sexta-feira, 22 de março de 2019

Domingo,24/03/2019
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CONVERSÃO: VOLTAR A AMAR A DEUS E AO PRÓXIMO
III DOMINGO DA QUARESMA DO ANO “C”


I Leitura: Êx 3,1-8a.13-15
Naqueles dias, 1Moisés apascentava o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de Madiã. Levou, um dia, o rebanho deserto adentro e chegou ao monte de Deus, o Horeb. 2Apareceu-lhe o anjo do Senhor numa chama de fogo, do meio de uma sarça. Moisés notou que a sarça estava em chamas, mas não se consumia, e disse consigo: 3“Vou aproximar-me desta visão extraordinária, para ver por que a sarça não se consome”. 4O Senhor viu que Moisés se aproximava para observar e chamou-o do meio da sarça, dizendo: “Moisés! Moisés!” Ele respondeu: “Aqui estou”. 5E Deus disse: “Não te aproximes! Tira as sandálias dos pés, porque o lugar onde estás é uma terra santa”. 6E acrescentou: “Eu sou o Deus de teus pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó”. Moisés cobriu o rosto, pois temia olhar para Deus. 7E o Senhor lhe disse: “Eu vi a aflição do meu povo que está no Egito e ouvi o seu clamor por causa da dureza de seus opressores. Sim, conheço os seus sofrimentos. 8aDesci para libertá-los das mãos dos egípcios, e fazê-los sair daquele país para uma terra boa e espaçosa, uma terra onde corre leite e mel”. 13Moisés disse a Deus: “Sim, eu irei aos filhos de Israel e lhes direi: ‘O Deus de vossos pais enviou-me a vós’. Mas, se eles perguntarem: ‘Qual é o seu nome?’, o que lhes devo responder?” 14Deus disse a Moisés: “Eu Sou aquele que sou”. E acrescentou: “Assim responderás aos filhos de Israel: ‘Eu Sou’ enviou-me a vós’”.15E Deus disse ainda a Moisés: “Assim dirás aos filhos de Israel: ‘O Senhor, o Deus de vossos Pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó enviou-me a vós’. Este é o meu nome para sempre, e assim serei lembrado de geração em geração”.

II Leitura: 1Cor 10,1-6.10-12
1 Irmãos, não quero que ignoreis o seguinte: Os nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem e todos passaram pelo mar; 2 todos foram batizados em Moisés, sob a nuvem e pelo mar; 3 e todos comeram do mesmo alimento espiritual, 4 e todos beberam da mesma bebida espiritual; de fato, bebiam de um rochedo espiritual que os acompanhava — e esse rochedo era Cristo —.  5 No entanto, a maior parte deles desagradou a Deus, pois morreram e ficaram no deserto.  6 Esses fatos aconteceram para serem exemplos para nós, a fim de que não desejemos coisas más, como fizeram aqueles no deserto. 10 Não murmureis, como alguns deles murmuraram, e, por isso, foram mortos pelo anjo exterminador. 12 Portanto, quem julga estar de pé tome cuidado para não cair.

Evangelho: Lc 13,1-9
1Naquele tempo, vieram algumas pessoas trazendo notícias a Jesus a respeito dos galileus que Pilatos tinha matado, misturando seu sangue com o dos sacrifícios que ofereciam. 2Jesus lhes respondeu: “Vós pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus, por terem sofrido tal coisa? 3Eu vos digo que não. Mas se vós não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo. 4E aqueles dezoito que morreram, quando a torre de Siloé caiu sobre eles? Pensais que eram mais culpados do que todos os outros moradores de Jerusalém? 5Eu vos digo que não. Mas, se não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo”. 6E Jesus contou esta parábola: “Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha. Foi até ela procurar figos e não encontrou. 7Então disse ao vinhateiro: ‘Já faz três anos que venho procurando figos nesta figueira e nada encontro. Corta-a! Por que está ela inutilizando a terra?’ 8Ele, porém, respondeu: ‘Senhor, deixa a figueira ainda este ano. Vou cavar em volta dela e colocar adubo. 9Pode ser que venha a dar fruto. Se não der, então tu a cortarás’”.
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As leituras que a liturgia nos apresenta neste terceiro Domingo da Quaresma nos ajudam a perceber que estamos afundados sob o peso de nossos pecados (Oração Coleta ou Oração do Dia) e precisamos que Deus nos restaure com sua misericórdia. Uma ação de Deus em nós não será feita sem a nossa colaboração, com obras de penitência que expressam a nossa conversão, especialmente o perdão que damos para aqueles que nos ofenderam (veja a Oração sobre as Oferendas). É o que se espera como fruto da celebração deste domingo.

Lida no contexto da liturgia quaresmal a Primeira leitura de hoje (a vocação e a missão de Moisés para libertar o povo hebreu da escravidão do Egito), unida à Segunda Leitura (A vida do povo com Moisés no deserto foi escrita para a nossa lição a fim de nos corrigir), nos evoca a Páscoa e o Êxodo de Israel como acontecimentos proféticos que anunciam nossa jornada espiritual para a Páscoa cristã.

“Eu Serei Quem Serei”

No momento de sua vocação e missão, que nos narra a Primeira Leitura, Moisés descobre Deus na sarça (usa-se o verbo “ver”) e Deus vai ao seu encontro por sua Palavra: do “ver” passa-se ao “ouvir”. Assim, a manifestação de Deus na sarça se torna diálogo. Deus chama Moisés, e este responde: “Eis-me aqui!”. Moisés obedece à ordem de tirar as sandálias e por sua conta cobre o rosto, pois acredita-se no AT que ver a Deus significaria morrer. Dos pés (tirar as sandálias) à cabeça (cobrir o rosto), o homem inteiro aguarda em silêncio, pois ele está diante d´Aquele que é maior do que ele. O encontro com Deus é um risco e um acontecimento de salvação que conclama a uma vida nova (cf. Gn 28,17; 32,2-33; Ex 19,21; 33,20; Nm 4,20; Dt 5,24-25; Jz 6,22-23; 13,22; Is 6,5). A mesma sensação têm os que contemplam a glória de Jesus (Mt 12,6; 28,4; Mc 1,27; 2,12; 4,41; 5,15.43; 6,49-51; 16,5-8 e paralelos).

Nesta teofania, Deus se revela como “Eu sou aquele que sou” para convencer o povo de que se trata de um Deus totalmente outro que não pode ser comparado aos demais deuses. Não se trata aqui de uma definição metafisica da natureza de Deus, e sim de uma afirmação de duplo aspecto. Em primeiro lugar, um aspecto evasivo: Deus, de qualquer maneira, está além de todo nome e não pode ser entendido totalmente com uma pura razão humana. Em segundo lugar, um alcance histórico: poderíamos, de fato, traduzir, com mais exatidão: “Eu serei Quem Eu serei”, o que queria dizer: “Vós me conhecereis no que eu vou fazer por vós. É a história que revelará quem sou Eu para vós”.

O Deus que se revela não é um Deus desconhecido e sim o Deus dos pais, ligado a uma história de amor e comprometido com promessas: “Eu sou o Deus de teus pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó”. O amor de Deus pelo povo não muda e por isso Ele toma a iniciativa para resgatar seu povo da escravidão. A situação do povo oprimido é constatada pelo próprio Deus com três verbos: vi, ouvi, conheço. Diante desta situação, Deus toma sua decisão com outros três verbos usados: vou descer/ para libertá-lo/ e o levarei a uma terra. E a Terra Prometida tem sua característica com três adjetivos: boa, espaçosa e fértil. Quando Deus nos chama para sair de nossa situação, Ele próprio vai nos preparar uma situação muito melhor do que antes. Mas na nossa ignorância (pouco conhecimento), sempre colocamos uma resistência diante da chamada como aconteceu com Moisés: “Sim, eu irei aos filhos de Israel e lhes direi: ‘O Deus de vossos pais enviou-me a vós’. Mas, se eles perguntarem: ‘Qual é o seu nome?’, o que lhes devo responder?”. O homem resiste ao mandamento divino que o salva, pois a missão, geralmente, estaria contrária às tendências naturais de quem recebe a missão. Mas Deus responde a cada dúvida com um olhar para o futuro e consequentemente, exige uma mudança total do homem. Exige-se do homem uma conversão profunda para poder ser salvo e ajudar a salvar os irmãos.

Entre Culpa e Sofrimento: Teologia De Retribuição

Os Terceiro, Quatro e Quinto Domingo formam a segunda parte da Quaresma. Em cada ano litúrgico, esta segunda parte tem um tom próprio marcado pelos evangelhos que são lidos nestes domingos. Para o Ano A (Mateus): a preparação do Batismo; o Ano B (Marcos): o Caminho para a Cruz. Para o Ano litúrgico “C” a ênfase é a conversão e a misericórdia de Deus.

Dentro deste tema, o evangelho deste Terceiro Domingo do Ano C, nos apresenta, com muita exigência, a necessidade da conversão. Nos próximos domingos (sobre o filho pródigo e a mulher pecadora), os textos nos apresentarão, a partir das perspectivas distintas, a misericórdia de Deus e também a misericórdia que devemos viver na convivência com os irmãos.

Os dois acidentes relatados no evangelho lido neste dia são exclusivos do evangelho de Lucas. O episódio do massacre relatado neste evangelho comandado por Pilatos é ignorado pelas fontes profanas durante a administração de Pilatos (de 26-36 d.C). José Flávio, o grande historiador judeu, relata somente um massacre comandado por Pilatos em 35 d.C por ocasião de uma romaria de samaritanos ao monte Garizim, por suspeita de um complô contra o domínio romano; gesto que para Pilatos valeu a destituição do cargo e o exílio para as Gálias. Enquanto os sacrifícios devem ser feitos somente em Jerusalém. Também o segundo episódio não é confirmado pelos documentos profanos.

Os que relatam os dois acontecimentos acima mencionados a Jesus querem provocar o juízo e uma tomada de posição de Jesus. Jesus dá uma resposta que aparentemente ignora estes problemas. Jesus contesta o sistema farisaico e o consequente preconceito religioso popular que estabeleceu uma perfeita equação entre o pecado e o castigo, e que no caso presente chegava a esta conclusão: nós somos justos porque não merecemos esse fim horrível.

 “Vós pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus, por terem sofrido tal coisa? Eu vos digo que não. Mas se vós não vos converterdes, ireis morrer todos do mesmo modo”. Esta é a resposta de Jesus para os que relataram os dois acontecimentos.  Com essa afirmação Jesus vai contra uma ideia muito presente no seu tempo, segundo a qual doença, infortúnio, pobreza são consequências das faltas cometidas por quem sofre essas situações. Em outras palavras, ele é contra o dogma de retribuição dos fariseus que diz que o destino de um homem está intimamente relacionado com a sua culpa diante de Deus. O homem não pode encaixar a ação de Deus nos esquemas preestabelecidos para seu próprio privilégio e prestígio e se transformar em contador de Deus.

Existem, hoje, vários níveis de interligação de sofrimento com culpa. Muita gente hoje em dia ainda se parece com os fariseus que mantém o sistema ou o dogma de retribuição. Alguém como que temendo por causa de culpa impessoal, coletiva e inconsciente, refugia-se sob a suposta proteção de um rito. Diante da ameaça de um raio, por exemplo, benze-se com o sinal da cruz. Para essas pessoas será útil saber que nenhum rito nos protege perante Deus se o coração continua habitado pelo pecado. Evidentemente, quem vive em disposição constante perante Deus, pode em momento de perigo significar por um sinal da cruz o seu constante abandono na misericórdia de Deus. Sem esta atitude, o rito é vazio e desonra a Deus.

Jesus quer nos libertar dessa concepção que por um lado, impede-nos de enfrentar as verdadeiras causas dos males que ocorrem conosco ou na sociedade, remetendo-os a demônio para desviar alguém da própria responsabilidade ou a uma espécie de fatalidade que nos leva a nos afundarmos na passividade. Por outro lado, Jesus quer nos apresentar a imagem do Deus de amor e de vida e não de um Deus de castigo.  Pecar é não dar fruto, não produz nada pelo bem da humanidade ou dos outros. Esta é a mensagem da parábola da figueira estéril. Esse Deus que Jesus nos apresenta espera com paciência, até o último minuto de nossa vida, os bons frutos que produzimos.

Ser Cristão É Ser Convertido Permanentemente
 Se não vos converterdes, perecereis todos do mesmo modo”.

A conversão é polivalente. Conversão é procurar o bem em vez do mal (Is 1,17; Am 5,14s); inclinar o seu coração para Javé (Josué 24,23); a circuncisão do coração (Dt 10,16; Jr 4,4); buscar Javé (Am 5,4; Os 10,12); firmar em Deus o coração (1Sm 7,3) e assim por diante. O hebraico usa a palavra “sub” que pode significar tanto “averter-se” do mal, como “converter-se” para Deus. É mudança moral e ética para melhor. É afastar-se do que é mau e voltar-se para Deus. Nisto se define o essencial da conversão que implica numa mudança de conduta, uma nova orientação de todo o comportamento.

No AT a conversão é vista como uma mudança de mentalidade (metanoia) pela qual o homem renuncia à sua conduta anterior a fim de voltar-se para Deus em função de cumprimento de Sua vontade.

No NT tanto João Batista como Jesus começam suas pregações com a chamada à conversão motivada pela proximidade do Reino de Deus (Mt 3,2; 4,17). No NT a palavra grega “metanoia” não tem aqui o sentido de arrepender-se ou de fazer penitencia e sim de uma reviravolta interna que tem suas consequências para todos os campos da ação humana.

Em sentido geral, então, a conversão indica mudança de vida; deixar o comportamento habitual de antes para empreender outro novo; prescindir da busca egoísta de si mesmo para colocar-se a serviço do Senhor. Conversão é toda decisão ou inovação que de alguma forma nos aproxima da vida divina, nos torna mais conformes a ela e nos tornamos mais irmãos com os demais.

Biblicamente, a noção básica da conversão é a mudança. Envolve voltar-se do pecado, da morte e das trevas para a graça, a nova vida e luz. A ação dual de voltar-se sempre leva a pessoa a um novo nível de existência humana. É uma mudança total do próprio modo de pensar e de agir, uma renovação total e integral do eu. É um abandono total em Deus. Somente abandonando-se a Deus a ponto de se deixar transformar inteiramente por Ele e permanecer amistosamente abraçado com Ele, é possível esperar ser salvo.

O móvel da conversão não é tanto a ameaça de castigo ou de perder a salvação, quanto a fascinação de penetrar na vida do amor trinitário divino. A conversão conduz as pessoas juntas à maturidade espiritual, que se reflete em sua aversão ao mal e sua atração pelo bem. Um aspecto da conversão específico do NT é estar intimamente ligado à pessoa de Jesus Cristo, em quem o Reino se realiza. A conversão é realidade cristológica. É a união com o corpo de Cristo e íntimo conhecimento pessoal de Jesus Cristo como Senhor ressuscitado e Salvador. Esta conversão total não pode ser obra do homem; é tarefa que supõe dom e graça com a resposta positiva da parte do homem. Só pode realizar-se como participação do mistério pascal de Cristo. A conversão somente se realiza na fé; propõe-se como resposta ao chamado de Deus, como correspondência à graça redentora.

Embora a conversão seja experiência individual, o entendimento bíblico é que é sempre relacional. Esta relação é bidirecional, sendo vertical e horizontal. A conversão nos leva a um novo relacionamento com Deus e com outros seres humanos. No AT, o relacionamento da aliança com Deus é essencial e, no NT, o relacionamento com Jesus Cristo é primordial. Mas ambos levam a novos inter-relacionamentos humanos com responsabilidades e privilégios na comunidade. Por isso, o chamado bíblico à conversão é apropriadamente dirigido a comunidades e não simplesmente a indivíduos.

A conversão também envolve mudanças internas (de atitude) e externas (comportamentais) na vida. A autêntica conversão cristã nunca está separada de ações concretas que espelham a realidade interior mudada. Assim, a conversão sempre leva a algum aspecto de responsabilidade e justiça sociais.

Além disso, o efeito proeminente da conversão é o impulso de dar testemunho aos outros e, consequentemente, evangelizar. Como a conversão é, tantas vezes, uma profunda mudança existencial na vida, é natural que as pessoas tenham o impulso de difundir a “Boa Nova”. De certa forma, podemos dizer que a evangelização é definitivamente o resultado da conversão, mas precisa ser vista na perspectiva apropriada da mensagem total da constante conversão para todos. A conversão não é uma “carreira” acabada e sim inacabada. Trata-se de um trabalho silencioso de cada dia. Ninguém é convertido definitivamente enquanto estiver ainda na história.

A conversão é crescimento contínuo; não é um acontecimento instantâneo, pontual e de uma vez por todas; não é uma carreira acabada, mas que constitui um crescimento sem interrupção e ascendente. Por mais decidida que seja a entrega de um cristão ao Reino, ela tenderá sempre a ser precária. De um coração convertido aos valores do Reino e do Evangelho se seguirão naturalmente os frutos visíveis de uma conversão que atinge a realidade da vida.

Converter-se Para produzir Frutos Bons Para a Humanidade

Jesus também conta a parábola da figueira infértil. No século V antes de Cristo tinha uma estória de Aquicar que contém uma advertência: “Meu filho, você é como a árvore que não deu fruto nenhum, ainda que estivesse às margens das águas, e o seu dono se viu obrigado a abatê-la. E ele lhe disse: Transplante-me e, se eu mesmo assim não der nenhum fruto, então corte-me. Mas o seu senhor lhe disse: Quando você estava às margens das águas, não deu nenhum fruto, como você quer dar fruto, se estiver em outro lugar?” (Joaquim Jeremias).

Jesus usa desta narrativa popular (que tem várias versões), porém ele dá outra conclusão: que o pedido é atendido. Com isso, Jesus quer falar da misericórdia de Deus que sempre perdoa e dá nova oportunidade. A misericórdia de Deus sempre suspende qualquer castigo como consequência lógica de determinada opção feita por homem desde que o homem se converta. “Precisamos sempre contemplar o mistério da misericórdia. É fonte de alegria, serenidade e paz. É condição da nossa salvação. Misericórdia: é a palavra que revela o mistério da Santíssima Trindade. Misericórdia: é o ato último e supremo pelo qual Deus vem ao nosso encontro. Misericórdia: é a lei fundamental que mora no coração de cada pessoa, quando vê com olhos sinceros o irmão que encontra no caminho da vida. Misericórdia: é o caminho que une Deus e o homem, porque nos abre o coração à esperança de sermos amados para sempre, apesar da limitação do nosso pecado”, escreveu o Papa Francisco na sua Bula Misericordiae Vultus (n.2).

Para os ouvintes de Jesus era familiar a imagem da figueira infértil, para indicar o comportamento infiel do povo de Deus (cf. Jr 8,13; Mq 7,1). Mas esta imagem é atual ainda. A parábola da figueira estéril revela-nos um Deus paciente e bondoso conosco. Mas ele é paciente para esperar que produzamos bons frutos para o Seu Reino. Mas devemos estar conscientes de que o tempo da graça que Deus nos concede é irrevogavelmente o último. Um dia a porta estará fechada quando não prestarmos atenção para o bem que devemos praticar ou produzir. É a lição de outra parábola sobre o rico e Lázaro (cf. Lc 16,19-31-veja a reflexão da Quinta-feira da II Semana da Quaresma).

Resta-nos perguntar: Que tipos de frutos estamos/estou produzindo? Esta figueira que Jesus fala é cada um de nós, nossa família, a Igreja e a sociedade. Que frutos de fraternidade nós produzimos? A figueira estéril que Jesus fala não está longe de nós. Quem sabe se não está dentro de nós, na nossa família, na nossa comunidade? Será que sou eu esta figueira estéril ou infértil?

Ser cristão, enquanto caminharmos nesta vida, não equivale a ter uma política assinada que nos garanta a salvação, sem que tenhamos que nos preocupar com nada. Não podemos esquecer que o Batismo foi o nosso ponto de partida e a Eucaristia, nosso alimento para o caminho e o Espírito que Cristo nos deu, é a água que nos refresca para que possamos continuar caminhando. Mas também é verdade que cobiçamos o mal e nos fechamos para descobrir a ação de Deus na encruzilhada de nossa existência e nos rebelamos contra Ele. Somos pecadores e, vemos que muitos dos que deixaram o Egito não entraram na Terra Prometida para sua falta de fé e esperança. Portanto, aquele que acredita estar seguro, tome cuidado para não cair na ilusão inútil como nos diz a Segunda Leitura: “Portanto, quem julga estar de pé tome cuidado para não cair”. No entanto, o cuidado que temos de ter nunca pode se transformar em desespero, já que o Senhor é compassivo e misericordioso, como enfatiza o Salmo Responsorial de hoje (Sl 102/103): “O Senhor é indulgente, é favorável, é paciente, é bondoso e compassivo. Quanto os céus por sobre a terra se elevam, tanto é grande o seu amor aos que o temem”.
P. Vitus Gustama,svd

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