03/07/2019
JESUS VEM NOS
LIBERTAR DO MAL E DE TODOS OS NOSSOS DESÂNIMOS SOBRE NOSSA EXISTÊNCIA
Quarta-Feira
Da XIII Semana Comum
5 Abraão tinha cem anos quando lhe nasceu o filho Isaac. 8 Entretanto, o
menino cresceu e foi desmamado; e no dia em que o menino foi desmamado, Abraão
deu um grande banquete. 9 Sara, porém, viu o filho que a egípcia Agar dera a
Abraão brincando com Isaac. 10 E disse a Abraão: “Manda embora essa escrava e
seu filho, pois o filho de uma escrava não pode ser herdeiro com o meu filho
Isaac”. 11 Abraão ficou muito desgostoso com isso, por se tratar de um filho
seu. 12 Mas Deus lhe disse: “Não te aflijas por causa do menino e da tua
escrava. Atende a tudo o que Sara te pedir, pois é por Isaac que uma
descendência levará o teu nome. 13 Mas do filho da escrava farei também um
grande povo, por ele ser da tua raça”. 14 Abraão levantou-se de manhã,
tomou pão e um odre de água e os deu a Agar, pondo-os nos ombros dela: depois,
entregou-lhe o menino e despediu-a. Ela foi-se embora e andou vagueando pelo
deserto de Bersabeia. 15 Tendo acabado a água do odre, largou o menino debaixo
de um arbusto, 16 e foi sentar-se em frente dele, à distância de um tiro de
arco. Pois dizia consigo: “Não quero ver o menino morrer”. Assim, ficou sentada
defronte ao menino, e pôs-se a gritar e a chorar. 17 Deus ouviu o grito do
menino e o anjo de Deus chamou do céu a Agar, dizendo: “Que tens Agar? Não
tenhas medo, pois Deus ouviu a voz do menino do lugar em que está. 18 Levanta-te,
toma o menino e segura-o bem pela mão, porque farei dele um grande povo”.
19 Deus abriu-lhe os olhos, e ela viu um poço de água. Foi então encher o odre
e deu de beber ao menino. 20 Deus estava com o menino, que cresceu e habitou
no deserto, tornando-se um jovem arqueiro. 21 Morou no deserto de Farã, e
sua mãe escolheu para ele uma mulher no país do Egito.
Evangelho: Mt 8,28-34
Naquele
tempo, 28 quando Jesus chegou à outra margem do lago, na região dos
gadarenos, vieram ao seu encontro dois homens possuídos pelo demônio, saindo
dos túmulos. Eram tão violentos, que ninguém podia passar por aquele caminho. 29
Eles então gritaram: “Que tens a ver conosco, Filho de Deus? Tu vieste aqui
para nos atormentar antes do tempo?” 30 Ora, a certa distância deles, estava
pastando uma grande manada de porcos. 31 Os demônios suplicavam-lhe: “Se
nos expulsas, manda-nos para a manada de porcos”. 32 Jesus disse: “Ide”.
Os demônios saíram, e foram para os porcos. E logo toda a manada atirou-se
monte abaixo para dentro do mar, afogando-se nas águas. 33 Os homens que
guardavam os porcos fugiram e, indo até a cidade, contaram tudo, inclusive o
caso dos possuídos pelo demônio. 34 Então a cidade toda saiu ao encontro
de Jesus. Quando o viram, pediram-lhe que se retirasse da região deles.
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Os Conflitos Se Resolvem
Quando Voltamos Para a Origem De Nossa Existência
“Abraão
tinha cem anos quando lhe nasceu o filho Isaac. Entretanto, o menino cresceu e
foi desmamado; e no dia em que o menino foi desmamado, Abraão deu um grande
banquete”.
Deus é fiel. Ele mantém suas promessas com
Abraão. E a fé de Abraão, posta a prova tanto tempo, não foi em vão. Depois de
uma longa espera, o plano de Deus se realiza. Deus é eterno. Ele não tem
pressa! A eternidade não se pode medir pelo nosso tempo. Toda a eternidade é de
Deus. Eu preciso ter paciência na minha espera para as ações de Deus, pois
estou seguro de que também serão cumprimadas as promessas de Deus na minha
vida. Nesta espera seu que serei posto a várias provas. Mas Deus é fiel a si
mesmo.
“Abraão
tinha cem anos quando lhe nasceu o filho Isaac”. Finalmente o filho da promessa, o filho que
era esperado entre esperança e desespero, entre certeza e dúvida, nasceu: Isaac
que significa “Deus sorri” ou “Deus é propício”. Quem governa o curso da vida e
quem domina o tempo é o próprio Deus. Tudo tem sentido a partir de Deus. Vale a
pena esperar em Deus, apesar de tudo. A partir da fé, somos convidados a ter fé
maior do que nossos medos e a ter força tão grande como nossa fé. Nos nossos
limites e limitações precisamos colocar nossa fé em Deus, Dono do curso da
vida. O homem é convidado a realizar o possível, pois Deus faz o impossível.
Mas entre as conquistas e as realizações
entra também algum conflito. Dentro de uma família, os conflitos podem se tornar
uma grande miséria. O relato nos diz: “Sara,
porém, viu o filho que a egípcia Agar dera a Abraão brincando com Isaac. E
disse a Abraão: ‘Manda embora essa escrava e seu filho, pois o filho de uma
escrava não pode ser herdeiro com o meu filho Isaac’”.
Sara tem ciúmes de Abraão porque ele olha com
bons olhos a Ismael e à sua mãe, a escrava Agar. Por um momento, o protagonista
da história é Ismael, o primogênito, mas que não é o que vai prolongar a linha
da promessa, segundo os misteriosos desígnios de Deus.
Abraão é obrigado a despedir Agar e seu
filho, Ismael, e ambos empreendem uma amarga viagem ao deserto com momentos de
desespero.
“Tendo acabado a água do odre, largou o
menino debaixo de um arbusto, e foi sentar-se em frente dele, à distância de um
tiro de arco. Pois dizia consigo: ‘Não quero ver o menino morrer’”.
Esta última frase é comovedora. A Bíblia é
realmente surpreendente na simplicidade de seu trato com Deus. Atrás da imagem
nos é revelada uma ideia muito pura de Deus. Um Deus que, uma vez mais, está
atento, um Deus que escuta. Nenhum sofrimento humano, nenhum grito deixa Deus
indiferente. Deus cuida também do menino, Ismael: “Deus ouviu o grito do menino e o anjo de Deus chamou do céu a Agar,
dizendo: ‘Que tens Agar? Não tenhas medo, pois Deus ouviu a voz do menino do
lugar em que está. Levanta-te, toma o menino e segura-o bem pela mão, porque
farei dele um grande povo’”. Ismael significa “Deus ouve”.
“Não tenhas medo.... Levanta-te, toma o
menino e segura-o bem pela mão, porque farei dele um grande povo”.
A atitude constante de Deus é levantar, pôr o
homem de pé para poder seguir adiante na vida. É voltar a ter o valor e o gosto
de viver, dar um “sentido” à vida. Procurar Deus não é, por isso, uma perda de
tempo, pois somente Deus podemos viver bem no tempo e espaço que Ele nos dá. Deus
não quer que fiquemos desanimados da existência, por fatais que sejam nossas
situações. Temos que nos levantar toda vez que cairmos. A terra que nos causa a
queda pode também servir como o apoio para nossas mães para que possamos nos
levantar outra vez.
O Salmo Responsorial parece personificar a
oração de Agar e de seu filho, Ismael, no deserto: “Este infeliz gritou a Deus, e foi ouvido, e o Senhor o libertou de toda
a angústia. O anjo do Senhor vem acampar ao redor dos que o temem, e os salva”
(Sl 33). E a primeira leitura termina com a seguinte frase: “Deus estava com o menino, que cresceu e
habitou no deserto, tornando-se um jovem arqueiro”. Diante de Deus não há
nem o filho legítimo nem o filho escravo. Todos são amados por Deus.
Nas nossas angústias e no nosso desespero
precisamos manter nossa fé e oração, pois há coisas na vida que não possam ser
resolvidas com a força humana. Somente com oração! Rezar é estar diante de Deus,
estar com Deus e estar em Deus. Rezar é estar no céu apesar de os pés pisarem
sobre a terra. É estar na intimidade profunda. É estar na paz profunda. Por
isso, a oração exige o envolvimento de todo o nosso ser. Rezar é entrar no
espaço sagrado com os pés descalçados e o rosto sem máscara. Para Deus nós
somos o que somos no momento.
Ismael vai ser o pai dos ismaelitas, nômadas
do deserto, e os árabes que se referem de bom grado a Abraão como seu pai e
origem.
Abraão, aos cem anos de idade, foi pai de
Isaac. Ante havia tido com a escrava Agar outo filho: Ismael. Ambos são pais
simbólicos do povo judeu e do povo árabe. A tradição judaica põe o acento na
predileção de Abraão por Isaac. Mas não devemos esquecer o que se diz ao final
do fragmento em referência ao filho da escrava: “Deus estava com o menino, que cresceu e habitou no deserto, tornando-se
um jovem arqueiro”. Judeus e árabes teriam que sentar-se juntos e encontrar
seu ponto de encontro no patriarca Abraão, pai comum de ambos. Esta solução tem
uma força simbólica inimaginável.
Mas reconhecemos, a partir do Evangelho deste
dia, que nem sempre a “nova ordem” de Jesus em que o ser humano precisa ser amado
e protegido mais do que os animais/porcos (interesses egoístas) é aceitável. “A raiz de todos os males é o amor ao
dinheiro”, escreveu São Paulo ao Timóteo (1Tm 6,10). O homem sempre prefere a “velha ordem” para
manter os interesses materialistas a amar o próximo. São João nos recorda: “Se alguém disser: Amo a Deus, mas odeia seu
irmão, é mentiroso. Porque aquele que não ama seu irmão, a quem vê, é incapaz
de amar a Deus, a quem não vê" (1Jo 4,20).
É Preciso Acreditar Em Jesus
Porque Ele É Mais Forte Do Que o Mal
Depois que acalmou a tempestade na cena do
evangelho anterior, desta vez Jesus libertou (curou) dois enfermos dando-lhes
uma nova oportunidade na vida. O ato de Jesus de libertar os dois enfermos
mostra que Deus da Bíblia é o Deus que entende a realidade humana e chama o ser
humano a experimentar seu amor misericordioso para poder usufruir a vida
dignamente.
O milagre da libertação dos dois possuídos na
região dos gadarenos está cheio de símbolos. Mateus usa vários termos nesta
cena para nos levar ao sentido da cena e o sentido da presença de Jesus nessa
região: dois possuídos, violentos, moram entre os túmulos (cemitério), e uma
manada de porcos está por perto deles. “Túmulo” é o lugar dos mortos ou onde os
mortos são enterrados. É o lugar dos impuros, como também impuros são os porcos
segundo os judeus. Ao dizer que os dois homens estão “saindo dos túmulos” o
texto quer nos dizer que os dois pertencem aos descartáveis, estão no nível
inferior da sociedade, vivem fisicamente nas margens, longe de núcleos
familiares, estão em condições de mortos em vida e estão em rebelião contra a
sociedade que os oprimem (violentos).
Precisamos nos lembrar daqueles que vivem
desta maneira na nossa sociedade atual, especificamente na nossa cidade onde
moramos atualmente. Quem são os descartáveis nas nossas cidades ou sociedade?
Que não os vejamos como algo normal porque sempre passamos por eles
diariamente. É sempre uma situação desafiadora para qualquer cristão, é uma
situação que nos inquieta.
Os dois, mortos em vida, vão ao encontro da
Vida por excelência, que é Jesus Cristo (Jo 14,6). Mas eles se aproximam de
Jesus de maneira antagônica e fazem duas perguntas rápidas: 1). “Que queres
de nós, Filho de Deus?”. Eles se dirigem a Jesus como Filho de Deus e O
reconhecem como homem de Deus. 2). “Tu vieste aqui para nos atormentar antes
do tempo?”. Esta segunda pergunta revela a consciência do papel de Jesus
como juiz escatológico, aquele que julga no fim dos tempos (Mt 25,31-46). O
tempo do julgamento alvorece no ministério de Jesus embora ainda não seja
plenamente.
Sem responder às perguntas Jesus os libertou
e devolveu-lhes sua dignidade como filhos de Deus e os integrou novamente na
comunidade, mostrando que o poder de Jesus é superior ao mal e ao mau e o vence
eficazmente.
O milagre da libertação dos possuídos não
produz muito efeito para os habitantes locais, que pedem a Jesus que se retire
do seu território. Eles consideram Jesus como culpado pela perda de uma manada
de porcos e não lhe agradecem pela libertação dos dois homens de seus males.
Jesus vai em busca dos corações dóceis ao seu poder.
Isto significa que continua a oposição contra
o plano de Deus como a tempestade contra a barca onde Jesus se encontrava. A
existência alternativa do discipulado, seguindo o compromisso de Jesus para
beneficiar aos excluídos, marginalizados e abandonados significa conflito
porque ameaça os interesses criados pela elite de grande interesse pessoal da
sociedade. Mas no coração aberto para a graça de Deus vai morar a salvação.
Onde há o encontro com a Vida por excelência ali há libertação.
Não há lugar para o poder do maligno em um
mundo onde entrou ou deixa entrar o poder salvífico de Deus. E Jesus continua
sua luta contra o mal. E nós com Ele. É o mal que há dentro de nós e o mal que
há no mundo. É o mal dentro da Igreja e fora dela. É o mal entre os líderes da
Igreja e entre os seus membros. E Jesus continua sendo forte, e nós com Ele. E
no Pai Nosso pedimos sempre a Deus: “Livrai-nos do mal”, que também pode ser
traduzido “livrai-nos do mau, do nocivo”.
Quando vamos comungar o Pão da Vida somos lembrados que Jesus é Aquele
que tira o pecado do mundo. E somos enviados depois da comunhão a ajudar os
outros a se libertarem de seus males. Devemos ser bons transmissores dessa vida
recebida na comunhão para os demais para eles alcancem sua libertação e sua
liberdade e vivam gozosamente sua vida. Onde houver espaço para o Bem e para o
bem, não sobrará espaço para o mal. Jesus foi para a região dos gadarenos para
que tenha espaço para o bem eliminando o mal daquele lugar. Somos enviados para
que o bem tenha lugar na vida dos homens.
O poder de Jesus vence qualquer outro poder.
Por isso, há um só poder com que nós devemos contar: o poder de Deus. “Quem não
conta com Deus, não sabe contar” (B. Pascal). Crer verdadeiramente em Jesus,
com todas as consequência deste crer, é ser vitorioso, pois Deus tem a ultima
palavra sobre os homens. Mesmo que o mal tenha uma aparência poderosa, ele não
tem futuro. Somente o bem tem a marca do futuro, uma marca divina, uma marca da
eternidade.
Será que somos como os gadarenos que
desaprovam a presença de Jesus Cristo, nosso libertador de nossos males? Que
lugar ocupa Jesus nossa vida e que lugar ocupam os bens materiais na nossa
vida. Os gadarenos preferem perder Jesus a perder seus bens (porcos).
Precisamos pedir a Jesus que nos liberte das cadeias que nos atam, dos males
que nos possuem, das debilidades que nos impedem de uma marcha ágil em nossa
caminhada cristã. E temos nos esforçar para corrigir nossos erros. Não corrigir
os nossos erros é uma maneira de cometer novos erros.
P. Vitus Gustama,svd
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