terça-feira, 24 de dezembro de 2019

28/12/2019
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SANTOS INOCENTES-MARTÍRES
28 de Dezembro


I Leitura: 1Jo 1,5-10;2,2
5 Caríssimos, a mensagem que ouvimos de Jesus Cristo e vos anunciamos é esta: Deus é luz e nele nãotrevas. 6 Se dissermos que estamos em comunhão com ele, mas andamos nas trevas, estamos mentindo e não nos guiamos pela verdade. 7 Mas, se andamos na luz, como ele está na luz, então estamos em comunhão uns com os outros, e o sangue de seu Filho Jesus nos purifica de todo pecado. 8 Se dissermos que não temos pecado estamo-nos enganando a nós mesmos, e a verdade não está dentro de nós. 9Se reconhecermos nossos pecados, então Deus se mostra fiel e justo, para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda culpa. 10Se dissermos que nunca pecamos, fazemos dele um mentiroso e sua palavra não está dentro de nós. 2,1Meus filhinhos, escrevo isto para que não pequeis. No entanto, se alguém pecar, temos junto do Pai um Defensor: Jesus Cristo, o Justo. 2Ele é a vítima de expiação pelos nossos pecados, e não só pelos nossos, mas também pelos pecados do mundo inteiro.


Evangelho: Mt 2,13-18
13Depois que os magos partiram, o Anjo do Senhor apareceu em sonho a José e lhe disse: “Levanta-te, pega o menino e sua mãe e foge para o Egito! Fica lá até que eu te avise! Porque Herodes vai procurar o menino para matá-lo”. 14José levantou-se de noite, pegou o menino e sua mãe, e partiu para o Egito. 15Ali ficou até a morte de Herodes, para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta: “Do Egito chamei o meu Filho”. 16Quando Herodes percebeu que os magos o haviam enganado, ficou muito furioso. Mandou matar todos os meninos de Belém e de todo o território vizinho, de dois anos para baixo, exatamente conforme o tempo indicado pelos magos. 17Então se cumpriu o que foi dito pelo profeta Jeremias: 18“Ouviu-se um grito em Ramá, choro e grande lamento: é Raquel que chora seus filhos, e não quer ser consolada, porque eles não existem mais”.
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Celebramos hoje a festa dos Santos Mártires Inocentes. Como no dia de São Estevão, novamente hoje contemplamos a dureza do caminho de Jesus. O caminho do seguimento de Jesus está cheio de dificuldades. Ao testemunho de Estêvão e de João, Apóstolo-evangelista, se acrescenta hoje o testemunho das crianças inocentes de Belém. No Oriente a festa dos Santos Inocentes é chamada a festa dos “meninos executados”.


A força do mal que há no mundo envolve Jesus desde o começo de sua vida e acabará sendo cravado na Cruz, mais tarde. A atuação de Herodes mostra o dano ou a destruição que pode fazer a defesa do próprio poder e interesse sem pensar mais em nada e em ninguém. Para Herodes não existe outra pessoa a não ser ele próprio e seus interesses. Em nome de seu poder, ele é capaz de eliminar qualquer pessoa. O poder serve para muitas coisas. Mas não serve para que os homens se tornem bons.


Toda vez que no mundo há uma guerra ou um massacre pelas coisas de Deus, há mártires inconscientes e involuntários que morrem revestidos, sem sabê-lo, do sangue de Cristo. Eles têm o direito ao título de companheiros de Cristo em seu martírio, e serão lembrados para sempre, através dos séculos.


A Primeira Leitura nos afirma que o pecado continuamente impede que o homem ande na luz, e constantemente o pecado engana o homem através da escuridão. O único pecado verdadeiro é o orgulho de ser considerado sem pecado: essa atitude exclui o homem de toda iniciativa salvífica de Deus. Esta atitude resulta no julgamento sobre quem não vive uma vida religiosa.


A confissão dos pecados, pelo contrário, mantém o homem na luz e na comunhão com Deus, pois ao confessar seus pecados, o homem chama para si próprio o perdão de Deus. E Deus é o Pai misericordioso que perdoa tudo.


Porém, andar à luz de Deus e viver em comunhão com Ele não é apenas um estado adquirido de uma vez por todas, e sim uma caminhada ("andar na luz", v.7) e uma passagem incessante das trevas para a luz através da conversão e confissão dos pecados. Só a pretensão de estar sem pecado nos priva dessa comunhão, pois nega a intervenção salvífica de Deus.


O evangelho nos relatou que Herodes, que governava com crueldade (no fim de sua vida mandou matar três de seus filhos), ao saber do nascimento do futuro Rei de Israel, ficou perturbado. Mandou, então, matar todas as crianças menos de dois anos de idade, pois ele tinha medo da rivalidade. O banho de sangue dessas crianças, para Herodes, é um simples assunto administrativo. Para Herodes a eliminação dessas crianças era o preço de sua tranquilidade. Para ficar “tranquilo” é preciso eliminar quem incomoda. É a lógica de Herodes. É a lógica do poder. O ambicioso, dominado pelo vício de poder, como Herodes, não suporta competidores nem admite rivais. Para alcançar suas necessidades de poder ele é capaz de humilhar e eliminar seus rivais. Para ele o recurso à violência parece “justo” e “honesto”. O ambicioso viciado de poder obedece ao seu instinto de mandar e receber honrarias. E seu instinto é sempre violento. Quem é ambicioso sem ética é dificilmente se preocupará com ser justo. Perante a necessidade de alcançar o que deseja, ele só enxerga uma alternativa: humilhar os outros e eliminá-los. Os outros já não são pessoas que merecem respeito, mas são degraus que só servem para ser galgados no intuito de ele atingir o vértice do poder. O ambicioso, quando estiver no vértice do poder, transmitirá aos súditos os seus sentimentos, arruinando a nação/grupo/comunidade etc. com assim chamada de política do prestígio, dos que só visam a conseguir a sua própria grandeza. Ele só obedece ao seu instinto de mandar e receber honrarias.


Herodes é a encarnação de um homem viciado em ambição, pois ele exagera na afirmação de si mesmo e os meios que se usam são desonestos. Para o rei viciado em ambição as honras valem tudo e os outros são vítimas de sua tirania. Ele é impelido a agir não pela consciência do bem e sim pelo desejo da glória. Ele pretende ser a todo o custo o primeiro de todos. Vive uma vida ansiosa, dominado por uma contínua tensão. O respeito aos outros está expulso da maneira de viver do ambicioso. Para ele o recurso à violência é justo e honesto para atingir sua glória. Mas uma pessoa de alma nobre não sai à procura das honras e sim do bem. Somente o homem será um verdadeiro ser humano, quando ele agir dentro dos limites do lícito e do ético.


Em Herodes se encarna um homem arrogante. Um arrogante não se preocupa em conhecer a verdade, mas apenas em ocupar uma posição em que ele possa ser o centro e a norma. Logo, ele não aceita qualquer subordinação. Ele pretende que tudo esteja sujeito a si próprio. Ele coloca sua pessoa no centro de tudo para justificar seu egoísmo. Ele não quer reconhecer o direito dos outros; o que vale é o seu próprio direito. Para os outros um arrogante impõe normas morais, mas para seus próprios atos não precisa respeitar moral algum. A arrogância não encontra abrigo em uma pessoa de inteligência equilibrada conhecida como uma pessoa sábia. A virtude da verdadeira inteligência é a humildade. Humildade é ter atitude de aprendizagem. E a aprendizagem é o caminho do sucesso. A pessoa soberba é aquela que acredita saber tudo. “Quando não se aprende, a humanidade vira estupidez” (Confúcio).


As crianças menos de dois anos de idade, sacrificadas, são vítimas da ambição sem medida de Herodes. São os Santos Inocentes. Estão crescendo para Deus em sua maturidade eterna. Nem sequer tiveram tempo para mostrar seus méritos e talentos. Entraram no âmbito de Cristo, inconscientes, sem sabê-lo nem pretendê-lo. Toda vez que ódio reina, semprerevoltas, matanças e guerras. Nessas circunstâncias surgem mártires involuntários. Sem sabê-lo, morrem revestidos e purificados pelo sangue de Cristo fazendo-se companheiros seus no martírio. 


Seja qual for a exata historicidade da fuga da Sagrada Família para o Egito e a matança das crianças em Belém, a passagem do evangelho de Mateus lida neste dia nos ajuda a entendermos toda a profundidade do nascimento do Messias. É a oposição das trevas contra a luz, da maldade contra o bem, do amor contra o ódio. Cumpre-se assim o que São João diz no Prólogo do seu evangelho: “Veio para o que era seu, mas os seus não O receberam” (Jo 1,11).


O sacrifício dos inocentes de Belém e as lágrimas de suas mães se convertem em símbolo de tantas pessoas que foram injustamente tratadas pela maldade humana e sofreram e continuam sofrendo sem nenhuma culpa. São inocentes sacrificados injustamente pelo abuso da liberdade humana e do poder sem limite. Morrem milhares de inocentes abandonados por suas mães assim que nasceram. São sacrificados muitos inocentes através da crueldade do aborto. Morrem milhares de inocentes vítimas da violência familiar, da prostituição infantil e da delinquência juvenil, de tantos inocentes que morrem de frio, dos que não podem nascer, dos menores abusados frequentemente e milhares de crianças menos de cinco anos morrem, no mundo inteiro, por dia por causa da fome. Morrem milhares de inocentes por causa da guerra dos ambiciosos pelos poder sem princípios éticos.


A festa dos santos inocentes colocada tão próxima do mistério do Natal põe em destaque não somente o dom do martírio, mas também a grande verdade que a morte do inocente quer nos revelar: a maldade do pecador, como Herodes, semeia ódio e morte, enquanto que o amor do justo inocente, como Jesus, produz frutos de vida e salvação.


A carta de São João lida neste dia nos ajuda a sairmos da maldade ao nos apresentar um grande tema: Deus é luz, Jesus Cristo está na luz e é a própria Luz (Jo 8,12) e nós cristãos devemos também caminhar na luz. Caminhar na luz, para esta Carta, significa viver em comunhão com Deus, e, portanto, não pecar. Pecar significa viver na escuridão. A luz, na linguagem bíblica, é sinônimo de alegria, de vida, de verdade, de bondade e de pureza. O contrário de tudo isto são as trevas, obscuridade.


Caminhar na luz de Deus e viver em comunhão com ele não constitui tão somente um estado adquirido de uma vez para sempre. Trata-se, pelo contrário, de um caminhar na luz permanentemente e de um incessante passo das trevas para a luz pela conversão e a confissão dos pecados. É certo que o cristão não deve pecar, mas no caso de ter a experiência do pecado, o mais importante é reconhecer-se pecador, e confiando na misericórdia d’Aquele que pode libertá-lo de sua pobreza moral, restabelecer imediatamente a comunhão com Deus e com os irmãos.


Quem caminha nas trevas e não pratica a verdade se engana a si mesmo, não vive em comunhão com Cristo nem com os irmãos e está longe da salvação. Quem caminha na luz e pratica a verdade vive em comunhão com Deus e com os irmãos e é purificado de todo pecado pelo sangue de Jesus derramado na cruz. Os verdadeiros crentes, os que acreditam em Deus reconhecem diante de Deus e diante de si mesmos seu pecado, o confessam e confiam no Senhor justo e fiel e por isso, são salvos. Os que andam nas trevas, ao contrário, não reconhecem seus pecados. Segunda a Carta de São João o verdadeiro pecado é a arrogância de se considerar sem pecado. Esta atitude bloqueia toda a iniciativa de Deus e afasta o homem de toda comunhão com Deus e com os irmãos.


Para Refletir:
As palavras seguintes são as do Papa Francisco. É uma Carta dirigida aos bispos na festa de Santos Inocentes, 28 de Dezembro de 2016:


“A nosso malgrado, o Natal é acompanhado também pelo pranto. Os evangelistas não se permitiram mascarar a realidade para a tornar mais credível ou atraente; não se permitiram criar um fraseado «bonito», mas irreal; para eles, o Natal não era um refúgio imaginário onde esconder-se perante os desafios e injustiças do seu tempo. Ao contrário, anunciam-nos o nascimento do Filho de Deus envolvido também numa tragédia de dor. No-lo apresenta com grande crueza o evangelista Mateus, citando o profeta Jeremias: «Ouviu-se uma voz em Ramá, uma lamentação e um grande pranto; é Raquel que chora os seus filhos» (2, 18). É o gemido de dor das mães que choram a morte de seus filhos inocentes, causada pela tirania e desenfreada sede de poder de Herodes.


Um gemido que podemos continuar a ouvir também hoje, que nos toca a alma e que não podemos nem queremos ignorar ou silenciar. Hoje, entre o nosso povo, infelizmente – escrevo-o com profundo pesar –, ouve-se ainda a lamentação e o pranto de tantas mães, de tantas famílias, pela morte dos seus filhos, dos seus filhos inocentes.


Contemplar o presépio é também contemplar este pranto, é também aprender a escutar o que acontece em redor e ter um coração sensível e aberto à dor do próximo, especialmente quando se trata de crianças, e é também ser capaz de reconhecer que ainda hoje se está a escrever este triste capítulo da história. Contemplar o presépio, isolando-o da vida que o circunda, seria fazer do Natal uma linda fábula que despertaria em nós bons sentimentos, mas privar-nos-ia da força criadora da Boa Nova que o Verbo Encarnado nos quer dar. E a tentação existe...


Pode-se viver a alegria cristã, voltando as costas a estas realidades? Pode-se realizar a alegria cristã, ignorando o gemido do irmão, das crianças?


O primeiro chamado a guardar a alegria da Salvação foi São José. Perante os crimes atrozes que estavam a acontecer, São José – exemplo de homem obediente e fiel – foi capaz de ouvir a voz de Deus e a missão que o Pai lhe confiava. E porque soube ouvir a voz de Deus e se deixou guiar pela sua vontade, tornou-se mais sensível àquilo que o rodeava e soube ler, com realismo, os acontecimentos.


Hoje é pedido o mesmo também a nós, pastores: ser homens capazes de ouvir sem ser surdos à voz do Pai e, deste modo, poder ser mais sensíveis à realidade que nos rodeia. Hoje, tendo por modelo São José, somos convidados a não deixar que nos roubem a alegria; somos convidados a defendê-la dos Herodes dos nossos dias. E precisamos de coragem, como São José, para aceitar esta realidade, levantar-nos e meter-lhe mãos (cf. Mt 2, 20). A coragem para a proteger dos novos Herodes dos nossos dias, que malbaratam a inocência das nossas crianças. Uma inocência dilacerada sob o peso do trabalho ilegal e escravo, sob o peso da prostituição e da exploração. Inocência destruída pelas guerras e pela emigração forçada com a perda de tudo o que isso implica. Milhares de crianças nossas caíram nas mãos de bandidos, de máfias, de mercadores de morte cuja única coisa que fazem é malbaratar e explorar as suas necessidades.


Hoje, apenas como exemplo, 75 milhões de crianças – por causa das emergências e das crises prolongadas – tiveram de interromper a sua instrução. Em 2015, 68% da totalidade das pessoas objeto de tráfico sexual no mundo eram crianças. Por outro lado, um terço das crianças que tiveram de viver fora do seu país, fê-lo por deslocamento forçado. Vivemos num mundo onde quase metade das crianças que morrem com menos de 5 anos é por desnutrição. Calcula-se que, no ano de 2016, 150 milhões de crianças realizaram um trabalho infantil, muitas delas vivendo em condições de escravidão. Segundo o último relatório elaborado pela UNICEF, se a situação mundial não mudar, em 2030 serão 167 milhões as crianças que viverão em pobreza extrema, 69 milhões de crianças com menos de 5 anos morrerão entre 2016 e 2030, e 60 milhões de crianças não frequentarão a escolaridade básica.


Ouçamos o pranto e a lamentação destas crianças; ouçamos também o pranto e a lamentação da nossa mãe Igreja, que chora não apenas pela dor provocada aos seus filhos mais pequeninos, mas também porque conhece o pecado de alguns dos seus membros: o sofrimento, a história e a dor dos menores que foram abusados sexualmente por sacerdotes. Pecado que nos cobre de vergonha. Pessoas que tinham à sua responsabilidade o cuidado destas crianças, destruíram a sua dignidade. Deploramos isso profundamente e pedimos perdão. Solidarizamo-nos com a dor das vítimas e, por nossa vez, choramos o pecado: o pecado que aconteceu, o pecado de omissão de assistência, o pecado de esconder e negar, o pecado de abuso de poder. Também a Igreja chora amargamente este pecado dos seus filhos e pede perdão. Hoje, recordando o dia dos Santos Inocentes, quero que renovemos o nosso empenho total para que tais atrocidades não voltem a acontecer entre nós. Revistamo-nos da coragem necessária para promover todos os meios necessários e proteger em tudo a vida das nossas crianças, para que tais crimes nunca mais se repitam. Assumamos, clara e lealmente, a determinação «tolerância zero» neste campo.


A alegria cristã não é uma alegria que se constrói à margem da realidade, ignorando-a ou fazendo de conta que não existe. A alegria cristã nasce duma chamada – a mesma que recebeu São José – para «tomar» e proteger a vida, especialmente a dos santos inocentes de hoje. O Natal é um tempo que nos desafia a guardar a vida e ajudá-la a nascer e crescer; a renovar-nos como pastores corajosos. Esta coragem que gera dinâmicas capazes de tomar consciência da realidade que estão a viver hoje muitas das nossas crianças e de trabalhar por lhes garantir as condições necessárias para que a sua dignidade de filhos de Deus seja não só respeitada, mas também e sobretudo defendida.


Não deixemos que lhes roubem a alegria. Não nos deixemos roubar a alegria, guardemo-la e ajudemo-la a crescer.


Façamos isto com a mesma fidelidade paterna de São José e deixando-nos guiar pela mão de Maria, a Mãe da ternura, para que não se endureça o nosso coração”.
P. Vitus Gustama,svd

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