30/08/2019
ESTEJAMOS PREPARADOS PARA O ENCONTRO DEFINITIVO COM AQUELE QUE NOS
SALVA
Sexta-Feira
da XXI Semana Comum
Primeira Leitura: 1Ts 4,1-8
1 Meus irmãos, eis o que vos pedimos e exortamos no Senhor Jesus:
Aprendestes de nós como deveis viver para agradar a Deus, e já estais vivendo
assim. Fazei progressos ainda maiores! 2 Conheceis, de fato, as instruções que
temos dado em nome do Senhor Jesus. 3 Esta é a vontade de Deus: vivei na
santidade, afastai-vos da impureza; 4 cada um saiba tratar o seu
parceiro conjugal com santidade e respeito, 5 sem se deixar levar pelas
paixões, como fazem os pagãos que não conhecem a Deus. 6 Que ninguém, nessa
matéria, prejudique ou engane seu irmão, porque o Senhor se vinga de tudo, como
já vos dissemos e comprovamos. 7 Deus não nos chamou à impureza, mas à
santidade. 8 Portanto, desprezar estes preceitos não é desprezar um homem e
sim, a Deus, que nos deu o Espírito Santo.
Evangelho: Mt 25,1-13
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos esta
parábola: 1 ”O Reino dos Céus é como a história das dez jovens que pegaram suas
lâmpadas de óleo e saíram ao encontro do noivo. 2 Cinco delas eram
imprevidentes, e as outras cinco eram previdentes. 3 As imprevidentes pegaram
as suas lâmpadas, mas não levaram óleo consigo. 4 As previdentes, porém,
levaram vasilhas com óleo junto com as lâmpadas. 5 O noivo estava demorando e
todas elas acabaram cochilando e dormindo. 6 No meio da noite, ouviu-se um
grito: ‘O noivo está chegando. Ide ao seu encontro!’ 7 Então as dez jovens se
levantaram e prepararam as lâmpadas. 8 As imprevidentes disseram às
previdentes: ‘Dai-nos um pouco de óleo, porque nossas lâmpadas estão se
apagando’. 9 As previdentes responderam: ‘De modo nenhum, porque o óleo pode
ser insuficiente para nós e para vós. É melhor irdes comprar aos vendedores’.
10 Enquanto elas foram comprar óleo, o noivo chegou, e as que estavam
preparadas entraram com ele para a festa de casamento. E a porta se fechou. 11
Por fim, chegaram também as outras jovens e disseram: ‘Senhor! Senhor! Abre-nos
a porta!’ 12 Ele, porém, respondeu: ‘Em verdade eu vos digo: Não vos conheço!’
13Portanto, ficai vigiando, pois não sabeis qual será o dia, nem a hora”.
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A Santidade Se Alcança Na Vivência Do Amor
“Esta é a
vontade de Deus: vivei na santidade, afastai-vos da impureza; cada um saiba
tratar o seu parceiro conjugal com santidade e respeito, sem se deixar levar
pelas paixões, como fazem os pagãos que não conhecem a Deus”.
A Primeira Leitura
de hoje se encontra na Segunda Parte da Primeira Carta aos Tessalonicenses (1Ts
4,1-5,24). Os fios condutores para toda esta segundo parte são dois verbos: vos
rogamos e vos exortamos (1Ts 4,1-2.10;
5,4-6.12-14). Por isso, nesta segunda parte da Carta encontram-se exortações, com destaque sobre as exigências de
uma vida consagrada a Deus (1Ts 4,3.7), instruções
e palavras de consolo. Trata-se de uma
catequese apostólica com o intuito de esclarecer as mentes e fortalecer as
vontades para que os cristãos de Tesalônica se mantenham na vida querida por
Jesus Cristo.
Os habitantes de
Tessalônica, como os das demais cidades pagãs, estavam acostumados, antes de
sua conversão, com um estilo de vida cheia de libertinagem, dentro e fora da
vida matrimonial. O ambiente pagão é altamente favorável a uma permissiva
conduta sexual. A vocação cristã exige defrontar a libertinagem desenfreada e é exigida dos cristãos, sobretudo, a
fidelidade na vida conjugal. Por isso, São Paulo recomenda aos Tessalonicenses:
“Esta é a vontade de Deus: vivei na
santidade, afastai-vos da impureza; cada um saiba tratar o seu parceiro
conjugal com santidade e respeito, sem se deixar levar pelas paixões, como
fazem os pagãos que não conhecem a Deus”.
Juntamente à
justiça, a liberdade é considerada pelo homem moderno como valor fundamental da
existência do indivíduo e da sociedade. Nesta perspectiva, a história tende a
aparecer como história da liberdade, e as diversas épocas e culturas são
julgadas em relação à sua capacidade de promover e de ampliar a liberdade. Mas
muitas vezes o homem não sabe usar sua liberdade a ponto de ele se tornar
prisioneiro de sua própria liberdade sem regra chamada de libertinagem. São
Paulo nos alerta, através de sua Carta aos Gálatas: “Vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não
abuseis, porém, da liberdade como pretexto para prazeres carnais.
Pelo contrário, fazei-vos servos uns dos outros pela caridade” (Gl 5,13).
“Deus não nos chamou à impureza, mas à
santidade”, escreveu São Paulo que lemos na Primeira Leitura.
A Teologia Moral
afirma que o pecado da impureza consiste no abuso da faculdade sexual, isto é,
na sua aplicação contrária ao seu sentido e finalidade. O mal não está no
prazer sexual como tal e sim em buscá-lo abusivamente e fora da ordem
estabelecida pelo Criador no matrimônio. É bom ter o prazer psíquico e físico
causado pelo uso da faculdade sexual sempre que esteja dentro da ordem querida
por Deus. O “prazer é mau” quando resulta de seu abuso voluntário, a causa da
desordem que encerra todo o ato. Quem vive somente em função do prazer é porque
não tem prazer de viver. Viver de acordo com o bem é viver e conviver prazerosamente.
A impureza usurpa o
direito de propriedade que Cristo tem sobre o corpo: “O corpo não é para a forrnicação (impureza) e sim para o Senhor, e o
Senhor é para o corpo” (1Cor 6,13) e constitui uma falta de respeito ao
corpo de Cristo, ao que pertencemos pelo batismo (1Cor 6,15s). A impureza é uma
profanação do templo do Espirito Santo e uma negação da glória que a Deus se
deve dar com o mesmo corpo (cf. 1Cor 6,19s; Rm 6,19).
Ao contrário, “Deus
vos chamou à santidade”. A ideia de santidade está presente em todas as
religiões, ainda que seja com acentos e perspectivas diversos. No mundo
semítico, a santidade expressa, antes de tudo e fundamentalmente, a noção de
uma misteriosa potência que está relacionada ao mundo divino e que é também inerente
a pessoas, instituições e objetos particulares. Desta potência brota, como
segundo elemento característico, o conceito de separação: o que é santo deve
estar separado do profano para que possa conservar seu caráter especifico e, ao
mesmo tempo, para que o profano não se veja afetado pela perigosa energia do
santo. A santidade aparece, por isso, como um valor sumamente complexo, que
implica as noções de sagrado e de pureza e que se encontra relacionado
especialmente com o mundo de culto.
Para participar da
santidade de Deus há um meio muito eficaz: o amor. Somente o amor origina uma
doação absoluta do homem a Deus, porque somente o amor conduz o homem a Deus
que é o próprio amor (1Jo 4,8.16). Com efeito, o homem somente é plenamente ele
mesmo quando se dirige aos demais por amor e unicamente no amor o homem pode
ter verdadeira doação de si mesmo e somente o amor é a resposta plena que se
deve a Deus como pessoa. O verdadeiro amor a Deus se estende ao homem. O amor
ao próximo implica necessariamente um amor implícito a Deus no qual se
fundamenta e se sustenta.
Podemos entender o
desejo de são Paulo aos Tessalonicenses ao escrever: “Fazei progressos ainda maiores!”. A vida cristã é uma marcha
para frente, um progresso constante. Mudança e transformação para ser melhor
cada vez mais são o código do mundo que nos cerca. No entanto, nem sempre queremos
mudar ou avançar. Apenas pensamos em mudança quando estamos mal (mudar por
necessidade). “Quando você deixa de crescer, estará envelhecido.
Enquanto estiver aberto ao crescimento, você é jovem. O seu medo de crescer é o
seu medo de tomar conta de si mesmo ou da sua responsabilidade como adulto”
(René Juan Trossero, psicólogo e escritor argentino). “Os
homens só envelhecem quando os lamentos substituem os sonhos” (John
Barrymore).
Caminhar Ao Encontro com Aquele Que Nos Ama e Salva
Os capítulos 24-25
de Mt constituem o quinto e o último discurso de Jesus neste Evangelho. Este
quinto discurso é conhecido como o “Discurso escatológico” (discurso
apocalíptico). Mt elabora notavelmente o discurso escatológico de Mc (Mc 13) e
o amplia com uma série de parábolas e com uma impressionante descrição do
julgamento final (Mt 25,31-46), cuja principal intenção é orientar os cristãos
sobre como preparar a vinda do Senhor.
A linguagem destes
capítulos pode provocar temor. Mas, na verdade, trata-se de uma linguagem
apocalíptica que era relativamente freqüente entre alguns grupos judeus e
cristãos. Chama-se de linguagem apocalíptica porque tem como objetivo
manifestar uma revelação escondida (apocalypsis).
Em muitas ocasiões esta revelação é dirigida a grupos ou comunidades que vivem
uma situação de perseguição, com a intenção de animá-los e encorajá-los em suas
lutas e tribulações. Por isso, não há motivo nenhum de alguém ver nestes textos
uma ameaça, e sim, uma mensagem de esperança.
A parábola das dez
virgens é uma das mais belas parábolas do evangelho, pois ela nos faz penetrar
mais profundamente no coração de Jesus. Jesus é o Prometido. Jesus vem nos
encontrar para salvar. Ele quer nos introduzir em sua família.
A vida cristã é uma
marcha ao encontro com Alguém que nos ama e consequentemente no salva. Deus ama
a humanidade e a humanidade vai ao encontro de Deus. O homem foi criado para a
intimidade com Deus, para o intercâmbio de amor com Ele. Mas a visita ou a
vinda é imprevista, a hora é imprecisa; não se sabe quando a visita vai
acontecer. Por isso, é importante estar vigilante.
Se olharmos do
ponto de vista da prudência, pois a parábola trata das cinco virgens prudentes
(phronimoi) e outras cinco insensatas
(morai), esta parábola nos faz
lembrar também da conclusão do Sermão da Montanha que compara um homem néscio a
um homem prudente (Mt 7,24-27). Na literatura sapiencial o prudente é aquele
que age de acordo com as exigências de Deus; o insensato, ao contrário, age
conforme sua própria cabeça (cf. Ecl 2,12-17). Da conclusão do Sermão da
Montanha sabemos que um que é néscio construiu a casa sobre a areia e o outro
que é prudente sobre a rocha. A casa do néscio desmoronou, pois sem nenhuma
base sólida, enquanto a do outro fica firme diante da tempestade, pois foi
construída sobre a rocha.
Na parábola das dez
virgens encontra-se novamente o contraste entre prudente e néscio. Sabemos que
a prudência determina o que é necessário escolher e o que é necessário
evitar. Ela separa a ação do impulso, o
essencial do secundário. “A prudência é um amor
que escolhe com sagacidade”, dizia Santo Agostinho.
A palavra “prudência”
provém do latim “prudens-entis” que, na acepção própria, significa
precavido, competente. Prudência é virtude que faz prever, e procura evitar as
inconveniências e os perigos; cautela, precaução. A prudência é a capacidade de
ver, de compenetrar-se e de ajustar-se à realidade. A prudência oferece a
possibilidade de discernir o correto do incorreto, o bom do mau, o verdadeiro
do falso, o sensato do insensato a fim de guiar o bom rumo de nossas ações. O
prudente jamais se precipita no falar nem no agir sem conhecimento da causa ou
da realidade. Tendo conhecimento da causa ou da realidade ele fala com cautela.
A prudência é a faculdade que nos permite vermos e aprendermos a realidade tal
como é. A prudência é o modo de viver dos sábios, pois o homem sábio é sempre
guiado pela prudência. Por isso, o sábio dificilmente machuca os outros.
As cinco virgens
levam o azeite suficiente, pensando na chegada atrasada do noivo, enquanto que
as outras cinco não pensam nisso. Como é importante estar preparado, tanto para
as surpresas agradáveis como para as desagradáveis na vida. Mas muitas vezes
somos pegos de surpresa. O azeite é a Palavra de Deus vivida no dia a dia que
se resume no amor. Diz Santo Agostinho: “Coisa grande, verdadeiramente muito
grande significa o azeite (óleo). Só pode ser amor”.
Nesta parábola
lemos que as cinco virgens insensatas gritam: “Senhor! Senhor! Abre-nos a porta!” (v.11). Mas a porta continua
fechada. Quem vive segundo a Palavra de Deus tem a chave na mão para abrir a
porta (do céu). As palavras da profissão “Senhor, Senhor” só salvam quem as
professa, se ele viver de acordo com essa profissão. Chamamos e professamos
Deus de Senhor porque queremos que ele assenhore nossa vida, e guie nossos atos
e decisões, que ele seja o centro de nossa vida, que a vontade dele prevaleça
na nossa vida, pois tudo que Deus quer é só salvar. Quem de nós não quer ser
salvo?
As cinco virgens
prudentes estão de prontidão e prestam atenção às coisas essenciais. Enquanto
que as cinco insensatas pensam em tudo, menos naquilo que é essencial, ou, de
fato, tem importância. Há pessoas que perdem o rumo por causa das coisas
efêmeras e não se lembram dos valores autênticos como caridade, justiça, paz,
verdade, retidão, honestidade, reconciliação etc. pelos quais vale a pena
comprometer-se. O homem é tão ocupado com as mil coisas que não deixam mais do
que efêmeras satisfações que se esgotam logo que se produzem. Um sábio diz que
há esquecimento por falta de memória, mas há esquecimento por falta de amor.
Esquecemos Deus não por falta de memória, mas por falta de amor para com ele. “Quando
lhe convém, o homem esquece que é cristão” (Santo Agostinho. In ps. 21, 2,5)
O que nos chama a
nossa atenção é o aparente egoísmo e aparente falta de solidariedade das cinco
virgens prudentes que não dividiram seu azeite para as insensatas, e a aparente
falta de amor do noivo que não abriu a porta para as cinco insensatas também
chama a nossa atenção. A parábola quer destacar uma responsabilidade pessoal que
não é substituível por ninguém diante de Deus no fim dos tempos. Ninguém pode
prestar contas em nome de outra pessoa diante de Deus nesse momento. Cada um é
único diante do Deus único. As qualidades interiores, as qualidades do espírito
que temos ou não as temos, não podem ser emprestadas ou repartidas diante da
seriedade do momento. É insubstituível o compromisso pessoal da vigilância.
O juízo particular
é tema que desperta não só responsabilidade, mas também esperança e otimismo.
Deus não empurra ninguém para o céu ou para o inferno. É a própria pessoa quem
decide sobre isso durante sua vida. Não é uma sentença divina que vai declarar
a pessoa culpada ou inocente, e sim é o modo de vida da pessoa que vai
condicionando sua opção por Deus. “Nunca esqueças: a única razão para ser cristão é a vida eterna”
(Santo Agostinho. De civ. Dei 5,25). “Põe na terra as coisas terrenas, mas teu coração, no céu” (Santo
Agostinho. In Joan. 18,6). “Buscas a Deus na
Igreja, ou buscas a ti mesmo?” (Santo Agostinho. Serm.
137,9).
Pe.
Vitus Gustama,svd
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