terça-feira, 3 de julho de 2018

Domingo, 08/07/2018
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DEUS ESTÁ CONOSCO NO NOSSO COTIDIANO
XIV DOMINGO DO TEMPO COMUM “B”


Primeira Leitura: Ez 2,2-5
2 Naqueles dias, depois de me ter falado, entrou em mim um espírito que me pôs de pé. Então, eu ouvi aquele que me falava, 3 o qual me disse: “Filho do homem, eu te envio aos israelitas, nação de rebeldes, que se afastaram de mim. Eles e seus pais se revoltaram contra mim até ao dia de hoje. 4 A estes filhos de cabeça dura e coração de pedra, vou-te enviar, e tu lhes dirás: ‘Assim diz o Senhor Deus’. 5 Quer te escutem, quer não — pois são um bando de rebeldes — ficarão sabendo que houve entre eles um profeta”.


Segunda Leitura: 2Cor 12,7-10
Irmãos: 7 Para que a extraordinária grandeza das revelações não me ensoberbecesse, foi espetado na minha carne um espinho, que é como um anjo de Satanás a esbofetear-me, a fim de que eu não me exalte demais. 8 A esse propósito, roguei três vezes ao Senhor que o afastasse de mim. 9 Mas ele disse-me: “Basta-te a minha graça, pois é na fraqueza que a força se manifesta”. Por isso, de bom grado, eu me gloriarei das minhas fraquezas, para que a força de Cristo habite em mim. 10 Eis porque eu me comprazo nas fraquezas, nas injúrias, nas necessidades, nas perseguições e nas angústias sofridas por amor a Cristo. Pois, quando eu me sinto fraco, é então que sou forte.


Evangelho: Mc 6,1-6
Jesus voltou com os seus discípulos para a cidade de Nazaré, onde ele tinha morado. No sábado começou a ensinar na sinagoga. Muitos que o estavam escutando ficaram admirados e perguntaram: - De onde é que este homem consegue tudo isso? De onde vem a sabedoria dele? Como é que faz esses milagres? Por acaso ele não é o carpinteiro, filho de Maria? Não é irmão de Tiago, José, Judas e Simão? As suas irmãs não moram aqui? Por isso ficaram desiludidos com ele. Mas Jesus disse: - Um profeta é respeitado em toda parte, menos na sua terra, entre os seus parentes e na sua própria casa. Ele não pôde fazer milagres em Nazaré, a não ser curar alguns doentes, pondo as mãos sobre eles. E ficou admirado com a falta de fé que havia ali.
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Mc 6,1-6 é um texto de transição entre a seção dos milagres (Mc 4,35-5,43) e a incompreensão e ceticismo dos discípulos da seção seguinte (Mc 6,7-8,26). O ensinamento em parábolas e a atuação prodigiosa em torno do lago da Galiléia culmina com o retorno de Jesus à sua pátria.


O episódio narrado no texto do Evangelho deste Domingo acontece numa sinagoga na pátria de Jesus (não se menciona Nazaré). Em Mc, Jesus aparece três vezes na sinagoga com suas próprias conseqüências de cada aparecimento. Primeiro, Mc 1,21-28 relatou o aparecimento de Jesus  na sinagoga e houve um grande sucesso. Neste episódio os ouvintes se maravilhavam pois ele ensinava como quem tem autoridade. Além disso, ele libertou um possesso na sinagoga. Segundo, em Mc 3,1-6 houve uma grande tensão entre Jesus e os fariseus junto com os partidários de Herodes a ponto de eles quererem matar Jesus, só porque ele curou uma pessoa de mão seca no Sábado. Terceira, Mc 6,1-6 relatou a última vez que Jesus foi à sinagoga onde os seus conterrâneos tentaram desmoralizar totalmente as palavras e ações de Jesus.


Deus Nos Ama Encarnando-se e Habitando Entre Nós: Consequências da Encarnação


O episódio numa sinagoga de Nazaré tem um significado profundo para o evangelista Marcos. O evangelista  coloca este episódio cuidadosamente neste ponto do seu evangelho. Uma situação pungente no início da Igreja era, de fato, que os pagãos aceitavam a Boa Nova, enquanto os judeus recusavam (cf. Rm 9-11). Logo no início deste evangelho Jesus enfrentou a dura oposição das autoridades (Mc 2,1-3,6). Além disso, Jesus foi mal-entendido pela própria família (Mc 3,20-35). Agora, perto do ministério da Galiléia, seus próprios conterrâneos são desafiados para mudar sua mentalidade diante da reivindicação de Jesus. Mas eles o recusaram. A recusa de Jesus é uma antecipação de sua rejeição pela nação judaica (Mc 15,11-15). Essa rejeição é o fruto da cegueira do homem diante da revelação divina que já tem sido presente desde o início: “...o mundo foi feito por meio dele, mas o mundo não o conheceu. Veio para o que era seu e os seus não o receberam”(cf. Jo 1,10-11).


Quais são as razões pelas quais Jesus foi rejeitado pelos próprios compatriotas?


Primeira razão, porque Jesus não freqüentou nenhuma escola formadora de doutores da Lei. Por isso, eles perguntam: “De onde lhe vem tudo isso? E que sabedoria é esta que lhe foi dado?”(v.2bc). Eles tentam desmoralizar Jesus por não ter “título acadêmico”, como os doutores da Lei e os outros.


A formação acadêmica é importante. Mas o mais importante é a formação do caráter, da ética-Mora. O mais importante é como traduzir, na vida cotidiana, a experiência acadêmica em atos concretos: como bondade, solidariedade, compreensão, compaixão. Em outras palavras, em atos éticos. Como eu posso fazer do meu conhecimento acadêmico em amor ao próximo. Que contribuição devo oferecer para o bem da sociedade a partir da minha formação acadêmica? O mundo precisa muito mais das testemunhas da bondade, da ética, da caridade, da solidariedade etc. do que dos mestres. Não precisamos ser “superiores” desprezando o “inferior”. Uma lata vazia normalmente faz muito mais barulho do que outra que tem conteúdo. A grandeza do homem consiste em fazer os outros grandes, em estender a mão para levantar os caídos, em viver com sabedoria na convivência com os outros, e não em demonstrar o que não deveria ser demonstrado, ou em mostrar o que não é. Como diz René Juan Trossero, um escritor e psicólogo argentino: “Se te dizes filósofo, não me fales de filosofia: mostra-me teu amor à verdade. Se te dizes teólogo, não me fales de teologia: mostra-me o que significa Deus em tua vida. Se te dizes pensador, não me fales do que pensam os pensadores: mostra-me o que pensas tu. Se te dizes bom, não me fales da bondade: mostra-me como amas. Se te dizes crente, não me fales de teu credo ou de tua religião: mostra-me teu modo de viver. Convenhamos em não nos enganarmos fugindo, com o ruído de palavras ocas, da vertigem que nos causam os vazios de nossa vida”.


Segunda razão, os nazarenos questionam os milagres operados por Jesus: “E como se fazem tais milagres por suas mãos?” (v.2b). Esta pergunta tem objetivo de desmoralizar Jesus. Quem está por trás desta pergunta são os doutores da Lei. Para entender esta pergunta temos de voltar para Mc 3,22 onde os doutores da Lei diziam que Jesus era possuído de Belzebu, príncipe de demônios, e por isso, conseguiu expulsar os demônios. É uma calúnia em forma de pergunta retórica. A difamação ou calúnia, como já sabemos, presta-se somente a humilhar quem errou, a irritá-lo. A difamação pode destruir o homem, como diz o Eclesiástico: “Um golpe de chicote deixa marca, mas um golpe de língua quebra completamente os ossos” (Eclo 28,17). A difamação (pecado de língua) pode matar um irmão, pode arruinar uma família e pode destruir um casamento e qualquer convivência.


É preciso viver e falar com sabedoria. O verdadeiro "sábio" é aquele que escolhe escutar as propostas de Deus, as propostas do bem, aceitar os seus desafios, e seguir os caminhos do bem que ele indica. A sabedoria simplesmente significa a capacidade de fazer as escolhas corretas, de falar o que deve, de tomar as decisões certas, de escolher os valores verdadeiros que conduzem o homem à sua realização, e à sua felicidade.


Terceira razão, porque para os nazarenos Jesus é apenas um deles (de origem humilde). Por isso, não merece nenhuma credibilidade: “Não é este o carpinteiro, filho de Maria...? E ficaram escandalizados por causa dele”. “Carpinteiro” em grego (tékton) não significa apenas a pessoa que trabalha com madeira, mas também com ferro (serralheiro) e pedra (pedreiro). Tudo isto é uma informação que Jesus trabalhava com estas coisas, pois Nazaré era uma aldeia insignificante com pouca oferta de trabalho. Para os seus compatriotas, Jesus é simplesmente “este homem”. Os compatriotas não conhecem a identidade profunda de Jesus a não ser somente sua família de Nazaré, e não são capazes de ingressar-se na verdadeira família de Jesus. Eles não conseguem ultrapassar o obstáculo à fé. Eles param no habitual e por isso, não chegam ao extraordinário. Os compatriotas não são capazes de abrir-se ao novo que se manifesta em sua prática sem precedentes. Jesus, na verdade, convida qualquer um a ir além do aspecto cotidiano para encontrar o sentido mais profundo do mesmo, da superficialidade à profundidade. “Avança mais para o fundo” “Duc in altum!”(Lc 5,4), diz Jesus a Simão.


Mas os leitores sabem muito bem que Jesus não é simplesmente um “carpinteiro” e “filho de Maria”, mas o Filho eleito de Deus(Mc 1,11;9,7) e que sua verdadeira família, sua mãe e seus irmãos e irmãs são os que “fazem a vontade de Deus” através do seguimento do “caminho” de Jesus(Mc 3,20-21;31-35). Os discípulos de Jesus fazem parte desta nova família, pois eles seguem a Jesus(cf. Mc 2,15;10,32;15,41).


Diante disso tudo, Jesus cita um provérbio conhecido por todos: “Um profeta só não é valorizado na sua própria terra, entre os parentes e na própria casa”(v.4). Em contraste com a designação dos compatriotas sobre ele como um simples “carpinteiro”, Jesus se revela como “profeta”, uma pessoa inspirada e enviada por Deus para falar a Palavra de Deus. Através do anúncio dessa rejeição, Jesus está preparando os seus seguidores para a mesma rejeição no futuro. Além disto, aprendem também que onde um esperaria encontrar alento, coragem, participação, pode também encontrar indiferença, incompreensão até hostilidade.


Na sua pátria Jesus não fez nenhum milagre por causa da incredulidade dos compatriotas. A origem dessa incredulidade é a incapacidade de acolher a manifestação de Deus no quotidiano em nome de um pretenso respeito pela dignidade e prestígio divinos, onde, porém, a dignidade de Deus é pretexto para o próprio prestígio. Esta pretensão hipócrita faz com que os dirigentes judaicos condenarão Jesus à morte. A incredulidade se constitui em obstáculo decisivo à atuação de Jesus. Para acontecer milagre deve ter uma relação íntima de correspondência entre milagres  e a fé de quem dele se aproxima.


Para os judeus, então, não é possível, não é aceitável que um igual a eles seja portador da mensagem do amor da suprema santidade. Por isso, Jesus se admira da incredulidade deles. Não é apenas uma incredulidade perante Jesus, mas é uma profunda desconfiança da vida normal de cada dia. O drama dos judeus que é sua falta de fé, tornou impossível o que Jesus queria fazer em benefício deles(Mc 6,5).


Marcos quer mostrar nesta recusa um exemplo de relação dos homens diante da maneira que Deus escolhe para se revelar. Os homens podem rejeitar a revelação de Deus e a maneira que ele escolhe para se revelar.


Os homens querem ver a Deus só nos sinais e prodígios muito maravilhosos. Mas Deus escolhe revelar-se de maneira simples, nos gestos da vida  até nas nossas  fraquezas, como diz São Paulo: “Pois é na fraqueza que a força de Cristo se manifesta. Por isso, quando me sinto fraco, é então que eu sou forte”(2Cor 12,9-10). A nossa própria debilidade ajuda-nos a confiar mais, a procurar com maior presteza o refúgio divino, a pedir mais forças, a ser mais humildes. Felizmente, Cristo Jesus é mais forte do que nossa fraqueza, maior que nossas limitações, mais audaz que nossos medos e mais luminoso que nossa obscuridade. A fé em Jesus é luz para perceber as cores das coisas e da vida. Cristo é a luz que se deixa ver por quantos sabem olhar seus semelhantes com sinceridade, pureza, amor no olhar, sem julgamento e com fraternidade. Toda graça e salvação nos vêm dele, que faz filhos de Deus a quantos o aceitam pela fé. Pois, nenhum outro pode nos salvar(At 4,12). Deus se revela no Homem de Nazaré que é a palavra do Pai. É esta simplicidade da revelação que as pessoas não aceitam. Portanto, elas mesmas impedem que a Palavra poderosa de Deus se manifeste com toda a sua grandeza.


Jesus usa de seu poder para as pessoas que vêm até Ele com um ato de fé: o milagre nunca é um meio de forçar a fé: quando muito é um sinal indicativo. Sem a fé Jesus não pode fazer milagre(Mc 6,5). A fé é muito mais importante do milagre. Ela é o maior milagre de todos os milagres. A base da incredulidade é a cegueira e o egoísmo do próprio homem que livremente não quer aceitar que Deus venha até ele na humanidade e simplicidade.


Muitas vezes o escândalo dos judeus se repete em nossos dias. Por termos uma mentalidade de megalomania é que acreditamos que só o extraordinário possa trazer uma mensagem. Muitas vezes não somos capazes de crer que Deus escolhe também o “pequeno” para se glorificar, o humilde para se manifestar. Marcos mostra exatamente que o inaudito está no cotidiano, o extraordinário na ordem simples de cada dia, o Deus transcendente está entre quatro paredes de uma casa de cada família. Lá pode acontecer qualquer milagre se nessa casa tem espaço para Jesus. Às vezes também falamos de Deus só oscilando entre os extremos, falando como se não soubéssemos do mistério divino que se revela no fundo de cada ser humano, de cada família, de cada coisa que tem o aspecto cotidiano. A revelação divina não precisa do super-homem, mas do homem mais humano. Será que sabemos parar para pensar e para refletir, assim que poderemos captar mensagem de Deus em cada acontecimento ou experiência, em cada homem etc.


A ternura da graça de Deus pode nos dar o privilégio de termos em alguém da própria família ou da própria comunidade um verdadeiro amigo espiritual: um irmão, a mãe, o pai ou outro parente. Como é belo ver, de forma mais visível e mais patente a verdade da divina mensagem que encanta a nossa vida, na existência consagrada de um amigo ou amiga a Cristo. Também Jesus experimentava a mais plena beleza do Reino de Deus na sua própria mãe e nos seus amigos fiéis ao pé da cruz e na pecadora convertida.


Em Nazaré o povo ficou admirado pelo ensinamento de Jesus, mas ficou desiludido por causa de sua origem: “De onde é que este homem consegue tudo isso? De onde vem a sabedoria dele? Como é que faz esses milagres? Por acaso ele não é o carpinteiro, filho de Maria? Não é irmão de Tiago, José, Judas e Simão? As suas irmãs não moram aqui? Por isso ficaram desiludidos com ele”.


Os nazarenos, apesar de conhecer as Escrituras, não conseguiram recordar aquilo que Moises havia dito: “O Senhor, teu Deus, te suscitará dentre os teus irmãos um profeta como eu: a ele que deveis ouvir” (Dt 18,15). Os nazarenos não conseguiram captar a novidade de Deus em Jesus; não reconheceram nele o enviado de Deus. Somente são os discípulos que fazem a seguinte pergunta: “Quem é este?” (Mc 4,41), mas a multidão nunca e os nazarenos nem sequer  sonhavam uma pergunta semelhante, pois eles sabiam quem era Jesus: um artesão, o filho de Maria; conheciam seus parentes. Mas não quiseram ir além disso; eles ficaram presos em juízos puramente humanos; eles encontraram em Jesus um obstáculo para a fé.


E Jesus “ficou admirado com a falta de fé que havia ali”.  O amor oferecido é recusado. Mas o amor não pode resignar-se diante da recusa. O amor continua a existir mesmo tendo a recusa, pois é eterno. “Deus é amor”, afirmou São João (1Jo 4,8.16). Diante dessa recusa, Jesus precisa ir a outras aldeias onde o amor é bem acolhido.


O evangelista Marcos acrescenta um provérbio citado por Jesus para explicar a incompreensão e a falta de fé de seus conterrâneos: “Um profeta é respeitado em toda parte, menos na sua terra, entre os seus parentes e na sua própria casa”. A fé não se adquire por ativismo ou por herança. A fé precede aos milagres, nunca ao contrário. Por isso, é inútil montar uma apologética para “provar” a divindade de Jesus partindo da existência de uns fatos superiores às forças da natureza. Quem vive sua vida profundamente e com muita consciência, quem leva seu ser a sério, não tem como não ter fé em Deus que está muito além da inteligência humana.


Reconhecer em Jesus o Messias, o Ungido de Deus, não é fácil. Somente quem crê, O reconhece, aceita suas palavras e admira suas obras. Muitos olham sem ver e ouvem sem escutar. Cristo continua desconcertando: sua palavra escandaliza, sua mensagem gera oposição e sua vida e obras criam conflitos. Outros O conhecem, O aceitam e sua vida adquire um novo sentido. A fé madura caminha à descoberta e não evita as perguntas e a obscuridade. Hoje o Senhor nos pede mais fé n’Ele para realizar coisas que superam nossas possibilidades humanas.


Este Evangelho leva-nos a refletir sobre a qualidade de nossa fé em Jesus Cristo. A nossa adesão a Cristo só será possível quando se der uma ruptura com tudo aquilo que exerce domínio sobre nós. Por isso, na sua oração, quando se coloca diante do Senhor, mostra-lhe as suas mãos e seu coração se estão vazios de qualquer apego ou não. É a fé que produz em nós esse esvaziamento, esse lugar que Deus pode vir habitar. Este olhar da fé deve guiar também o nosso comportamento para com o próximo pois a graça de Deus nos basta(cf. 2Cor 12,9). Os olhos da carne talvez só percebam fraquezas, defeitos e misérias no próximo. Os olhos do Espírito ou da fé, porém, descobrirão em cada pessoa humana a imagem e semelhança de Deus. Então, também ele poderá fazer coisas admiráveis, verdadeiros milagres.


Você vê Deus no cotidiano ou sempre precisa de sinais extraordinários para percebê-lo ?  Como é que Jesus se manifesta hoje, na sua vida, no seu trabalho, na sua família, no seu casamento, no seus estudos até nos seus sofrimentos etc. ? Você sabe se abandonar em Jesus Cristo ?


Deus Está No Nosso Cotidiano: Abramos o Coração e Os Olhos!


Jesus está de volta para sua terra, Nazaré. Mais ou menos durante trinta anos vivendo em Nazaré, convivendo com as pessoas comuns de Nazaré, vivendo com elas e Ele era tão comum como seus conterrâneos. Mais ou menos trinta anos mantendo-se tão semelhante àquele povo que não se notava diferença alguma entre Ele e Tiago, José, Judas ou Simão. Mais ou menos durante trinta anos morando num lugar desconhecido e desprezado. Até um dos futuros discípulos de Jesus, Natanael, lançará esta pergunta: “De Nazaré pode sair algo de bom?” (Jo 1,46). Jesus está de volta para Nazaré depois que instituiu os Doze (Mc 3,13-19). Ele volta para suas raízes antes de continuar sua missão itinerante. Agora é a hora de se manifestar e de receber o juízo de seu povo sobre ele. O que pensa o povo de Nazaré sobre Jesus? Quem é Jesus para seus conterrâneos? Será que Deus tem um aspecto tão humano? Será que é possível Deus estar tão próximo dos homens comuns como os de Nazaré? Será que Deus não pode estar tão perto dos homens no seu dia a dia como em Nazaré? Ou onde está Deus? Onde Deus habita?


É preciso abrir os olhos e deixar o coração aberto para poder experimentar Deus e sentir Sua presença no cotidiano, no aspecto cotidiano da vida. Deus está aqui e agora. Sinta e experimente Sua presença! Aprenda a saborear o momento, mesmo que ele não dure para sempre. Há momentos de nossas vidas que podem ser eternos mesmo que não sejam permanentes, por causa da presença da própria eternidade que é Deus. Deus sempre nos surpreende, porque na sua atuação ele não tem esquemas prévios, métodos preestabelecidos, lógica precisa ou raciocínio bem lógico. Pode desistir de uma lógica, mas não desista da vida cuja origem está em Deus! Deus está sempre acima de nosso raciocínio, “Pois meus pensamentos não são os vossos, e vosso modo de agir não é meu” diz o Senhor (Is 55,8). Por isso, onde menos O esperamos, onde O menos imaginamos, Ele aparece, comunicando-se conosco e convivendo conosco (Jo 1,14). “No meio de vós está quem vós não conheceis”, alerta-nos o evangelista João (Jo 1,26). Deus habita e está no homem e não nas paredes de um templo ou de uma igreja (cf. Mt 25,40.45). Os animais não questionam o sentido da vida, mas as pessoas sim porque em cada um de nós há uma dimensão divina e somos imagem de Deus (Gn 1,26) que nos faz perguntar porque estamos vivos. Deus quer encontrar seu povo onde este vive e atua.


A encarnação de Deus em um carpinteiro de Nazaré nos descobre que Deus não é um exibicionista que se oferece em espetáculo. Deus não é um “Show”. Deus não é o Ser todo-poderoso que se impõe, mas propõe e convida. Podemos descobrir Deus nas experiências mais normais de nossa vida cotidiana: em nossas tristezas inexplicáveis, na felicidade insaciável; na solidão em busca da comunhão; em nosso amor frágil, mas apaixonante; na saudade de uma presença de quem se foi, mas que está presente fortemente na sua ausência; nos sonhos de uma vida de paz e serenidade; na reconciliação por amor; nas perguntas mais profundas sobre a vida e seu sentido; em nosso pecado mais discreto; nas nossas decisões mais responsáveis ou irresponsáveis; na nossa busca sincera do bem e da verdade; no nosso “bom dia, boa tarde, boa noite” endereçado às pessoas para o seu bem; no nosso “obrigado” pelo bem que o outro fez por nós; no nosso agradecimento pelo novo dia que nos é dado por puro amor de Deus. Por isso, a raiz da incredulidade é precisamente esta incapacidade de acolher a manifestação de Deus no cotidiano. Quem vive profundamente, quem leva a sério o seu ser, não tem como descobrir e experimentar a mão de Deus em cada vida, em cada coisa e em cada acontecimento.


O que necessitamos são uns olhos mais limpos, simples e menos preocupados em ter coisas. As coisas são meios e jamais são fim de nossa vida. Um ônibus é um meio que me leva até o centro da cidade, mas o ônibus não é o centro da cidade. O que necessitamos é uma atenção mais profunda e desperta para o mistério da vida que não consiste somente em ter “espírito observador” e sim em saber contemplar e acolher com simpatia as inumeráveis mensagens e chamadas que a mesma vida irradia permanentemente. Deus não está longe dos que O buscam. Deus está no centro de nossa vida. Deus nos visita diariamente (Lc 1,68; 7,16) como visitou seu povo em Nazaré que jamais ele abandonou. Deus está conosco todos os dias (Mt 28,20). É preciso abrir a porta de nosso lar e de nosso coração para a visita do Senhor como a própria sinagoga em Nazaré aberta para o Senhor entrar nela e falar das coisas essenciais da vida para seu povo reunido nela.


Em Nazaré o povo ficou admirado pelo ensinamento de Jesus, mas ficou desiludido por causa de sua origem: “De onde é que este homem consegue tudo isso? De onde vem a sabedoria dele? Como é que faz esses milagres? Por acaso ele não é o carpinteiro, filho de Maria? Não é irmão de Tiago, José, Judas e Simão? As suas irmãs não moram aqui?


Por isso ficaram desiludidos com ele”. Quando seus conterrâneos falam dele, não pronunciam seu nome, o designam somente com pronomes depreciativos para sua pessoa e sua atividade (ele, este etc.). E Jesus “ficou admirado com a falta de fé que havia ali”.  O amor oferecido é recusado. Mas o amor não pode resignar-se diante da recusa. Jesus precisa ir a outras aldeias.


Crer em Jesus Cristo significa confrontar-se com Deus santo e próximo, entregar-se a sua invisível e santa presença. Crer em Jesus Cristo é saber encontrar Deus nas coisas simples, nos acontecimentos humildes, nas amizades despretensiosas e humildes, no puro sorriso de uma criança no berço, na velhice de um homem e de uma mulher vivida na sua dignidade e gratidão e assim por diante. O que é pequeno, cotidiano, despretensioso e fiel simplesmente é portador do extraordinário e estupendo milagre da presença de Deus entre nós.


Ele não é o carpinteiro, filho de Maria? Comentou Santo Agostinho: “Se o orgulho nos faz sair, a humildade nos faz entrar… Como o médico, depois de estabelecer um diagnóstico, trata o mal em causa, tu, cura a raiz do mal, cura o orgulho; então, já não haverá mal algum em ti. Para curar eu orgulho, o Filho de Deus se abaixou, se fez humilde. Por que tu te orgulhas? Para ti, Deus se fez humilde. Talvez tu tenhas vergonha de imitar a humildade do homem; imita pelo menos a humildade de Deus. O Filho de Deus se humilhou fazendo-se homem. Tu, homem, conhece que és homem. Toda sua humildade consiste em conhecer quem és. Escuta a Deus que te ensina a humildade: ‘Eu desci do céu não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou’ (Jo 6,38). Ele, humilde, veio para ensinar a humildade, como Mestre de humildade. Aquele que vem a Mim se faz um comigo; se faz humilde. Quem se aderir a mim será humilde. Não fará sua vontade e sim a vontade de Deus. E não será tirado fora (Jo 6,37), como quando era orgulhoso”. (Santo Agostinho [354-430] bispo de Hipona).
P. Vitus Gustama,SVD



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