quarta-feira, 3 de abril de 2019

Domingo,07/04/2019
V DOMINGO DA QUARESMA DO ANO “C”


I Leitura: Is 43,16-21
16 Isto diz o Senhor, que abriu uma passagem no mar e um caminho entre águas impetuosas; 17 que pôs a perder carros e cavalos, tropas e homens corajosos; pois estão todos mortos e não ressuscitarão, foram abafados como mecha de pano e apagaram-se: 18 “Não relembreis coisas passadas, não olheis para fatos antigos. 19 Eis que eu farei coisas novas, e que já estão surgindo: acaso não as conheceis? Pois abrirei uma estrada no deserto e farei correr rios na terra seca. 20 Hão de glorificar-me os animais selvagens, os dragões e os avestruzes, porque fiz brotar água no deserto e rios na terra seca para dar de beber a meu povo, a meus escolhidos. 21 Este povo, eu o criei para mim e ele cantará meus louvores”.


II Leitura: Filipenses 3,8-14
Irmãos: 8 Na verdade, considero tudo como perda diante da vantagem suprema que consiste em conhecer a Cristo Jesus, meu Senhor. Por causa dele eu perdi tudo. Considero tudo como lixo, para ganhar Cristo e ser encontrado unido a ele, 9 não com minha justiça provindo da Lei, mas com a justiça por meio da fé em Cristo, a justiça que vem de Deus, na base da fé. 10 Esta consiste em conhecer a Cristo, experimentar a força de sua ressurreição, ficar em comunhão com os seus sofrimentos, tornando-me semelhante a ele na sua morte, 11 para ver se alcanço a ressurreição dentre os mortos. 12 Não que já tenha recebido tudo isso ou que já seja perfeito. Mas corro para alcançá-lo, visto que já fui alcançado por Cristo Jesus. 13 Irmãos, eu não julgo já tê-lo alcançado. Uma coisa, porém, eu faço: esquecendo o que fica para trás, eu me lanço para o que está na frente. 14 Corro direto para a meta, rumo ao prêmio, que, do alto, Deus me chama a receber em Cristo Jesus.


Evangelho: Jo 8,1-11
Naquele tempo, 1 Jesus foi para o monte das Oliveiras. 2De madrugada, voltou de novo ao Templo. Todo o povo se reuniu em volta dele. Sentando-se, começou a ensiná-los. 3 Entretanto, os mestres da Lei e os fariseus trouxeram uma mulher surpreendida em adultério. Colocando-a no meio deles, 4disseram a Jesus: “Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério. 5Moisés, na Lei, mandou apedrejar tais mulheres. Que dizes tu?” 6 Perguntavam isso para experimentar Jesus e para terem motivo de o acusar. Mas Jesus, inclinando-se, começou a escrever com o dedo no chão. 7 Como persistissem em interrogá-lo, Jesus ergueu-se e disse: “Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra”. 8 E, tornando a inclinar-se, continuou a escrever no chão. 9 E eles, ouvindo o que Jesus falou, foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos; e Jesus ficou sozinho, com a mulher que estava lá, no meio do povo. 10 Então Jesus se levantou e disse: “Mulher, onde estão eles?” Ninguém te condenou?”11 Ela respondeu: “Ninguém, Senhor”. Então Jesus lhe disse: “Eu também não te condeno. Podes ir, e de agora em diante não peques mais”.
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A tônica deste domingo é o poder libertador de Deus em relação ao nosso passado. Isaías, na primeira leitura, alerta os judeus para não ficarem presos ao modelo de libertação do Êxodo. Deus poderá fazer outro Êxodo hoje de modo diferente, mais surpreendente ainda: “Não relembreis coisas passadas, não olheis para fatos antigos. Eis que eu farei coisas novas, e que já estão surgindo: acaso não as reconheceis? “(Is 43, 18-19). E Paulo, na segunda leitura, liberta-se de seu passado judaizante para entregar-se a Cristo, disse: “Considero tudo como lixo para ganhar Cristo... esquecendo o que fica para trás, eu me lanço para o que está na frente... “(Fl 3,8-13a). E no Evangelho, a adúltera é colocada maldosamente diante de Jesus à espera de que Ele cumpra a prescrição da lei de condená-la à morte. Para a misericórdia de Jesus, o passado não conta desde que tenha abertura do coração à misericórdia de Deus. E o Senhor provocou essa abertura com seu perdão. Ele mesmo criou o clima de confiança, do acolhimento, quando a vendo livre dos acusadores legalistas. Ele diz simplesmente: “Eu também não te condeno. Vai em paz, e não tornes a pecar”. Para cada cristão, Quaresma é um novo Êxodo, uma libertação do pecado, uma peregrinação para a Páscoa.


O que tem por trás da Primeira Leitura de hoje? Durante o desterro na Babilônia, um discípulo de Isaías que firma com o nome de seu mestre empreende a tarefa de consolar o povo sem esperança. O povo está em crise. Deus, aparentemente, abandonou o povo de Israel. Os deuses da Babilônia aparentemente são vencedores. Surge, então, a pergunta no meio do povo que está em crise de esperança: Onde está o Senhor do Êxodo, Aquele que libertou o povo hebreu da escravidão do Egito? O profeta faz uma releitura das antigas tradições do povo referentes ao Êxodo, e em virtude da confiança que emana de sua fé, proclama uma nova salvação. Deus repetirá os prodígios do antigo Êxodo, tirará seu povo da terra do Exílio, o conduzirá pelo deserto e o introduzira, novamente em Judá para que construa Jerusalém.


O tema do Êxodo aparece no fundo do oráculo profético, mas transformado. A passagem do Mar Vermelho se converte na travessia do deserto. O Mar Vermelho convertido em terra seca é substituído pelo deserto convertido em rios de água. A água da Rocha, do primitivo Êxodo, se converte no símbolo fundamental da nova salvação: do deserto fluirão rios que matarão a sede das pessoas sem esperança.


A expressão “Eis que eu farei coisas novas, e que já estão surgindo: acaso não as conheceis?” é dirigida também a todos nós hoje. O êxodo é uma realidade dinâmica e sempre presente. Toda vez que superarmos nossas fraquezas morais e éticas, faremos o novo êxodo para nossa vida rumo à Páscoa definitiva. Aquele que acredita na força da ressurreição da Páscoa do Senhor, encarará a dor da Sexta-Feira da Paixão. O amor na Quinta-Feira Santa deve ser o motor permanente de nossa luta de cada dia. O amor vencerá, pois o amor é o nome do próprio Deus: “Deus é amor” (1Jo 4,8.16).


Deutero-Isaías, um profeta consolador, é um profeta atento aos sinais dos tempos: “Eis que eu farei coisas novas, e que já estão surgindo: acaso não as conheceis?”. Os sinais anunciam esperança e libertação. Mas a libertação dos desterrados não virá de Ciro, o persa, e sim de Deus do Êxodo, capaz de tirar água da rocha e fazer rios no deserto.


Na Segunda Leitura, São Paulo escreveu: “Na verdade, considero tudo como perda diante da vantagem suprema que consiste em conhecer a Cristo Jesus, meu Senhor. Considero tudo como lixo, para ganhar Cristo e ser encontrado unido a ele”.


São Paulo, a partir de seu encontro com Cristo ressuscitado no caminho de Damasco, opera em sua vida uma profunda transformação e não deseja outra coisa que ganhar Cristo. Em comparação com o conhecimento de Cristo, tudo que ele ganhou na vida anteriormente parece-lhe uma perda e toda vantagem passada, um inconveniente. Se antes, se gloriou de ser um filho da Lei e de sua própria justiça, agora tudo isso lhe parece lixo.


Para são Paulo não há outra justiça que a justiça que vem de Deus como uma graça para todos os crentes. Nesta justiça está a salvação e não nas obras da Lei. Sobre este tema, são Paulo escreveu extensamente em suas duas grandes Cartas: aos Romanos e aos Gálatas. Aqui se contenta com assinalar os pontos principais de sua doutrina: o homem se justifica ao receber a justiça que vem de Deus, abrindo-se pela fé a esta justiça. O termo “justiça” (cedaqah, hebraico) é muito complexo biblicamente. O significado básico do termo talvez apareça melhor quando é aplicado a pesos e medidas: um caminho certo leva para a direção certa; um peso justo quando se supõe que seja. A justiça bíblica como conduta reta sempre opõe ao pecado, à impiedade, etc. Procurar justiça é paralelo, em poesia, a “procurar Deus”, pois através da boa conduta ou conduta reta que Deus é encontrado (Is 51,1; Sf 2,3).


São Paulo espere receber, como fruto desta justificação pela fé, um “conhecimento” de Cristo. Não se trata aqui de um conhecimento meramente teórico, e sim de uma experiência profunda e de uma comunhão de vida com o Senhor ressuscitado; trata-se de uma co-realização da páscoa de Jesus, isto é, do trânsito de Jesus pela morte à vida.  Morte e ressurreição são momentos inseparáveis tanto na vida de Cristo como na vida de seus discípulos. No entanto, a “justificação” de Deus não reduz o homem a uma situação de mera passividade. Porque o fato de ter sido agraciado com a justiça que vem de Deus é o fundamento de um imperativo ético e a condição de seu possível cumprimento: radicalmente justificados pela graça de Deus, podemos e devemos fazer obras de justiça verdadeira até alcançar a plena salvação. Daí que são Paulo dirige seu conselho para os Filipenses: “Operai a vossa salvação com temor e tremor” (Fl 2,12). São Paulo nos recorda que estamos ainda em caminho para conseguir a meta e o ideal de todo cristão: “Uma coisa, porém, eu faço: esquecendo o que fica para trás, eu me lanço para o que está na frente. Corro direto para a meta, rumo ao prêmio, que, do alto, Deus me chama a receber em Cristo Jesus”.


O evangelho de hoje nos relata que os escribas e os fariseus trouxeram a Jesus uma mulher que havia sido apanhada cometendo adultério. Eles a colocaram no meio e disseram: “Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério. Moisés, na sua lei, manda apedrejar tais mulheres. Que dizes tu?”. É surpreendente que não se fale do “parceiro” deste ato de adultério (é difícil cometer adultério sozinho). Por que ele também não foi agarrado? É a história de sempre: a agressividade, a violência, as paixões sempre se descarregam sobre os mais fracos: os mais fortes sempre conseguem se safar ou se escapar por causa do poder político, social ou econômico. Os fracos sempre são vítimas porque eles não têm recursos em todos os sentidos.


Com a pergunta feita, os escribas e os fariseus preparam uma armadilha para pegar Jesus. Se ele propusesse a clemência ou contra o apedrejamento, entraria em conflito com a Lei de Moisés (Ex 20,14; cf. também Dt 22,13-30 sobre a lei sobre o casamento); se ele aprovasse o apedrejamento, contradiria sua própria pregação que acentua a misericórdia do Pai e o amor incondicional aos irmãos (Lc 6,27-38) e entraria em conflito com a autoridade romana. Além disso, invocando o flagrante e trazendo a mulher, os adversários põem Jesus contra a parede: ele tem que se pronunciar. A cilada é radical, pois não se trata de uma discussão acadêmica, mas da vida ou da morte da pessoa real.


O que nos chama a atenção é que os fariseus não interrogam a mulher (sua transgressão é evidente), mas Jesus. Eles querem saber a reação de Jesus. Jesus e a mulher estão “no meio” (conforme o costume do interrogatório judicial, cf. At 4,7). “Mestre, está mulher foi surpreendida em flagrante adultério. Moisés na Lei mandou apedrejar tais mulheres. O que dizes?”, perguntaram os escribas e os fariseus a Jesus. Trata-se, evidentemente, de uma prova contra Jesus. A adúltera é um pretexto: se Jesus a condenar, sua bondade ficará desacreditada; se a absolver, vai contra a Lei, que manda apedrejá-la. É um beco sem saída, uma armadilha perfeita para eles contra Jesus.


Jesus, porém, não se deixa pegar pela armadilha: não nega a Lei, mas também não condena a mulher. Diante dessa cena, diante da pressão da multidão, Jesus fica calado. Se Deus parece calar-se, acontece isso porque já nos disse tudo: não tem mais nada a acrescentar. Deus só deseja que escutemos com maior atenção a palavra que nunca chegamos a compreender perfeitamente. No ritmo acelerado de nossa sociedade habituamo-nos a um gasto colossal de palavras. Mas a Palavra de Deus não se gasta e é perpétua. Por isso, quem é capaz de entender o silêncio de um amigo, também nunca há de compreender suas palavras.


Diante da Lei que se impõe matando, Jesus eleva a experiência mais profunda do perdão. Já não necessita de livros, escreve sobre o pó: Deus e sua graça superam todas as leis e sentenças do mundo. Por isso, em vez de responder, Jesus se inclina e escreve com o dedo no chão. Jesus quer adiar a resposta. “Escrever no chão” desde a Antiguidade pensa-se que se trata de uma ação simbólica semelhante à dos profetas, evocando o versículo de Jeremias: “Os que me viram (Javé) serão inscritos no chão” (Jr 17,13; cf. Jó 13,26). Escrever na poeira/chão significava fazer esquecer, sobretudo os nomes dos que não valem nada.


Jesus não usa o dedo para condenar, mas para escrever no chão. Gesto inocente: o que se escreve no chão apaga-se rapidamente. Jesus deixa bem claro que somos todos pecadores. Por isso, pressionado pelos interlocutores, Jesus pronuncia uma palavra que não é formalmente um julgamento a respeito dos adversários, mas que os remete ao tribunal de sua própria consciência, para estabelecer aí a verdade. De certa forma, trata-se de passar do legal para o moral, fazendo funcionar a Lei não como repertório de interditos, mas como reveladora dos corações. Por isso, ele disse: “Quem dentre vós não tiver pecado, atire-lhe a primeira pedra” (v.7).  Com isso, Jesus põe os juízes, que aparecem como presbíteros diante do testemunho da própria consciência. Jesus não pode (nem quer) provar a inocência da mulher nem querer levantar perguntas capciosas aos acusadores. Isto significa que Jesus veio situar-se num nível mais elevado, em que a graça de Deus nos revela culpados, não para condenar a mulher pecadora, nem para nos angustiar, e sim para nos elevar, colocando-nos num patamar de gratuidade. Jesus se revela, assim, como messias da graça que oferece a vida ao pecador (mulher), situando os acusadores diante do espelho da própria consciência, para começar, dessa maneira, um caminho de reconciliação aberta a Deus e a todos. O que Jesus busca e oferece é a graça superior de Deus e transparência interior de cada um dos personagens desse drama, que devem olhar para si mesmos, descobrindo e aceitando ali, a partir do mais profundo mistério da graça de Deus, sua resposta diante da vida.


O efeito destas palavras é marcante. Ao ouvirem isso, todos foram-se embora um após outro, a começar pelos mais velhos. Este comportamento demonstra que, segundo as palavras de Jesus, eles não estão sem pecado (cf. Sl 14,1-3;53,2-4; Rm 3,9-12.23). Eles são acusados por sua própria consciência. O detalhe “a começar pelos mais velhos” poderia referir-se à sua mais ampla experiência da fraqueza humana (cf. o episódio de Susana e os anciãos em Dn 13). A palavra de Jesus inibiu esses homens de cometer um ato de violência, e eles renunciam livremente: sua confissão implícita pode ser entendida como um início de sua própria libertação do mal. Com isso, a cilada se soltou e a controvérsia terminou. Concretamente podemos dizer que Jesus é situado duplamente: em relação aos fariseus, a cilada é desfeita e em relação à mulher adúltera, a absolvição foi feita. Diante do pecado que é mais pesado que as pedras em que eles estão pegando, Jesus, vindo de fora, está só, enquanto a mulher está diante dele.


A cena evangélica tem sua “ironia” divina. Aquele que é sem pecado (Is 8,46), Aquele que é a santidade participada sem limite e eternamente do Pai encontra-se com a pecadora numa atitude de perdão, de acolhimento. Aqueles, que vinham eles mesmos carregados de pecados, querem a condenação, sendo frustrados precisamente pelo choque com a inocência de Jesus, que os desafia.


O homem de bem quando vê uma qualidade nos outros, ele a imita; quando ele vê um defeito nos outros, ele corrige em si próprio, disse Confúcio, o sábio chinês. Por isso, o rigor de nosso julgamento sobre o nosso próximo mostra que desconhecemos a nossa própria fragilidade e os nossos defeitos e a nossa condição de pecadores diante de Deus. Certas atitudes de rigor em relação ao irmão dificilmente conseguem encobrir alguma fraqueza ou miséria própria não aceita, não confessada. Aí está Jesus escrevendo no chão, seja revelando a cada um sua miséria, seja simplesmente desconversando uma acusação vinda de más intenções.


Agora restaram apenas dois, como dizia Sto. Agostinho, a mísera (a adúltera) e a misericórdia(Jesus). Ela está diante de Jesus misericordioso em sua pobre humanidade, com sua culpa e vergonha. Mas Jesus a tira de seus apuros e de sua insegurança, não falando da culpa, nem pronunciando contra a mulher uma palavra de acusação; mas referindo-se apenas à conduta dos acusadores. “Eles não se condenaram?”. Na resposta da mulher sente-se claramente o seu alívio e libertação: “Ninguém me condenou, Senhor”. E prossegue a resposta de Jesus que resolve em sentido positivo toda a situação problemática da mulher: “Também não te condeno. Vai em paz e de agora em diante não peques mais”.


“Também não te condeno. Vai em paz e de agora em diante não peques mais!” Trata-se, na verdade, de uma palavra poderosa de pleno perdão do pecado. Estas palavras finais de Jesus são dirigidas à mulher e aos pretensos juízes. Uns e outros devem reconciliar-se e iniciar uma vida com gratuidade, criando condições novas de convivência. Jesus fica ali para receber novamente a todos. Jesus não quer condenar mas libertar. Com sua decisão, Ele restitui a vida à mulher, dando-lhe uma nova coragem para viver, uma nova oportunidade para recomeçar. O que importa de verdade para a mulher é este novo começo. Jesus abre para a mulher um novo futuro: “Eis que abro para ti uma porta que ninguém poderá fechar” (Ap 3,8a). Esta porta é o próprio Cristo. A experiência da aceitação por Deus em Cristo possibilita um novo começo. A fé é a coragem de aceitar que, em Cristo, Deus nos aceita. Esta fé traz consigo uma conversão. A certeza que nós temos, não se baseia em “algo”, mas sim em “alguém”: CRISTO JESUS.


Todos nós necessitamos que alguém nos diga: “Eu também não te condena: vai, e doravante não peques mais!” Tal é a palavra criadora de Jesus. Jesus nos trona capazes de aceitar nosso pecado para que iniciemos juntos uma existência reconciliada.


De maneira incoativa, essa passagem da morte à vida é real, até para os escribas e os fariseus: também a eles Jesus não condena, enquanto os leva a tomar consciência de seu pecado. São assim orientados para a esperança do perdão de Deus.


Por isso, o Evangelho de Jesus Cristo é a Boa Nova que Ele mesmo é. A mensagem encarnou-se na Páscoa. É isto que constitui a salvação dessa mulher adúltera: “Vai e não peques mais”. Ela pode ir embora porque se encontrou com Cristo: nunca mais dele se esquecerá. O encontro durou apenas alguns momentos, mas nestes poucos momentos muita coisa aconteceu. Esse homem, Jesus, aceitava-a tal como ela era, exatamente no momento em que estava realmente perdida.


Diante desse episódio podemos lançar uma pergunta: Por que escolher uma mulher para o papel que ela tem, e por que uma adúltera? Na tradição profética, o adultério é a metáfora por excelência da infidelidade do povo eleito ao Deus único, o Deus da aliança. A mulher torna-se, assim, figura de Israel, ao qual Jesus vem anunciar o perdão escatológico de Deus. A ausência do amante, nesse episódio, aponta para os baalim, os deuses estrangeiros, que nem sequer devem ser mencionados, e o marido é o Esposo único, Deus, o invisível.


Uma confirmação dessa leitura poderia ser tirada da repetição “no meio” (vv.3.9). O termo aparece duas vezes em seguida em Dt 22,21.24, no contexto das leis sobre o adultério: “tirarás o mal do teu meio”, isto é, do meio do povo.


O texto permanece aberto, sem nada dizer sobre o que aconteceu depois com a mulher, como na parábola do filho pródigo/pai misericordioso, nada é dito da decisão final do filho mais velho/Israel (Lc 15,32). O leitor é igualmente convidado a perder seu medo, a não se fechar em seu passado, às vezes um outro círculo mortal, e a andar na liberdade dos filhos de Deus (leia consecutivamente Sl 103,10-14 e Sl 32,1.13)


Há duas classes de homens: uns pecadores que se julgam justos e os outros, justos que se creem pecadores. Em que grupo você está. A raiz do mal e da injustiça está dentro de cada um de nós; dentro de mim.  Se não reconheço isto, nada melhorará dentro e fora de mim.


A eucaristia é o sacramento do amor que levou Cristo a entregar seu Corpo por nós e a derramar seu Sangue para a remissão dos pecados. Na comunhão do Corpo e do Sangue do Senhor acontece a transfusão de vida e do espírito do Senhor para que sejamos instrumentos de amor e de misericórdia; para que sejamos vida para os demais. Que a vida do Senhor seja nossa vida e sua missão seja nossa missão. A alma de toda missão é o amor fraterno.
P. Vitus Gustama,svd

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