quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Domingo,22/12/2019
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O MISTÉRIO DE DEUS NA VIDA DE JOSÉ E DE MARIA
IV Domingo do Advento Ano “A”


Primeira Leitura: Is 7,10-14
Naqueles dias, 10o Senhor falou com Acaz, dizendo: 11“Pede ao Senhor teu Deus que te faça ver um sinal, quer provenha da profundeza da terra, quer venha das alturas do céu”. 12Mas Acaz respondeu: “Não pedirei nem tentarei o Senhor”. 13Disse o profeta: “Ouvi então, vós, casa de Davi; será que achais pouco incomodar os homens e passais a incomodar até o meu Deus? 14Pois bem, o próprio Senhor vos dará um sinal. Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Emanuel.


Segunda Leitura: Rm 1,1-7
1 Eu, Paulo, servo de Jesus Cristo, apóstolo por vocação, escolhido para o Evangelho de Deus, 2 que pelos profetas havia prometido, nas Sagradas Escrituras 3 e que diz respeito a seu Filho, descendente de Davi segundo a carne, 4 autenticado como Filho de Deus com poder, pelo Espírito de Santidade que o ressuscitou dos mortos, Jesus Cristo, Nosso Senhor. 5 É por Ele que recebemos a graça da vocação para o apostolado, a fim de podermos trazer à obediência da fé todos os povos pagãos, para a glória de seu nome. 6 Entre esses povos estais também vós, chamados a ser discípulos de Jesus Cristo. 7 A vós todos, que morais em Roma, amados de Deus e santos por vocação, graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e de nosso Senhor Jesus Cristo.


Evangelho: Mt 1,18-25
18 A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, e, antes de viverem juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo. 19 José, seu marido, era justo e, não querendo denunciá-la, resolveu abandonar Maria, em segredo. 20 Enquanto José pensava nisso, eis que o anjo do Senhor apareceu-lhe, em sonho, e lhe disse: “José, Filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. 21 Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados”. 22 Tudo isso aconteceu para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta: 23 “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa: Deus está conosco”. 24 Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor havia mandado e aceitou sua esposa.                                                     
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Entramos na Quarta Semana do Advento, que este ano nos põe no pórtico do Natal.


Neste domingo é dada a resposta para a interrogação que os discípulos de João Batista deixaram aberta no precedente domingo (no Terceiro Domingo do Advento): “És Tu Aquele que há de vir ou devemos esperar um outro?” (Mt 11,3). A resposta é afirmativa. O Livro que chamamos “do Emanuel”, dentro do grande livro das profecias do profeta Isaías (Is 7-12) nos adianta que o Messias será filho de uma virgem e que Deus lhe dará nome próprio: Emanuel, Deus-conosco. E por sua vez, Deus Pai, através de um sonho que revela a José, esposo de Maria, diz-lhe que o filho nas entranhas de Maria, concebido pela obra do Espírito Santo, será o Emanuel, Deus-conosco, sob a denominação de Jesus, o Salvador de seu povo, aquele que libertará seu povo do pecado.


Por essa via, hoje a Palavra de Deus tem triple efeito em nós. Em primeiro lugar, A Palavra de Deus ilumina nossa fé: Jesus, Aquele que vai nascer é o Messias, o Emanuel, o Deus próximo e encarnado, Aquele que nos salvará. Em segundo lugar, a Palavra de Deus nos mostra que nossa esperança chegará ao seu ponto alto: o Messias, Jesus, já está à porta. O momento de sua aparição será o momento de seu nascimento da Virgem Maria. Em terceiro lugar, a Palavra de Deus nos convida ao amor, ao gozo, à festa: Somos filhos amados de Deus, e com Deus Filho, encarnado, vamos fazer o caminho da vida pelos caminhos da paz.


Aprofundemos um pouco mais os três personagens do Evangelho de hoje: Jesus, Maria e José.


QUEM É JESUS? A primeira afirmação sobre Jesus é esta: Ele “foi concebido do Espírito Santo”. Com esta afirmação abre-se uma das perspectivas mais profundas da pessoa de Jesus. Com esta afirmação sabemos que tudo é absoluta iniciativa de Deus. E a humanidade é sobremaneira agradecida. Com esta afirmação somos convidados a voltar às nossas origens para aprender a íntima ordem da nossa vida: Deus é origem de tudo o que é bom, de tudo o que é santo. Na nossa origem fomos criados por Deus como bons. É preciso manter a consciência de que somos bons na nossa origem e vivamos praticando o bem e a bondade.


Ao dizer (o texto) que Jesus “foi concebido do Espírito Santo” entendemos que Jesus é totalmente de Deus. Mesmo que seja igual a nós, Jesus é Aquele que procede de Deus e é Deus. Sendo Deus, Ele não pode ser confundido com uma criatura. Jesus é verdadeiramente Deus, e como tal, será amado e adorado.


O segundo aspecto é o próprio nome de Jesus que significa “Deus é Salvação”. O nome de Jesus parece ser frequente entre os judeus. Porém, no contexto do Evangelho de Mateus, o nome se reveste de toda a sua divina significação. Iahweh é salvação. Nesta existência humana, neste homem mortal de Nazaré (Jesus) está realmente o Deus imortal. Nos caminhos da esperança, nas lutas de desespero da humanidade estará presente o próprio Deus (Cf. Mt 28,20).


Ele salvará o seu povo de seus pecados”, afirma o texto (Mt 1,21). Com esta afirmação, o Evangelho de Mateus se distancia claramente de uma esperança secular dos judeus que espera um Messias meramente político-nacional. O evangelista Mateus diz claramente que Aquele que vem do Espírito Santo não será, primeira e diretamente, o libertador político e sim “salvará o seu povo de seus pecados”. Jesus será o Deus que salva, não pela humilhação dos outros e sim por sua própria humilhação e destruição (será morto, mas ressuscitará).


No texto do Evangelho de hoje, Jesus é chamado também de “Emanuel”, “Deus-conosco”. A expressão “Deus-conosco” constitui uma ampla inclusão no final do evangelho: “Eis que estou convosco até o fim do mundo” (M7 28,20). O primeiro Evangelho (Mt) se fecha com uma final surpresa: Cristo está presente na Igreja; continua sendo o Deus-conosco. Não somente está presente na comunidade, mas que é seu Salvador e seu sustento. O evangelho de Mateus não perde ocasião de nos indicar os lugares privilegiados da presença do Ressuscitado: na comunidade reunida em seu Nome (Mt 18,20), nos apóstolos missionários (Mt 10,40), nos irmãos necessitados (Mt 25,31), na Igreja quando prega (Mt 28,20). A partir desta afirmação, o cristão não é um solitário e sim um solidário, pois ele está com Deus e Deus está com ele. Cada cristão é chamado a criar e a fazer parte de uma comunidade fraterna e não a ser/ficar isolado.


O texto do Evangelho de hoje quer também responder a seguinte pergunta: QUEM É MARIA? A grandeza da criatura não consiste em querer ser algo grande ao lado de Deus, e sim em deixar que Deus seja grande nele. Em Maria ficou patente que a grandeza do mundo vem da iniciativa espontânea de Deus. Maria não é usada como instrumento, pois ela consente em plano maior do que ela, ainda que não lhe seja possível entende-lo. Diante do plano maior de Deus que quer salvar a humanidade, simplesmente Maria aceita: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua Palavra” (Lc 1,38). A Virgem-mãe se entrega à presença do Deus-Salvador que, em Jesus, resgatará o mundo do pecado. Maria é a mulher que crê no impossível.


No confiante espera, Maria é o modelo de todos os que experimentam, no silêncio da sua consagração, o paradoxo humano. Maria corre o risco de se tornar motivo de ludíbrio, pois perante o mundo, ela não tem argumentos sobre sua gravidez. Ela confia apenas na graça do “Deus-que-é-salvação”.


O sim de Maria à Palavra de Deus expressa um compromisso total, uma confiança absoluta no amor e no poder de Deus que a faz sair de si mesma e aposta totalmente sua vida no poder de Deus. E este compromisso total de uma moça simples com a Palavra de Deus compromete também o destino da humanidade. Nós cristãos devemos ter uma consciência mais clara daquilo que sucede quando nos reunimos para celebrar a Eucaristia. A participação da Palavra e do Corpo de Cristo é algo que produz a união mais íntima possível com Cristo vivo. Por isso, o sim pronunciado no momento desta participação eucarística é o que compromete de uma maneira mais profunda todos nós cristãos para sairmos também de nosso egoísmo.  O compromisso da vida cristã é deixar-se fecundar pelo Espírito de Deus, como Maria, escutando a Palavra de Deus que vem por meio de mensageiros, tendo em conta nossa situação e nossas forças, mas respondendo a Deus com confiança e interesse. O cristão deve deixar-se encarnar pela Palavra de Deus.


O texto do Evangelho de hoje quer também responder a outra pergunta: QUEM É JOSÉ? O texto mostra José como aquele que vive de maneira incondicional a obediência da fé. Sua obediência é o meio pelo qual o plano salvífico de Deus se torna história divina entre os homens. José também é símbolo da Igreja, pois colabora com o plano divino. José, incapaz de entender a obra de Deus em Maria, entrega-se ao apelo divino, e torna-se protetor do Deus-Salvador, na Virgem-mãe. José é ‘guardião’, porque sabe ouvir a Deus, deixa-se guiar pela sua vontade e, por isso mesmo, se mostra ainda mais sensível com as pessoas que lhe estão confiadas, sabe ler com realismo os acontecimentos, está atento àquilo que o rodeia, e toma as decisões mais sensatas” (Papa Francisco).


José faz tudo em silêncio, sem nenhuma palavra pronunciada registrada pelo Evangelho. O silêncio nos leva a encontrarmos o nosso eixo. Tudo tem seu eixo. Tudo no cosmos é harmonia e equilíbrio, pois cada planeta tem seu eixo. Tudo se gira e se move a partir do eixo.  São José sabe criar o silêncio dentro de si para escutar melhor o que Deus quer dele numa situação complicada humanamente. José deixa de se preocupar consigo próprio para seguir a vontade de Deus pelo bem de todos. O silêncio é um caminho para o nosso relacionamento com Deus. No silêncio, a eternidade se faz presente e o céu se torna realidade na nossa vida. Para ser acolhedor, o nosso silêncio deve estar livre de qualquer pensamento e pretensão.

Aprofundemos um pouco mais nossa meditação sobre o texto do Evangelho de hoje!


No Evangelho de Mateus não se relata a Anunciação do Anjo a Maria, passagem que encontramos no Evangelho de Lucas (Lc 1,26-38). Lucas destaca mais a figura de Maria e a de José é silenciada. Se Lucas destaca mais às perguntas de Maria, ao contrário em Mateus se destaca mais às “perguntas” de José. Por isso, poderíamos intitular o Evangelho de hoje: “O Anunciação do Anjo a José”.


Vamos ler este texto dentro do relato da genealogia de Jesus Cristo (Mt 1,1-17). A palavra “gerar” biblicamente significa transmitir não apenas o próprio ser, mas também a própria maneira de ser e comportar-se. O filho é imagem do seu pai. Por isso, a genealogia se interrompe bruscamente no final (na genealogia há um padrão fixo onde se diz fulano era o pai de... E isso é repetido através de três conjuntos de catorze gerações). Quando chega-se na linha final, a fórmula muda: não mais “Jacó era o pai de José, e José era o pai de Jesus, chamado o Cristo”, mas “Jacó era o pai de José, o marido de Maria, de quem nasceu Jesus, chamado Cristo” (Mt 1,16). Isto quer nos dizer que José não é pai natural de Jesus, mas apenas legal. A Jesus pertence toda a tradição anterior, mas ele não é imagem de José. O Messias/Ungido não é produto da história, mas a novidade nela.


Embora se mencione várias vezes no Evangelho de Mateus mais do que nos outros Evangelhos juntos de que Jesus é o filho de Davi, mas Mateus deixa claro (Mt 22,41-46) que Jesus é mais do que o filho de Davi. Ele é decisivamente, por uma revelação divina, o Filho de Deus (Mt 3,17;16,16s;17,5). Coerentemente, se a genealogia começa em Mt 1,1 dizendo a genealogia de Jesus, filho de Davi, a anunciação nos conduzirá a um fim em Mt 1,23 dizendo que Jesus é Emanuel, Deus conosco.


O texto começa dizendo que Maria, a mãe de Jesus “estava prometida em casamento a José e que antes de viverem juntos, ela ficou grávida...” (v.18). Maria e José já estavam comprometidos pelo casamento, mas enquanto aguardavam o momento de casamento, eles se mantinham separados pela tradição na época. O casamento, contratado desde cedo pelos pais, quase sempre se realizava logo depois de puberdade; mas a moça continuava a viver com os pais por algum tempo, depois do contrato, até que o marido fosse capaz de sustentá-la em sua casa ou na casa de seus pais. E durante esse período não eram permitidos as relações sexuais. Mas Maria estava grávida. O que José podia fazer diante dessa situação?


O Evangelho apresenta José como um homem justo (v.19). Um homem justo na Bíblia é aquele que é fiel aos mandamentos de Deus, que tem fé nos anúncios proféticos e espera seu cumprimento. Ele, por isso, é protótipo de um israelita verdadeiro.


Mas esse homem fiel se encontra no conflito ou no dilema de difícil solução. Por um lado, ele é um homem fiel aos mandamentos de Deus. Por causa disso, a lei o obriga a repudiar Maria que se encontra grávida sem nenhuma convivência com ele. Neste sentido a lei considera Maria culpada de adultério. Por outro lado, ele é uma pessoa que tem muito amor ao próximo. Sabemos que o amor sempre é acima de qualquer lei. E toda a lei deve ser direcionada para o amor. Este amor impede José de difamar Maria publicamente, embora isto seja o direito dele pela lei. É legal, mas é desumano e não é ético. Daí, sua decisão de repudiá-la em segredo e não quer expô-la à vergonha pública.


Mas antes de tomar esta decisão ele entra em contato íntimo com Deus. O Evangelho de hoje usa a palavra “sonho”. Na Bíblia o sonho é o veículo da divina revelação (cfr. Gn 15,12;37,5 etc.). Na narrativa da infância de Jesus em Mateus, José entra em sonho quatro vezes (Mt 1,20; 2,13.19.22). É neste momento que o Anjo do Senhor intervém. O Anjo do Senhor lhe confirma e aclara o mistério que Maria lhe havia revelado.


O anúncio do Anjo a José (vv.20-24) segue o esquema dos relatos do AT (cf. Jz 13) onde se anuncia o nascimento de um personagem famoso: a) o anúncio está rodeado de sinais divinos: anjo do Senhor, sonho; b) que provocam medo ou estupor: não tenha medo; c) o mensageiro divino anuncia qual será o nome e a missão do menino que vai nascer: salvar o seu povo; d) dá-se um sinal que confirma o anúncio: cumprimento das Escrituras. Lucas se serve deste mesmo esquema para anunciar o nascimento de João (Lc 1,5-25) e de Jesus (Lc 1,26-38). A função destes anúncios é vincular a dito personagem, já desde seu nascimento, com o projeto divino.


O pedido do Anjo para José não se divorciar de Maria é um ponto importante no plano de Deus, não tanto por causa da reputação de Maria, mas pela identidade de Jesus. A criança precisaria ser o “filho” de José, o filho de Davi, cumprindo assim a promessa de Deus a Davi: “Suscitarei o teu filho depois de ti... Farei o seu trono real durar para sempre” (2Sam 7,12s). O Anjo destaca esse elemento essencial, dirigindo-se a José como “filho de Davi”.


A figura de José é também muito importante neste relato e em todo o Evangelho da infância de Mateus. O Anjo se dirige a José como “filho de Davi” (v.20), para pedir-lhe que receba Maria e ao menino impõe-lhe o nome. A imposição do nome (vv.21.25) é o rito através do qual José recebe Jesus como filho. Mateus insiste neste detalhe, porque na antiguidade um menino não passava a formar parte da descendência paterna até que havia sido reconhecido por seu pai ou adotado.


Ao ter conhecimento do milagre da gravidez de Maria, através da Palavra do Senhor, José não demonstra hesitação ou dificuldade e sim, faz o que lhe ordena o Anjo do Senhor. A dúvida de José foi vencida pela obediência da fé. Assim, José se liga com a dinastia messiânica não por razões da genealogia, mas sobretudo pelo dinamismo da obediência de sua fé que o impulsiona a aceitar uma missão obscura. Sem ceder à tentação do abandono, o justo José entrou na radiante obscuridade do mistério de Deus. A partir da fé, que o animou, a estrutura de José agiganta-se. José é o homem que se deixa guiar por Deus e mesmo sem ter evidências, aceita colaborar na obra da salvação como Maria.


Por isso, José é o símbolo da humanidade que acolhe a graça de Deus e que coloca a vida acima da lei. Ele é o modelo de cristão obediente à vontade de Deus. Ele é o modelo do homem que tem respeito diante do mistério de Deus, operado em Maria; fidelidade a toda prova de um homem que se fia de Deus; integridade e honradez silenciosas; vazio de si mesmo e operosidade sem protagonismos e, sobretudo, disponibilidade absoluta, fruto da obediência de sua fé, para a vocação de serviço e da missão que o Senhor lhe confia: ser o pai legal de Jesus. José é um grande homem. A grandeza do homem não consiste em querer ser algo ao lado de Deus, mas em deixar que Deus seja grande nele. Foi isso que José fez.


Só quem está disposto à franca obediência a Deus, ouvirá Sua Palavra e poderá colaborar em Sua obra, porquanto, só quem sabe ouvir sabe também obedecer: quando a parte puramente humana faz silêncio (como José), tem-se o coração aberto para ouvir e executar o querer divino.


Portanto, em José tudo é digno de admiração e imitação. É um homem justo, temente a Deus, pronto a respeitar o mistério divino, embora desconhecendo-lhe a dinâmica. É um homem capaz de colocar-se à escuta de Deus nos momentos de dificuldades e de se deixar inspirar por Deus.


Por isso, vamos nos perguntar: será que temos tempo para nos colocarmos à escuta de Deus tanto nos momentos de dificuldades como nos de alegria?


Nós vivemos numa sociedade onde as coisas acontecem com muita rapidez. O ritmo da vida é acelerado. Levantar cedo, comer, rezar, depressa, trabalhar e estudar sem parar. E estamos cercados de barulho. Com toda esta agitação e barulho, temos muita dificuldade em parar e escutar a voz interior. Por isso, os acontecimentos e as experiências passam por nós, mas não entram e não penetram na nossa vida.


O início de uma vida equilibrada e com sentido começa com a criação de um espaço interior, no qual a pessoa vai juntando os acontecimentos e procura seu sentido, como José e Maria de Nazaré. Ali a pessoa toma fôlego e repousa em Deus e pode perceber os sinais de Deus na vida e nos seus acontecimentos.


O silêncio pode levar-nos a encontrar o nosso eixo. Onde é que eu procuro o meu centro? Às vezes, o centro da vida de uma pessoa é o trabalho. Hoje em dia há uma dependência exagerada do trabalho. Quando há dependência, não existe liberdade; este valor só desabrocha no centro do ser. E o silêncio chega quando as nossas energias começam a descansar. O silêncio nos acolhe quando o nosso ego fica em paz e sossego. Quando não sabemos o que é descansar, não sabemos o que é viver. O nosso ego é, na verdade, o centro de todos os nossos desejos, lucros, possessões e domínios.


Mas a vida nunca é o que se consegue. Não é o que se tem. A vida é o que se é. Por isso, na vida é tão importante a pessoa dar-se (como Maria e José). Deus dá-se: na luz, no sopro de vida. Não se pode ignorar que tudo quanto se alcança, se perde. E só o que se é, permanece.


Maria e José nos ensinam a cultivar a interioridade. Guardar as coisas no coração, meditar e buscar sentido nos acontecimentos e preparar-se para o que vai acontecer.


Por tudo isso, poderíamos rezar assim: Senhor Deus, dá também a nós a força da fé de José e de Maria, a firmeza de sua esperança, o fogo de seu amor por Ti. E quando, perdidos nos trajetos da vida, pararmos sem saber para onde ir, concede-nos também a nós que vislumbremos nas trevas o Teu rosto. Em meio ao estridor e à balbúrdia da nossa era tecnológica, tão potente, mas ao mesmo tempo tão pobre e sem força, ensina-nos a distinguir o silêncio da eternidade, e dá-nos que nele reconheçamos a tua voz, como Maria e José e que escutemos as Tuas palavras que ainda hoje nos devolvem a coragem: “Eu estou convosco todos os dias, até o fim do mundo porque o meu nome é EMANUEL: Deus conosco. Amém”.


A teologia de São José é tão simples como sua história, ou melhor dizer, é uma história vista do alto, isto é, a partir dos desígnios ou planos de Deus. Basta ler os dois primeiros capítulos de Mt e Lc sob a luz do prólogo de São João. São Lucas nos relatou como foi a encarnação de Deus em Jesus, o Verbo Eterno do Pai, Palavra do Pai.


Quando você ler o prólogo: “No princípio era o Verbo; o Verbo estava com Deus; o Verbo era Deus. Por ele tudo foi criado... E o Verbo se fez carne e habitou entre nós (Jo 1,1-4.14), você precisa se lembrar como foi esta encarnação do Verbo em Lc e Mateus. Ao mesmo tempo, não se esqueça de vincular com os personagens importantes: Deus, Maria, José e Jesus, Verbo Encarnado.


A consequência é clara e sublime: São José está incluído no plano divino da Encarnação com a função muito singular e altíssima de aceitar, receber e acolher paternalmente o Filho de Deus. Mesmo sendo pai adotivo, são José desempenhou seu papel de cuidar, orientar e educar o filho de Deus, Jesus Cristo. O evangelista Lucas registrou: “Jesus crescia em estatura, em sabedoria e graça diante de Deus e diante dos homens” (Lc 2,52). Sem dúvida nenhuma, são Jesus (com Maria) participou na educação de Jesus para se tornar um menino cheio de sabedoria e da graça de Deus.


"Ele (José), marido de Maria e pai adotivo de Jesus Cristo. A partir daqui deriva sua dignidade, graça, santidade e glória", escreveu Leão XIII na carta encíclica Quamquam Pluries, 1889.


A função de José foi uma cooperação valiosíssima para a obra redentora de Jesus e Maria. Através de Maria e de Jesus a missão esponsal de José servia os mesmos fins salvadores da encarnação e da divina maternidade de Maria.


O importante na existência de São José não é aquilo que ele realizou e sim aquilo que Deus fez por ele, com ele e através dele. As consequências disso duram eternamente.  Deus confiou a São José Maria que ia dar ao mundo o próprio Filho de Deus. Aceitando ligar sua vida à vida de Maria, são José entrava no grande mistério do Verbo Encarnado e de sua Igreja. De seu lar modesto, em uma cidade sem história, num país sob ocupação estrangeira, saiu uma chama que alumbra e abrasa o universo.


Deus escolheu e formou em Maria uma mãe digna do Verbo Encarnado. Ao mesmo tempo, o próprio Deus escolheu e formou em José um esposo digno para a Mãe do Verbo Encarnado. Deus não escolheu qualquer homem para ser parceiro da Mãe do Verbo. Só pode ser são José.


São dois corações (Maria e José) que Deus assemelhou, uniu e complementou para que convergissem, somados num fruto virginal: Jesus, Verbo de Deus. Deus preparou o coração virginal de José para o refúgio e o amparo do coração puríssima da Virgem Maria.


Para compreender a projeção cristã universal ou a transcendência eclesial da missão de são José, basta pensar que a Igreja é como a expansão vital da Família de Nazaré. O Filho eterno de Deus, ao encarnar-se, quis viver dentro de uma família e receber uma educação. Daí é que convenhamos olhar para a Sagrada Família: Jesus, Maria e José como o modelo de amor, de submissão à vontade e aos mandamentos do Senhor e modelo de paz.
P. Vitus Gustama,SVD

Um comentário:

Pe. José Lima disse...

Muito bem!
Adorei a análise teológica do santo Evangelho.

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