04/05/2018
AMAR COMO ESTILO DE VIDA CRISTÃ
Sexta-Feira da V Semana da
Páscoa
Naqueles dias, 22 pareceu
bem aos apóstolos e aos anciãos, de acordo com toda a comunidade de Jerusalém,
escolher alguns da comunidade para mandá-los a Antioquia, com Paulo e Barnabé.
Escolheram Judas, chamado Bársabas, e Silas, que eram muito respeitados pelos
irmãos. 23 Através deles enviaram a seguinte carta: “Nós, os apóstolos e os anciãos, vossos irmãos, saudamos os irmãos
vindos do paganismo e que estão em Antioquia e nas regiões da Síria e da
Cilícia. 24 Ficamos sabendo que alguns dos nossos causaram perturbações com
palavras que transtornaram vosso espírito. Eles não foram enviados por nós. 25 Então
decidimos, de comum acordo, escolher alguns representantes e mandá-los até vós,
junto com nossos queridos irmãos Barnabé e Paulo, 26 homens que arriscaram suas
vidas pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo. 27 Por isso, estamos enviando
Judas e Silas, que pessoalmente vos transmitirão a mesma mensagem. 28 Porque
decidimos, o Espírito Santo e nós, não vos impor nenhum fardo, além destas
coisas indispensáveis: 29 abster-se de carnes sacrificadas aos ídolos, do
sangue, das carnes de animais sufocados e das uniões ilegítimas. Vós fareis bem
se evitardes essas coisas. Saudações!”
Evangelho: Jo 15,12-17
Naquele
tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 12“Este é o meu mandamento:
amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei. 13Ninguém tem amor
maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos.14Vós sois meus
amigos, se fizerdes o que eu vos mando. 15Já não vos chamo servos,
pois o servo não sabe o que faz o seu Senhor. Eu chamo-vos amigos, porque vos
dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai. 16Não fostes vós que me
escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos designei para irdes e para que
produzais fruto e o vosso fruto permaneça. O que, então, pedirdes ao Pai em meu
nome, ele vo-lo concederá. 17Isto é o que vos ordeno: amai-vos uns
aos outros”.
-----------------------------------
A Primeira
Leitura de hoje nos relata algumas decisões do Concílio de
Jerusalém. Primeiro, há que
viver na novidade de Cristo e não segundo costumes passados. Segundo, não há que impor a
circunscisão aos convertidos de qualquer religião não judia, nem tampouco há
que impor outras tradições, usos próprios da anterior história espiritual de
Israel. Terceiro, somente há
de impor algumas obrigações essenciais como não cair na idolatria e uniões ilegítimas.
Quarto, os grandes assuntos
da vida e da fé tem que ser tratados em assembleia de responsáveis: apóstolos, presbíteros,
irmãos. Todos são responsáveis.
Tudo isso abriu
uma ampla perspectiva para o desenvolvimento da missão apostólica. A Primeira
Leitura sublinha a união de caridade na Igreja primitiva: “O Espirito Santo e nós”.
Será que
trabalhamos como a comunidade primitiva eclesial, sendo corresponsáveis nas decisões
ou preferimos viver em “paz” sem assumir responsabilidades?
A vocação dos pagãos
é o cumprimento do universalismo messiânico. Apesar de nossa ignorância, de
nossa fraqueza, de nossa preguiça, Deus realiza seu plano e cumpre seu propósito.
Estamos nos pensamentos de Deus e nos seus planos antes do princípio das
coisas. Somos frutos do pensamento de Deus. Por isso, damos graças a Deus
diante de todos os povos e cantamos para Ele diante das nações com o Salmo
Responsorial (Sl 56/57): “Meu coração está pronto, meu Deus,
está pronto o meu coração! Vou cantar e tocar para vós: desperta, minha alma,
desperta! Despertem a harpa e a lira, eu irei acordar a aurora! Vou louvar-vos,
Senhor, entre os povos, dar-vos graças por entre as nações! Vosso amor é mais
alto que os céus, mais que as nuvens a vossa verdade! Elevai-vos, ó Deus, sobre
os céus, vossa glória refulja na terra!”.
No Evangelho de
hoje Jesus nos diz: “Este
é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei”. O
mandamento sumpremo de Cristo consiste na caridade fraterna que chega até o dom
da própria vida em favor dos seres amados (a humanidade). Jesus dá a conhecer
aos discípulos tudo quanto conhece do Pai. A revelação do Pai não é outra coisa
que Jesus Cristo e é revelação pelo amor, para o amor e no amor. O amor dos discípulos
entre si será o fundamento e a condição da permanência gozosa neles de Jesus,
depois de sua partida deste mundo.
São Bernardo
afirma: “O amor basta por si só e porcausa de si. Seu prêmio e seu mérito se
identificam com ele mesmo. O amor não requer outro motivo fora de si mesmo, nem
tampouco nenhum proveito; seu fruto consiste em sua própria prática. Amo porque
amo, amo para amar. Grande coisa é o amor, com tal que se recorre a seu princípio
e origem, com tal que volta o amor a sua fonte e seja uma contínua emanação do
mesmo” (Sermão 83).
Onde Há Espaço Para o Espirito
Santo e a Colaboração Humana Há Solução Para os Conflitos
Em At 6 houve o problema da discriminação dos
Helenistas (viúvas helenistas discriminadas), agora em At 15, o problema da da
discriminação dos pagãos convertidos. Nestes dois casos o que está em jogo,
além do sofrimento de pessoas concretas, é o problema institucional e teológico
da missão fora de Jerusalém (além da Lei e do Templo) para os samaritanos e
povos pagãos. O problema é superado com uma assembleia de toda a comunidade.
Especialmente no Concílio de Jerusalém em At
15 houve discussão e posições contrapostas. Mas depois do esforço de
discernimento, no fim teve um consenso: “Decidimos,
o Espírito Santo e nós, não vos
impor nenhum fardo, além destas coisas indispensáveis: abster-se de carnes
sacrificadas aos ídolos, do sangue, das carnes de animais sufocados e das
uniões ilegítimas. Vós fareis bem se evitardes essas coisas”. Este foi o
conteúdo da carta enviada de Jerusalém pelos Apóstolos e presbíteros para os
pagãos convertidos de Antioquia, Síria e Cicília. Portanto, fica afirmada a
conficção teológica de que a salvação vem de Jesus e não pela Lei de Moisés para
os pagãos que se converteram para a fé cristã e triunfam a tolerância e a
interpretação prulalista de Paulo e Barnabé. O Salmo resposorial recolhe esta
sensação: “Vou louvar-vos, Senhor, entre
os povos, dar-vos graças por entre as nações! Vosso amor é mais alto que os céus,
mais que as nuvens a vossa verdade!” (Sl 56).
Como a Igreja em geral e cada comunidade, em
particular (familiar, paroquial, diocesana, religiosa etc.) enfrenta seus
conflitos internos? A partir do texto da Primeira Leitura tiramos lição de que
quando nossas comunidades se reúnem e se esforçam por discernir qual é
realmente a vontade de Deus, que supõe a existência de espaço para o Espirito
Santo agir, as decisões que tomamos sempre tem objetivo de salvar todos os
homens como o próprio Deus quer (cf. 1Tm 2,4) a exemplo da decisão do Concílio
de Jerusalém. Como aconteceu na história, hoje em dia sempre temos a tentação
de impor a os outros coisas que não são necessárias, cargas que não são
imprescindíveis. Muitas vezes somos intolerantes nem respeitamos as diferenças
de caráter, de cultura, de opinião. Não nos esqueçamos que cada ponto de vista
é apenas vista de um ponto sobre a mesma realidade. A presença do outro nos
ajuda a olharmos ricamente para a mesma realidade: o outro nos enriquece e nós
enriquecemos o outros a partir de nossa visão sobre a mesma realidade. Em toda
discussão deveria triunfar a caridade, tolerando muitos detalhes periféricos e
cebtrando-nos no importante ou no essencial para a salvação de todos.
A vida é muito dimensional demais para sermos
mesquinhos no nosso ponto de vista. Somente Deus, na Sua sabedoria infinita é
capaz de perceber até os mínimos detalhes sobre qualquer realidade e criação,
pois Ele é o Criador do universo e o Onisciente. Enquanto nós, seres humanos na
ordem da criação somos limitados na nossa visão. A vida não é matemática cujo
resultado tem seu ponto final. “Nossas
vidas começam a terminar no dia em que permanecemos em silêncio sobre as coisas
que importam” (Martin Luther King). E “Nossas
vidas são definidas por momentos. Principalmente aqueles que nos pegam de
surpresa” (Bob Marley). Mas nunca estamos prontos para ver o que nunca
víamos, e nunca estamos preparados para aceitar a verdade que choca nossos
hábitos. Mas tendo Deus e sua vontade como o foco ou centro no qual gira nossa
existência, e tendo a suficiente humildade, tudo que acontece como surpresa
serve para enriquecer nossa existência neste mundo.
Fica para nós a seguinte pergunta: quando
tomamos uma decisão comunitária, poderíamos dizer com sinceridade que “Decidimos, o Espírito Santo e nós”? Ou nos deixamos levar por nossos
interesses mesquinhos e egoístas? Nossas decisões alegram os alentadores, como
os de Jerusalém, e os interessados, como os de Antioquia, Síria e Cicília? Para Lucas, o autor dos Atos, a alegria
é um sinal clara de que atuamos conforme o Espirito Santo.
Amor Como Um Mandamento Novo
De Jesus Para Os Seus Seguidores
“Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos
outros, assim como eu vos amei”.
Continuamos ainda a acompanhar o discurso da
despedida de Jesus dos seus discípulos no evangelho de João (Jo 13-17). No
evangelho de hoje Jesus fala do amor como o maior mandamento para seus
seguidores e Jesus se apresenta como amigo dos discípulos e de todos os seus
seguidores. Creio que este mandamento é tão importante a ponto de ser
apresentado duas vezes no evangelho de João: Jo 13,34-35 e Jo 15,12-14. “Meu
amor é meu peso”, dizia Santo Agostimho (Conf. 13,9). “Quanto
mais cresce teu amor, maior é tua perfeição. A perfeição da alma é o amor”,
acrescentou Santo Agostinho (In epist. Joan. 9,2).
Amar Como o Estilo De Vida Cristã
“Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”. Este é o
mandamento do Senhor! Não se trata de uma lei (nomos), e sim de um
estilo de vida (entolé). Aqui a palavra “mandamento” tem a ver com o
estilo de vida. Para o evangelista João “amar” é um estilo de vida. Trata-se de
uma coisa que faz parte da vida cotidiana de cada seguidor de Cristo.
Mas que tipo de amor que Jesus recomenda? Que
tipo de amor que ele fala como o estilo de vida? Em que sentido o amor como o
estilo de vida?
Jesus se põe a si mesmo como modelo: “Amai-vos
uns aos outros como eu vos amei” (Jo 15,12). De que maneira
Jesus nos amou? O amor de Jesus é gratuito, generoso, universal, incondicional
e sem limites: “Jesus amou os seus, e os amou até o fim” (Jo 13,1).
Jesus amou ao longo dos dias e dos anos; amou até a morte e além da morte. Sem
limites: até dar tudo, gastar tudo, despojar-se de tudo. O amor de Deus não se
deixa condicionar (cf. Jo 3,16), e nem sequer impor limites pelos maus
comportamentos do homem: “Deus faz nascer o seu sol igualmente sobre maus e
bons e cair a chuva sobre justos e injustos”, diz Jesus no Sermão da
Montanha (Mt 5,45). Ele se entregou
pelos demais ao longo de sua vida até o extremo: a morte na cruz: “Ninguém
tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos” (Jo 15,13).
É o amor concreto. É amar não com palavras apenas, e sim com obras, com a
compreensão, com a ajuda oportuna, com a palavra amável, com a tolerância, com
a doação gratuita de si mesmo, com o perdão (cf. Lc 23,34). O amor autêntico
exige sempre o sacrifício e o total esquecimento de si. É amar por amor. São
Bernardo afirma: “O amor basta por si só e por causa de si. Seu prêmio e
seu mérito se identificam com ele mesmo. O amor não requer outro motivo fora de
si mesmo. Amo porque amo; amo para amar”. Se assim é, podemos
dizer que você vive não quando respira, mas quando ama. Do ponto de vista
cristão a capacidade de viver o amor fraterno é o critério da maturidade
cristã.
Para nós, cristãos, a atitude de amor aos
demais deve ser uma conseqüência prática de nossa comunhão profunda com Cristo.
O cristão é reconhecido, fundamentalmente, pelo amor que vive: “Nisto todos
conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”,
disse-nos Jesus (Jo 13,35).
Somos Amigos De Jesus
“Eu vos chamo amigos”, diz o Senhor.
- A amizade é uma predisposição recíproca que torna dois seres igualmente ciosos da felicidade um do outro (Platão).
- Sem amigo, nada é agradável [Sine amico nihil amicum] (Santo Agostinho).
- A amizade é o conforto indescritível de nos sentirmos seguros com uma pessoa, sem ser preciso pesar o que se pensa, nem medir o que se diz (George Eliot).
- A verdadeira amizade é aquela que nos permite falar ao amigo de todos os seus defeitos e de todas as nossas qualidades (Millôr Fernandes).
- O amigo é o melhor terapeuta nas experiências de abandono e humilhação (Anselm Grün).
- Refugiado em peito amigo, sumindo vai pesar antigo (Johann Wolfgang Goethe).
- Não me alegro tanto pela andorinha que me traz a mensagem da primavera e que à renovação eterna canta hinos, mas alegro-me bem mais pela mensagem do amigo que me traz o que preciso para a vida (Friedrich Rückert, poeta).
- Com um amigo ao lado, nenhum caminho é longo demais (ditado japonês).Para ser amigo do outro é preciso ser amigo de si mesmo, no sentido de que é preciso colocar em ordem o próprio coração e direcioná-lo para o bem. Um coração bom está sempre do lado do bem. Um coração bom nos leva a praticarmos a bondade. Dizia Cícero que a amizade é “doadora da alegria de viver tanto para os nossos amigos como para nós mesmos”. Por isso, ter ou não ter amigo depende de ser ou não ser amigo de si mesmo. Quem é muito humano para si próprio, será muito humano para o outro. É o ponto de partida para uma amizade.Quando alguém reclama que não tem amigo ou amiga, é preciso se perguntar: “Será que eu sou amigo de mim mesmo? Será que sei me tratar? Será que eu me respeito e me amo?”. Somente poderemos ser felizes quando aprendermos a fazer o outro feliz. Somente podemos ser próximos dos outros, se aprendermos a ser próximos dos outros.“Eu vos chamo amigos”, diz o Senhor. Jesus chamou seus discípulos de amigos porque partilhou tudo com eles o que ouviu de seu Pai: experiências, conhecimentos, salvação, amor etc.. Jesus abriu aos discípulos Seu coração. Isto significa que o discípulo, o cristão não é um simples subalterno. O cristão é um amigo pessoal de Jesus Cristo. O amigo não é um simples conhecido ou um sócio, e sim alguém com quem se compartilha a intimidade, o mais profundo de nosso ser: “Eu vos chamo amigos, porque vos dei a conhecer tudo o que ouvi de meu Pai” (Jo 15,15b). O amigo sempre está disposto a fazer o que o amigo lhe pedir: “Vós sois meus amigos se fizerdes o que eu vos mando” (Jo 15,14). O amigo demonstra a verdade de seu amor estando disposto a entregar a própria vida se for necessário: “Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos” (Jo 15,13). O verdadeiro amigo inclui a doação da vida pelo amigo. Para Jesus a noção de amizade é muito profunda. “Amigo é alguém que te conhece a fundo e, apesar disso, te ama” (Hublard). “A amizade é como todos os títulos honoríficos: quanto mais velha, mais preciosa”, dizia Goethe. “A amizade duplica as alegrias e divide as tristezas” (Francis Bacon).“Eu vos chamo amigos”, disse-nos Jesus. É uma mensagem consoladora. É uma mensagem que dá força e ânimo. De fato, eu não estou sozinho (a). Eu estou bem acompanhado (a). Eu estou acompanhado (a) pelo Salvador do mundo: Jesus Cristo. Se o cristão viver verdadeiramente esta fé, ele jamais se sentirá só independentemente da situação em que se encontra. O cristão não é solitário, e sim solidário. “O mundo é tão vazio quando pensamos apenas nas montanhas, rios e cidades; mas saber que cá e lá existe alguém que comunga conosco, com o qual também nós convivemos tacitamente, isto faz deste globo terrestre para nós um jardim habitado” (Johann Wolfgang von Goethe).“Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando”, disse Jesus. Será que você pode ser considerado como amigo de Jesus? Para ser amigo do outro é preciso ser amigo de si mesmo. Você é amigo de si mesmo?Lembremo-nos do recado do Pequeno Príncipe: “Você precisa me cativar. As pessoas já não têm tempo de aprender coisa alguma. Compram tudo nas casas comerciais. Mas, como não existem lojas de amizade, as pessoas não têm mais amigos. Se quiser um amigo, cative-me” (Saint-Exupéry: O Pequeno Príncipe).P. Vitus Gustama,svd
Nenhum comentário:
Postar um comentário