quinta-feira, 17 de janeiro de 2019

Domingo,20/01/2019
Resultado de imagem para bodas de canáImagem relacionadaResultado de imagem para bodas de caná
O AMOR DIVINO QUE NOS HUMANIZA E SALVA
II DOMINGO DO TEMPO COMUM “C”


Primeira Leitura: Is 62,1-5
1 Por amor de Sião não me calarei, por amor de Jerusalém não descansarei, enquanto não surgir nela, como um luzeiro, a justiça e não se acender nela, como uma tocha, a salvação. 2 As nações verão a tua justiça, todos os reis verão a tua glória; serás chamada com um nome novo, que a boca do Senhor há de designar. 3 E serás uma coroa de glória na mão do Senhor, um diadema real nas mãos de teu Deus. 4 Não mais te chamarão Abandonada, e tua terra não mais será chamada Deserta; teu nome será Minha Predileta e tua terra será a Bem-Casada, pois o Senhor agradou-se de ti e tua terra será desposada. 5 Assim como o jovem desposa a donzela, assim teus filhos te desposam; e como a noiva é a alegria do noivo, assim também tu és a alegria de teu Deus.


Segunda Leitura: 1Cor 12,4-11
Irmãos: 4 Há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito. 5 Há diversidade de ministérios, mas um mesmo é o Senhor. 6 Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos. 7 A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum. 8 A um é dada pelo Espírito a palavra da sabedoria. A outro, a palavra da ciência segundo o mesmo Espírito. 9 A outro, a fé no mesmo Espírito. A outro, o dom de curas no mesmo Espírito. 10 A outro, o poder de fazer milagres. A outro, profecia. A outro, discernimento de espíritos. A outro, falar línguas estranhas. A outro, interpretação de línguas. 11 Todas estas coisas as realiza um e o mesmo Espírito, que distribui a cada um conforme quer.


Evangelho: Jo 2,1-11
Naquele tempo, 1 houve um casamento em Caná da Galileia. A mãe de Jesus estava presente. 2 Também Jesus e seus discípulos tinham sido convidados para o casamento. 3 Como o vinho veio a faltar, a mãe de Jesus lhe disse: “Eles não têm mais vinho”. 4J esus respondeu-lhe: “Mulher, por que dizes isto a mim? Minha hora ainda não chegou”. 5 Sua mãe disse aos que estavam servindo: “Fazei o que ele vos disser”. 6 Estavam seis talhas de pedra colocadas aí para a purificação que os judeus costumam fazer. Em cada uma delas cabiam mais ou menos cem litros. 7 Jesus disse aos que estavam servindo: “Enchei as talhas de água”. Encheram-nas até a boca. 8 Jesus disse: “Agora tirai e levai ao mestre-sala”. E eles levaram. 9 O mestre-sala experimentou a água, que se tinha transformado em vinho. Ele não sabia de onde vinha, mas os que estavam servindo sabiam, pois eram eles que tinham tirado a água. 10 O mestre-sala chamou então o noivo e lhe disse: “Todo mundo serve primeiro o vinho melhor e, quando os convidados já estão embriagados, serve o vinho menos bom. Mas tu guardaste o vinho melhor até agora!” 11 Este foi o início dos sinais de Jesus. Ele o realizou em Caná da Galileia e manifestou a sua glória, e seus discípulos creram nele.
------------------------
 
I. “Sinais” De Jesus


O evangelista João jamais emprega a palavra milagre (dýnamis, grego, como ato de poder e de força) que aparece com muita freqüência nos sinóticos (Mc, Mt e Lc). Em vez disso, ele usa o termo “sinal” (seméion, grego). Este termo pertence ao vocabulário técnico do quarto evangelho, onde aparece 17 vezes, sobretudo na primeira metade. Em João, “sinal” é ação/obra realizada por Jesus que, sendo visível, leva por si ao conhecimento de realidade superior. O “sinal” remete a outra coisa. Os “sinais joaninos”, porém, não somente apontam para uma realidade que está além da coisa ou acontecimento visível, mas contém já em si mesmos a realidade significada. Eles são, de certo modo, uma manifestação da “glória” de Jesus. Enquanto o milagre, pelo poder surpreendente que ele força a constatar, tem por função orientar em direção à pessoa e à dignidade do seu autor. O “sinal” visa a outra realidade além de si mesmo, ele é considerado menos em si do que na sua relação com as testemunhas: o gesto realizado as convida a deduzir uma conseqüência para além do significante. Este termo joanino inclui sempre dois aspectos: demonstrativo, o sinal suscita a fé dos discípulos em Jesus; expressivo, ele manifesta a glória daquele que o opera.


Encontram-se no Evangelho de João sete sinais de Jesus:
  1. Jo 2,1-11: bodas de Caná;
  2. Jo 4,46-54: a cura do filho do funcionário real;
  3. Jo 5,1-9: a cura do paralítico;
  4. 6,1-15: a partilha dos pães;
  5. 6,16-21: Jesus caminha sobre as águas;
  6. 9,1-41: a cura do cego de nascença;
  7. 11,1-44: a reanimação (“ressurreição”) de Lázaro.
     
    Por isso, a primeira parte do Evangelho de João (1,19-12,50) chama-se o LIVRO DOS SINAIS. Enquanto a segunda parte (13,1-20,29) chama-se o GRANDE SINAL que fala da paixão, morte e ressurreição de Jesus.
              
    O objetivo principal de todos os sinais relatados no Quarto Evangelho é a fé, como João deixa claro no final: os sinais feitos por Jesus foram escritos “para que acrediteis que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida eterna em seu nome” (Jo 20,31). Isto quer nos dizer que diante dos sinais operados por Jesus é necessário tomar uma decisão (Jo 7,31;9,16;11,47). Sem tomar uma decisão positiva (crer em Jesus), os sinais se tornarão juízo de acusação contra os que se mostram incrédulos (cf. Jo 12,37ss). 
              
    João propriamente não fala de fé: o substantivo “fé” não existe no seu Evangelho; aparece somente o verbo “crer/acreditar” pelo menos 98 vezes (ao passo que o encontramos apenas 54 vezes em Paulo, que é o apóstolo da fé. Mas a palavra “fé” aparece pelo menos 150 vezes nas suas cartas). João usará a palavra “fé” uma vez apenas, na primeira carta, quando afirma: “O que vence o mundo é a nossa fé” (1Jo 5,4). De outro lado, o verbo “crer” aparece com freqüência precisamente nos lugares privilegiados, no sentido que quase todo episódio tem esta estrutura: manifestação de Jesus- resposta de fé ou de incredulidade.
              
    Por isso, o objetivo único e central do crer é Jesus, na concretude de sua vinda do Pai como Filho enviado (Jo 3,16) e na sua iniciativa de salvação pela qual nos leva ao Pai. Basta observar que o verbo “crer” aparece 33 vezes sozinho, 12 vezes em contexto do tipo “crer em Jesus, ou crer nas suas palavras”, 36 vezes em contexto do tipo “crer nele”. O crer se qualifica, pois, como um ato que nos coloca em relação imediata com a pessoa de Jesus e com o seu mistério.
     
    II. Alguns Detalhes
     
    2.1. O primeiro sinal acontece numa Festa De CASAMENTO: o que representa?
              
    O episódio de Caná, isto é, o primeiro sinal de Jesus, acontece num casamento/bodas. Na linguagem bíblica/teológico- simbólica, o casamento/bodas é símbolo da aliança com Deus, sublinhando a relação de amor e fidelidade entre Deus e o povo (Is 49,14-26;54,48;62,4-5; Jr 2; Ez 16). A eleição do povo e a aliança foram expressão do amor de Deus por ele (Dt 4,37;7,7s;10,15).  Os profetas usaram muitas vezes a imagem de casamento para falar do amor mútuo entre Deus e Israel (Is 62,4-5; Os 2,18-22). Portanto, o casamento em Caná é simbólico. O verdadeiro esposo da humanidade é Jesus (Jo 3,29), pois foi assim que João Batista o anunciou (cf. Jo 1,15.27.30). E toda a Igreja é uma esposa.
     
    2.2. O Casamento Ocorre No “Terceiro Dia”
              
    A narração é introduzida pela fórmula “no terceiro dia” (v.1) depois do encontro de Jesus com Filipe e Natanael (cf. Jo 1,35-51).
     
    O “terceiro dia” de Caná faz referência ao terceiro dia do mistério pascal, entendido como Paixão-Morte-Ressurreição de Cristo. A conexão entre o terceiro dia e a ressurreição se baseia sobretudo em Jo 2,19-21: “Destrui este templo (= morte), e em três dias eu o levantarei (ressurreição)”. Por conseguinte, também para João, como para os sinóticos e para são Paulo, o “terceiro dia” é o dia da ressurreição de Cristo. É um elemento que pertence ao núcleo da pregação primitiva, testemunhada, por exemplo, em 1Cor 15,3-4.
     
    Sempre no âmbito da doutrina de João, a fórmula “terceiro dia” se relaciona, além do mais, com a “HORA” de Jesus, como se verá na resposta do próprio Jesus para Sua Mãe (v.4). A “HORA” de Cristo segundo o Quarto evangelho designa como uma só realidade: a Paixão-Morte-Ressurreição de Jesus Cristo. É o momento supremo em que Jesus passa deste mundo ao Pai; momento em que João define como sua HORA (Jo 2,4; 7,30; 8,20; 13,1).
     
    Desde o princípio até o fim da atividade de Cristo (Jo 2,4; 13,1; 19,27), esta hora confere uma marcha dramática para o evangelho de João. Ela é o cume da missão de Jesus: Ele veio para esta HORA (Jo 12,27). Seu cumprimento está fixado pela vontade do Pai e não pode ser antecipado nem pelas exigências de sua Mãe (Jo 2,4) nem muito menos pelo poder violento dos inimigos de Cristo (Jo 7,30; 8,28).
     
    Nesta HORA o Pai revela a glória do Filho, isto é, a verdade plena de sua pessoa. Esta tevelação compreende dois aspectos: a igualdade de Jesus com o Pai na divindade e sua comunhão com os homens. O próprio Jesus afirma isso claramente: “Nesse dia (isto é, no mistério pascal) compreendereis que estou em meu Pai e vós em mim e eu em vós” (Jo 14,20).
     
    O modo como começa o relato deste primeiro sinal evoca toda a vida pública de Jesus até sua morte e ressurreição “no terceiro dia” (cf. Jo 2,19-21;1Cor 15,3ss; Mt 12,40;16,21;17,22;20,19; Mc 9,31 etc. veja também como alusão Ex 19,11.16) quando ele manifestará plenamente sua “glória” para que todos possam crer nele. O terceiro dia é, com efeito, o dia da ressurreição, da plena manifestação da glória. Esta “glória” tem o lugar de destaque no relato que de alguma maneira é antecipada. As núpcias de Caná antecipam no sinal o acontecimento pascal como acontecimento de aliança nupcial que é cumprimento e superação da aliança do Sinai. O sinal de Caná revela Jesus como o esposo divino do novo povo de Deus com o qual ele faz a aliança nova e definitiva em seu mistério pascal. É a virada decisiva da história da salvação na qual a mãe de Jesus tem um papel, o papel que o evangelista quis mostrar.
     
    2.3. A Mãe De Jesus Percebe A Falta De Vinho: Um Olhar Contemplativo
              
    No evangelho de João a mãe de Jesus (Maria) aparece somente duas vezes, mas nos momentos mais importantes. Maria, em primeiro lugar, atua na realização do primeiro sinal de Jesus, no momento em que Jesus inaugura sua missão pública, como lemos no evangelho deste domingo (Jo 2,1-11). Em segundo lugar, Maria permanece ao pé da cruz, no momento da morte de Jesus, no final de sua missão nesse mundo (cf. Jo 19,25-27). A cena da mãe ao lado da cruz e as palavras dirigidas por Jesus agonizante a ela e ao discípulo amado contém denso valor simbólico: deduz-se isso, antes de tudo, da alusão ao primeiro sinal de Caná, feita mediante a mesma presença da “mãe de Jesus” (Jo 2,1 e 19,25), chamada também aqui “mulher” (Jo 2,4 e 19,26), e mediante a recordação da “hora” (Jo 2,4 e 19,27: A partir dessa hora...”). O evangelista João quer nos dizer que Maria tem um lugar especial no seu evangelho, pois ela se faz presente nos momentos mais importantes da vida e da missão de Jesus. Tudo que se prefigura no primeiro sinal se cumpre na cena da mãe de Jesus ao lado da cruz.
              
    Nas núpcias de Caná “estava ali a mãe de Jesus”. Para o evangelista João, a figura da mãe de Jesus é central, pois a partir dela é que a atenção se projetará sobre Jesus. A manifestação da glória de Cristo passa através da mãe.
              
    Na festa de casamento em Caná, ou seja, na antiga aliança faltou vinho. O vinho, na Bíblia, simboliza/representa o amor (cf. Ct 1,2;7,10;8,2). A antiga aliança, portanto, não tem mais sentido, pois o amor foi substituído pela Lei. Os seis enormes potes de pedra que serviam para os ritos de purificação dos judeus(v.6), representam a falta de amor na relação com Deus. Além disso, estão vazios, ou seja, não têm mais nada a dar.
              
    A mãe de Jesus reconhece isso, pois em vez de se dirigir ao organizador da festa, vai diretamente a Jesus e lhe diz: “Eles não têm mais vinho” (v.3). A expressão é semelhante à usada pelos apóstolos antes do milagre da multiplicação dos pães: “Eles não têm mais nada para comer” (cf. Mc 8,2; Mt 15,32). Maria vê o conjunto, a visão do conjunto e compreende aquilo que é essencial. Este é o espírito contemplativo de Maria, o seu dom de síntese, a capacidade de dar atenção às coisas particulares. Maria consegue ver o ponto central com a inteligência do coração e não através do raciocínio ou da análise imediata de todos os elementos. Quando o coração superar as razões, a caridade começará a agir, pois a caridade sempre parte do coração. Quando negarmos o que o coração pedir, começaremos a criar muitas desculpas, mas depois cairemos num remorso, pois razão nenhuma pode negar o que o coração pede. “Eis o meu segredo, disse a raposa ao Pequeno Príncipe. É muito simples: Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos” (Antoine De Saint-Exupéry, em O Pequeno Príncipe, 37º Edição, Rio de Janeiro: Agir,1990 p.74). 
              
    Maria percebe o gemido mudo da humanidade e simplesmente o exprime: “Eles não têm mais vinho”. Maria se identifica com as pessoas numa situação sufocante, e por isso pede com naturalidade uma solução para o seu Filho, Jesus Cristo. A partir de Maria precisamos descobrir o que falta na nossa vida, na nossa vida religiosa, na nossa convivência, na nossa comunidade, no casamento, na família com o intuito de sofrer e amar juntos e não para acusar ou recriminar ninguém. O que falta em mim: talvez sejam pequenas ou grandes coisas que me faltam; talvez faltem perdão e renúncia ou tensões a cobrir ou pequenas palavras a frear. Ou de modo geral, talvez falte muita coisa para que eu possa ser “o bom vinho” para mim, para os outros, e para Deus.
              
    Quem são “eles” (“eles não têm mais vinho”) no contexto das núpcias de Caná? Aqueles que basearam a relação com Deus numa série de regras, tornando-a fria e paralisada. Ama menos quem se preocupa com a lei. Todas as leis devem submeter-se à Lei maior que é o Amor (cf. Jo 15,12). O amor é o vinho da nova e definitiva aliança. O amor exige de qualquer pessoa um despojamento total, o abandono de todas as falsas seguranças, a renúncia a seus privilégios. Os dirigentes judeus vão responder ao amor pregando Jesus na cruz. Mas o amor é mais forte que a morte, e o ódio é vencido em seu próprio terreno. Se o vinho da nova e definitiva aliança é o amor, a missão deve ser como serviço do amor. O amor é essencial à Igreja porque, sem o amor, a Igreja seria nada (cf. 1Cor 13,1ss). Neste sentido, a Igreja será verdadeiramente missionária e cristã, se ela se tornar o verdadeiro instrumento do amor universal.
     
    2. 4. Mulher, a Minha Hora Ainda Não Chegou
               
    A resposta de Jesus é aparentemente negativa; e aparentemente, formal e mesmo dura: “Que temos nós com isso, mulher? A minha hora ainda não chegou” (v.4). A expressão é um semitismo freqüente no Antigo Testamento e que aparece também algumas vezes no Novo Testamento (cf. Mt 8,29; Mc 1,24;5,7; Lc 4,34;8,28). É usada ora para rejeitar um pedido, ora para manifestar que a intervenção do interlocutor é sentida como uma instrução, ora simplesmente para expressar surpresa diante de uma intervenção cujo sentido e finalidade não aparecem claramente. O significado, então, depende do contexto, do tom da voz e dos gestos que acompanham as palavras. O sentido da frase neste texto poderia ser expresso numa paráfrase deste tipo: “Qual é a razão que a move a dizer-me isso?” A expressão em si não supõe rejeição frontal, nem sequer distanciamento ou falta de afeto. A resposta de Jesus serve como um convite feito diretamente ao leitor para compreender o que vai acontecer num horizonte mais amplo.
     
    Jesus ao dirigir-se à sua mãe, a chama de “mulher”: “Mulher, por que dizes isto a mim? Minha hora ainda não chegou”. A intenção parece ser clara: trata-se de tirar o relato do âmbito familiar para afirmar que os laços da família de Deus são mais fortes do que os de sangue (cf. Mt 12,48-50). A mãe de Jesus, a “mulher” tem uma ocupação importantíssima na história da salvação (cf. Lc 1,26-38). A palavra “mulher” representaria Maria como sendo a nova Eva que se encontra junto ao Novo Adão no nascimento da nova humanidade.
               
    Por isso, o termo “MULHER” usado por Jesus para sua mãe não é uma expressão de desrespeito ou de distância na relação mãe- filho, mas para acentuar o respeito e a reverência. Como entre nós a palavra “senhora” usada para dirigir-se à própria mãe. Jesus usará o apelativo “mulher” com freqüência ao dirigir-se às mulheres em contextos de elogio (cf. Mt 15,28; Lc 13,12; Jo 4,21;8,10; 20,13.15).
              
    Quando Jesus diz que a hora dele ainda não chegou, não está olhando para o relógio. A “hora” (este termo ocorre 26 vezes em Jo) no Evangelho de João tem um sentido simbólico. Quer dizer o momento em que Jesus vai mostrar quem ele é e comunicar o amor do Pai. Isso só vai acontecer de maneira completa na sua paixão, morte e ressurreição. Ainda não chegou “a minha hora” quer dizer ainda não chegou o momento da realização do grande sinal através do qual Jesus revelará sua glória isto é a paixão, morte e ressurreição de Jesus onde ele entregará sua vida à morte para a vida do mundo e por isso, será glorificado pelo Pai. Toda a missão de Jesus está orientada e realizada em função dessa “hora”. Sua hora não pode ser marcada pelos homens, nem por sua mãe.
     
    2.5. Fazei Tudo O Que Ele Vos Disser: A Fé Total No Filho De Deus
              
    Maria não discute com Jesus. Ela volta-se para os serventes: “Fazei tudo o que ele vos disser” (v.5). Maria percebe a gravidade da situação, mas não se apavora. Estas palavras mostram que Maria não considerou a resposta de Jesus como uma recusa definitiva. Ela não tem dúvida alguma de que Jesus vai fazer algo ou vai dar um jeito. Só não sabe como. Assim, entregou-se com inteira submissão e confiança total ao mistério da “hora”. Ela tem certeza de que seu filho atenderá porque é o Filho de Deus. Maria é persistente apesar da resposta de Jesus (cf. também o exemplo da persistência em Mt 15,21-28; Mc 7,24-30).
              
    Até aqui podemos fazer uma parada para olhar à certeza ou a confiança total de Maria em Jesus, o Filho de Deus. Talvez seja esta certeza que mais vezes nos falta. É a certeza em Jesus, a única a dar vigor ao nosso agir cotidiano. Talvez falte-nos aquele salto de qualidade na certeza em Jesus, nas coisas simples atrás das quais esconde-se o divino. Precisamos decifrá-las para encontrar o seu significado na certeza em Jesus.
              
    O que o quarto evangelista quer sublinhar não é, porém, o poder de intercessão de Maria. Mesmo as palavras finais de Maria: “Fazei tudo o que ele vos disser”, sublinham a soberania de Jesus e não a impetração de Maria. A mãe deixa tudo nas mãos do Filho, ainda que não o chame de Filho: “Fazei tudo o que ele vos disser”. Não se pode, contudo, negar que foi o pedido de Maria o que iniciou o processo que desembocou na decisão de Jesus de realizar o primeiro sinal.
              
    A atitude de Maria é a mesma de Israel quando se dirige a Deus nas suas provações: “Tudo o que diz Javé, nós o faremos” (cf. Ex 19,8; 24,3.7; Js 24,24). Depois de ter apresentado ela mesma a Jesus as nossas necessidades, agora pede aos serventes que façam tudo o que ele lhes disser. Pela sua atitude e pelas suas palavras, ao convidar os servidores a adotar a mesma atitude de obediência às palavras de Jesus, Maria é modelo para todos os que fazem parte de novo Israel de Deus, do novo Povo de Deus. Desde que respondeu ao anjo: “faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38), Maria conhecia, por experiência própria, os frutos produzidos pela obediência incondicional à Palavra de Deus. Segundo João, Maria não só realiza a vontade de Deus na sua vida, mas também orienta os outros a fazerem o que Deus lhe pede. A perfeita discípula e seguidora de Jesus se torna mestra e guia dos cristãos. Sua frase continua atual. Ela continua nos dizendo hoje: “Vale a pena buscar a vontade de Jesus, ouvir suas palavras e tomar atitudes concretas”. Maria estimula os seguidores de Jesus a realizarem a vontade de Jesus. Ela ajuda os seguidores a terem fé em Jesus e ficarem junto dele. Sobre tantos cristãos consagrados no sacramento do matrimônio, sobre tantos religiosos que já perderam o ardor da primeira vocação, sobre tantos sacerdotes que já esqueceram o santo estremecer do dia do chamado por Cristo, Maria tem que interceder: “Eles não têm mais vinho” para que jamais chegue a terminar o vinho do divino encanto. Além disso, Maria nos ensina a orar pelos nossos irmãos, assim como ela fez primeiro. Maria é uma mulher que, num rápido golpe de vista, vê o que falta e se preocupa com dar-lhe remédio. Ela simplesmente verifica o que falta, e pede com naturalidade: “Eles não têm mais vinho”.
              
    Maria também nos convida a viver uma virtude que se chama “atenção”. A atenção é um comportamento vigilante do eu sobre os outros; é uma transparência de olhar, uma prontidão em notar sinais de sofrimento em volta de si, um doar-se. Ela é amor verdadeiro, delicado, desinteressado e previdente. Ela é uma qualidade humana necessária e preliminar no caminho espiritual.
     
    2.6. Só Jesus Pode Preencher O Coração Vazio
              
    O texto diz que há ali seis talhas de pedra vazias para a purificação dos judeus. Nessas talhas vazias é que Jesus manda os serventes encherem água. A descrição é bem detalhada e simbólica. O número “seis” (= 7-1: sete menos um) representa a insuficiência, a ineficácia de todo o ritual opressor das purificações. As talhas de “pedra” estão vazias. As tábuas da Lei foram escritas em pedra em contraposição à promessa para o tempo da Nova Aliança: “Tirarei do vosso peito o coração de pedra e vos darei um coração de carne” (Ez 36,26). O novo mandamento é o amor (cf. Jo 15,12) que se escreve em cada coração e não na tábua de pedras. As talhas estão vazias. Isto quer dizer que a Lei antiga não tem mais nada para oferecer. Essa talhas vazias serão enchidas com o vinho novo e abundante dos tempos messiânicos. Jesus leva à perfeição o que pretendiam os ritos antigos. Para ficar purificado é necessário que alguém purifique seu interior onde está escrito o amor, como o novo mandamento.
              
    A novidade trazida por Jesus é superior à Lei antiga: “Tu guardes o bom vinho até agora”. Passou o tempo da Lei e chegou o tempo da graça e da verdade trazido por Jesus e que temos de receber esta salvação na alegria da festa. Jesus traz a superabundância de Deus, que supera em quantidade e qualidade todas as necessidades de que precisamos e sentimos, todas as esperanças que acalentamos e todas as utopias que podemos imaginar. A superabundância de bom vinho era uma das formas de expressar as bênçãos prometidas para os tempos messiânicas (cf. Am 9,13;Jl 2,24;4,18;Is 25,6
              
    Jesus faz o primeiro sinal de forma discreta. Tudo na simplicidade. Ele manda encher os potes de água. O primeiro sinal de Jesus pretende começar a revelar quem é Jesus para nós. A partir do sinal, entendemos que Jesus mesmo é o vinho novo da nossa vida. Ele é capaz de transformar as situações em que tudo parece “água”, sem sabor nem cor, no líquido da festa e da alegria. A partir de Jesus começou o tempo da graça. Quem está com Jesus tem vida sobrando. A abundância de vinho (em torno de 600 litros) revela o amor extraordinário de Deus presente na vida e na ação de Jesus.
     
     2.7. O Sinal Leva Os Discípulos A Crerem Em Jesus
             
    O resultado da ação de Jesus conforme o texto: “Jesus manifestou sua glória e seus discípulos creram nele” (v.11). A glória para Jesus não é o poder e a fama, mas a capacidade de realizar o bem e fazer Deus conhecido e amado. Essa glória consiste na revelação de Deus através dos “sinais” que ele opera. A glória de Deus agora torna-se visível para sempre em Jesus.
              
    E os discípulos creram nele”. Aqui chega ao seu clímax o chamamento dos discípulos. O crer em Jesus do v.11 é a culminação do seguimento iniciado em 1,37. Quem crê, vê além do sinal. O sinal não força ninguém a acreditar, só abre a porta do coração para a fé. Para João, crer em Jesus como o Cristo é crer no amor superabundante de Deus que enche de alegria o coração dos homens e lhes dá a plenitude da vida. Crer em Jesus é crer que ele realiza a união de Deus com seu povo através de sua vida, morte e ressurreição. Crer em Jesus é crer que Deus se revela e atua amorosamente em favor dos homens através da humanidade de Jesus. Na fé dos primeiros discípulos de Jesus, começa a fé da Igreja. Essa mesma fé é solicitada de todos ao situar-nos diante de Jesus, o portador da salvação definitiva oferecida por Deus ao mundo.
               
    Revivendo hoje o momento em que o Filho de Deus transforma a água em vinho para os convivas de Caná, deveríamos ter a capacidade de perceber que uma das mais exaltantes mensagens do cristianismo é a mensagem de alegria e de amor. Deus quer que haja o vinho nupcial da alegria, a alegria de permanecer unidos no amor fraterno.
              
    Cabe ao cristianismo, e cabe a cada um de nós, a tarefa de repetir a mensagem do sinal realizado por Jesus. Temos que proclamar as razões da alegria, não da tristeza; temos que apontar os motivos do otimismo, não do pessimismo; temos que promover a vida, não a morte. A alegria deveria ser característica de quem vive na fé e caminha para o Reino de Deus. É claro que a fé não nos põe a salvo do sofrimento e dos vários motivos de tristeza. Contudo, é preciso deixarmos transparecer a certeza de que toda nossa dor se transformará em alegria, pois Deus nos ama. É o testemunho que o mundo espera de nós.                         
    P. Vitus Gustama,SVD

Nenhum comentário:

DOMINGO DA PÁSCOA, 31/03/2024

CORRER AO ENCONTRO DO SENHOR RESSUSCITADO PARA SER SALVO DOMINGO DA PÁSCOA Primeira Leitura: At 10,34a.37-43 Naqueles dias, 34aPedro t...