sábado, 25 de agosto de 2018

Domingo,02/09/2018
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PURIFICAR O CORAÇÃO PARA AMAR MAIS DEUS QUE HABITA NO PRÓXIMO
XXII DOMINGO DO TEMPO COMUM “B”


Primeira Leitura: Dt 4,1-2.6-8
1 Moisés falou ao povo, dizendo: “Agora, Israel, ouve as leis e os decretos que eu vos ensino a cumprir, para que, fazendo-o, vivais e entreis na posse da terra prometida pelo Senhor Deus de vossos pais. 2 Nada acrescenteis, nada tireis à palavra que vos digo, mas guardai os mandamentos do Senhor, vosso Deus, que vos prescrevo. 6 Vós os guardareis, pois, e os poreis em prática, porque neles está vossa sabedoria e inteligência perante os povos, para que, ouvindo todas estas leis, digam: ‘Na verdade, é sábia e inteligente esta grande nação!’ 7 Pois, qual é a grande nação cujos deuses lhe são tão próximos, como o Senhor nosso Deus, sempre que o invocamos? 8 E que nação haverá tão grande que tenha leis e decretos tão justos, como esta lei que hoje vos ponho diante dos olhos?”


Segunda Leitura: Tg 1,17-18.21b-22.27
Irmãos bem-amados: 17 Todo dom precioso e toda dádiva perfeita vêm do alto; descem do Pai das luzes, no qual não há mudança nem sombra de variação. 18 De livre vontade ele nos gerou, pela Palavra da verdade, a fim de sermos como que as primícias de suas criaturas. 21b Recebei com humildade a Palavra que em vós foi implantada, e que é capaz de salvar as vossas almas. 22 Todavia, sede praticantes da Palavra e não meros ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. 27 Com efeito, a religião pura e sem mancha diante de Deus Pai é esta: assistir os órfãos e as viúvas em suas tribulações e não se deixar contaminar pelo mundo.


Evangelho: Mc 7,1-23
Naquele tempo, 1 os fariseus e alguns mestres da Lei vieram de Jerusalém e se reuniram em torno de Jesus. 2 Eles viam que alguns dos seus discípulos comiam o pão com as mãos impuras, isto é, sem as terem lavado. 3 Com efeito, os fariseus e todos os judeus só comem depois de lavar bem as mãos, seguindo a tradição recebida dos antigos. 4 Ao voltar da praça, eles não comem sem tomar banho. E seguem muitos outros costumes que receberam por tradição: a maneira certa de lavar copos, jarras e vasilhas de cobre. 5 Os fariseus e os mestres da Lei perguntaram então a Jesus: “Por que os teus discípulos não seguem a tradição dos antigos, mas comem o pão sem lavar as mãos?” 6 Jesus respondeu: “Bem profetizou Isaías a vosso respeito, hipócritas, como está escrito: ‘Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim. 7 De nada adianta o culto que me prestam, pois as doutrinas que ensinam são preceitos humanos’. 8 Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens”. 14 Em seguida, Jesus chamou a multidão para perto de si e disse: “Escutai, todos, e compreendei: 15 o que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior. 21 Pois é de dentro do coração humano que saem as más intenções, imoralidades, roubos, assassínios, 22 adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo. 23 Todas estas coisas más saem de dentro, e são elas que tornam impuro o homem”.
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Depois de termos meditado durante quatro(ou cinco) domingos seguidos sobre o discurso de Jesus sobre o Pão da Vida em Jo 6, voltamos novamente a refletir sobre o Evangelho de Marcos até o fim do Tempo Comum do ano litúrgico “B”.


A Supremacia Da Palavra De Deus Sobre a Tradição Humana


As leituras do Evangelho e do Deuteronômio deste Domingo coincidem, em termos quase idênticos, na advertência sobre o valor absoluto dos mandamentos (leis) de Deus, e na atenção a não pôr ao mesmo nível as disposições humanas (tradições). A Palavra de Deus sobrepõe à palavra humana (tradição), pois somente a Palavra de Deus, colocada em prática, salva: “Sede praticantes da Palavra e não meros ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. A religião pura e sem mancha diante de Deus Pai é esta: assistir os órfãos e as viúvas em suas tribulações e não se deixar contaminar pelo mundo” (Segunda Leitura da Carta de São Tiago).


A vida do crente/fiel está sob a Palavra de Deus. O Salmo Responsorial (Sl 14/15) expressa esta situação de uma maneira magnífica, por parte da assembleia, o versículo responsorial: “Senhor, quem morará em vossa casa e no vosso monte santo habitará?”. A resposta dada pelo próprio Salmo é a resposta que Deus quer: “É aquele que caminha sem pecado e pratica a justiça fielmente; que pensa a verdade no seu íntimo e não solta em calúnias sua língua. Que em nada prejudica o seu irmão, nem cobre de insultos seu vizinho; que não dá valor algum ao homem ímpio, mas honra os que respeitam o Senhor”.


A valorização dos mandamentos de Deus acima das tradições humanas é uma fonte de glória para aqueles que os praticam com sinceridade e com pureza (veja a Primeira Leitura e Evangelho). Nisto consiste a crítica de Jesus para os mestres da lei e os fariseus: a sobreposição das “tradições dos homens”, o conflito das interpretações, os convencionalismos interesseiros, e assim por diante. Consequentemente, o homem sobrepõe, mais ou menos sutilmente, à Palavra de Deus: “Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens”, disse Jesus aos escribas e fariseus.


A vida dos homens, apesar de muitas mudanças sociais, é cercada de tradições; são como o ambiente em que a grande parte de nossa existência se desenvolve.


Tradição provem do Latim “tradere”, “transmitir”. Tradição é o conjunto de ideias, sentimentos e costumes que, numa sociedade, se transmitem de maneira vivente, de uma geração à outra. No sentido da teologia dogmática, tradição é o conjunto de verdades reveladas que os Apóstolos receberam de Cristo Jesus ou do Espirito Santo (inspiração de Deus) e que a Igreja conserva e transmite sem alteração.


Na Igreja existe fundamentalmente o fato da Tradição (em maiúscula), mas existem também as tradições apostólicas, eclesiásticas que na realidade são as que configuram o rosto concreto da comunidade cristã. Há que distinguir a Tradição das tradições, mas estas últimas são também dignas de ser valorizadas e, em princípio, respeitadas. Através delas, a vida cristã adquire seu tom familiar. A chamada “religiosidade popular” é um testemunho constante de tradições deste tipo: peregrinações ou romarias, círios ou velas votivos, novenas, oração de terço, lembranças religiosas e assim por diante.


Entre Testemunho Da Vida Cristã e o Formalismo Religioso


Uma grave ameaça pesa sobre as tradições humanas é o formalismo. É o problema fundamental que se enfatiza ou se delineia no Evangelho deste Domingo. Uma determinada prática, surgida de uma convivência concreta, ou por uma iniciativa afortunada, pode chegar a ser mais valorizada do que aquilo em função do qual existe. Ou seja, fica sem objeto. Concretamente, por exemplo, o cristianismo sem Cristo; frequentar as celebrações litúrgicas (formalismo ou preceito a se cumprir) sem praticar o amor fraterno, como enfatiza a Segunda Leitura deste Domingo, e assim por diante.


Jesus Cristo estabelece o critério de valores: “Crítica” das tradições em função da Aliança com Deus, e “crítica” do formalismo em função da sinceridade de coração (Mc 7,15.21-23).


Os fariseus e escribas exageravam em sua interpretação da lei, criando nos demais um complexo de angústia e opressão, como, por exemplo, como quando discutiam com os discípulos de Jesus se podiam, no sábado, comer uns grãos de trigo, ou se um enfermo podia estender a sua mão para ser curada por Jesus no sábado; ou no evangelho de hoje, a discussão é sobre se tem que lavar ou não as mãos antes de comer. São aspectos em que podemos cair como pessoas e também como instituição por perder tempo nas minúcias insignificantes da vida famíliar e eclesial.


O apego exagerado às tradições humanas, que foram criadas para facilitar o cumprimento da Lei divina, leva-os a esvaziar os mandamento de Deus. Eles têm apenas o conformismo falso. O conformismo falso vem da pressão externa. E o comportamento que resulta disto é a hipocrisia. E não existe uma hipocrisia mais sutil e perigosa do que aquela que tem sua origem na manipulação religiosa, pois ela usa a vontade de Deus como instrumento para controlar os mecanismos humanos de reação. Fazer tudo por motivo puramente humano o que é divino significa atentar contra a absoluta santidade de Deus.


Os fariseus davam importância para a aparência exterior e descuidavam do interior (Mt 23,25-26). Alguma vez, Jesus os chama de “sepulcros caiados”, limpos/brancos por fora e podridão por dentro (Mt 23,27). É o defeito do legalismo ou de formalismo exterior. O exterior é bom, mas não é principal. Há que cuidar mais das atitudes interiores. Jesus nos diz hoje, por exemplo, que não é tanto o que comemos ou deixamos de comer, e sim nossos sentimentos interiores e as palavras que saem de nossa boca é que mais importante: “O que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior. Pois é de dentro do coração humano que saem as más intenções, imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, ambições desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo. Todas estas coisas más saem de dentro, e são elas que tornam impuro o homem”.


Os fariseus são atacados por Jesus por ser hipócritas: “Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim”. Somos fariseus quando aparentamos por fora uma coisa e por dentro pensamos ou fazemos o contrário. É fácil juntar as mãos ou dizer orações ou cantar uma música religiosa com tanta emoção ou usar medalhas/escapulares. O difícil é viver em Cristo conforme seus ensinamentos e atuar conforme dizem nossas palavras.  É fácil ficar de joelho numa adoração. O difícil é ir ao encontro do necessitado para ajudá-lo e para “perder” um pouco de nosso tempo para ouvi-lo. Somos tentados a falar mais do que fazemos. Muitas vezes nossas palavras ultrapassam nosso testemunho. Quem faz o bem é silencioso. Quem não faz nada pelo próximo fala muito e critica demasiadamente.


Para provar ainda mais a hipocrisia dos fariseus e os escribas, Jesus fala do quarto mandamento onde se acentua o Corbã (oferta). O Corbã é o compromisso que uma pessoa tem para consagrar a Deus os próprios bens (cf. Lv 2,1-15; 27,28-29). E quando esses bens forem destinados/consagrados para Deus (para o tesouro do Templo), eles se tornarão intocáveis. Aparentemente é um ato louvável, mas na realidade os pais ficam privados do sustento necessário. Declarando que seu dinheiro é Corbã, um filho é livre da obrigação de ajudar seus pais necessitados e pode continuar desfrutando do seu dinheiro. Por isso, é que Jesus os critica como hipócritas. Por outro lado, a Lei de Moisés é clara ao ordenar “honrar” pai e mãe (cf. Ex 21,17;19,2-3;Lv 20,9;Dt 5,16). Isto queria dizer, concretamente, prestar assistência aos pais, especialmente na doença e na velhice. Em outras palavras, “honrar” significa também sustentar os pais economicamente. A importância deste quarto mandamento podemos encontrar muitíssimos textos bíblicos como exemplo. Veja, por exemplo, Eclo 3,2-16 onde se acentua a importância de honrar os pais. 


Portanto, nunca um fiel/um cristão pode procurar Deus para se livrar das obrigações familiares. Nunca um fiel/cristão pode entregar os bens para “Deus” deixando a família numa miséria. Nenhum filho de Deus pode tirar o pão da boca dos pais para oferecê-lo a Deus. Este é um dos perigos da metodologia da “teologia da prosperidade” que é bem conhecida atualmente. Se o filho quiser agradar a Deus, deve saber agradar aos pais. Ou se um fiel quiser agradar a Deus, deve saber agradar ao próximo. A Palavra de Deus não pode ficar estéril por causa da tradição humana. A Palavra de Deus, ao contrário, deve iluminar a tradição humana. Um culto religioso deve importar-se com a situação dos irmãos necessitados. “Vós abandonais o mandamento de Deus para seguir a tradição dos homens”, é um alerta muito sério para nós, filhos e filhas de Deus.


Os fariseus se acreditam justos, santos, superiores aos demais. E assim se apresentavam também diante de Deus em sua oração (Mt 6,5). Quando Jesus contou a parábola do fariseu e o publicano, diz que o publicano, que se reconhece pecador, sai do Templo perdoado. E o fariseu não (Lc 18,9-14).


A Palavra de Deus hoje nos urge, portanto, a sermos cumpridores dos mandamentos do Senhor e de Sua vontade, resumidos no amor a Deus, ao próximo e a nós mesmos como fala a Segunda Leitura deste Domingo. Devemos fazer tudo isso com convicção e com amor. O amor como que fazemos tudo torna as pequenas coisas em obras primas. O amor nos humaniza e diviniza. Sem amor nada tem sentido e seremos criticados como foram criticados os fariseus e os escribas, pois “Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim”. Sempre desenhamos o amor com seu símbolo de coração.


Comunhão Fraterna Em Vez de Divisão e Discriminação


A questão levantada do Evangelho deste domingo diz respeito a um elemento central da religião judaica: as purificações ou o que torna profano o homem. E Marcos coloca no centro da seção a crítica que Jesus faz da tradição do judaísmo e, em oposição a ela, Jesus coloca o novo conceito do profano.


Na mentalidade do judaísmo, Israel era o povo consagrado por Deus (Dt 7,6;14,2; Dn 7,23.27); todos os demais povos eram profanos, quer dizer, não estavam vinculados, como Israel, com o verdadeiro Deus. Para os fariseus, a maneira de manter-se no âmbito do sagrado era a observância da Lei tal como eles a interpretavam, porque esta expressava a vontade de Deus. Daí é que, inclusive dentro do povo de Israel, eles estabeleciam a distinção entre “sagrado” e “profano” aplicada a pessoas: pertenciam ao povo “santo/consagrado” os que observavam fielmente a Lei; e eram “profanos”, separados de Deus, os que não se atinham minuciosamente a ela.


Além dessa mentalidade, para um fariseu, o contato com pessoa “profana” punha em perigo a própria consagração a Deus; por conseguinte, devia-se tomar precauções, em particular com os alimentos, manuseados por gente de cuja observância não constava. Como conseqüência, antes de comer, era preciso lavar ritualmente as mãos que tinham tocado esses alimentos ou qualquer coisa do mundo exterior ou de qualquer contaminação sofrida na praça, pelo contato com os pecadores, publicanos, pagãos ou simplesmente com o povo que não observava a Tradição dos Anciãos. Só assim, para eles se assegurava o próprio caráter sagrado, o vínculo com Deus. Para os fariseus, então, o contato com o mundo criado, profano, contaminava o homem. Caso fosse questionada essa distinção, a religião judaica, segundo eles, ruiria pela base.


Até aqui podemos tirar uma lição. Os fariseus e os escribas se preocupam com a observância externa da lei. A preocupação externa da lei sempre constitui um perigo para aqueles que se dizem “piedosos”, pois eles podem se achar melhores que os outros. Consequentemente eles se tornam arrogantes diante dos outros, pois falta-lhes a caridade fraterna pela censura que eles fazem. Quando se trata da censura porque aquele que censura se coloca superior aos outros. Mas quando se trata da correção fraterna, aquele que corrige fica ao lado de quem erra e não se acha superior. Quando houver o legalismo demasiado numa pessoa, a caridade fraterna se torna distante dela, pois ela fica observando a vida alheia para censurá-la. Quando duas pessoas se abraçam, seus corações se aproximam. Quanto mais alguém se aproxima do outro, mais se torna irmão e mais autoridade ele tem. O nosso Deus em quem acreditamos é o Deus-Conosco, o Emanuel (Mt 1,23; 18,20; 28,20). Este Emanuel, o Deus-Conosco nos urge a sermos próximos dos outros e juntos a nos aproximarmos de Deus.


Viver De Acordo Com Nova Moralidade De Cristo          


Depois que atacou a hipocrisia dos fariseus (e os escribas), Jesus expõe tanto para os fariseus e os escribas como para a multidão e os discípulos o princípio válido para a humanidade toda: o que separa o homem de Deus não é o que procede de fora dele; portanto, o homem não se torna profano nem sai da esfera de Deus pelo contato com o mundo exterior. O puro e o impuro não devem ser procurados fora do homem, mas no seu coração. O “coração” é o centro do projeto da vida, como princípio do agir humano (cf. Dt 6,5; Sl 24,4;51,12;119,11). Se o coração for bom, os gestos do relacionamento humano obedecem aos imperativos de santificar a convivência. Mas se o coração for mau, a vida é envenenada pela insatisfação, pela inveja, pelo ciúme, pelo sensualismo e pelas más intenções. O coração é a fonte do bem e do mal. Por isso, o homem é puro (consagrado a Deus) não pelas abluções externas, mas sim pela sua fidelidade interior à Lei de Deus.  Esse critério suprime toda discriminação entre os seres humanos baseada em preceitos, ritos ou observâncias religiosas. Em princípio, todo homem é sagrado (1Cr 3,16-17) e toda criatura de Deus é boa em si mesma (Gên 1,10.12.18.21.25.31), e pode ser benéfica para o homem. É o próprio homem e só ele que pode romper o vínculo com Deus. Para Jesus, o teste decisivo para saber se o coração está perto de Deus é o comportamento fraterno para com o próximo. Só os ídolos se satisfazem com os louvores e ritualismo estéril e vazio (cf. Am 5,21-27;Is 1;Jr 7). Este apelo é tão importante que até todo o trecho está enquadrado pelo apelo a escutar: “Escutai todos e compreendei...Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça!” (Mc 7,14b.16).


Em segunda lugar, a relação com Deus não depende da observância de normas ou de gestos religiosos, mas da atitude para com os demais seres humanos. Neste Evangelho Jesus mesmo produz uma razoável lista do que seriam as impurezas. Nesta lista encontramos 12 vícios (seis no plural e seis no singular) que causam impureza nas pessoas e indicam quais são os pontos sobre os quais cada pessoa que se julga religiosa deve examinar-se: prostituições, roubos, assassínios, adultérios, ambições desmedidas, maldades; malícia, devassidão, inveja, difamação, arrogância e insensatez. No fundo, o que Jesus rejeita é tudo que fere a qualidade humana da vida e o direito do irmão e o que impede que cresçam a fraternidade, a ternura, a verdade, o respeito mútuo, a solidariedade.


O que podemos aprender como lição de tudo que foi dito? Pela vida afora encontramos ou nós mesmos, muitas vezes, somos fiscais do comportamento alheio, gente sempre pronta a julgar o próximo a partir de detalhes, muitas vezes, mínimos e insignificantes. Muitos são do tipo semelhante ao nós chamarmos de “macaco que não atenta para o tamanho do próprio rabo”. Às vezes são até pessoas boas, que acabam estragando a convivência porque adoram exibir o seu estrito cumprimento de todas as regras, sociais religiosas, com o propósito de diminuir os demais. Muitas vezes também nós andamos a toda hora medindo a piedade alheia pelos padrões das nossas próprias normas, sem perceber que, ao fazermos isso, estamos bloqueando o acolhimento, a hospitalidade, o testemunho de comunhão tão mais importante na Igreja e na vida cotidiana.


Honrar Deus de verdade, para Jesus, não é apenas estar em dia com os regulamentos nem seguir devoções particulares. É fazer prevalecer a caridade, estar ao lado dos que sofrem que nos exigem gestos concretos para com eles.


Jesus não nega o valor dos atos exteriores. Ele surge daquilo que está no coração da pessoas que agem (vv.20-23). A grande tentação é viver de atos exteriores que podemos controlar. Mas a vida no Espírito é antes uma realidade interior. A partir daí, o exterior é manifestação de uma verdade mais profunda. O Espírito age no interior das pessoas, e faz com que a comunidade também tenha uma comunicação sincera nas coisas. A comunidade não se cria por decreto. Ela nasce quando as pessoas têm um coração que sabe amar e respeitar aos outros e quando fazem circular um espírito novo, de união e de preocupação mútua pelo crescimento dos outros e todos.


Se quisermos cumprir a lei de Deus, deveremos ter em vista sempre, em primeiríssimo lugar, os objetivos do projeto de Deus. Ele quer mais vida, mais amor, mais compaixão e misericórdia, mais partilha, mais igualdade e mais justiça. Esse é o critério mais evangélico para avaliar a legitimidade do nosso modo de seguir a lei ou a tradição, ainda hoje. Somos Igreja para nos ajudarmos uns aos outros a crescer, não para virarmos fiscais das virtudes e da vida alheias. Somos chamados a construir um mundo mais humano e fraterno, pois Deus é o Pai de todos.


A todos nós que queremos nos aproximar do Senhor, Jesus pede uma única purificação: um exame de consciência para verificar quais os sentimentos que nós alimentamos em relação aos irmãos.
P. Vitus Gustama,SVD

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