19/01/2019
JESUS
NOS CHAMA PARA NOS SALVAR E PARA SALVARMOS OS OUTROS
Irmãos,
12 a Palavra de
Deus é viva, eficaz e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes.
Penetra até dividir alma e espírito, articulações e medulas. Ela julga os
pensamentos e as intenções do coração. 13 E não há criatura que possa
ocultar-se diante dela. Tudo está nu e descoberto a seus olhos, e é a ela que
devemos prestar contas. 14 Temos um sumo sacerdote eminente, que entrou no céu,
Jesus, o Filho de Deus. Por isso, permaneçamos firmes na fé que professamos. 15
Com efeito, temos um sumo sacerdote capaz de se compadecer de nossas fraquezas,
pois ele mesmo foi provado em tudo como nós, com exceção do pecado. 16 Aproximemo-nos
então, com toda a confiança, do trono da graça, para conseguirmos misericórdia
e alcançarmos a graça de um auxílio no momento oportuno.
Evangelho: Mc 2,13-17
Naquele
tempo, 13 Jesus saiu de novo para a beira do mar. Toda a multidão ia a seu
encontro, e Jesus os ensinava. 14 Enquanto passava, Jesus viu Levi, o filho de
Alfeu, sentado na coletoria de impostos, e disse-lhe: “Segue-me!” Levi se
levantou e o seguiu. 15 E aconteceu que, estando à mesa na casa de Levi, muitos
cobradores de impostos e pecadores também estavam à mesa com Jesus e seus
discípulos. Com efeito, eram muitos os que o seguiam. 16 Alguns doutores da
Lei, que eram fariseus, viram que Jesus estava comendo com pecadores e
cobradores de impostos. Então eles perguntaram aos discípulos: “Por que ele
come com os cobradores de impostos e pecadores?” 17 Tendo ouvido, Jesus
respondeu-lhes: “Não são as pessoas sadias que precisam de médico, mas as
doentes. Eu não vim para chamar justos, mas sim pecadores”.
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A
Força Da Palavra De Deus Continua Sendo Viva, Eficaz e Penetrante Para Quem a
Vive
“A Palavra de Deus é viva, eficaz e mais
cortante do que qualquer espada de dois gumes. Penetra até dividir alma e
espírito, articulações e medulas. Ela julga os pensamentos e as intenções do
coração” (Hb 4,12).
O texto da Primeira Leitura tirada da Carta aos
Hebreus quer nos afirmar que a força da Palavra de Deus continua viva,
penetrante e cortante e nos conhece profundamente. E essa Palavra não é um
simples som, nem uma suma de conceitos e sim a própria pessoa de Jesus Cristo
(Jo 1,1-3.14). Deus nos conhece por dentro; ele conhece nossa intenção mais
profunda. O que a Palavra realizou nos profetas e em Jesus, realiza igualmente em
cada cristão que a vive ou que a coloca na prática.
Se a Palavra de Deus nos conhece profundamente,
neste sentido a Palavra é juízo, não somente porque julga a partir de fora a
conduta do homem, tal como faz uma norma legislativa, mas também profundamente
porque convida o homem a escolher entre seus desejos e as exigências da
Palavra. Neste sentido a Palavra de Deus é uma espada (Lc 2,35) que obriga o
cristão para os desprendimentos mais radicais.
O Salmo Responsorial de hoje (Sl 18/19) faz eco
à Primeira Leitura, cantando esta Palavra penetrante de Deus: “Vossas palavras são espírito, são vida,
tendes palavras, ó Senhor, de vida eterna. A lei do Senhor Deus é perfeita,
conforto para a alma! Os preceitos do Senhor são precisos, alegria ao coração.
O mandamento do Senhor é brilhante, para os olhos é uma luz”.
Além da força eficaz da Palavra de Deus em que
os cristãos devem acreditar, há um segundo motivo para que eles não percam os
ânimos e perseverem em sua fidelidade a Deus: a presença de Jesus como nosso
Mediador e Sacerdote: “Temos um sumo sacerdote eminente, que entrou
no céu, Jesus, o Filho de Deus. Por isso, permaneçamos firmes na fé que professamos.
Com efeito, temos um sumo sacerdote capaz de se compadecer de nossas fraquezas,
pois ele mesmo foi provado em tudo como nós, com exceção do pecado”.
Podemos nos sentir débeis e estar rodeados de
tentações em meio de um mundo que não nos ajuda precisamente a viver como
cristãos. Mas temos um Sacerdote que conhece tudo, que sabe de nossa
fragilidade como seres humanos porque ele foi um de nós, menos no pecado. Jesus
Cristo é nosso juiz misericordioso, nosso Sumo Sacerdote capaz de compadecer-se
de nossas dores porque ele os padeceu.
Cada dia nos pomos à luz da Palavra viva e
penetrante de Deus. Palavra eficaz como a do Génesis (diz e logo se torna
realidade, Gn 1). Umas vezes a Palavra de Deus nos acaricia e consola. Outras vezes,
nos julga e nos convida a um discernimento mais claro de nossas situações. Ou ela
nos condena quando nossos caminhos não são os caminhos de Deus. Isso é o que vai nos sustentar em nosso caminho de fé.
Deus
Está Em Busca Dos Pecadores Para Salvá-los
Ao perdoar os pecados do paralítico, no
evangelho do dia anterior, (Mc 2,1-12) Jesus rompeu a distância entre o pecador
e Deus. Mas que implicação tem isso na sociedade? Que exige da Igreja que se
diz portadora de perdão e de reconciliação entre os homens (cf. Mt 16,19;18,18;
Jo 20,22-23)?
O texto do evangelho de hoje fala da vocação de
Levi. Levi é o quinto discípulo de Jesus segundo o evangelho de Mc. (cf. Mc
1,16-20). Jesus se apresenta diante dele como o Senhor que ordena: “Segue-me!”.
Aqui há novidade! Não é mais pescador que Jesus chama, mas é um cobrador de
impostos para ser seu discípulo, e por isso, é um pecador público (publicano)
que para a sua época, era malvisto pela população. Levi é descrito como um
homem que “estava sentado”. Mas ao ouvir a chamada de Jesus para segui-lo, Levi
se levantou. A partir daquele dia, Jesus será quem dará sentido para a vida de
Levi. E Levi aprenderá de Jesus uma nova forma de viver com sentido.
Olhando para Levi e para o comportamento de
Jesus diante deste, cada um de nós pode dizer em silêncio ao Senhor: “Senhor,
eu sou também um pecador. Obrigado, Senhor, por não me julgar, como não julgou
Levi. O Senhor me conhece e me ama e por isso, não me despreza”.
Os escribas e os fariseus, vendo o comportamento
de Jesus, perguntaram aos discípulos de Jesus: “Por que ele come com os
cobradores de impostos e pecadores?”. Fazer refeição com os demais era um
reconhecimento da igualdade e da dignidade. Os cobradores de impostos eram
considerados ladrões do dinheiro publico, e por isso, eram excluídos e
considerados impuros. Os escribas e os
fariseus, puritanos fechados em sua autossuficiência e convencidos de serem os
perfeitos, não se relacionavam com este tipo de pessoas para não comprometer
sua pureza legal.
Há aqui uma revelação de Deus que chama nossa
atenção. Jesus não julga os que dele se aproximam; não faz diferença entre os
homens (cf. At 10,34-35). Não entra nas classificações habituais da opinião de
seu tempo. Jesus é um homem de ideias amplas, um homem tolerante e
compreensivo, é um homem muito humano para com todos. Ele era tão humano a
ponto de se tornar tão divino. Para ser verdadeiro cristão o homem tem que ser
muito humano profundamente. Na profunda vivência da humanidade é que chegaremos
à divindade. Paradoxalmente, o caminho da subida até Deus passa pelo caminho da
descida até a nossa humanidade.
Diante da crítica dos escribas e fariseus Jesus
diz: “Não são as pessoas sadias que precisam de médico, mas as doentes. Eu
não vim para chamar justos, mas sim pecadores” (Mc 2,17).
A resposta de Jesus é um dos melhores retratos
do amor misericordioso de Deus, manifestado em Cristo Jesus. Com uma liberdade
admirável, Jesus vai pelo seu próprio caminho, anunciando a Boa Nova aos
pobres, chamando os “pecadores” apesar das reações dos puritanos que afastam os
outros e fazem isso, em nome de um suposto Deus em quem acreditam. Jesus
continua a salvar os débeis e os enfermos. Continua fazendo o bem apesar dos
comentários negativos a respeito. Jesus, em vez de se afastar dos “pecadores”,
se aproxima deles. Ele não tem medo de sentar-se à mesa com aqueles que a
sociedade considera como pessoas não “certinhas”.
O evangelista Marcos nos relatou que, como
fruto da aproximação tão humana da parte de Jesus “Com efeito, eram muitos que
o seguiam”. Esta frase tem um peso porque prepara uma melhor compreensão de Mc
3,13-16. Aqui tomamos consciência de que os que seguem a Jesus sintonizam seu
atuar com o do Mestre e também eles se aproximam dos pecadores. Este fato era de
grande atualidade no tempo da comunidade de Marcos (cf. Gl 2,11-14). Para um
cristão de origem judaica não era fácil conviver com quem havia sido conhecido
anteriormente como um pecador publico ou com quem provinha do mundo pagão.
Somente recordando o comportamento de Jesus tudo se superava.
“Não são as pessoas sadias que precisam de
médico, mas as doentes. Eu não vim para chamar justos, mas sim pecadores”.
Para todos nós que não somos santos estas palavras de Jesus nos consolam.
Cristo nos acolhe e nos chama apesar de nossas debilidades e da má fama que
possamos ter e nos transforma em seus discípulos para continuar sua obra neste
mundo. Como a Eucaristia, não é para os perfeitos. Por isso, sempre começamos
nossa celebração com um ato penitencial e na hora de receber o Corpo do Senhor,
na comunhão, continuamos a reconhecer nossa indignidade de comungar o Corpo tão
santo do Senhor ao dizer: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha
morada, mas dizei uma só palavra, serei salvo!”.
Temos que viver realmente a espiritualidade da
Eucaristia porque a estrutura da Eucaristia nos mostra que somos todos
pecadores. Começamos sempre nossa celebração com um ato penitencial. E antes de
nos aproximar da comunhão, pedimos no Pai-Nosso: “Perdoai-nos as nossas
ofensas”. Ao receber o Corpo e sangue do Senhor nós acreditamos que Ele é
Aquele que tira o pecado do mundo e aquele que nos alimenta a fim de vivermos
para ele e para os demais. Conscientes de sermos pecadores rezamos antes de
receber o Corpo do Senhor: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha
morada, mas dizei uma só palavra, serei salvo”. Se realmente vivermos
profundamente a espiritualidade eucarística jamais julgaremos os outros. Ao
contrário, devemos rezar muito mais do que comentamos. “No falar muito está o
pecado”, diz a Palavra de Deus.
Infelizmente temos os olhos muito abertos para
os defeitos dos demais e fechados para nossos próprios defeitos e para o bem
praticado pelos outros. Portanto, o evangelho deste dia deve nos estimular a
não sermos como os fariseus, a não crermos melhores, escandalizando-nos pelos
defeitos que vemos nos demais.
Para Refletir Mais
É muito interessante observar como
Jesus não aprova as catalogações correntes que na sua época originavam a marginalização
de tantas pessoas. Quando marginalizamos alguém é porque nos achamos melhores
do que os outros. Por isso, marginalizar os outros não deixa de ser uma
manifestação da arrogância ou de um sentimento de superioridade. E a arrogância
é uma maneira de admitir os próprios defeitos. É interessante refletir que
todos nós nascemos iguais, mas logo no dia seguinte criamos catalogações. E um
dia todos vão entrar na cova (morrer) de igual maneira, mesmo alguns enfeitem a
cova.
No evangelho de anteontem lemos
que Jesus tocou e curou um leproso. No evangelho de hoje, Jesus se aproxima e
chama como seu seguidor nada menos que um arrecadador de impostos, um
publicano, um pecador público. Trata-se de um “pecador” segundo todas as
convenções da época. É chocante tanto para a época de Jesus e, creio que, também
para nossa época. Mas Jesus Levi, o publicano, e este O segue imediatamente.
A graça de Deus não admite nenhuma
demora. Ela chega e nós não podemos demorar em corresponder com ela, como Levi
que se levantou e seguiu a Jesus imediatamente.
Jesus encontrou Levi “sentado” e o
chama. E este se levantou e seguiu a Jesus. O que torna nossa vida sem
dinamismo? O que nos faz “sentados” na vida que nos faz sem horizonte, sem
esperança e sem sentido? É preciso repetirmos sempre a frase do Senhor:
“Levanta-te e anda e tu verás mais coisas na tua vida!”
Além disso, o texto quer nos dizer
que, na vida, não há nada que seja perdido. A opinião da maioria pode nos
condenar como perdidos. Mas temos que ter uma audição seletiva: selecionar o
que necessitamos escutar e abandonar o que não precisamos escutar. Além disso,
tenhamos a esperança em Deus, pois um dia Ele vai se aproximar de nós. Fiquemos
atentos para Deus que se aproxima de Deus. Fiquemos atentos para os sinais de
Deus na nossa vida.
É um dos melhores retratos do amor
misericordioso de Deus encarnado em Jesus Cristo. Com uma liberdade admirável
Jesus vai pelo seu caminho anunciando a Boa Nova aos pobres (cf. Lc 4,18-19; Is
61,1-2), chamando “pecadores” para segui-Lo apesar das reações diante de sua
atitude. Ele cumpre sua missão: Veio para salvar os débeis/ pecadores e os
enfermos.
P. Vitus Gustama,svd
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