01/11/2017
FAZER-SE PEQUENO NO ESPIRITO DO SENHOR PARA TORNAR-SE DIANTE DE DEUS
Quarta-Feira
da XXX Semana Comum
Primeira Leitura: Rm 8,26-30
Irmãos, 26 também, o Espírito vem em socorro da nossa fraqueza. Pois
nós não sabemos o que pedir, nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede
em nosso favor, com gemidos inefáveis. 27 E aquele que penetra o íntimo dos
corações sabe qual é a intenção do Espírito. Pois é sempre segundo Deus que o
Espírito intercede em favor dos santos. 28 Sabemos que tudo contribui para o
bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados para a salvação, de
acordo com o projeto de Deus. 29 Pois aqueles que Deus contemplou com seu amor
desde sempre, esses ele predestinou a ser conformes à imagem de seu Filho, para
que este seja o primogênito numa multidão de irmãos. 30 E aqueles que Deus
predestinou, também os chamou. E aos que chamou, também os tornou justos; e aos
que tornou justos, também os glorificou.
Evangelho: Lc 13,22-30
Naquele
tempo, 22 Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo o
caminho para Jerusalém. 23 Alguém lhe perguntou: “Senhor, é verdade que são
poucos os que se salvam?” Jesus respondeu: 24 “Fazei todo esforço possível para
entrar pela porta estreita. Porque eu vos digo que muitos tentarão entrar e não
conseguirão”. 25 Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vós,
do lado de fora, começareis a bater, dizendo: ‘Senhor, abre-nos a porta!’ Ele
responderá: ‘Não sei de onde sois’. 26 Então começareis a dizer: ‘Nós comemos e
bebemos diante de ti, e tu ensinaste em nossas praças!’ 27 Ele, porém,
responderá: ‘Não sei de onde sois. Afastai-vos de mim todos vós que praticais a
injustiça!’ 28 Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac
e Jacó, junto com todos os profetas no Reino de Deus, e vós, porém, sendo
lançados fora. 29 Virão homens do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e
tomarão lugar à mesa no Reino de Deus. 30 E assim há últimos que serão
primeiros, e primeiros que serão últimos”.
_______________
O Espirito Santo Nos Inspira
e Nos intercede
“O
Espírito vem em socorro da nossa fraqueza. Pois nós não sabemos o que pedir,
nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor, com gemidos
inefáveis”.
A Primeira Leitura é tirada do capitulo
oitavo da Carta de São Paulo ao Romanos. Este capítulo da Carta aos Romanos é
seu momento culminante no qual encontramos uma profundidade teológica e
espiritual.
Segundo São Paulo, o destino que nos espera é
otimista: “Deus predestinou (todos) a ser conformes à imagem de seu
Filho, para que este seja o primogênito numa multidão de irmãos”. Mas há um
protagonista importante que é algo mais do que jurídico ou meramente
administrativo pelo fato de sermos batizados. É o Espirito de Deus quem nos
ensina a rezar a Deus. Além disso, “é o
próprio Espírito que intercede em nosso favor, com gemidos inefáveis”, pois
Ele nos conhece e conhece Deus em profundidade. Por isso, pode estabelecer o
ponte tão admirável entre Deus e nós que se chama oração. Neste capítulo mais
de vinte vezes aparece o Espírito Santo como fator decisivo na vida cristã.
Consequentemente, a oração do cristão nada
tem de superficial, mas se torna profunda, pois trata-se de confiança inabalável
no Espirito de Deus. Na oração podemos apresentar a Deus as aspirações e
necessidades de nossa existência e, ao mesmo tempo, nossa fé nos encoraja a
esperarmos tudo de Deus e de sua graça. Qualquer resposta de Deus é sempre uma
graça, pois o Espirito nos conhece e conhece a sabedoria ilimitada de Deus. Além
disso, “O Espírito vem em socorro da nossa fraqueza” para que mantenhamos nossa
esperança em Deus. A certeza de nossa esperança em Deus nos faz suportarmos com
paciência todos os sofrimentos e dificuldades encontradas nesta vida, pois no
final Deus terá a última palavra sobre nós.
“Aqueles
que Deus contemplou com seu amor desde sempre, esses ele predestinou a ser
conformes à imagem de seu Filho, para que este seja o primogênito numa multidão
de irmãos”, escreveu São Paulo aos Romanos que lemos na Primeira Leitura. Nossa
meta na vida como cristaos é nada menos que ser “imagem do Filho” com tudo o
que isso significa de união íntima com Deus e também de esperança otimista na
vida. Como todos somos débeis, ai está o Espirito que intercede por nós. O Esirito
nos faz dizermos “Abbá”, “Paizinho”, nos ensina e nos move a rezarmos. A afirmação
de hoje é mais atrevida: é o Espirito quem ora dentro de nós “com gemidos inefáveis”.
Portanto, reconhecendo nossa debilidade e
fragilidade humanas estejamos sempre dispostos a nos deixar fortalecer e guiar
pelo Esirito que Deus infundiu em nós.
Fé e Nosso Esforço Para Estar Em Comunhão Com Deus
Continuamos a nos encontrar com Jesus no seu
Caminho para Jerusalém (Lc 9,51-19,28). Para Jesus, Jerusalém é o ponto
culminante e a meta decisiva, seja pela cruz de morte e triunfo, seja pela
ascensão de Jesus ao céu. Neste caminho Jesus vai dando suas últimas instruções
ou lições para que os discípulos possam levar adiante os ensinamentos de Jesus.
A lição dada aos discípulos nesta passagem é
sobre o que e como o discípulo deve viver para merecer, pela misericórdia
divina, a vida eterna (salvação). E para falar deste tema Lucas parte da
pergunta de um anônimo (alguém) sobre a salvação. A pergunta desse
anônimo é a pergunta de todos os que sabem que a vida tem o fim e por isso,
todos os comportamentos ou modo de viver pesam para este fim. Interrogar-se
pela salvação e desejar a vida eterna é interrogar-se pelo sentido da vida no
presente: “Senhor, são poucos os que se
salvarão?” (v.23).
Em vez de responder “quantos se salvarão”
Jesus fala do “modo” como se salvar. Trata-se de um apelo urgente ao empenho: “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita,
pois eu vos digo que muitos procurarão entrar e não conseguirão” (v.24).
“Esforçai-vos” (agonizesthi/agonizomai, de onde deriva a palavra “agonia”) é uma
palavra que denota ação feita de todo o coração. É um termo técnico para
competir nos jogos, e dele obtemos nossa palavra “agonizar”. Não se trata, por
isso, de nenhum esforço desanimado. O caminho que conduz ao céu passa por uma
luta intensa. Sobre esse empenho na luta São Paulo escreve: “Combate o bom combate da fé, conquista a
vida eterna, para a qual foste chamado, como o reconheceste numa bela profissão
de fé diante de muitas testemunhas” (1Tm 6,12; cf. 2Tm 4,7-8). O Reino de
Deus é exigente, não “se ganha” comodamente. Em outra ocasião Jesus chegou a
dizer: “É mais fácil o camelo passar pelo fundo de uma agulha do que o rico
entrar no Reino de Deus” (Mc 10,25).
A porta é estreita porque não há salvação sem
esforço e sacrifício depois que o pecado se instalou no mundo. Não é Deus quem
estreita a porta, é o clima de pecado presente nas relações humanas que vai
exigir escolhas nem sempre fáceis no caminho da salvação. A expressão “porta
estreita” quer nos dizer que o problema da salvação é uma questão de empenho,
de esforço, de conversão e de testemunho. A porta da salvação é estreita, mas
está aberta para todas as pessoas de boa vontade, pessoas que se esforçam para
viver na fraternidade.
Se a porta é estreita, então há uma só
condição para entrar: tornar-se pequeno: “Em
verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como as
crianças, de modo algum entrareis no Reino dos Céus. Aquele, portanto, que se
tornar pequenino como esta criança, esse é o maior no Reino dos céus” (Mt
18,3-4). Se a porta é estreita, então os
“gordos” não conseguirão entrar. Não podemos ser discípulos de Jesus se não
renunciarmos a ser grandes, poderosos, dominadores, arrogantes, prepotentes,
donos da verdade. Pequeno é aquele que se sente extraviado, humilde e só pode
apelar à misericórdia de Deus. Quem não assumir a atitude interior do pequeno,
sejam quais forem as suas práticas religiosas, orações, catequese, sermões, até
milagres (Mt 7,22), não conseguirá entrar.
Não há pessoas recomendadas junto a Deus, nem
privilegiadas que possam se gabar diante d’Ele com base em sua pertença étnica,
cultural ou religiosa (v.28). Não basta freqüentar a Igreja assistindo ou
participando da missa. A única condição para ser reconhecido pelo Senhor, para
fazer parte da comunhão salvífica é a vivencia do amor fraterno. É viver como
irmão dos outros e tratar ao outro como irmão. Para passar pela porta do Reino
precisamos praticar a justiça. E a justiça, mais do que questão de direito,
isto é, dar a cada um o que lhe pertence e respeitar os direitos e a dignidade
de todos, é uma questão de amor. Quem ama, pratica a justiça. A maior de todas
as injustiças é a falta de amor, pois outras injustiças são fruto da falta de
amor. Para o evangelho deste dia a justiça é como um bilhete de passagem para
entrar no Reino de Deus, pois o Reino de Deus é o Reino de amor e de justiça.
No Sermão da
Montanha Jesus nos avisou: “Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta
e espaçoso o caminho que conduzem à perdição e numerosos são os que por aí
entram. Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho da vida e raros são os
que o encontram” (Mt 7,13-14). O Reino é aberto para todos, mas é exigente. Não
se entra pela razão étnica ou pela associação a qual alguém pertence e sim pela
resposta de fé que vivemos na convivência fraterna com os demais. O critério
para entrar no Reino segundo o evangelho de Mateus é a caridade fraterna: dar
de comer aos faminto e pobre, dar de beber aos sedentos, vestir os nus, acolher
os estrangeiros, visitar os doentes e os presos (cf. Mt 25,40.45). Daí se vê
qual é o sentido da porta estreita do céu. A caridade fraterna é a que mais nos
custa, mas nos faz entrar no céu, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16).
A afirmação de Jesus “Esforçai-vos por entrar
pela porta estreita” é uma mensagem de ânimo e de esperança para todos nós e
para as pessoas de boa vontade. A esperança não ignora as dificuldades e os
riscos de fracasso ocasionalmente, mas ela os enfrenta. A esperança não quer
saber quando ganhará, mas simplesmente está convencida da vitória final.
Praticar a esperança em Deus é renunciar ao passado, às feridas, aos medos e à
escuridão para deixar-se guiar pela luz divina da qual surge a abertura que
permitirá o homem chegar a uma vida nova e renovada. Praticar a esperança é
abrir nossas asas não para fugir, mas para ascender a espaços de qualidade
superiores dos anteriores. Deus não nos inspira sonhos sem nos dar também a
força de realizá-los: “Javé é o Deus que me cinge de força e torna perfeito
o meu caminho” (Sl 18,33).
Precisamos viver cada dia como se fosse o dia
do juízo, e viver em plenitude cada dia como se fosse o último para nossa
caminhada nesta terra. Pensar e viver desta maneira nos levam a melhorarmos
nosso empenho, nossa convivência fraterna e a valorizarmos nosso tempo para
fazer o bem. Na verdade ainda temos muita coisa para melhorar. É preciso que
tratemos nossa vida com carinho, respeito e profundidade.
P. Vitus Gustama,svd
Nenhum comentário:
Postar um comentário