certeza sobre a eficácia da oração: “Tomado de grande tristeza, pus-me a suspirar e a chorar. E depois, comecei a rezar, entre gemidos”. Tobias é um homem reto e permanece fiel na desgraça. Ele sabe o que é sofrer, chorar e gemer. Mas tudo isto nele se transforma em oração.


A oração é imprescindível na vida de cada cristão quando ele vive seriamente a verdade do seu ser como cristão. A oração é indispensável e necessária, porque é o clima em que nasce e amadurece a fé e a vida. A oração fortalece a esperança cristã que não podemos confundir com a simples espera de algo que se realize. A esperança cristã consiste na certeza de conseguir um dia o anseio mais íntimo e verdadeiro de nosso coração apesar de todas as situações e contradições que façam difícil manter esta atitude. É uma esperança que respeita o “tempo de Deus”, mas que nos leva a trabalharmos para adiantá-lo.  Se a oração é a forma habitual de alimentar nossa comunhão com Deus e com os homens, deixar de orar significa deixar de ter o “sentido de Deus” nos acontecimentos e deixar-nos alienados d’Ele. Se um cristão não rezar, vai errar muito o caminho e não somente vai errar no caminho.


Na mesma hora, a prece dos dois foi ouvida perante a glória de Deus. E Rafael foi enviado para curar a ambos”, assim concluiu o texto da Primeira Leitura. O Senhor escutou a oração de ambos: Tobias e Sara. Deus enviou o anjo Rafael para tirar as escamas dos olhos de Tobit e dar a Tobias por esposa Sara, a filha de Raquel. O artificio literário do livro de Tobias recalca a compaixão do Senhor que sempre escuta a oração do justo entre os terríveis dores da provação. O Senhor é eternamente compassivo e seus caminhos são caminhos de justiça e de piedade.


A esperança na ressurreição é a força capaz de ordenar as realidades humanas numa escala de valores


A discussão entre Jesus e autoridades passa agora do campo político-religioso para o campo puramente dogmático. Entram em cena os saduceus que Marcos cita somente na passagem do evangelho. O assunto é sobre a ressurreição.


Os saduceus são um grupo formado por pessoas ricas e por isso, são uma “classe separada”: fazendeiros e dominam os comércios da cidade. Eles pertencem às famílias sacerdotais dirigentes. Eles têm uma grande influência na política e na administração da justiça na Palestina. Eles são conservadores em termos da religião. Eles aceitam apenas a Tora (Pentateuco ou cinco primeiros Livros da Bíblia: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio). Eles não acreditam na vida depois da morte (ressurreição), pois não está escrita (explicitamente) no Pentateuco. Por isso, eles aplicam o ditado “Carpe diem” (aproveite o dia ou ser hedonista) ou salve-se quem puder. O divórcio entre eles é comum. Por não acreditar na vida após a morte, eles perguntam a Jesus a partir de um caso especial como conta o evangelho deste dia.


Jesus se baseia nas Escrituras (Mc 12,24) ainda que, depois, se limite a citar uma passagem do Pentateuco para se adaptar a seus interlocutores. A resposta de Jesus está contida nas duas frases praticamente idênticas: ”Vós estais enganados (Mc 12,24) e “Vós estais muito enganados” (Mc 12,27). Por dois motivos: Não conheceis as Escrituras nem o poder de Deus (Mc 12,24). A passagem que Jesus cita é Ex 3,1-12 onde se narra como Deus apareceu a Moisés na sarça. Nessa cena Deus se define como o Deus de Abraão, o Deus de Isaac, o Deus de Jacó, isto é, o Deus que atua na história e que quer continuar sendo, com o homem, protagonista da história. O Deus de Abraão é o Deus dos vivos, o Deus fonte de vida. O homem que atua com Deus não pode ter como meta o fracasso da morte. A comunidade ou cada pessoa que tem a experiência com Jesus ressuscitado é um povo que vai além da história e é destinado para uma vida sem fim com Deus.


Além disso, Jesus olha para toda a revelação divina, inclusive a que teve lugar depois de Moisés na qual o conceito de ressurreição é evidente. Por exemplo, no Livro de Sabedoria onde se diz: “Deus criou o homem para a imortalidade” (cf. Sb 1,12-3,9; etc.). Para Jesus a vida dos ressuscitados é eterna, é imortal, como a dos anjos e por isso, não necessita perpetuar-se por geração.


Uma das coisas que sempre preocupam o homem é o seu destino final. O que passa depois da morte? Nós nos encontramos hoje diante da Palavra de Deus que toca um dos pontos mais difíceis de entender em nossa vida: a realidade da morte e a proposta cristã da Ressurreição. Ainda não entendemos as propostas cristãs da Ressurreição porque constantemente vivemos aferrados a uma falsa corporalidade pelo medo que nos inculcaram diante da realidade da morte. Cada dia os homens e as mulheres de nosso tempo vivem em um pânico constante diante da morte. Pânico que nos faz viver a vida de forma escrupulosa e de falsos moralismos.


Para o cristão, a resposta de Jesus ilumina este mistério e o faz viver em paz, pois agora sabe que não existe a morte e sim simplesmente uma transformação para quem vive no Senhor e com o Senhor e que se traduz na convivência fraterna com os demais.


A esperança na ressurreição é a força capaz de ordenar as realidades humanas numa escala de valores posta na vida eterna. Por isso, Jesus ensina que a vida eterna será dada na gratuidade e a universalidade na relação entre os homens, não haverá domínio de uns sobre outros, a existência será uma grande festa de vida eterna e plena. A ressurreição não pode ser entendida na perspectiva dos valores temporais. Isso é o que no texto significam os anjos.


Por outro lado, devemos entender no texto que Deus é um Deus dos vivos e não dos mortos. Devemos aprofundar sobre o mistério de um Deus que dá a vida, que transforma nosso ser, que nos ressuscita. Desta forma, o evangelista Marcos antecipa o conteúdo da ressurreição de Jesus como vida depois da morte e nos convida a descobrirmos o verdadeiro poder de Deus que transforma as forças da morte em forças de vida. O Deus que Jesus dá a conhecer é um Deus doador de vida e que deseja que as pessoas voltem a nascer de dentro com novos valores de vida e de justiça.


Diante da morte temos que ter uma atitude de acolhida e uma grande capacidade de tratá-la como fez São Francisco de Assis que chamava a morte de “a irmã Morte”, e diante da Ressurreição nós temos que entender o conteúdo de justiça que ela esconde.


A morte é um mistério, também para nós. Mas fica iluminada pela afirmação de Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto viverá” (Jo 11,25). Não sabemos como, mas estamos destinados a viver, a viver com Deus, participando da vida pascal de Cristo, nosso irmão. A ressurreição é a morte de nossa morte para vivermos eternamente com Deus. Santo Agostinho nos dá o seguinte conselho: “Confia em Deus; Ele sempre dá o que promete. Sabe o que promete, porque é a verdade. Pode prometer porque é onipotente. Dispõe de tudo porque é a própria vida. Oferece todas as garantias porque é eterno” (In ps. 35,13). “Deus, de quem separar-se é morrer, a quem retornar é ressuscitar, com quem habitar é viver. Deus de quem fugir é cair, a quem voltar é levantar-se, em quem apoiar-se é estar seguro. Deus, a quem esquecer é morrer, a quem buscar é viver, a quem ver é possuir” (Solil. 1,1,3). “A perda (de nossos entes queridos) que sofremos oprime-nos o coração, mas a esperança nos consola; nossa fraqueza natural nos acabrunha, mas a fé nos ergue outra vez; nossa condição mortal nos faz derramarmos copiosas lagrimas, mas as promessas de Deus as enxugam, acrescentou Santo Agostinho.


P. Vitus Gustama,svd

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