21/01/2019
O
JEJUM NA VIDA
DO CRISTÃO
1 Todo sumo sacerdote é tirado do meio dos
homens e instituído em favor dos homens nas coisas que se referem a Deus,
para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados. 2 Sabe ter compaixão dos que
estão na ignorância e no erro, porque ele mesmo está cercado de fraqueza. 3 Por
isso, deve oferecer sacrifícios tanto pelos pecados do povo, como pelos seus
próprios. 4 Ninguém deve atribuir-se esta honra, senão o que foi chamado por
Deus, como Aarão. 5 Deste modo, também Cristo não se atribuiu a si mesmo a
honra de ser sumo sacerdote, mas foi aquele que lhe disse: “Tu és o meu Filho,
eu hoje te gerei”. 6 Como diz em outra passagem: “Tu és sacerdote para sempre,
na ordem de Melquisedec”. 7 Cristo, nos dias de sua vida terrestre, dirigiu
preces e súplicas, com forte clamor e lágrimas, àquele que era capaz de
salvá-lo da morte. E foi atendido, por causa de sua entrega a Deus. 8 Mesmo
sendo Filho, aprendeu o que significa a obediência a Deus por aquilo que ele
sofreu. 9 Mas, na consumação de sua vida, tornou-se causa de salvação eterna
para todos os que lhe obedecem. 10 De fato, ele foi por Deus proclamado sumo
sacerdote na ordem de Melquisedec.
Naquele tempo,
18 os discípulos
de João Batista e os fariseus estavam jejuando. Então,
vieram dizer a Jesus: “Por
que os discípulos
de João e os discípulos dos fariseus jejuam, e os teus
discípulos não
jejuam?” 19 Jesus respondeu: “Os convidados de um
casamento poderiam, por
acaso, fazer jejum, enquanto
o noivo está com
eles? Enquanto
o noivo está com
eles, os convidados
não podem jejuar.
20 Mas
vai chegar o tempo
em que
o noivo será tirado do meio
deles; aí, então,
eles vão
jejuar. 21 Ninguém põe um remendo de pano
novo numa roupa
velha; porque
o remendo novo
repuxa o pano velho
e o rasgão fica maior ainda. 22 Ninguém põe vinho
novo em odres velhos; porque o vinho novo arrebenta os odres
velhos e o vinho
e os odres se perdem. Por isso, vinho novo em odres novos”.
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Viver o Sacerdócio Cristão
“Todo sumo sacerdote é tirado do meio dos
homens e instituído em favor dos homens nas coisas que se referem a Deus
para oferecer dons e
sacrifícios pelos pecados”. É uma das afirmações tiradas
da Primeira Leitura de hoje.
O autor da Carta
aos Hebreus está entrando em seu tema central: o sacerdócio de Cristo comparado
com o sacerdócio do Templo, o sacerdócio judeu.
Quais são qualidades
que deve ter um bom sacerdote? Antes de tudo, ele deve ser nomeado/chamado por
Deus e não é ele que se arroga esta honra. Jesus não pertencia a uma família
sacerdotal. Ele era “leigo”. Ele nunca se chamou a si mesmo “Sumo Sacerdote”. Mas
a comunidade cristã fez, porque ninguém a não ser Deus lhe disse: "Tu és
meu Filho. Tu és um Sacerdote eterno”.
A mesma afirmação
encontramos no Salmo Responsorial de hoje (Sl 109): “’Tu és príncipe desde o dia em que nasceste; na glória e esplendor da santidade,
como o orvalho, antes da aurora, eu te gerei!’ Jurou o Senhor e manterá sua palavra:
‘Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem do rei Melquisedec!’”. A comunidade
cristã aplicou a Jesus Cristo desde o princípio.
A carta acrescenta
um comentário surpreendente: "Mesmo
sendo Filho, aprendeu o que significa a obediência a Deus por aquilo que ele
sofreu". Temos um Sacerdote que experimentou a dor como nós. Até a
morte. Não é que ele precisasse oferecer sacrifícios por seus próprios pecados,
como aconteceu com os sacerdotes de Jerusalém. Mas ele quis assumir a morte e
assim se tornou o Salvador de todos, glorificado e proclamado Sumo Sacerdote.
Pelo fato de estar
próximo dos homens, hoje lemos uma das passagens mais impressionantes que se
referem à Paixão de Jesus: “Cristo, nos
dias de sua vida terrestre, dirigiu preces e súplicas, com forte clamor e
lágrimas, àquele que era capaz de salvá-lo da morte”. Os evangelistas nos
falam da tristeza, do medo, do pavor, do tédio de Jesus diante de sua morte. Aqui,
nesta Carta, fala-se de “clamor/grito e lágrimas”.
Além disso, um
sacerdote deve estar muito unido aos homens e saber compreendê-los, já que os
representa na presença de Deus. Um “pontífice” é aquele que faz de ponte entre
Deus e a humanidade.
Por otra parte,
cada uno de nosotros podríamos preguntarnos cuál es su propio estilo de ser
mediador para con los demás, cómo intentamos colaborar con Cristo en la
salvación del mundo. ¿Somos comprensivos como él? ¿aceptamos a los demás tal
como son, también con sus defectos, para ayudarles en su camino? ¿estamos
dispuestos hasta la renuncia y el dolor para poder hacer el bien a nuestro
alrededor? ¿somos pontífices, o sea, hacemos de puente entre las personas y
Dios? ¿adoptamos una actitud de condena o de comprensión y ayuda?
“Todo sumo sacerdote é tirado do meio dos
homens e instituído em favor dos homens nas coisas que se referem a Deus”.
Começa aqui uma
longa comparação entre o sacerdócio judeu, o sacerdócio do Templo de Jerusalém,
e o sacerdócio cristão. Aqui já há uma definição excelente: o sacerdócio é uma
missão de “comunicação”, de “relação” entre os homens e Deus. O termo latino
“pontifex” significa “construtor de pontes”, o sacerdote é quem estabele uma
comunicação entre as duas margens tão aparentemente afastadas como a terra e o
céu.
“...
para oferecer dons e sacrifícios pelos pecados”. A distância, que separa o homem de Deus não é somente o abismo normal
entre o Criador e a criatura, é a oposição entre dois antagonistas, um dos
quais se torna inimigo do outro: o pecado. O pecado não é uma indiferença a
Deus e sim é uma recusa de Deus. Dai há necessidade de mediador.
“(O mediador) Sabe ter compaixão dos que estão na ignorância
e no erro, porque ele mesmo está cercado de fraqueza”.
Uma qualidade
essencial do sacerdote: ser compreensivo, delicado, aberto, acolhedor e bom
para os pecadores. E o autor se atreve a afirmar que ele terá essas
qualidades, quando ele reconhecer que ele também está "cercado de
fraqueza". Ele sabe o que é ser pecador, porque ele mesmo é um pecador!
Ouvindo as confidências daqueles que pecam, ele se reconhece e é, portanto,
capaz de compreender os pecadores.
Em outras palavras,
não cabe no sacerdote o orgulho algum. Ele é também um pobre diante de Deus. Ele
é um irmão pecador. Ser sacerdote, por isso, não é um orgulho e sim é uma temível
dignidade e uma responsabilidade que não se revindica e sim que se recebe com
humildade. É uma chamada: “Ninguém deve
atribuir-se esta honra, senão o que foi chamado por Deus”.
Por outro lado, o sacerdócio
de Cristo é único. Ele arraiga em sua própria divindade. Com este título há um
só sacerdote. Somente um capaz de ser o vínculo entre a humanidade e Deus.
“O sacerdote sabe ter compaixão dos que estão
na ignorância e no erro, porque ele mesmo está cercado de fraqueza. Por isso,
deve oferecer sacrifícios tanto pelos pecados do povo, como pelos seus
próprios. Ninguém deve atribuir-se esta honra, senão o que foi chamado por Deus”.
As minhas próprias
fraquezas me fazem também ser bom e compreensivo com os que pecam ou erram na
vida? Ou sou dos que, de modo farisaico, se precipitam ou estão em prontidão
para julgar ou condenar os que praticaram o mal ou outros pecados?
Além disso, cada um
de nós pode perguntar-se: qual é seu próprio estilo de ser mediador/intercessor
para os demais a exemplo de Cristo, o Sumo Sacerdote? Somos compreensivos como
Cristo? aceitamos os demais tal como são, também com seus defeitos para
oferecer nossa ajuda a eles em seu caminho? Estamos dispostos até a renuncio e
a dor para poder fazer o bem para as pessoas ao nosso redor? Somos “pontífices”
ou seja, fazemos de ponte entre as pessoas e Deus? adotamos uma atitude de
condenação ou de compreensão e ajuda?
Na semana
passada acompanhamos o começo da pregação
e da ação de Jesus. Jesus escolheu cinco primeiros
discípulos . Na sua
ação , Jesus impôs silêncio
aos que reconheciam como
Filho de Deus .
Esta semana ,
encontraremos Jesus e seus discípulos que
formam um grupo
absolutamente solidário
e unido diante de seus
adversários (fariseus
e escribas etc.).
Observaremos que ,
em cada
controvérsia , Jesus sempre
se apresenta como um
independente diante
das regras e das observâncias
legais conforme
as tradições . A independência
de Jesus choca os que
estão apegados ao pé da letra todas as leis
e as tradições . Jesus entra no espírito da lei ,
naquilo que possa edificar
o ser humano .
Por isso ,
em outra
ocasião ele
diz: “O sábado existe para
o homem e não
o contrário ”. No evangelho
de hoje ele
faz uma declaração que
tem o mesmo conteúdo :
“Ninguém põe o vinho
novo em odres velhos ”.
O tema
da discussão entre
Jesus e os fariseu no evangelho de hoje
é o do jejum .
Jejum fazia parte
das praticas mais importantes
da piedade judaica
e era um
dos mais fortes
símbolos de integração
no sistema social
(cf. Lc 18,11-12). E, por isso , marcava a separação
entre “justos ”
e “pecadores ”. Era
símbolo religioso ,
ideológico da divisão social
fundamental . O jejum
era como
sinal distintivo .
De modo
geral , a prática
do jejum está ligada ,
no AT, à espera da vinda
do Messias . A prática do jejum aceleraria a chegada
do Messias . Os fariseus
e os discípulos de João Batista praticam o jejum .
Por isso ,
questionam o comportamento dos discípulos de Jesus que
não o praticam.
A resposta
de Jesus aqui é bem
clara : se seus
discípulos não
praticam o jejum é porque
não tem nada
que esperar porque o Messias já chegou e está com
eles . O tempo
chegou, o Reino de Deus
está próximo (Mc 1,15), o banquete
messiânico começou. O tempo de Jesus é
comparado a uma festa de bodas . É um tempo de festejar , sem jejum . O “noivo ” neste texto
designa claramente a Jesus. O que se esperava de Deus
nos últimos
tempos faz-se presente
no interior da história
através da ação
de Jesus. O momento escatológico se
inicia no coração do tempo histórico ,
no tempo cronológico. O tempo cronológico e o tempo
da graça (kairós) se fundem. Deus encarnado em Jesus se aproxima e acolhe o povo
carinhosamente como
o marido faz para
sua esposa .
E os sinais
são estes :
os leprosos ficam purificados (Mc
1,40-45), os paralíticos andam (Mc
2,1-12), a Boa Nova se anuncia (Mt
11,5). Jesus é Aquele que deve vir . Os discípulos
de Jesus estão vivendo esta intimidade .
Esta intimidade será rompida no momento da paixão
e da morte de seu
Mestre . No dia
em que
Jesus deixar de estar , a comunidade cristã, através
do jejum , fará a memória
da morte de Cristo ,
anunciará ao mundo que
Jesus morreu por causa
dos pecados dos homens
e por nossos
pecados .
Consequentemente “Ninguém
põe um remendo
de pano novo
numa roupa velha ;
porque o remendo
novo repuxa o pano
velho e o rasgão fica maior ainda . Ninguém põe vinho
novo em odres velhos ; porque o vinho novo arrebenta os odres
velhos e o vinho
e os odres se perdem. Por isso , vinho novo em odres novos ”. Isto significa que
a plenitude do novo
não é suportável ao velho
sistema . É necessário
ter um novo espaço para acolher o novo .
Renovar é colocar algo novo no espaço adequado. O código
dum mundo de desenvolvimento
é a transformação e renovação. Só o novo pode acolher a novidade .
Jesus não teme afirmar ,
desde o início
de sua vida
pública , a novidade
radical de sua
mensagem . O evangelho
não é um
“remendo ” e sim
é algo novo , pois salva por amor e não pela obediência cega
à lei .
Estamos em
outro contexto .
Por isso ,
o jejum ganha
seu novo significado . Quando
soubermos dar ou
preparar o espaço
para Deus na nossa vida , este espaço não será ocupado
por outra
coisa . Ao darmos esse
espaço para Deus o resto ganha seu justo valor e sua justa perspectiva . Por
isso , ao praticarmos o jejum estamos manifestando nossa
vontade de não
deixar nenhuma coisa material dominar nossa vida ou mandar na nossa vida .
Podemos possuir as coisas ,
mas as coisas
jamais podem nos
possuir para não perdermos nossa
liberdade . Mesmo
não querendo, um
dia largaremos tudo .
É preciso que
aprendamos a ser livres
todos os dias ,
desde já .
P. Vitus Gustama,svd
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