sexta-feira, 19 de julho de 2019

Domingo,21/07/2019
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É PRECISO ESCUTAR A PALAVRA DE DEUS PARA QUE TUDO SEJA FEITO NO ESPÍRITO DO SENHOR
XVI DOMINGO DO TEMPO COMUM “C”


I Leitura: Gn 18,1-10a
Naqueles dias, 1 o Senhor apareceu a Abraão junto ao carvalho de Mambré, quando ele estava sentado à entrada de sua tenda, no maior calor do dia. 2 Levantando os olhos, Abraão viu três homens de pé, perto dele. Assim que os viu, correu ao seu encontro e prostrou-se por terra. 3 E disse: “Meu Senhor, se ganhei tua amizade, peço-te que não prossigas viagem, sem parar junto a mim, teu servo. 4 Mandarei trazer um pouco de água para vos lavar os pés, e descansareis debaixo da árvore. 5 Farei servir um pouco de pão para refazerdes vossas forças, antes de continuar a viagem. Pois foi para isso mesmo que vos aproximastes do vosso servo”. Eles responderam: “Faze como disseste”. 6 Abraão entrou logo na tenda, onde estava Sara, e lhe disse: “Toma depressa três medidas da mais fina farinha, amassa alguns pães e assa-os”. 7 Depois, Abraão correu até o rebanho, pegou um bezerro dos mais tenros e melhores, e deu-o a um criado, para que o preparasse sem demora. 8 A seguir, foi buscar coalhada, leite e o bezerro assado, e pôs tudo diante deles. Abraão, porém, permaneceu de pé, junto deles, debaixo da árvore, enquanto comiam. 9 E eles lhe perguntaram: “Onde está Sara, tua mulher?” “Está na tenda”, respondeu ele. 10ª E um deles disse: “Voltarei, sem falta, no ano que vem, por este tempo, e Sara, tua mulher, já terá um filho”.


II Leitura: Cl 1,24-28
Irmãos: 24Alegro-me de tudo o que já sofri por vós e procuro completar em minha própria carne o que falta das tribulações de Cristo, em solidariedade com o seu corpo, isto é, a Igreja. 25A ela eu sirvo, exercendo o cargo que Deus me confiou de vos transmitir a palavra de Deus em sua plenitude: 26o mistério escondido por séculos e gerações, mas agora revelado aos seus santos. 27A estes Deus quis manifestar como é rico e glorioso entre as nações este mistério: a presença de Cristo em vós, a esperança da glória. 28Nós o anunciamos, admoestando a todos e ensinando a todos, com toda a sabedoria, para a todos tornar perfeitos em sua união com Cristo.


Evangelho: Lc 10,38-42   
Naquele tempo, 38 Jesus entrou num povoado, e certa mulher, de nome Marta, recebeu-o em sua casa. 39 Sua irmã, chamada Maria, sentou-se aos pés do Senhor, e escutava sua palavra. 40 Marta, porém, estava ocupada com muitos afazeres. Ela aproximou-se e disse: “Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha, com todo o serviço? Manda que ela me venha ajudar!” 41 O Senhor, porém, lhe respondeu: “Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. 42 Porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada”.
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1. Ser Hospitaleiro Faz Parte Da Espiritualidade Cristã


Uma das ideias principais das leituras deste Domingo é a hospitalidade. A hospitalidade é virtude, fruto de um coração caritativo e misericordioso, e ao praticá-la, entramos em contato com Deus. Por isso, o autor da Carta aos Hebreus nos escreveu: “Não vos esqueçais da hospitalidade, porque graças a ela alguns, sem saber, acolheram anjos” (Hb 13,2). Devemos brindar hospitalidade como um feliz privilégio e não como uma carga: “Sede hospitaleiros uns para com os outros, sem murmurar” (1Pd 4,9).


Deus pode nos hospedar? O Salmo Responsorial de hoje (Sl 14) pergunta: “Senhor, quem morará em vossa casa? É aquele que caminha sem pecado e pratica a justiça fielmente; que pensa a verdade no seu íntimo e não solta em calúnias sua língua. Que em nada prejudica o seu irmão, nem cobre de insultos seu vizinho; que não dá valor algum ao homem ímpio, mas honra os que respeitam o Senhor”.


Em primeiro lugar, Abraão é exemplo de hospitalidade (Primeira Leitura). Nos lares orientais se requer a hospitalidade, mesmo para forasteiros desconhecidos. A Bíblia está cheia de exemplos de hospitalidade. Em sua defesa, Jó alegou que sempre havia estado atento às necessidades dos forasteiros (Jó 31,31-32). Ló acolheu dois deles, sem saber ao princípio, que eram anjos (Gn 19,1-3). Os israelitas receberam a ordem de proteger os estrangeiros e ser hospitaleiros com eles (Lv 19,33-34) e assim por diante.


E hoje nos sai o exemplo de hospitalidade de Abraão para com os três estrangeiros que eram os mensageiros do Senhor, mas que Abraão não sabia no princípio. Abraão tem com eles todos os cuidados que uma hospitalidade oriental pode pensar: água para os pés, descanso à sombra, um pão recém-amassado, um bom prato de carne, leite, etc. ... Os visitantes lhe agradecem a hospitalidade prometendo ao ancião que vai ter um filho na sua velhice, filho esperado por longo tempo. Deus se mostra generoso com quem é hospitaleiro.


Em segundo lugar, a família de Betânia (Maria e Marta) é também exemplo de hospitalidade (Eangelho). A vida apostólica de Jesus é esgotadora/exaustiva. Por isso, sabe tomar um descanso e bater na porta de amigos, gozar da sã amizade e da hospitalidade desta família de Betânia. Cada uma das irmãs lhe presenteia coisas distintas e complementares. Marta, boa ama de casa, é mais ativa, preocupada por oferecer a seu hóspede uma comida digna. Quem não faria isso? Maria prefere estar sentada aos pés do Senhor para escutar a Palavra da vida que sai da boca do Salvador do mundo. Sabemos o que passou: Marta se queixa e Jesus deixa bem claro o primado da oração e da escuta, mas sem desprezar a ação de hospitalidade de Marta. Há dois modos muito distintos de acolher Jesus como hóspede: está o modo ativo de Marta, que se preocupa de fazer um montão de coisas por Ele; e está o modo sereno de Maria, que acolhe o Senhor, ponde-se a seus pés para escutá-Lo. Jesus diz que esta segunda maneira é mais importante. Honrar melhor o hóspede ao escutá-Lo atentamente. E Jesus não é qualquer hóspede. Ele é a Palavra do Pai e por isso, Ele tem palavras de vida eterna (Jo 6,68). Palavra que instrui e anima. Palavra que fortalece e sustenta. Palavra que interpela e corrige. Importante, pois, dar-nos tempo todos os dias na oração para acolher no coração este Hóspede-Palavra, escutá-Lo, dialogar com Ele. Atividade, sim; não ativismo. Contemplação, sim; não intimismo ou ensimismamento sem compromisso, nem fuga da realidade.


Finalmente, nós devemos também ser exemplos de hospitalidade com nossos irmãso. Muitas vezes acontece que para alguns somos muito hospitaleiros, mas para os outros, somos muito duros. Por causa da aparência, muitas vezes, acolhemos quem nos traz azar e não acolhemos quem nos traz bênção. Em um mundo tão inóspito e que facilita tão pouco a comunicação cara a cara, a hospitalidade se torna tão urgente para uma boa e eficaz evangelização. O encontro com o irmão é um encontro com Deus. É como uma “teofania”. Talvez um dia levemos uma surpresa quando o Juiz, Jesus Cristo nos dirá: “Era forasteiro e me acolhestes!” (Mt 25,35b).      


2. Escutar a Palavra De Deus Para Fazer Tudo No Espírito Do Senhor


O evangelho do domingo anterior (o bom samaritano: Lc 10,29-37) nos respondeu à pergunta: ”Quem é o meu próximo?” Ser próximo é sair da nossa rota e nos aproximarmos do outro. O próximo é aquele em cujo caminho em me coloco para ajuda-lo na sua necessidade. E no fim da parábola, aparece o convite para agir, para mover-se, para realizar: “Vá e faça a mesma coisa”. Para deixar bem claro que não se trata de um “fazer” qualquer, mas um “fazer” que nasce do fundo do coração, Lucas narrou logo em seguida o episódio da escuta de Maria. Os dois textos, podemos dizer, sublinham a unidade que existe entre o fazer e o escutar. De fato, em Lc 11,28 Jesus diz: “Mais felizes são aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática”. É este conjunto, que reúne dois elementos- a escuta e a prática -, que constitui a plenitude do ser humano. É preciso fazer tudo no Espírito do Senhor. Para isso, é preciso escutar a Palavra do Senhor sobre como deve-se fazer.


Em outras palavras, o mandamento de amor é duplo: amar a Deus - amar ao próximo. A  parábola do Bom Samaritano (domingo anterior) respondia à questão do amor ao próximo. Mas o amor a Deus exige do homem que ele ouça a Palavra divina, pois a Palavra de Deus lhe abre o caminho para a vida eterna. Por isso, o homem não pode preocupar-se apenas com sua subsistência material, pois tudo que se adquire aqui no mundo vai ficar aqui no mundo. É preciso que o homem esteja sempre aberto à Palavra de Deus. Na figura de Maria encontra-se um exemplo da disponibilidade total à Palavra de Deus: “Maria, sentou-se aos pés do Senhor e escutava a sua palavra”.


A atividade cotidiana e o ativismo do serviço ao próximo sempre encontrarão justificativas para preferirmos, sob o pretexto de fazer o bem. Muitas vezes o ativismo é a fuga. Muitas vezes é mais fácil enchermos o tempo com as nossas atividades, em lugar de deixarmos a eternidade encher o nosso pensar e agir. Isto quer nos dizer que tudo o que é “útil”, a partir de nosso ponto de vista, está no perigo de se tornar fútil. Deus não é “útil”, e por isso, não se “aplica” aos nossos fins e medidas. Deus é a gratuidade autocomunicante que nos liberta de todas as restrições do nosso ser necessitado. Deus nos ama para nos salvar. Amamos a Deus escutando Sua Palavra para que sejamos salvos. O amor de serviço se tornará facilmente oco e autossuficiente, se ele não estiver constantemente sob o juízo de quem é maior: Deus e sua Palavra. Escutando a Palavra de Deus submeteremos todo nosso agir e ser ao juízo do amor divino. Em tudo, na oração e na ação Deus nos julga.


Quem é Marta? Quem é Maria? E Quem somos nós?


Marta” em aramaico significa senhora, dona de casa. Biblicamente cada nome diz o “destino” (vocação/missão) da pessoa. Como dona de casa, ela tem a responsabilidade por todo andamento da casa. E, também, como dona de casa, ela deve honrar o hóspede e fazer o possível para que não lhe falte nada. Para o hebreu o hóspede é o rei, o senhor e deve ser colocado em primeiro lugar. Marta quer oferecer uma hospitalidade realmente digna e não deve causar admiração seu medo de não conseguir: é preciso que as coisas sejam feitas com toda a amplidão da sua exigência.


Mas até certo ponto, o ideal de eficiência cultivado tão rigidamente lhe faz perder o ponto de equilíbrio, a visão do conjunto.  Para ela, um “prato” (comida) é mais importante do que o resto. Para Jesus, uma “coisa” é mais importante do que um “prato”. E essa “coisa” se torna “a parte melhor” e quem a possui, ninguém poderá tirá-la dele. Assim, procurando a todo custo alcançar o ideal de receber o hóspede em primeiro lugar, acaba por colocar-se no lugar do hóspede, ordenando-lhe como se fosse seu dependente. Aqui acontece uma inversão ridícula das partes: Marta quer honrar o hóspede e chega a censurá-lo: “Mande que ela me ajude!” (v.40). Ela inverteu o sentido das coisas e não compreendeu mais nada de Jesus. Na sua mente, tudo se move como se Jesus tivesse vindo apenas para um bom almoço, ao passo que Jesus é honrado quando é reconhecido como Mestre. Marta não tem tempo para Jesus, pois as responsabilidades domésticas impedem-na de ver a pessoa. Lucas diz que Marta estava preocupada com os muitos serviços, por isso não compreendia o significado daquilo que estava acontecendo.


Marta representa o sacerdote e o levita (no episódio do bom samaritano), cumpridores dos deveres, sérios, autoritários; representa os que estão envolvidos com responsabilidades, os que têm cérebro, mas estão impedidos de ter coração (cf. Ez 36,25-28).


 “Maria” significa “a excelsa”, elevada, sublime: até pelo seu “nome” já se está aqui antecipando tratar-se de quem “optou pela ‘parte’ boa - melhor”.


O texto diz: “Maria, sentou-se aos pés do Senhor e escutava a sua palavra” (v.39). Esta frase tem um valor teológico. A expressão indica a qualidade de discípulo, de alguém que escolheu um mestre. No tempo de Jesus, a expressão significava que uma pessoa tinha entrado para fazer parte do grupo dos discípulos de um rabino ou mestre e participava das mesmas lições. Nos At 22,3, por exemplo, Paulo lembra com orgulho: “Eu estive sentado aos pés de Gamaliel”, isto é “fui discípulo do mestre Gamaliel”.


Maria, portanto, torna-se discípula de Jesus, coloca-se publicamente em sua escola, com os Doze. É fácil, então, compreender o escândalo, a carga explosiva deste gesto porque, na época de Jesus, nenhum mestre/rabino teria aceitado como discípulo uma mulher. Os rabinos até diziam que era melhor queimar uma Bíblia do que entregá-la nas mãos de uma mulher(cf. também 1Cor 14,34-35 onde se diz que as mulheres devem estar caladas nas assembleias). Podemos imaginar o murmúrio das pessoas que estão ali: “Como, esta mulher, ao invés de estar na cozinha, vai à escola de teologia? O que pretende? Quem pensa ser, o que deseja tornar-se, quais são suas ambições?”. Sendo este o modo de pensar daquele tempo, é fácil entender quanto foi revolucionário a escolha de Jesus de acolher entre os seus discípulos também as mulheres. Não terá chegado para nós a hora de dar ao mundo sinais evidentes de que uma nova sociedade surgiu, na qual a mulher, de fato, recuperou toda a sua dignidade porque Jesus a levantou? Não terá chegado a hora de romper e de acabar, decidida e claramente, com certas e muitas discriminações que não derivam do Evangelho mas das nossas culturas bem machistas?


Maria sentou-se aos pés do Senhor, e escutava a sua palavra”. Com efeito, o maior desejo de Jesus é dar, comunicar a sua palavra. Maria realiza plenamente a bem-aventurança evangélica: “Felizes aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática”. A riqueza, o valor nutritivo da escuta de Jesus, que Maria está vivendo é uma escuta que faz tremer, que compromete porque nos diz respeito e nos esclarece. Não é uma escuta passiva. É descobrir o mistério de nós mesmos na escuta da Palavra de Alguém, maior que nós, que tendo criado nosso coração, revela-nos os segredos. A capacidade de escutar é o primeiro caminho para entender aquilo que o outro diz. A virtude de escutar é dispensável ao discípulo, quer ele esteja dialogando com o mestre, quer ele esteja dialogando com outro discípulo ou com alguém mais simples no critério da sociedade.


 Maria, sentada aos pés de Jesus para escutar sua Palavra é imagem do homem que se autocompreende, que atinge a autenticidade, a clareza da posse cognitiva de si, colocando-se na escuta da Palavra divina que nos revela e, ao mesmo tempo, nos plenifica. Escutar a palavra do Senhor é condição para que o serviço, não se torne uma estéril agitação no vazio de autogratificação. A única coisa que conta é o relacionamento pessoal e fiel para com o Senhor, que antecipa desde já a plena e definitiva comunhão de vida.


Na transparência captamos também aqui o mistério do silêncio de Maria. O silêncio nos ajuda, de fato, a calarmos em nós a fantasia, o nosso ser, e a limparmos da alma tudo quanto nos possa perturbar. Cada um de nós é vítima da agressão externa de hordas de palavras, de sons, de clamores, que ensurdecem o nosso dia e até mesmo, às vezes, a nossa própria noite. Somos agredidos e envolvidos pelo multilóquio mundano que, com mil futilidades, nos distrai e nos dispersa. Só depois do amor ao silêncio é que despertará a nossa capacidade de escuta.


Jesus não responde à nossa maneira de viver cheia de preocupações dizendo que não devemos nos ocupar tanto com os negócios do mundo. Ele não tenta nos afastar dos múltiplos acontecimentos, atividades e pessoas que constituem as nossas vidas. Ele não diz que aquilo que fazemos não tem importância, é sem valor ou inútil. Nem tampouco sugere que nos afastemos dos nossos envolvimentos e vivamos uma vida tranquila e em paz, sem as lutas do mundo. Mas ele pede que nos desviemos do nosso centro de gravidade, que recentremos a nossa atenção, que modifiquemos as nossas prioridades. Jesus quer que nos afastemos das “muitas coisas” para a que é “a única necessária”. Jesus não fala em mudança de atividades, em mudança de contatos, nem sequer em mudança de ritmo. Ele fala em mudança de coração. Essa mudança de coração torna tudo diferente, mesmo que todas as coisas continuem a parecer semelhantes. O que conta é onde colocamos o nosso coração. Jesus pede que coloquemos o nosso coração no centro, onde todas as coisas se encaixam no lugar certo. Quando compreendemos as palavras de Jesus como um chamado urgente para serem escutadas é que conseguimos melhor o que está em jogo. É a Palavra de Deus que mostra o que fazer e como fazer.


Portanto, a escuta da Palavra de Deus é a rocha da nossa certeza. Que a Palavra de Deus existe para mim, posso escutá-la, eu me nutro dela, cresço na fé, na certeza juntamente com tantos outros irmãos. Assim, nos tornamos Igreja, somos formados pela Palavra de Deus e a nós é proferida a Palavra de Jesus: “Esta parte melhor não lhe será tirada”.


Para saber se somos verdadeiramente capazes de escutar a Palavra divina, podemos nos perguntar: no meu dia, quais são os momentos de escuta séria da Palavra? Sei fazer-me escutar? Isso é muito importante porque, às vezes, há quem diz: “Ninguém me escuta”, porém, não se questiona se sabe fazer-se escutar, se sabe manifestar e encontrar os caminhos de verdade para este direito fundamental que é o fazer-se escutar?


3. Oração e Serviço Em Sintonia


Todos os relatos que falam de Marta e de Maria sublinham a complementaridade de dois temperamentos: aqui, Marta se ocupa dos preparativos da refeição, enquanto que Maria se ocupa de atender pessoalmente o Convidado (Jesus). Essas duas funções são necessárias e asseguram uma hospitalidade mais amável. 


A função de Marta é útil. Seu serviço é indispensável. Todo amor posto ao serviço dos demais honra a Jesus: “Me destes de comer, me deste de beber... Venham os benditos do meu Pai” (Mt 25,34-35). Mas se essa função ultrapassar o limite, haverá a repreensão de Jesus como repreendeu Marta: “«Marta, Marta, andas inquieta e preocupada com muitas coisas, quando uma só é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que não lhe será tirada». O Messias dos pobres não necessita de uma mesa abundante, apenas o justo necessário para viver e assim se evitam a preocupação e inquietude desnecessárias. Por isso, no evangelho de Lucas Jesus repete a mesma frase: “Não andais preocupados...! ”(Lc 12,22-31; 8,14; 21,34).


“Maria escolheu a melhor parte que não lhe será tirada”. Sim, a Palavra de Jesus passa adiante de qualquer preocupação de ordem temporal. Uma preocupação demasiada dos assuntos temporais pode nos desviar do essencial. Mas não se trata de opor “ação” e “contemplação”.  Felizes os que unem ambas: os que escutam a Palavra de Deus e a põem em prática (cf. Lc 8,21).


Cada cristão deve saber conjugar as duas dimensões: a oração e o serviço. O mesmo Jesus sempre uniu as duas. Sempre houve momentos de contemplação tanto nas sinagogas como nos lugares desertos depois de seu trabalho intenso de evangelizar. A prática de Jesus não se caracterizou pelo ativismo nem pelas obras espetaculares e custosas. Seu trabalho se concentrou em formar comunidade de irmãos, transformar a mentalidade das pessoas, celebrar os sinais do Reino de Deus, resgatar os marginalizados e os empobrecidos e dar à mulher e ao homem um devido lugar na comunidade humana.


Nosso trabalho ou serviço não poderá ser bom se não tiver raiz, se não estivermos em contato permanente com Deus, se não se basear na escuta de Sua Palavra. Jesus não desautoriza o amor de Marta pelo trabalho, e sim ele dá uma lição de que não tem que viver em excessivo serviço a ponto de se esquecer de viver e de conviver bem com os irmãos. Deve encontrar tempo para a escuta da fé e da oração. É a lição de Jesus também para todos os homens da era de modernidade e para todos os homens de todos os tempos e lugares.
P. Vitus Gustama,svd

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