23/08/2019
SANTA ROSA DE LIMA
(1586-1617)
23 de Agosto
Nasceu em Lima (Peru) no ano 1586; já durante o tempo que viveu em sua
casa, dedicou-se de modo invulgar à prática das virtudes cristãs; mas quando
tomou o hábito da Ordem Terceira de São Domingos, fez os maiores progressos no
caminho da penitência e da contemplação mística. Morreu no dia 24 de agosto de
1617.
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Primeira Leitura: 2Cor 10,17–11,2
Irmãos, 17 quem se
gloria, glorie-se no Senhor. 18 Pois é aprovado só aquele que o Senhor
recomenda e não aquele que se recomenda a si mesmo. 11,1 Oxalá pudésseis
suportar um pouco de insensatez, da minha parte. Na verdade, vós me suportais.
2 Sinto por vós um amor ciumento semelhante ao amor que Deus vos tem. Fui eu
que vos desposei a um único esposo, apresentando-vos a Cristo como virgem pura.
Evangelho: Mt 13,44-46
Naquele tempo,
disse Jesus à multidão: 44'O Reino dos Céus é como um tesouro escondido no
campo. Um homem o encontra e o mantém escondido. Cheio de alegria, ele vai,
vende todos os seus bens e compra aquele campo. 45O Reino dos Céus também é
como um comprador que procura pérolas preciosas. 46Quando encontra uma pérola
de grande valor, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquela pérola.
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"À Cidade dos Reis, como Lima é geralmente chamada, não
poderia perder sua própria estrela que levaria a Cristo, Senhor e Rei dos Reis"
(Papa Clemente X: na bula da canonização de Rosa de Lima). "Civitati enim regum, qualis dicitur
Lima, suum debebabur sydus, quod ad Christum Dominum regem regum dux
esset" (a.1671).
“De certa forma, essa mulher é uma personificação da
Igreja da América Latina: imersa em sofrimentos, desprovida de meios materiais
e de um poder significativos, mas tomada pelo íntimo ardor causado pela
proximidade de Jesus Cristo” (Cardeal
Ratzinger: Homilia no Santuário
de Santa Rosa de Lima, Peru, em 19 de julho de 1986).
ISABEL SE TORNA ROSA
Santa Rosa de Lima,
a primeira santa canonizada da América (canonizada pelo Papa Clemente X em
1671), nasceu da descendência espanhola na capital de Peru, Lima, em 20 de
abril de 1586 do casal Gaspar de Flores e Maria de Oliva (um casal humilde. O
pai de Rosa fracassou na exploração de uma mina e a família se viu nas
circunstancias econômicas difíceis).
Rosa de Lima tinha
como nome de Batismo Isabel. Os anos passaram Isabel se revelou cada vez mais
bonita, sorridente e formosa como uma rosa. Por causa de sua beleza tão
encantada, em todos os sentidos, Isabel começou a ser chamada de Rosa. Na hora
de receber o sacramento da confirmação (Crisma) o arcebispo na época deu-lhe o
nome de Rosa definitivamente.
RENUNCIANDO
A UM AMOR
Um jovem de alta classe social se apaixonou pela Rosa e queria casar-se
com ela. Seus pais estavam muito entusiasmados porque eles eram pobres e isso
daria à jovem um porvir brilhante. Porém, ela falou para seus que havia
prometido a Jesus que seu amor seria totalmente para Deus e que renunciava
completamente ao matrimônio por brilhante que ele fosse. Podemos entender
porque Rosa rezava: “Meu Deus, podes
aumentar os sofrimentos, contanto que aumentes meu amor por Ti”.
Um dia rezando
diante de uma imagem da Virgem Maria apareceu a Rosa o Menino Jesus
dizendo-lhe: “Rosa, consagra-me a mim todo teu amor”. A partir de então,
ela dedicou sua vida só para amar a Jesus Cristo. Seu irmão lhe disse que muitos
homens estavam apaixonados perdidamente por causa de seus longos cabelos. Rosa
decidiu, então, cortar seus cabelos e usar o véu para cobrir o rosto para não
ser motivo de tentações para nenhum homem.
DESEJO DE SER MONJA AGUSTINIANA
Rosa queria ser monja
agustiniana. Um dia em que ela estava, de joelho, diante da imagem da Virgem
Maria para pedir-lhe a intercessão que a iluminasse se devia ir ao convento das
monjas agostinianas ou não. Naquele momento ela começou a sentir que não podia
levantar-se do lugar onde ela estava de joelho. Rosa chamou seu irmão para que
este a levantasse, mas nada aconteceu. Como se o joelho de Rosa ficasse colado
no chão firmemente. Então se deu conta de que não era a vontade de Deus de
entrar no convento. Rosa rezou, então, à Nossa Senhora: “Ó Mãe celeste, se Deus
não quer que eu vá a um convento, eu desisto agora desta idéia”. Assim que
terminou a oração, Rosa conseguiu se levantar.
Rosa continuava pedindo a Deus que lhe
indicasse a que associação religiosa deveria ingressar. Finalmente ela pediu
para ser admitida entrar na ordem terceira das dominicanas. E o pedido foi
aceito. A partir de então Rosa se vestia com túnica branca e manto negro e
levava a vida como a de religiosas, mas os membros viviam em suas próprias casas.
Ganhando Pão Com o Próprio Suor
O pai de Rosa
fracassou no negócio de uma mina e a família ficou em grande pobreza. Rosa se
dedicou, então, durante várias horas de cada dia a cultivar uma horta e várias
horas da noite a fazer costuras para ajudar o orçamento da casa.
Suas Penitências
É difícil encontrar
na América outro caso de mulher que fez maiores penitências. A primeira
penitência de Rosa era mortificar seu orgulho, seu amor próprio, seu desejo de
aparecer e de ser admirada e conhecida.
A segunda
penitência de Rosa de Lima foi a dos alimentos. Seu jejum era quase contínuo. E
sua abstinência de carne era perpétua. Ela comia o mínimo necessário para não
desfalecer de debilidade. Mesmo nos dias de maiores calores ela não tomava
bebidas refrescantes de nenhum tipo mesmo que, às vezes, a sede a atormentava.
Ela olhava apenas para o crucifixo e recordar a sede de Jesus na cruz para
continuar agüentando sua sede, por amor a Deus.
Ela dormia sobre
duras tábuas com uma madeira que servia como almofada. Uma vez ela teve desejo
de mudar suas tábuas por um colchão e uma almofada, mas ela olhou para o
crucifixo e lhe pareceu que Jesus lhe dizia: “Minha
cruz era muito mais cruel do que tudo isso”. A partir de então Rosa
de Lima nunca mais voltou a pensar em buscar um leito mai cômodo.
Distintas
enfermidades atacaram Rosa de Lima por muito tempo. Quando as pessoas a
criticavam por suas demasiadas penitências, lhes respondia: “Se vocês soubessem
o formoso que é uma alma sem pecado, estariam dispostos a sofrer qualquer
martírio para manter a alma na graça de Deus”.
Os últimos anos
Rosa de Lima vivia continuamente num ambiente de oração mística com a mente
quase já mais no céu do que na terra. Sua oração e seus sacrifícios e
penitências conseguia numerosas conversões de pecadores, e o aumento de fervor
em muitos religiosos e sacerdotes. Não é por acaso que o Papa Inocêncio IX dizia:
“Provavelmente não teve na América
um missionário que com suas pregações alcançou mais conversões do que as
conversões que Rosa de Lima obteve com suas orações e suas mortificações” . Na cidade de Lima havia já uma convicção geral de que a moça Rosa de
Lima era uma verdadeira santa.
Desde 1614 já cada
ano ao chegar a festa de São Bartolomeu (24 de agosto), Rosa de Lima demonstra
sua grande alegria. E explica o porquê deste comportamento: “É que numa festa
de São Bartolomeu irei para sempre a estar perto do meu Redentor, Jesus
Cristo”. E assim sucedeu. No dia 24 de agosto de 1617, depois de terrível e
dolorosa agonia, Rosa de Lima expirou com alegria, pois estava indo para estar
eternamente com o amaríssimo Salvador. Tinha 31 anos de idade.
Desde pequena Rosa de Lima teve uma grande inclinação para a oração e a
meditação. “Se os homens
soubessem o que é viver em graça (de Deus), não se assustariam com nenhum
sofrimento, e padeciam de bom grado qualquer pena porque a graça é o fruto da
paciência”, dizia Santa Rosa de Lima. “Fora da cruz não existe outra escada onde
subir ao céu”, acrescentou santa Rosa de Lima.
A graça é aquilo
que nos dá alegria. A graça é também a razão principal de nossa coragem. O que
foi que Deus respondeu a São Paulo, quando se queixava do aguilhão em sua
carne? Deus respondeu: “Basta-te a minha graça” (2Cr 12,9). Todos podem
abandonar-nos, também pai e mãe, diz um Salmo, mas Deus nos acolhe sempre (cf.
Sl 27,10). Por isso, nós podemos afirmar com o salmista: “A graça e a
fidelidade hão de acompanhar-me todos os dias da minha vida” (Sl 23,6).
Ela também ajudava
os pobres e os enfermos. No dia em que sua mãe repreendeu Rosa por atender, na
casa, pobres e enfermos, Rosa lhe contestou: “Quando servimos aos pobres e aos
enfermos, servimos a Jesus. Não devemos nos cansar de ajudar nosso próximo,
porque neles servimos a Jesus” (cf. Novo Catecismo
no. 2449).
O amor de Santa Rosa
de Lima a Deus era tão ardente que, quando falava d’Ele, mudava o tom de sua
voz e seu rosto se acendia como um reflexo do sentimento que embargava sua
alma. Esse fenômeno se manifestava, sobre tudo, quando Rosa se falava na
presença do Santíssimo Sacramento ou quando na comunhão unia seu coração à
Fonte de Amor. Na linguagem do evangelho lido na festa desta Santa, Santa Rosa
de Lima encontrou sua perola preciosa que é seu amor total por e para Deus.
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DOS
ESCRITOS DE SANTA ROSA DE LIMA, VIRGEM
(Ad medicum Castilo: edit. L.
Getino, La Patrona de América, Madrid 1928, pp. 54-55) (Séc.XVI)
O Senhor Salvador
levantou a voz e com incomparável majestade disse: “Saibam todos que depois da
tribulação se seguirá a graça; reconheçam que sem o peso das aflições não se
pode chegar ao cimo da graça; entendam que a medida dos carismas aumenta em
proporção da intensificação dos trabalhos. Acautelem-se os homens contra o erro
e o engano; é esta a única verdadeira escada do paraíso e sem a cruz não há
caminho que leve ao céu”.
Ouvindo estas
palavras, penetrou-me um forte ímpeto como de me colocar no meio da praça e
bradar a todos, de qualquer idade, sexo e condição: “Ouvi, povos; ouvi, gentes.
A mandado de Cristo, repetindo as palavras saídas de seus lábios, quero vos
exortar: Não podemos obter a graça, se não sofrermos aflições; cumpre acumular
trabalhos sobre trabalhos, para alcançar a íntima participação da natureza
divina, a glória dos filhos de Deus e a perfeita felicidade da alma”.
O mesmo aguilhão me
impelia a publicar a beleza da graça divina; isto me oprimia de angústia e me
fazia transpirar e ansiar. Parecia-me não poder mais conter a alma na prisão do
corpo, sem que, quebradas as cadeias, livre, só e com a maior agilidade fosse
pelo mundo, dizendo: “Quem dera que os mortais conhecessem o valor da graça
divina, como é bela, nobre, preciosa; quantas riquezas esconde em si, quantos
tesouros, quanto júbilo e delícia! Sem dúvida, então, eles empregariam todo o
empenho e cuidado para encontrar penas e aflições! Iriam todos pela terra a
procurar, em vez de fortunas, os embaraços, moléstias e tormentos, a fim de
possuir o inestimável tesouro da graça. É esta a compra e o lucro final da
paciência. Ninguém se queixaria da cruz nem dos sofrimentos que lhe adviriam
talvez, se conhecessem a balança, onde são pesados para serem distribuídos aos
homens”.
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O evangelho lido na festa de Santa Rosa de
Lima fala do tesouro ou de pérola preciosa. Do ponto de vista de um homem que
busca o sentido de sua vida, o tesouro de sua existência ou de sua vida é como
uma utopia: não sabe onde está, nem sequer sabe se está em algum lugar ou em
nenhum lugar. A busca é um esforço para encontrar algo que não se tem. Quem
busca reconhece uma carência de algo. É uma atitude humilde por si mesma.
Nesta busca o homem somente conhece a
inquietude de seu coração, porque “onde está teu tesouro, ai estará também teu
coração” (Mt 6,21). Um homem que ainda não encontrou seu tesouro fica inquieto
e busca incessantemente um sentido para sua vida. O coração errático do homem,
sua vontade, pode, nestas circunstancias, fixar-se em qualquer coisa e
agarrar-se a ela como se tivesse encontrado seu tesouro. Mesmo assim, ele
continua inquieto, pois o tesouro do homem não é qualquer coisa. O homem pode
ter tudo, mas se carecer o essencial, ele continuará inquieto.
A busca do Reino de Deus é compreender uma
certa carência essencial em nossa vida, carência que nos impulsiona a sair de
nós mesmos e não repousará até que encontremos essa realidade que faz completo
nosso ser. Por isso, não é a riqueza, nem o êxito, nem o poder, nem a fama, mas
o próprio Deus é o tesouro supremo do homem que o faz completo. Escondido no
nosso mundo, coberto pela carne crucificada de Jesus de Nazaré, perdido entre
os pobres, identificado com eles, está o tesouro do homem. Jesus é o “lugar de
Deus”, e o irmão, o próximo é o “lugar” de encontro com Jesus. O próximo se
transforma, então, em ocasião de salvação. Não é nada que o homem pode alcançar
por si mesmo e somente para si mesmo, pois ele foi feito por Deus e para Deus
na convivência fraterna com os outros. Por isso, Santo Agostinho rezava: “...
Senhor, inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em Ti” (Confissões
I,1). O homem só se encontrará a si mesmo, somente chegará à sua plena
realização na medida em que ele buscar e viver e conviver de acordo com o Amor
que é Deus (cf. 1Jo 4,8.16).
Somente o Reino de Deus, o Reino de amor,
descoberto como o supremo valor da existência, coloca o homem na possibilidade
de descobrir o sentido dos restantes bens que se possui. A vida em Deus ou ser
filhos e filhas de Deus é um valor incalculável, um dom do céu, e quem desfruta
dele, por meio da fé, é um autentico afortunado. A possessão, desta forma, se
apresenta como algo relativo. A experiência do amor de Deus relativiza o resto
sem desprezar seu valor no seu próprio lugar. A partir deste tesouro que é O
Reino de Deus, todo o resto se ordena e adquire o seu valor próprio. Como
aquele que encontrou a pérola preciosa foi capaz de colocar todas as demais
coisas em uma escala justa de valores, de relativizá-las em relação com a
pérola preciosa. E ele o fez com a extrema simplicidade porque, ao ter como
pedra de comparação, a pedra preciosa, sabe compreender melhor o valor de todas
as demais pedras. Quem encontrar um
valor supremo de sua vida, a experiência de fazer parte da família de Deus em
Jesus Cristo não desprezará outros valores, mas colocá-los em seu devido lugar.
O bem relativo pode ser, mais ou menos, importante para a satisfação das
necessidades humanas, porém, deve ser sempre confrontado com o bem supremo que
é a experiência do amor de Deus, a experiência de serem filhos e filhas de
Deus. Desta forma, as parábolas do tesouro escondido e a pérola preciosa
conectam com a primeira bem-aventurança: “Bem-aventurados os pobres em espírito
porque deles é o Reino dos céus” (Mt 5,3).
O homem que encontrou o sentido de sua vida
em Deus é um homem alegre e dinâmico, como os dois homens na parábola que
encontraram seu tesouro. Por este tesouro, ele é capaz de se desprender de
tudo, de se despojar de tudo, de compreender a fraqueza do outro, de perdoar,
de reconciliar-se com todos, de ser justo e honesto nos seus negócios, de ser
correto e coerente no seu modo de ser, pois sua vida é direcionada por este
supremo valor. A busca do Reino de Deus modifica nosso esquema de vida e não
pode ser levado adiante sem uma absoluta sinceridade de coração numa serenidade
de oração.
“Quem se gloria, glorie-se no Senhor. Pois é
aprovado só aquele que o Senhor recomenda e não aquele que se recomenda a si
mesmo”, escreveu São Paulo aos Coríntios que lemos na Primeira Leitura
(2Cor 10,17-18).
Julgar-se melhor do que os outros pode ser uma expressão de
vaidade e mentira, mas pode ser também uma franqueza. Para são Paulo as
qualidades que uma pessoa tem devem ser usadas ou utilizadas para o serviço e a
edificação da comunidade (cf. 1Cor 14,12). São Paula censura quem finge ter
qualidades e se faz passar por mestre, sábio ou entendido. Este tipo de pessoa
engana a comunidade, pois vive para aparecer e não para edificar a comunidade.
Todas as qualidades ou dons têm sua origem em Deus e por isso, temos que
colocá-los para a edificação da comunidade e não para a autopromação.
P.
Vitus Gustama,svd
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