22/07/2019
MARIA MADALENA:
SEU
AMOR E SEU PRANTO POR JESUS
O que procurais? (Jo 1,38); A quem procuras? (Jo 20,15).
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Primeira Leitura: Ct 3,1-4a
Eis o
que diz a noiva: 1 Em meu leito, durante a noite, busquei o amor de minha vida:
procurei-o, e não o encontrei. 2 Vou levantar-me e percorrer a cidade,
procurando pelas ruas e praças, o amor de minha vida: procurei-o, e não o
encontrei. 3 Encontraram-me os guardas que faziam a ronda pela cidade. “Vistes
porventura o amor de minha vida?” 4ª E logo que passei por eles, encontrei o
amor de minha vida.
Evangelho: Jo 20,1-2.11-18
1 No primeiro dia da
semana, Maria Madalena foi ao túmulo
de Jesus, bem de madrugada, quando ainda estava escuro, e viu que a pedra tinha
sido retirada do túmulo. 2 Então ela saiu correndo e foi encontrar Simão
Pedro e o outro discípulo, aquele que Jesus amava, e lhes disse: “Tiraram o
Senhor do túmulo, e não sabemos onde o colocaram”. 11 Maria estava do
lado de fora do túmulo, chorando. Enquanto chorava, inclinou-se e olhou para dentro
do túmulo. 12 Viu, então, dois anjos vestidos de branco, sentados onde
tinha sido posto o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés. 13 Os
anjos perguntaram: “Mulher, por que choras?” Ela respondeu: “Levaram o meu
Senhor e não sei onde o colocaram”. 14 Tendo dito isto, Maria voltou-se
para trás e viu Jesus, de pé. Mas não sabia que era Jesus. 15 Jesus
perguntou-lhe: Mulher, por que choras? A quem procuras?” Pensando que era o
jardineiro, Maria disse: “Senhor, se foste tu que o levaste dize-me onde o
colocaste, e eu o irei buscar”. 16 Então Jesus disse: “Maria!” Ela
voltou-se e exclamou, em hebraico: “Rabunni” (que quer dizer: Mestre). 17 Jesus
disse: “Não me segures. Ainda não subi para junto do Pai. Mas vai dizer aos
meus irmãos: subo para junto do meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus”. 18
Então Maria Madalena foi anunciar aos discípulos: “Eu vi o Senhor”, e
contou o que Jesus lhe tinha dito.
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Hoje celebramos a festa de Santa Maria
Madalena. “Maria” significa “preferida por Deus”. Seu sobrenome “Madalena” é o
nome da cidade onde ela nasceu, situada na orla do mar da Galileia. Maria
Madalena é uma das mulheres das quais o evangelho testemunha que serviram e
seguiram a Jesus durante sua vida pública. Dela se diz que, libertada da
opressão demoníaca, foi fiel ao Mestre Jesus até os pés da cruz e até depois da
morte, como narra o Evangelho deste dia. Enquanto permanecia chorando diante do
túmulo vazio de seu Senhor, o Ressuscitado a chamava por seu nome: “Maria!”, e
se converteu, em consequência, em sua primeira testemunha e foi enviada pelo
Ressuscitado para anunciar aos irmãos a vitória pascal de Cristo.
Como toda figura evangélica, também Maria
Madalena é tipo de discípulo de Cristo. Nela vemos o luminoso testemunho de
quem, perseverando na busca de Deus, ainda que seja na obscuridade da fé e na
prova da esperança, encontra, por fim, Aquele a Quem ama ou melhor, é
encontrado(a) por Ele. Cisto, o Bom Pastor, é desde sempre, o primeiro que nos
busca e permanece esperando nossa volta, como o filho pródigo. O Senhor espera
que nossos olhos se voltem capaz de reconhecer em quem nos rodeia e voltemos a
estar atentos para sua voz que nos chama pelo nome.
Maria
Madalena: Do Seu Primeiro Encontro com Jesus. Este é um dos
personagens bíblicos escritos pelo famoso escritor libanês, Khalil Gibran,
no seu livro: Jesus, o Filho do Homem. No encontro com Maria
Madalena, Khalil Gibran colocou na boca de Jesus as seguintes palavras
dirigidas a Maria Madalena: “Tu tens muitos amantes; entretanto só eu te
amo. Os outros homens amam a si mesmos quando te procuram. Eu ti amo por ti
mesma. Os outros homens veem em ti uma beleza que desaparecerá mais cedo do que
seus próprios anos. Mas eu vejo em ti uma beleza que não esmaecerá e, no outono
dos teus dias, esta beleza não terá receio de olhar-se no espelho, e não será
ofendida. Somente eu amo o que não se vê em ti”.
Khalil Gibran colocou na boca de Maria
Madalena as seguintes palavras como sua reação diante da pessoa e das palavras
de Jesus: “Então, levantou-se e olhou-me como as estações devem olhar para
os campos, e sorriu. E disse novamente: ‘Todos os homens te amam por si mesmos.
Eu te amo por ti mesma’. E afastou-se, caminhando. Eu não sabia, mas naquele
dia o poente de Seus olhos matou o dragão que havia em mim, e tornei-me uma
mulher, tornei-me Miriam”.
Sobre Maria Madalena sabemos muito pouco, mas
os traços, que nos oferece o evangelho, nos permitem adentrarmos no mistério de
“um amor muito mais forte do que a morte”, como nos relatou o episódio do
evangelho lido neste dia. A frase “Encontrei
o amor de minha vida” que nos diz o Livro do Cântico dos Cânticos parece-nos apropriada para resumir a trajetória
pessoal de Maria Madalena. Quem experimenta o amor de Cristo vê as coisas de
outra maneira, vê a morte da vida velha ou vê a morte da vida passada para
experimentar a vida nova. Por causa dessa nova visão a pessoa acaba mudando de
vida (maneira de viver). Maria Madalena viveu essa experiência em seu encontro
pessoal com Jesus. Tão profundo e tão decisivo foi o primeiro encontro com
Jesus que tornou a vida de Maria Madalena uma busca incessante do Bem Maior que
é Jesus Cristo como relatou o evangelho deste dia. Somente busca o Bem Maior
aquele que foi encontrado pelo Bem Maior. Parece-nos que o Salmo Responsorial
foi feito para esse fim: “A minha alma tem sede de vos, Senhor, minha carne
também vos deseja como terra sedenta e sem água! ... Vosso amor vale mais do
que a vida, e por isso, meus lábios vos louvam” (Sl 62/63,1-2).
Que o amor que transformou Maria Madalena em
uma buscadora do Senhor fica patente na pergunta que o Ressuscitado lhe
dirigiu: “Mulher
a quem procuras?”. Chamam nossa atenção duas coisas. A primeira é
que esta pergunta-chave é precedida por outra pergunta: “Mulher, por que choras?”. Como se a intensidade da busca/procura
fosse proporcional à magnitude da perda. Somente choramos por aquilo que nos
afeta profundamente, seja por causa da tristeza profunda, seja por causa da
alegria profunda, seja por causa da partida de uma pessoa tão amada. O pranto
de Maria Madalena é um certificado de um amor direto ao coração. Choramos por
causa de alegria profunda como choramos por causa de uma tristeza profunda. O
choro é a única linguagem capaz de expressar tudo que sentimos profundamente em
lagrimas que nenhuma outra língua capaz de expressar.
O pranto de Maria Madalena, como o de Pedro
durante a Paixão é fruto de uma descoberta da verdade. Por isso, trata-se de um
pranto salutar, de um pranto que exprime o que não pode ser expresso por
nenhuma palavra humana. O pranto de Maria Madalena nasce do sentimento de
pertença. Ela chora por estar em relação com Jesus que em determinado momento
desaparece. Ela tem sentimento de pertencer a Cristo, a relação com define sua
vida. Ela é como é agora por causa de Cristo que devolveu sua dignidade.
A segunda coisa que chama atenção é a mudança
de termos. Para o pranto se
busca uma causa: “Por que choras?”. Ou “Por qual razão tu choras”. O que se
busca na pergunta é a causa do pranto. Mas para
a busca se faz referência a uma pessoa: “A quem procuras?”. Maria
Madalena não busca um ideal, não uma causa pela qual lutar, não busca um
sentido, pois tudo isto vem por acréscimo. Maria Madalena busca Aquele que,
olhando-a de outra maneira, restituiu-a em sua dignidade de mulher. Ela busca
Aquele a Quem seguia pelos caminhos da Galileia em companhia de outros homens e
mulheres. Ela busca Aquele que foi cravado em uma madeira e abandonado quase
por todos, exceto ela e a própria mãe de Jesus e algumas outras pessoas (cf. Jo
19,25). Ela busca Aquele que lhe garante um futuro seguro. Ela busca Aquele que
tem a última palavra para sua vida e sua morte. Ela busca Aquele que é capaz de
lhe dar a serenidade apesar de estar no meio das tempestades desta vida.
“Jesus lhe disse: ‘Maria’”. Jesus escolhe a
maneira mais pessoal e a mais imediata: chama-a pelo nome “Maria”. Para cada um
de nós Deus tem nome, por anônima que seja uma pessoa na sociedade. E Deus nos
chama pelo nome: “Eu te chamo pelo nome, és meu”, disse Deus para cada
um de nós (Is 43,1). “Eis que estás gravada na palma de minhas mãos, tenho
sempre sob os olhos tuas muralhas”, acrescentou Deus (Is 49,16). Quando
estivermos dominados pelas preocupações, pelo medo, pela tristeza, pelo
desespero, pela confusão; quando trilharmos pelo caminho errado, quando
compactuarmos com o mal ou com a maldade; quando ficamos irritados, nervosos
com a vontade de destruir tudo, Deus nos chama pelo nome: Maria, Valéria,
Mônica, Bernardo, Lucas, João, José...! Deus quer nos dizer: “Ei... Estou aqui!
Não estás Me vendo? Dirige teus olhos para Mim, e não para o túmulo de tua
vida!”.
Merecem nossa atenção e nossa meditação para
duas perguntas essenciais encontradas no evangelho de João para nossa vida e
nossa peregrinação neste mundo: “O que realmente você está procurando neste
mundo?”. Esta pergunta é feita por Jesus logo no início do evangelho de João: “O que estais
procurando?”. É a pergunta dirigida aos primeiros discípulos no
evangelho de João (Jo 1,37).
Parece-me que dedicamos bastante tempo de
nossa vida em função da procura do “o quê” de nossa vida (riqueza material).
Uma vez Oscar Wilde escreveu: “Neste
mundo só há duas tragédias: uma é não se conseguir o que se quer, a outra é
conseguir”. Mas no fim confessamos que o dinheiro e o poder não satisfazem
aquela fome sem nome que temos na alma. Carl Gustav Jung escreveu no seu livro:
O Homem Moderno à Procura de Uma alma,
escreveu: “O problema de cerca de um terço de meus pacientes não é
diagnosticado clinicamente como neurose, mas resulta da falta de sentido de
suas vidas vazias. Isto pode ser definido como a neurose geral de nossa época”.
O que nos frustra e tira nossa alegria de viver é a ausência do significado de
nossa vida. Nossa alma não está sedenta de poder, de fama, de popularidade, de
conforto, de propriedades e assim por diante. Nossa alma tem fome do
significado da vida, ou de aprendermos a viver de tal modo que nossa existência
ou nossa passagem neste mundo tenha importância ou significado capaz de
modificar ou de melhorar o mundo, pelo menos, ao nosso redor.
Através dessa primeira pergunta o evangelista
João nos dirige para a pergunta essencial que ele coloca no fim do seu
evangelho. A pergunta é esta: “A quem procuras?”.
De fato, as coisas, as riquezas, os bens materiais mesmo que os possuamos, eles
continuam sendo alheios a nós. Eles são necessários para nossa vida aqui neste
mundo. Porém, eles jamais serão nossos próximos. Precisamos de alguém que nos
diga: “Muito obrigado!”, “Ânimo!”, “Conte comigo!”, “Vou com você para resolver
o problema!”. Na nossa doença o que necessitamos é a presença de alguém ao
nosso lado, pois o poder e a riqueza material não nos consolam mais nesta
altura. E no fim confessamos que estamos procurando Alguém capaz de nos salvar
de uma vida vazia. A resposta que o evangelista nos dá é Jesus: “Jesus
fez ainda, diante de seus discípulos, muitos outros sinais, que não se acham
escritos neste livro. Esses, porém, foram escritos
para crerdes que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais
vida em seu nome” (Jo 20,30-31; cf. Jo 10,10; 14,6).
“O
que estais procurando?” e “A
quem estais procurando?”. Como é que você pode colocar em equilíbrio
estas duas perguntas na sua vida cotidiana para que sua vida realmente tenha
sentido? Você enfatiza mais na pergunta “O
que estais procurando?” ou “A
quem estais procurando?”.
Para Refletir:
“Onde é que Te encontrei para poder
conhecer-Te (Senhor)? Não estavas na minha memória antes de eu Te conhecer.
Onde, então, Te encontrei, para conhecer-Te, senão em Ti mesmo, acima de mim?
Eis que habitavas dentro de mim e eu Te
procurava do lado de fora! Tu me chamaste, e Teu grito rompeu a minha surdez.
Fulguraste e brilhaste e Tua luz afugentou a minha cegueira. Espargiste tua
fragrância e, respirando-a, suspirei por Ti. Eu Te saboreei, e agora tenho fome
e sede de Ti. Tu me tocaste, e agora estou ardendo no desejo de Tua paz.
Fizeste-nos para Ti, e inquieto está o nosso
coração, enquanto não repousa em Ti. Dá-me, Senhor, saber e compreender qual
seja o primeiro: invocar-Te ou louvar-Te... Quem O procura O encontra, e,
tendo-O encontrado, O louvará”. (Santo Agostinho. Confissões, X,26-27; I,1).
P. Vitus Gustama,svd
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