quinta-feira, 22 de agosto de 2019

Domingo,25/08/2019
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ESFORÇAR-SE PARA ENTRAR NA ETERNIDADE PELA PORTA ESTREITA           
XXI DOMINGO DO TEMPO COMUM “C”


Primeira Leitura: Is 66,18-21
Assim diz o Senhor: 18 Eu, que conheço suas obras e seus pensamentos, virei para reunir todos os povos e línguas; eles virão e verão minha glória. 19 Porei no meio deles um sinal e enviarei, dentre os que foram salvos, mensageiros para os povos de Társis, Fut, Lud, Mosoc, Ros, Tubal e Javã, para as terras distantes e para aquelas que ainda não ouviram falar em mim e não viram minha glória. Esses enviados anunciarão às nações minha glória 20 e reconduzirão, de toda parte, até meu santo monte em Jerusalém, como oferenda ao Senhor, irmãos vossos, a cavalo, em carros e liteiras, montados em mulas e dromedários, — diz o Senhor — e como os filhos de Israel levarão sua oferenda em vasos purificados para a casa do Senhor. 21 Escolherei dentre eles alguns para serem sacerdotes e levitas, diz o Senhor.


Segunda Leitura: Hb 12,5-7.11-13
Irmãos: 5 Já esquecestes as palavras de encorajamento que vos foram dirigidas como a filhos: “Meu filho, não desprezes a educação do Senhor, não desanimes quando ele te repreende; 6 pois o Senhor corrige a quem ele ama e castiga a quem aceita como filho”. 7 É para a vossa educação que sofreis, e é como filhos que Deus vos trata. Pois qual é o filho a quem o pai não corrige? 11 No momento mesmo, nenhuma correção parece alegrar, mas causa dor. Depois, porém, produz um fruto de paz e de justiça para aqueles que nela foram exercitados. 12 Portanto, “firmai as mãos cansadas e os joelhos enfraquecidos; 13 acertai os passos dos vossos pés”, para que não se extravie o que é manco, mas antes seja curado.


Evangelho: Lc 13,22-30         
Naquele tempo, 22 Jesus atravessava cidades e povoados, ensinando e prosseguindo o caminho para Jerusalém. 23 Alguém lhe perguntou: “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?” Jesus respondeu: 24 Fazei todo esforço possível para entrar pela porta estreita. Porque eu vos digo que muitos tentarão entrar e não conseguirão. 25 Uma vez que o dono da casa se levantar e fechar a porta, vós, do lado de fora, começareis a bater, dizendo: ‘Senhor, abre-nos a porta!’ Ele responderá: ‘Não sei de onde sois’. 26 Então começareis a dizer: ‘Nós comemos e bebemos diante de ti, e tu ensinaste em nossas praças!’ 27 Ele, porém, responderá: “Não sei de onde sois. Afastai-vos de mim, todos vós, que praticais a injustiça!’ 28 Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, Isaac e Jacó, junto com todos os profetas no Reino de Deus, e vós, porém, sendo lançados fora. 29 Virão homens do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus. 30 E assim há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos”.
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O texto faz parte duma grande seção que fala da viagem de Jesus rumo a Jerusalém onde se enconras as últimas lições do Senhor para seus discípulos chamadas Lições do Caminho (Lc 9,51-19,28).


Lucas, no texto do Evangelho de hoje (v.22), menciona novamente a “viagem a Jerusalém”. A alusão ao caminho que faz Lc 13,22 abre uma nova etapa do caminho para Jerusalém. Esta é breve e consta de dois desenvolvimentos relacionados com a entreda no Reino: caminho estreito e da humildade. Neles domina o tema da salvação que traz o Reino e suas exigências.


A narração da viagem é mais um estratagema literário (plano, esquema etc. previamente estudado e posto em prática para atingir determinado objetivo), referindo todos os acontecimentos à cruz e à ressurreição, do que uma descrição geográfica. A peregrinação de Jesus consiste numa vida de abandono à vontade de Deus que serve de exemplo tanto a seus seguidores como, particularmente, aos apóstolos. Quem quiser ser glorificado com Jesus, deve estar decidido a escolhê-lo como Mestre e a segui-lo à risca como discípulo.


Segundo o v.22 Jesus está a caminho. A impressão transmitida por Lucas é que Jesus continua viajando em direção a Jerusalém sem pressa, e com muitas paradas para ensinar tanto nas cidades grandes como nas aldeias pequenas. Sua viagem a Jerusalém é viagem missionária, sua peregrinação é atividade e sua atividade consiste em ensinar (Lc 4,15.31; 5,3.17;6,6;13,10;19,47;20,1.21;21,37;23,5). O que Jesus vive e ensina em sua peregrinação mostra aos discípulos o caminho para a ressurreição pessoal e para a salvação.


Nessa viagem um anônimo (alguém) faz uma pergunta a Jesus: “Senhor, são poucos os que se salvarão?” (v.23). O interlocutor trata a Jesus de Senhor, pois ele considera Jesus eminente autoridade em questões sobre a salvação futura. A Jesus foram dirigidas também outras perguntas mais ou menos semelhantes (cf. Lc 18,18;17,20; At 1,6).


A doutrina dos fariseus que vigorava no tempo de Jesus dizia: “Todo o povo de Israel terá parte no mundo futuro” (Sanhedrin 10,1). Outros pensavam de maneira mais pessimista que somente para poucos o mundo do futuro trará alívio (para os praticantes), sendo que para muitos (não praticantes), tormentos. Ambos concordam que o acesso à salvação passa necessariamente pela questão da etnia. Historicamente, não podemos nos esquecer que até o Papa Bonifácio VIII, contemporâneo de Dante, no início do século XIV, envolvido em uma luta pelo poder com Filipe IV da França, afirmou e professou de forma incondicional que, assim como havia sido com a arca de Noé, também “fora da única Igreja... Igreja Católica, não existe salvação nem remissão dos pecados” (Extra Ecclesiam nulla salus. A frase é atribuída a São Cipriano). Bonifácio estava usando o poder espiritual do papado para afirmar sua autoridade “divina” sobre reis e príncipes. Ele pensava mais nas implicações políticas do que nos aspectos teológicos de seu pronunciamento.


Mahatma Gandhi dizia que “as religiões são distintos caminhos que desembocam no mesmo ponto. Que importa que vamos por distintos caminhos se alcançamos a mesma meta?”.


Jesus não responde diretamente à pergunta, pois se responder afirmativamente, ele criará certezas enganosas; se responder negativamente provocará o desânimo. Ele se recusa a exercer o papel de visionário; não veio para revelar números ou datas secretas, como fazem em nossos dias os membros de algumas seitas. Em vez de responder “quantos se salvarão” ele fala do “modo” como se salvar, um apelo urgente ao empenho: “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, pois eu vos digo que muitos procurarão entrar e não conseguirão” (v.24). A uma pergunta formulada abstratamente, a resposta é apelo existencial, no presente: é agora que se decide a salvação. O convite de Jesus impõe uma decisão que não deve ser tarde demais. Os que se esforçam agora entram.


É necessário, no entanto, que eu caminhe hoje, amanhã e depois de amanhã, porque não é admissível que um profeta morra fora de Jerusalém” (Lc 13,33). Aqui está insinuado o tema principal. Não tendo encontrado a fé, Jesus se afasta dos incrédulos. Consequentemente, é possível que possamos perder a última chance oferecida por Deus. Diante da iminência do Reino de Deus, cuja força já está em operação no meio do mundo pela vinda de Jesus Cristo, torna-se teórica, descomprometida e insiginificante aquela pergunta: “Senhor, são poucos os que se salvarão?” (Lc 13,23). O cristão que tiver compreendido o imperativo da Sagrada Escritura que são Paulo expressa muito bem numa frase: “operai vossa salvação com temor e tremor” (Fl 2,12), jamais formulará tal pergunta de curiosidade. A preeminência da hora em que vivemos, exige o nosso empenho total e ilimitado. Consequentemente, a pergunta decisiva é esta: Como é que se consquistará a passagem pela porta estreita. Dai a resposta do Senhor: “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, pois eu vos digo que muitos procurarão entrar e não conseguirão” (Lc 13,23).


Esforçai-vos” (agonizesthi/agonizomai, de onde deriva a palavra “agonia”) é uma palavra que denota ação feita de todo o coração. É um termo técnico para competir nos jogos, e dele obtemos nossa palavra “agonizar”. Não se trata, por isso, de nenhum esforço desanimado. O caminho que conduz ao céu passa por uma luta intensa. Sobre esse empenho na luta São Paulo escreve: “Combate o bom combate da fé, conquista a vida eterna, para a qual foste chamado, como o reconheceste numa bela profissão de fé diante de muitas testemunhas” (1Tm 6,12). E acrescenta, em outra passagem, que serve como estímulo para nossas lutas diárias: “Combati o bom combate, terminei a minha carreira, guardei a fé. Desde já me está reservada a coroa da justiça, que me dará o Senhor, justo Juiz, naquele Dia; e não somente a mim, mas a todos os que tiverem esperado com amor a sua Aparição” (2Tm 4,7-8).


A porta é estreita porque não há salvação sem esforço e sacrifício depois que o pecado se instalou no mundo. Não é Deus que estreita a porta, é o clima de pecado presente nas relações humanas que vai exigir escolhas nem sempre fáceis no caminho da salvação. A condição para poder entrar é uma só: tornar-se pequeno: “Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como as crianças, de modo algum, vós entrareis no Reino dos Céus. Aquele, portanto, que se tornar pequenino como esta criança, esse é o maior no Reino dos céus” (Mt 18,3-4).  Se a porta é estreita, então, os de “grande estatura” e os de “porte maior” (“gordo”) não passam. Podem tentar de todos os modos para entrar, a porta continua sendo estreita. É preciso fazer “dieta” ou “regime” para diminuir o tamanho para se poder entrar. Não podemos ser discípulos de Jesus se não renunciarmos a ser grandes, poderosos, dominadores, arrogantes, prepotentes, se não nos tornarmos pequenos. Pequeno é aquele que se sente extraviado, humilde e só pode apelar à misericórdia de Deus. Quem não assumir a atitude interior do pequeno, sejam quais forem as suas práticas religiosas, orações, catequese, sermões, até milagres (Mt 7,22), não conseguirá entrar.


A verdadeira dificuldade, o que faz a porta estreita, não é o capricho de Deus e sim a arrogância do homem, sua autosegurança, sua autossuficiência, sua muita confiança em suas própria forças e sua nula confiança em Deus. É o próprio homem quem torna difícil a salvação ao negar-se aceitar o amor de Deus que se traduz no amor fraterno, ao negar-se a abrir suas mãos e aceitar o presente que Deus está oferecendo, um presente preparado para aqueles que trabalham pelo Reino de Deus.


Eu vos digo que muitos procurarão entrar e não conseguirão”. Existe a possibilidade de não entrar, conforme as palavras de Jesus (vv.25-29). Os que não entram não são os que não sabem onde fica a porta. Pelo contrário, é um grupo que acha que tem direitos a mais porque pensa que é íntimo do dono da casa. Observe bem o diálogo entre o dono da casa (Senhor) e os que imploram diante da porta fechada. Em sua defesa, eles tentarão fazer valer os sinais que o evangelho propunha como “sinais do Reino”: comer e beber na presença de Jesus: “Nós comíamos e bebíamos em tua presença (diante de ti), e tu ensinaste em nossas praças” (v.26). A sua linguagem os trai, porque aqui dizem a verdade: eles não comeram e beberam com Jesus, mas diante dele. Eles, com efeito, se situavam de fora em relação à prática de Jesus de comer com os pecadores e com os coletores de impostos. Tudo isso quer nos dizer que não há pessoas recomendadas junto a Deus, nem privilegiados que possam se gabar diante dele com base em sua pertença étnica, cultural ou religiosa, nesse caso ao povo judeu (v.28). A salvação não se circunscreve a uma etnia ou a uma cultura. Não basta uma simples aproximação física de Jesus (vv.26-27). A única condição para ser reconhecido pelo Senhor, para fazer parte da comunhão salvífica é praticarmos a justiça (cf. Sl 6,9) e o amor fraterno; é nos colocarmos atrás dos passos do Senhor.


Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, pois eu vos digo que muitos procurarão entrar e não conseguirão


A fé é um dom oferecido pessoalmente por Deus e é aceita pessoalmente pelo homem. Quando os pais bem intencionados, mas pouco expertos, querem impor sua fé a seus filhos, lhes dispensam de crer e não lhes ensinam mais do que um conformismo. Se os filhos creem porque os pais creem, os filhos não creem em Deus e sim somente em seus pais: creem por razoes familiares, tradicionais, nacionais, sociológicas. Nos tempos de Jesus, os judeus creiam em seus pais, em seus sacerdotes, em sua religião, mas Deus estava em meio deles e não creiam n´Ele. Pode um ser “católico” submetido a seus pais, a seus sacerdotes, a sua religião, no entanto não se encontrou nunca com Deus.


Além disso, na sociedade do bem-estar, o cristianismo do bem-estar também se espalha, que sistematicamente esconde o realismo da cruz e se esquiva da porta estreita, por falta de espírito e coragem evangélica ou por medo de perder algo na vida. É um cristianismo que, pela força da modernidade, é "leve", como qualquer leite desnatado ou alimentos pré-cozidos de baixa caloria. Muitos pensadores e intelectuais cristãos e não poucos pastores, que vivem no mundo desenvolvido, carecem de distância crítica para ver as contradições do sistema.


Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, pois eu vos digo que muitos procurarão entrar e não conseguirão”.


A salvação sempre supõe esforço, decisão, conversão contínua. O Reino que é nos prometido é para os valentes, animados e alentados. Para ser salvo, não basta estar inscrito no livro de Batismo paroquial nem ter entrado uma vez à Igreja por meio do batismo, e sim querer entrar todos os dias pela porta estreita da fidelidade à mensagem evangélica e do compromisso pessoal.


A salvação é um ato de amor de Deus e a resposta também amorosa do homem, e não como um ato mágico. Reunir os homens de todas as nações e línguas, como enfatiza a Primeira Leitura de hoje (Is 66,18-21), é o desejo de Deus. Isaías insiste visivelmente nesta totalidade do mundo que o Senhor quer reunir e a que quer mostra sua glória. Este grupo é uma nova nação: novos céus e nova terra (Is 66,22).


As portas da graça se abrem de par em par, mas são estreitas, pois a oferta de perdão e salvação supõe e exige “emagrecimento” em nossa covardia e egoísmo. Nossa verdadeira salvaconduta não é aquele que diz: “Católico de toda a vida” ou “Batizado desde criancinha”, e sim o serviço de cada dia que com nosso testemunho pessoal mostra aos outros nossa atitude pessoal de conversão e esforço para superar o pecado. Não nos vale dizer ao Senhor “Comemos e bebemos contigo” (comungar), pois este argumento somente pode significar que sabemos sobre Jesus, porém este saber não tranforma nossa vida sob as exigências de sua chamada. O pior ainda usarmos a expressão do próprio texto de hoje: “Comemos e bebemos DIANTE de ti”. Comer com os pobres e necessitados é uma coisa. Comer diante dos pobres e dos necessitados é outra história.


Todos estão convidados a seguir o caminho de Jesus, a esforçar-se a ir atrás de Jesus. Deus chama a todos à salvação. É a graça dele que nos chama. Diante desse chamado, todos, seja quem for, devem converter-se, pois ninguém é digno da santidade de Deus nem de seu grande amor. Ninguém pode se considerar dispensado de lhe prestar ouvido (especialmente para nós, religiosos e cleros que lemos ou escutamos “bastante” a Palavra de Deus até nos considerarmos sabidos ou sábios da Palavra de Deus, por isso não encontramos mais a novidade da Palavra. Assim a Palavra de Deus não é mais uma Boa Nova) e de transformar sua vida conforme a exigência de Sua Palavra. Não existe um número determinado de eleitos. Não existem direitos adquiridos, privilégios. O que existe é um chamado universal à conversão. E este vale também para os que já vêm rotulados como bons cristãos. Quem não retoma diariamente o trabalho de responder a Palavra de Deus com uma autêntica conversão, gritará em vão. Para não cair em armadilhas humanas da fragilidade e das tendências da natureza humana é necessário questionar como andam as nossas opções de cada dia. A que ou a quem se entrega o nosso coração?


Temos uma necessidade constante de nos revermos até que ponto nossas ações e nossos atos estão informados de uma sinceridade de vida, de uma coerência de atitudes, de um esforço de revisão constante de tomadas de posição pelo Reino? Conversamos com Deus antes de tomarmos uma decisão? Dalai Lama diz: “Quando agimos para satisfazer nossos desejos imediatos sem levar em conta os interesses dos outros, solapamos a possibilidade de uma felicidade duradoura”. E satisfazer nossos desejos imediatos é como “a felicidade que obtemos ao comer uma boa refeição que só dura até a próxima vez em que sentimos fome. Como observou um antigo escritor indiano: ‘Satisfazer nossos sentidos e beber água salgada são coisas semelhantes: quanto mais as fazemos, mais crescem nossos desejos e nossa sede’” (leia o livro dele: Uma Ética Para o Novo Milênio. Editora Sextante. Encontra-se também na Vozes. Vale a pena ler esse livro).


Como no Evangelho há gente que pode se perguntar angustiada: Então, depois de assistir fielmente todos domingos à missa, contribuir generosamente na coleta, confessar regularmente, comungar com freqüência ou diariamente, me salvarei ou me condenarei? Interrogar-se pela salvação e desejar a vida eterna é consequência lógica de nossa fé na vida eterna, que é também o objeto de nossa esperança. Tudo isto é bom, contanto que não se incorra na atitude mercantil de querer “comprar” a Deus o direito à salvação. Esta depende antes da concordância do conjunto de nossa vida com a doutrina central do Evangelho: Amar a Deus e ao próximo. Por isso, “a porta estreita” de Jesus não é moralismo intransigente, mas significa a responsabilidade e a lucidez daqueles que se esforçam por ser fieis a Deus e aos princípios evangélicos: solidariedade, fraternidade, caridade, e serviço ao irmão diante do egoísmo, da agressividade e da violência da sociedade; controle e domínio do consumismo diante da idolatria do dinheiro e dos bens materiais; enfim, assimilação do programa de Jesus que ele expôs em seu Evangelho.


A dor desesperada de todos os que foram chamados a fazer parte do Reino, mas ficam de fora por causa de sua apatia e falsa consciência, exprime-se nas palavras: “Choro e ranger de dentes (v.28; cf. Mt 13,42.50;22,13;25,30).


A sentença no v. 30 conclui essa passagem com a oposição primeiros/últimos, em substituição à oposição dentro/fora(v.25), acrescentando o tema da inversão das situações, notado desde o Magnificat como inerente à questão da salvação enquanto intervenção dAquele que tem o poder soberano de julgar. Através do último versículo (v.30) percebemos que haverá muitas surpresas na porta do céu, para quem se considera juiz dos outros. Deus vê além dos rótulos e aparências, conhece os corações. Reconhece como seus os pequenos, os generosos, os solidários, os compassivos... não aqueles que andam orgulhosos de suas virtudes e de sua intimidade com Deus sem ter de fato atitudes de irmão e vida a serviço dos valores do Reino.


O mais consolador do Evangelho de hoje é que “os últimos serão os primeiros”. Portanto, não há lugar para o desânimo. Temos posto reservado para sentarmos à mesa no Reino de Deus, se praticarmos a justiça e a caridade. O que importa é avançarmos com muito esforço pelo caminho estreito que nos leva à salvação.


A proposta da Coleta de hoje (oração inicial) serve para este objetivo, isto é, que “fixemos os nossos corações onde se encontram as verdadeiras alegrias”. Nosso Deus é alegria. Somente n´Ele se encontra a perfeita alegria, a verdadeira alegria. Fora d´Ele, as alegrias são inconsistentes e instáveis, como todas as realidades deste mundo em meio das quais nos movemos. Porém, assim como todas essas realidades derivam d´Ele, são dom seu e nos o mostram, assim também todas as alegrias jorram de sua fonte, são dom de sua bondade, pregustação da alegria perfeita.


O caminho para a porta do Reino é a própria vida que devemos construir, passo a passo, vivendo-a constantemente conforme a vontade de Deus. Não há salvação fácil nem difícil. É como a vida: à medida de nossas capacidades. É uma vida que temos que viver com sinceridade, verdade e amor. A salvação não é tema de curiosidade e sim de compromisso.
 
P. Vitus Gustama,svd

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